Elemental escrita por Amanda


Capítulo 4
Capítulo IV - Elementos


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura



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Metal

Depois de muito esforço da parte de Sofia, Ariel aceitou ir ao cinema com ela e umas amigas, o dia estava nublado e agradável nem muito quente, nem frio e chovendo. Após relutar muito com isso, agora ela usava o antigo carro de sua mãe para se locomover, a casa em que crescera estava fechada, o sítio abandonado, não que em algum momento ela tivesse a intensão de vender alguma das propriedades, só estava esperando o momento certo para voltar.

Entrou no carro e ligou o som, uma musica suave inundo o veículo, não havia transito e o percurso estava sendo tranquilo. O farol fechou, parada no farol, olhou a sua volta estava em frente a uma construção e todas as vezes que passa por uma se lembrava dos projetos de sua mãe, uma arquiteta brilhante adorava o trabalho.

Distraída com o pensamento viu uma viga de metal se desprender e cair na direção de um operário distraído, seu coração acelerou batendo com força o rosto da mãe cruzou seu pensamento, em um movimento involuntário estendeu a mão em direção a viga.

- Nãoo.

Gritou, tendo o som abafado pelos vidros do carro.

A viga parou no meio da descida, o operário a viu e saiu correndo, enquanto ela observava a viga sem compreender, movimentou a mão para cima e para baixo e a viga a imitou, estava prestes a fazer outro teste quando as buzinas dos carros de trás a fizeram se distrair e a viga caiu no chão.

Ainda sem entender estacionou o carro em uma vaga, as imagens rolando em sua memória, ela balançou a cabeça e respirou fundo, pegou o isqueiro na bolsa colocando no banco do carona levantou a mão tentando movê-lo, nada aconteceu, tentou de novo e nada, reencostou a cabeça no banco respirou fundo e olhou para o relógio estava atrasada para a sessão, abriu a porta se levantou em um pulo pegando a bolsa, ao dar alguns passos lembrou do isqueiro que ainda estava no banco, voltou, abriu a porta ergueu a mão no intuito de pegá-lo e este saltou em sua mão, ela o olhou estática por um momento. Sabia que não conseguiria se concentrar no filme, nem nas conversas e após um momento de reflexão decidiu voltar para casa e tentar entender, passou a noite pensando no que aconteceu, tentou algumas vezes e nada aconteceu, por um momento questionou sua sanidade, mas sentia que era real.

- Pense Ariel, o que as duas ocasiões tinham em comum.

Se deitou e repassou várias vezes os eventos, tentando achar uma ligação sem muito sucesso acabou por adormecer. Mal havia fechado os olhos o telefone começou a tocar.

- Alô.

Disse meio sonolenta, vendo a luz do dia entrar pela janela, já havia amanhecido.

- Ariel o que ainda está fazendo em casa?

- Ai, que horas são?

- Quinze para as sete. Se esqueceu hoje tem prova mulher sai daí.

- Droga esqueci mesmo, Laura segura o professor para não começar a prova sem mim chego aí em dez minuto.

- Então não corre, vem voando para cá.

Ariel sentiu o coração acelerar, trocou de roupa em um segundo, correu para a porta, não se lembrava onde havia deixado a chave do carro.

- Droga.

Antes de começar a procurar revirando tudo, ela visualizou a chave vindo em sua mão como o isqueiro no dia anterior, levantou o rosto deu um passo em direção ao sofá a chave se levantou e veio até ela pousando em sua mão como havia visualizado.

Parou um minuto e entendeu era isso a sensação que ardia em seu peito naquele momento era aperto, o mesmo que sentiu nos outros dois casos. Trancou a porta e foi para a faculdade, abriu a porta do carro da mesma maneira ao chegar no estacionamento, sem encostar. Algo muito semelhante ao que sentia na presença da mãe a invadia ao finalizar esses gestos e parecia um sonho, poder movimentar coisas com uma simples sugestão, era incrível.

Mais tarde com os treinos descobriu que isso só funcionava com metais.

