Sonhadora escrita por AnnaHeimer
- Não. Não sou eu. Sou a irmã gêmea dela, e na verdade ela está em casa olhando "Lost". – bufei.
Ele riu, tirou os fones, guardou-os e andou até mim.
- Quem sabe não podemos consertar o que fizemos? – sugeriu ele acariciando minhas bochechas frias com os dedos.
- Você vai consertar é a sua cara quando eu acabar com você, vagabundo! – gritei e soquei a cara dele.
O sangue vermelho começou a escorrer pelo seu nariz. Ele limpou no casaco e me olhou, confuso.
- Merda. – murmurou
O sangue não parava de escorrer.
- Epa, quebrei seu nariz.
Ele pegou seus livros que caíram no chão quando minha mãe foi ao encontro de seu rosto e começou a andar para ir embora.
- Ei, tá achando que eu vou te deixar ir embora fácil assim? – gritei e ele se virou para olhar para mim. – Escuta aqui. Eu vou deixar algo bem claro pra você. Se pensa que vai sair ganhando, está bem enganado. – falei jogando os livros nele
Ele se protegeu com a mochila. Garoto esperto.
- O que quer de mim?
- Pode ficar tranquilo. "Vai ser tão rápido que você não vai sentir nada".
Eu ri um pouco e empurrei ele, fazendo-o bater o rosto no poste de luz próximo de nós. Ele mal piscou e eu o joguei na janela de uma sala de aula. A janela quebrou e ele pareceu ficar inconsciente. Eu queria reservar pra ele uma morte sofrida e lenta, mas ali na frente da escola era meio difícil de fazer sem alguém estar por perto.
- Aaaaah. – reclamei – Que merda. Quebrei a janela da escola.
Ele tossiu um pouco, ainda estava vivo. Um caco grande de vidro me deixou intrigada. Peguei-o e sem esperar muito cravei nas costas dele.
- Agora a diversão acabou.
Aproveitei para cravar mais dois, me certificando de que ele não levantaria mais. Limpei as mãos e ao me virar ouvi uma voz conhecida.
- Vai deixar pistas?
Gustav apareceu ao meu lado e eu achava que estava sozinha ali.
- Ninguém vai desconfiar. Eu não ando sozinha à noite. – falei dando de ombros e andando para longe dali.
- Não se sente culpada?
- Que? Jura! Ele merecia mais que isso. E foi bem divertido.
Ele ficou em silêncio.
- Tenho que me acostumar. Ainda acho que poderia ter sido mais emocionante e ter tido mais sangue e tal. Mas nada como uma primeira vez.
- Foi um teste. Você pensa diferente. Gostei de sua atitude e da sua reação.
- Mas porque eu ainda estou com fome?
- Com são as primeiras vezes, o seu corpo ainda não se acostumou.
- Quando essa necessidade passa?
- Isso depende de pessoa para pessoa. – deu de ombros e começou a andar – Quer ir comigo? Vou te levar ao lugar onde você vai morar.
Assenti e o segui. No meio de uns arbustos estava um carro. Ah, ele dirige. Havia esquecido que o garoto pelo qual eu estava apaixonada tinha 34 anos. Ele ligou o carro e rádio. O som baixo tinha um ar romântico. Mesmo aquela música lenta e calma não me deixava tranquila. Algo me dizia que meu irmão era suspeito. Fechei os olhos e comecei a sonhar.
Era um lugar bonito, com um campo verde e florido onde havia muito sol e animais. Pessoas normais andavam por lá. Quase normais, porque elas também não tinham sombras. Acordei quando o carro deu um tranco e parou.
- Chegamos! - falou Gustav sacudindo meus ombros
Abri os olhos e olhei ao meu redor. Era tudo exatamente como eu havia sonhado. Haviam pessoas por toda parte. E animais. Muitos animais. A paisagem era bonita era bonita. Um enorme campo verde cobria o chão da pequena cidadezinha. Alguns canteiros de flores amarelas e roxas espalhados pelos cantos e algumas grandes laranjeiras. Gustav abriu a janela do carro e chamou um senhor de cabelos brancos que regava lentamente as flores do jardim.
- Olá, senhor Thomas. Poderia me dizer onde está Liz? – perguntou
- Ah, ela acabou de ir passear. Acho que volta daqui a pouco... – respondeu o idoso
- Obrigado.
Ela fechou o vidro e tornou a dirigir.
- Ele... humano? – gaguejei
- Não. Ele é uma “espécie rara”. Ele consegue estar em vários lugares ao mesmo tempo. – explicou
Concordei. Aquilo era estranho também. E onde era o tal lugar onde os espíritos ficavam? Comecei a olhar ao redor. Algumas pessoas (se é que podia chamá-las assim) ficavam nos olhando, curiosas, outras sorriam e abanavam.
- Há humanos por toda a parte aqui. – falei
Vi crianças pequenas brincando na pracinha. Escorregador, balanço e gangorra... Corriam pelo parque todo, gritando e rindo.
- Alguns estrangeiros vieram morar aqui. Nós continuamos a manter nossa espécie em segredo num acordo.
Fiquei em silêncio.
- Se eles espalharem a história ou nos ameaçarem, nós os matamos.
Engoli em seco.
- Está com medo?
- Não. - menti
- Espere para conhecer Liz. Minha amiga. Vocês vão se dar bem.
Paramos em frente à um chalé pequeno e de dentro dele saiu uma pequena garota camponesa loira, cabelos lisos até o ombro, franja caída sobre a testa, rosto triangular, pele lisinha e uma cicatriz no olho esquerdo, verde. O direito era vermelho.
- Apenas deixo a dica: não olhe nos olhos dela. – comentou e antes que eu pudesse perguntar o porquê, ele saiu do carro gritando. – Liz!
Então, essa era a famosa Liz...
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