Energia

Na semana seguinte ela teria duas provas, justamente no dia do aniversário da madrinha e de seu pai, e descobriu que seriam realizadas em prédios diferentes do campus era sair de uma e corre para a outra e um prédio ficava meio afastado do outro, ela já havia passado a semana entre entender o controle sobre os metais e as provas e apresentações, estava uma pilha de estresse era final de semestre do penúltimo ano. Já era noite e teria apenas alguns minutos entre uma prova e outra, parecia que não ia dar tempo de chegar no outro prédio, mas ela precisava tentar, quando acabou a primeira prova olhou no relógio, dois minutos para o inicio da próxima. Ariel começou a correr chegou no prédio e viu não dava mais tempo desejou e visualizou a luz acabando e pronto o prédio ficou no escuro.

Se é sorte eu não sei mais quem sabe dê tempo.”

Ariel pensou disparando escada acima, chegou na sala os alunos estavam saindo e reclamando.

Bom agora pode voltar.”

Pensou e visualizou a iluminação voltou.

- Bem senhores já que a energia voltou podemos começar a prova.

Ariel foi para seu lugar e ficou quieta. Ao terminar o teste sorriu aliviada o dia seguinte seria o único sem provas e sem aulas, ela já havia planejado tudo, pediu folga no trabalho ira curtir o dia.

Esqueceu o ocorrido no dia anterior e foi cumprir o planejado, logo pela manhã acordou cedo e foi para a academia, estava morando em um apartamento próximo a universidade, este era alugado e o dividia com Sofia e mais duas colegas de outros cursos. Entrou em casa correndo, pois as outras garotas estavam em seus respectivos trabalhos e o telefone tocava insistentemente.

- Oi Ariel só liguei para te avisar, o professor passou na sala ontem antes da prova e avisou que vai ter aula hoje sim e a prova será aplicada, como você saiu de lá primeiro não pude te avisar.

Ela já estava uma pilha de nervos, com os seminários, provas, o transito da cidade, sentiu seu sangue ferveu ao receber a noticia.

- Não acredito, aquele velho ranzinza não nos dá uma folga, tinha que ser ele para estragar meus planos, quer saber eu queria que houvesse um apagão durante todo o dia e a energia só retornasse depois da meia noite ou amanhã.

- Tô com você, quem sabe assim o mala do meu chefe não me liberava mais cedo, mas duvido muito, acho que ele compraria velas só para nos fazer trabalhar o dia todo. Ops vou desligar o mala vem ai até a noite.

- Tchau, obrigada por me avisar.

Desligando o telefone Ariel se deixou cair no sofá e com um enorme pesar, ligou para a madrinha, para desmarcar os planos.

- Oi, madrinha sou eu.

- Oi Ariel, que horas você vai chegar?

- Então era sobre isso que preciso falar, infelizmente não vou poder ir para ai, uma mala que tenho como professor adiantou a prova dele para hoje e se eu for ai, não poderei voltar a tempo.

- Eu entendo, me desagrada muito isso, mas entendo.

- Desculpe mesmo tia, eu prometo te compensar passando o final de semana com você, se me quiser claro.

- Ai que comentário menina, sabe que te amo com minha filha, vocês quatro sempre foram um pouquinho meus filhos já que não pude ter os meus.

A tia pareceu pesarosa.

- Que isso dona Solange, nada de tristeza a vida é bela e temos que agradecer todos os dias por vivê-la.

- É seu pai me dizia isso sempre.

- Ele estava certo, eu a amo muito, mesmo que não possa estar fisicamente ai hoje, saiba que meu amor e carinho estão com você sempre.

- Obrigada minha filha, então nos vemos no final de semana?

- Sim, no final de semana sem falta.

- Então até lá.

- Até breve madrinha, e feliz aniversário.

Ariel se recordava muito bem da época que a tia descobriu ser estéreo e o marido a abandonou dizendo que não ia ficar com alguém que não pudesse lhe dar filhos. O pai presenciou a cena e ficou tão frustrado que brigou feio com o ex-cunhado, a energia que ele transmitia fez com que o homem ficasse todo estourado.

Um tempo depois, ele voltou pedindo perdão e querendo reconstruir o casamento, mas Solange já havia superado o marido e não aceito, mesmo com todas as tentativas para reconquista-la, sempre foi esquentada e autoritária depois da humilhação que ele a fez passar, ela lhe disse que preferia queimar em brasa viva a conviver novamente com um verme feito ele, não precisava mais dele e agora estava feliz como a muito tempo não estava, feliz e solteira.

Na época ela achou que a tia havia sido severa de mais, mas com o passar do tempo e aprendizado entendeu o lado de Solange e acho bem feito, Amália e Felipe apoiavam e defendiam a tia de qualquer comentário, até mesmo quando o sujeito veio pedir a ajuda dos sobrinhos para reconquistá-la eles se recusaram fazendo ameças, mas foi Térsio que falou o não mais centrado e indiscutível para o sujeito, que nunca mais apareceu.

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Ariel desligou o telefone e fechou os olhos, visualizou a energia acabando e ouvindo no radio sobre uma pane geral que apagou a cidade, enquanto imaginava as noticias sentiu um forte cansaço a invadir e caiu no sono, dormindo o resto da tarde.

Sonhou com o pai, um sonho confuso sem distinção a única certeza era que estava ao lado do pai. Quando acordou já era noite, tentou acender a luz e nada, olhou pela janela do apartamento e ficou de queixo caído a cidade estava completamente no escuro, ligou o rádio do celular que transmitia as últimas informações do apagão que recobriu a cidade e até aquele momento sem causa, o apagão havia começado no inicio da tarde e não tinha previsão de quando a energia iria voltar.

- Será possível que fui eu?

As colegas entraram em casa comentando e rindo por suas provas terem sido canceladas, após conversar um pouco com elas, foi até seu quarto sentou na cama perto do abajur, fechou os olhos e visualizou ele se acendendo, enquanto outros pensamentos vagavam para o metal e como controlava ele, de relance em sua mente a lembrança do pai técnico em sistemas elétricos e do sonho passaram fazendo-a abrir os olhos o abajur estava aceso e mais nada da cidade.

Mais coisas para treinar”

Pensou deitando na cama e indo dormir.

No decorrer de seu treinamento na arte de manipular a eletricidade, acabou por induzir vários apagões tanto na cidade quanto no país e nos países vizinhos, as reportagens transmitiam os fatos dando qualquer explicação, algumas até descabidas, mas na verdade só Ariel sabia o que provocara os apagões.

Água

Um mês havia se passado e Ariel aprendia a cada dia como controlar o metal e a eletricidade, era de certa forma divertido para ela aprender, todos os dias separava algumas horas para treinar.

O dia amanheceu ensolarado sem previsão de chuva, mas Ariel vivia um temporal interior, aquela semana completaria 3 anos dos acontecimentos que levaram sua família, mesmo com os novos amigos e a madrinha, ela sabia que naqueles dias do ano ela estaria melancólica. Era sábado e como de costume, acordou cedo e foi ao cemitério levar flores e deixar a solidão esvaziar, ela sentou na grama e começou a se lembrar dos rostos e manias de cada um, antes que pudesse perceber estava chorando, o céu escurece em seguida e a chuva começou, com o rosto de Amália passando de relance em sua memória. Quanto mais chorava mais chovia, estava de cabeça baixa e olhos fechados, sua mente voltada para a própria tristeza, ela não percebeu o túmulo e ela não estavam se molhando, o vento soprava calmo ao seu redor.

Passados alguns minutos Ariel levantou o rosto para o céu ainda de olhos fechados deu um grito, um trovão estourou no céu fazendo abrir os olhos e ver a chuva forte ao seu redor, a dúvida surgiu em sua mente, ela virou a palma da mão para cima e nada desta se molhar, em sua mente a lembrança de Amália e ela tomando banhos de chuva nos verões da infância, jogando água e arrastando os meninos para a chuva também.

Sem saber bem como fez juntou as duas mãos e a chuva caiu dentro delas formando uma bola de água, ficou olhando atentamente para ela que simplesmente virou gelo pesando em suas mãos, soltando-a rolou até parar em um dos túmulos próximos, a cena acabou por distrai-la e quando parou de chorar a chuva sessou, ela secou as lágrimas o céu abriu deixando somente as marcas da chuva na terra. Se levantou e voltou para o carro, tanto ele quanto as ruas estavam completamente secos, com o sol a todo vapor no céu limpo.

- Diacho, num trabaio aqui nem mai um dia.

Um senhor saiu resmungando, vendo-a se dirigiu a ela.

- Moça se fosse ocê num intrava ali hoje não.

- Por que senhor?

- Os mortos de veis in quandu, faiz arti pra assustá os vivu, hoje tão atacadus fizero chovê, aparice gelo nos túmulos. Vê si pode, o cemitéro todo moiado e ninhuma gota aqui fora, o cer limpo desse modo, só podi di se coisa di ispírito, vo mimbora antes que um resorva incasquetá com eu.

O homem saiu quase correndo de perto do portão entrando no primeiro ônibus que passou ainda fazendo o sinal da cruz, assim que ele desapareceu de vista Ariel não conseguiu se controlar e caiu na risada, voltou para dentro do cemitério parou em frente a uma poça de água estendeu a mão na intenção de fazê-la congelar, mas a cena com o senhor foi tão engraçada que ao invés de congelar a possa evaporou deixando um pedaço do chão seco.

Balançou a cabeça e voltou para o carro, já havia passado muito tempo lá.

- Metal, Eletricidade e agora Água que surpresas esse ano ainda me promete?

Ariel voltou para casa rindo o caminho inteiro pensando que o pobre do homem deveria estar se benzendo até aquela hora, isso se não tivesse corrido para a primeira igreja que visse no caminho, ou feito as malas para voltar para a terra natal. Era maldade, mas a situação foi inusitada demais, se ela tentasse explicar que provocara a chuva o homem sairia correndo achando que ela era uma alma do além e provavelmente estaria correndo até o dia seguinte.

 

Fogo

O dia estava muito quente e Ariel não parava um segundo nas tarefas do trabalho, a semana fora agita e corrida os termômetros do escritório marcavam 32º o ar-condicionado estava quebrado ninguém conseguia se concentrar em suas atividades, ninguém exceto ela.

Trabalhava em uma empresa de publicidade como gerente de imagem, todas as imagens das campanhas tinha que passar por ela que juntamento com a pessoa responsável na escolha do texto, montavam finalizavam as campanhas e com a autorização do presidente da empresa enviavam para as gráficas. Ela não era responsável pela produção e desenvolvimento das imagens, era responsável pela análises dos materiais desenvolvidos, coordenando uma equipe com quatro webdesigners.

- Ariel, nossa como essa sala está quente.

- O que?

- Céus, como você está aguentando trabalhar aqui?

- Nem estou sentido, tenho que analisar esse projeto e enviar para a impressão, aqui estão os projetos e as instruções das imagens, peça ao Paulo que me entregue a imagem do refrigerante impressa.

Ela nem desviou o olhar dos papéis quando pegou as pastas e levantou para a colega.

- Como não está sentido? O prédio está quente, mas sua sala está uma verdadeira sauna, isso não vai te fazer bem.

- Não está tão quente assim é impressão sua Maria.

- Não é, e vou te provar.

Ela ouviu a porta se fechar, tinha escanear três projetos e enviar ao superior, nem sabia que horas eram.

- Ariel, veja.

A colega trouxe um termômetro, assim que este entrou em contato com o ambiente disparou a subir, marcando 45º graus na sala.

- Minha nossa aqui está mais quente que o resto do prédio.

- Você não veio aqui medir a temperatura.

- Não, vim te acordar para a vida, nós estamos saindo para almoçar.

- Ok, bom apetite.

- Você não vem?

- Não daqui a pouco eu ligo e peço para me trazerem algo.

- Certo, vou deixar esse termômetro aqui caso a temperatura aumente, sai por favor.

- Tudo bem, podem ir.

A colega saiu da sala e ela continuou os afazeres se voltou para o computador e foi checar as respostas de outros projetos já enviados para aprovação final.

As costas doeram fazendo-a se contrair, pegou um copo com água ia levá-lo a boca, mas parava e lia mais alguma coisa, quando enfim tocou os lábios no copo, este se encontrava vazio. Mas ela podia jurar ter sentido a água no copo.

Parou um muito olhou a sua volta e foi até o termômetro, sobre a mesa estava marcando 46º quando o pegou, esse mostrou a temperatura subindo de forma inesperada e rápida que o fez explodir. Parecia imagem de desenho animado, ainda tentando entender resolveu sair um pouco da sala levando os papéis para analisar, pegou uma folha e a ergue separando algumas outras com a outra mão. A folha em sua mão começo a ficar escura e a queimar.

- Ariel, voltamos e eu lhe trouxe....

A colega entrou na sala, viu a folha em chamas na mão de Ariel, que parecia esta inconsciente do fato, mexendo em outros papéis.

- Ariel, a folha em sua mão.

Ela virou a cabeça, soltando a folha de imediato, esta caiu no chão e ela tentou apagar com o pé, mas o gesto só fazia o fogo aumentar, como se estivesse cheia de combustível.

- Droga, não quer apagar.

A colega veio e jogou um copo de suco sobre o papel que enfim se apagou, ela respirou fundo e deixou-se cair na cadeira.

- Obrigada.

- Como isso aconteceu?

- Não sei acho que devo ter colocado-a perto do isqueiro sem perceber.

- Como eu ia dizer, trouxe-lhe um suco que, bom, agora está no chão.

- Não se preocupe com isso Maria, agradeço seu gesto vou sair para comer algo.

- Que bom então.

A colega saiu e Ariel se abaixou para pegar o que havia sobrado da folha, e ao invés disso o suco evaporou e a folha voltou a queimar.

- De novo não.

Fechou os olhos e começou a se concentrar na água para que chovesse, foi se esquecendo do trabalho, acalmando o estresse e relaxando. A chuva não veio, mas o fogo se apagou, ela abriu os olhos e pegou o resto da folha dessa vez ela não voltou a queimar isso fez com que sorrisse.

Pegou o isqueiro da bolsa e acendeu a chama, se concentrou e conseguiu elevar a chama para fora do isqueiro, uma pequena bolinha de fogo ficou suspensa no ar como se estive consumindo algo, ela começou a sorrir e o rosto de Felipe invadiu sua lembrança.

Lembrando do rosto do irmão e vendo a bola de fogo levitando a sua frente, teve certeza que também poderia controlar mais aquele elemento.

Terra

Fazia cerca de dois meses que Ariel havia descoberto que podia controlar o metal, a energia, a água e o fogo. O tempo ainda estava quente era noite, ela chegou em casa cansada tomou um banho rápido e foi se deitar, assim que adormeceu sonhou com sua família.

Todos estavam sentados no sofá de casa assistindo um filme como geralmente faziam, ela entrou na casa, deparando-se com a cena, a mãe se levantou.

- Ariel, filha pode vir me ajudar?

- Claro mãe.

As duas seguiram em direção a cozinha, mas esta já não era a cozinha, era uma obra, onde somente os matérias de metal estavam presentes. A mãe caminhou por entre as colunas metálicas já em pé e se virou para ela.

- Sempre gostei de ver o esqueleto dos prédios antes da construção, gosto do cheiro, do barulho, da cor e da textura de objetos de metal até mesmo as diversas formas do metal encontradas na natureza.

- Sempre pensei que metal e ferro fossem produzidos pela mão do homem.

- Minha menina, já te contei que dos quatro você foi a última a nascer?

- Sim, mãe.

A mãe abaixou e pegou um pequeno parafuso no chão, abriu a mão dela e colocou o parafuso fechando-a em seguida.

- Os tipos de metais são elementos encontrados na natureza em geral juntamente com outros elementos, junto com minerais ou com impurezas, mas há possibilidades de encontrá-lo em seu estado natural, puros. Suas formas e tipos estão distribuídos de várias formas em nosso planeta, essas formas se apresentam em formas sólidas, líquidas, gasosas e pastosas. Toda vez que você cruzar com uma delas, mesmo que não perceba eu vou estar com você.

A mãe a abraço e se dirigiu para a sala, ela a seguiu parando no correr, viu o pai acenando no topo da escada, subiu a seu encontro. Ele se afastou e entrou na porta de seu quarto se virou e indicou para que ela também entrasse.

Ao entrar o espaço já não era o quarto, um espaço todo branco com o que pareciam ser nuvens de chuva formando o chão, o teto e as paredes, essas nuvens não paravam de descarregar trovões, relâmpagos a cena era perturbadoramente linda.

- Quando eu era menino, não gostava da chuva, mas adorava ficar olhando para as descargas elétricas do céu, as vezes voltando da escola, Solange saia me puxando pelo braço para que eu andasse mais rápido. Sua tia sempre foi minha melhor amiga, não poderia pensar em ninguém melhor para ser madrinha de vocês quatro.

- Pai, onde estamos?

- No centro, e todas as vezes que você estiver perto ou utilizar interiormente eu vou estar com você.

- No centro de que?

- É melhor voltarmos já atrasamos demais esta nosso amigo, ele agora precisa explodir no céu.

O pai segurou sua mão e a levou para fora do quarto, pela porta pode ver que o local onde estavam explodiu em uma corrente elétrica naquele céu, entendeu que eles estavam no centro de energia em um raio preste a explodir no céu. Ela recebeu um beijo na testa do pai que desceu as escadas correndo, quando ia descer Amália apareceu na porta do antigo quarto das duas.

- Ariel, venha preciso lhe mostrar uma coisa.

Ao atravessar a porta ela entrou no ginásio de natação da escola, Amália estava prestes a saltar na água.

- Venha, venha, como é bom estar em contato com a água.

E pulou dentro da piscina.

- Amália eu não estou com roupa de natação.

- Não tem problema, depois Felipe te espera no quarto dele e você vai precisar estar molhada, vai por mim.

- O que quer dizer com isso?

A irmã nadou até a ponta da piscina ficando frente a frente com ela, estendeu a mão.

- Me ajude a subir que te explico.

Assim que Ariel segurou a mão da irmã, esta a puxou com tudo fazendo-a dar uma cambalhota e cair dentro da piscina.

- Amália, droga eu falei que não estava com roupa para nadar.

- Ah irmãzinha relaxa essa é a única maneira de estarmos juntas, eu não ia perder essa oportunidade por causa de um detalhe besta como sua roupa.

- A que se refere?

- A água é claro, você sabe como sempre amei senti-la, agora toda vez que você tiver contato com ela, eu vou estar com você.

- Amália, eu sinto sua falta.

- Três estados líquido, sólido e gasoso, não existe sequer uma parte no mundo que a não encontre em pelo menos um desses estados.

- Amália...

- É melhor você ir o Felipe te espera.

Ariel entendeu que era hora de seguir, saiu da piscina deixando Amália boiando e cantarolando, saiu voltando ao corredor superior da casa, a cada passo uma poça de água formava, ela caminho até o quarto dos meninos e bateu na porta, Felipe abriu a porta a puxando para dentro.

- Caramba Ariel que demora, vem entra senta ai.

Ele fechou a porta e Ariel visualizou o quarto, este estava completamente em chama que parecia não consumir nada.

- Felipe, seu quarto está pegando fogo.

- É claro que está, ter virado uma piscina é que não iria rolar.

- Mas por que esse fogo não consome os móveis?

- Irmãzinha, hoje você faz cada pergunta, mas vamos deixar isso para lá temos pouco tempo, já percebeu como o fogo é fascinante? Eu nunca tinha parado reparado nele, sentido seu calor, sentido o toque de sua luz, ele é tão intenso e simples, não sei como pude ignorá-lo.

- Quando você ignorou?

- Quando estava vivo oras, se eu tivesse aprendido a manipulá-lo como você teria dado mais valor a ele. Independente do passado quero que saiba, toda vez que estiver em contato direto ou indireto com ele eu vou estar com você. Ah e diz a tia Solange que ela é a melhor do mundo.

- Direi mas...

- É melhor você voltar o mundo te espera, curta bastante por mim.

Felipe abriu a porta e ela saiu, sabia que ele não diria mais nada, desceu as escadas indo para a porta da frente, ao abri-la deu de cara com Térsio.

- Você está se esquecendo de mim.

- Claro que não Térsio.

- Venha vamos dar uma caminhada.

A porta deu acesso a um bosque, começaram a caminhar lado a lado.

- Sabe que dos três você sempre foi minha melhor amiga não sabe?

- Térsio...

- Metal, Energia, Água e Fogo, você aprendeu rápido a controlar estes elementos, mas eu tinha que ficar por último?

- Não estou te entendendo no que você ficou por último?

Ele parou e sentou na sombra de uma árvore.

- Ariel você também pode controlar a terra, a areia, a argila, o barro, pedras, vidro, poeira e tudo que estiver em ligação com eles, como qualquer tipo a vegetação.

- Como sabe disso.

- Maninha, todos os seres humanos possuem ligação com um elemento da natureza, em nossa família cada um possuía contato com um elemento, você nasceu com uma alta força receptora e quando nós partimos do plano dos físico e você ficou, nossas habilidades de manipulação foram transferidas diretamente para você, mesmo que nós não tivéssemos partido, hora ou outra você teria absorvido essas habilidades de alguém no mundo. O bom dessa situação é que todas as vezes que manipular um deles, um de nós estará ao seu lado, não em carne e osso, mas em essência de elemento como agora, por isso volto a repetir o que os outros já lhe disseram. Toda vez que tiver contato com a terra eu estarei com você.

- Por que não posso ter vocês de volta em minha vida?

- Nós nunca te abandonamos e nunca iremos te abandonar.

A voz da mãe a fez se virar, todos os outros estavam vindo a seu encontro.

- Nossos elementos estão em você e nós somos os elementos.

- Papai eu...

Efraim se aproximou e a abraço que começava a chorar.

- Minha menina ainda tem muito o que aprender, eu te amo muito.

Madalena, Amália e Felipe fizeram o mesmo que ele repetindo que a amavam. Ela se virou para Térsio que agora já estava em pé.

- Térsio...

- Lembre-se de mim e manipule a terra, falta pouco para o ciclo se fechar e eu também te amo irmãzinha.

- Eu amo muito vocês e nunca vou esquecê-los.

Deram um abraço grupal, no meio dele Ariel acordou com o despertador tocando era hora de ir trabalhar, mas assim que teve a oportunidade confirmou as palavras de Térsio em relação a terra.

Ar

Seu aniversário estava próximo e Ariel tinha certeza que a madrinha iria preparar alguma surpresa, ela havia prometido passar todos os aniversários no sítio dela e dessa vez não seria diferente. Um dia antes do aniversário, ela foi para lá ao chegar no portão o vento a encontrou sussurrando vozes, várias vozes, sussurrando e cochichando algo sobre ela.

Parou tentando identificar de onde vinham as vozes, sem ver ninguém o lugar estava vazio, nem uma alma passando na rua, se lembrou do tempo nos hospital, dos barulhos que ouvia de noite e das conversas da tia com o médico fora do quarto, lembrou-se também das vezes que alguns cheiros chegavam até ela sem que conseguisse identificar o local de origem e finalmente se lembrou da infância onde subia nas árvores só para sentir o vento contra o rosto.

Uma sensação de paz a invadiu com as lembranças, e as vozes continuavam a chegar quando o vento a encontrava. Desconfiou mas não tinha provas, pensou ser sua imaginação lhe pregando uma peça e continuou andando. Outra rajada de vento a encontrou e mais uma vez ela ouviu as vozes, estava um pouco mais próxima da casa e conseguiu identificar as vozes de sua madrinha, Sofia, e alguns outros amigos da faculdade, mais uma brisa a encontrou trazendo o cheiro de chocolate, bolo, refrigerantes, pasta de atum, pão de forma, plastico.

Dessa vez Ariel não teve duvidas era o vento que contava para ela essas coisas, o vento veio em sua direção e controlando os sentimentos ela o fez retornar a casa fazendo-o abrir as janelas encostadas e trazer mais cheiro e barulhos. Ao senti-lo novamente Ariel teve certeza estavam preparando uma festa surpresa para ela, sua vontade foi de dar meia volta e sumir, mas não podia fazer isso, apesar de o aniversário ser dos quatro o comemorado era só o seu e isso sempre fazia com que ela ficasse triste.

O vento começou a soprar com força, como se estivesse empurrando Ariel para que aproveitasse a festa, no meio do caminho ela deu um basta e o vento parou.

Uma voz parecida com a de Térsio sussurrou em seu ouvido.

- Enfim o ciclo se completa.”

Daquele momento em diante ela soube que poderia controlar o vento, a terra, o fogo, a água, a energia e o metal. Seis elementos o que só a fazia lembrar mais de sua família antes eram seis, agora uma.

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Durante quase quatro anos Ariel evitou aquele momento, mas agora não daria para adiar mais, era hora de voltar a antiga casa em que morara com os pais e os irmãos. Lacrada desde os acidentes, estava na hora de suas janelas serem abertas, o pó retirado e o vento mais uma vez rolar com liberdade entre os cômodos.

Solange se ofereceu para acompanhar a sobrinha nessa volta ao passado, mas preferia enfrentar sozinha esse momento. Não que a tia fosse perturbá-la ou incomodar, mas sentia que devia isso a eles, devia a sua família.

Estacionou em frente a garagem e sentiu o sangue gelar com a imagem da casa que parecia sem vida e triste, como um cachorrinho a espera de seu amado dono. Aos poucos foi respirando com calma, abriu a porta do carro e desceu se dirigindo devagar para a porta da frente, a cena parecia rolar em câmera lenta, a cada passo o ar parecia mais denso, todos os momentos vividos naquela casa rolavam em sua cabeça como um filme acelerado.

O riso de crianças a vez voltar a realidade e olhar para trás, duas meninas e dois meninos de no máximo oito anos estavam passando pela rua rindo e brincando acompanhados de três mães. Ao ver as mulheres ela sorriu, não eram fantasmas de seu passado eram somente crianças e suas mães.

- Ariel, é você menina?

Uma senhora magra de olhos pretos profundos e cabelos brancos presos em coque se aproximou dela, após analisar bem a figura conseguiu reconhecer.

- Dona Rúbia, como está?

- Feliz em vê-la, faz tanto tempo que não aparece por aqui.

- Tenho trabalhado muito, mas e a senhora está morando por aqui?

Ariel rodou um filme mental de sua velha professora, sempre trocando quem era quem, especialmente quando estavam fazendo bagunça em suas aulas, de todas as pessoas que poderia encontrar, ela não estava na lista em nenhuma colocação.

- Sua tia me pediu para dar uma olhada na casa quando pudesse, para ter certeza que estaria tudo bem.

- Ah, e eu agradeço pela gentileza, mas não será necessário que venha mais.

- Vai voltar a morar aqui?

- Não, vou colocá-la a venda, não é justo que fique abandonada assim, minha mãe a projetou para ter vida, não ficar esquecida no tempo.

- Faz bem menina, existem muitas famílias que podem ser muito felizes morando em uma casa assim, que foi construída com amor.

- Obrigada, se me der licença vou entrar.

- Claro menina, essa casa transpira muita energia positiva.

- Energia?

- Existe sempre a última lição que os professores podem nos ensinar. A energia não é somente a eletricidade, energia é tudo a nossa volta desde o cair de uma folha no chão aos mistérios do sobrenatural. A energia é a força vital que movimenta o mundo, que faz a vida se renovar e crescer, ela é a combinação de todos os elementos não sólidos agindo para formar a matéria, sem energia não existe nada e sem os outros elementos a energia não pode existir. Você não sente?

- Acho que sinto.

A mulher lhe segurou o rosto com as duas mãos.

- Você ainda é jovem, tem muito a aprender e descobrir. Fique em paz criança és uma peça rara e poderosa, logo despertará com força total.

Dando-lhe um beijo no rosto a mulher se foi, por um momento Ariel teve a impressão que sua antiga professora sabia o que ela podia fazer com o metal, a água, a terra, o fogo, o ar e a eletricidade e talvez estivesse lhe dizendo para evoluir seus poderes. Sacudiu a cabeça deixaria essa analise para depois, agora precisava enfrentar o passado, entrou na casa sem pensar duas vezes.

Os móveis estavam cobertos com panos, o chão sujo e empoeirado, mas isso não a impediu de lembrar do sonho com a família e das palavras de Térsio “falta pouco para o ciclo estar completo.”ela pensou que ele provavelmente estava se referindo a ela aprender a manipular a terra e o ar.“ Mas se o ciclo se completou o que mais vai acontecer?.”

Se perguntou mentalmente, como em resposta veio a lembrança as palavras da velha professora momentos antes “A energia é a força vital que movimenta o mundo, que faz a vida se renovar e crescer, ela é a combinação de todos os elementos não sólidos agindo para formar a matéria, sem energia não existe nada e sem os outros elementos a energia não pode existir. Você não sente?”De alguma forma sua antiga professora lhe disse que a manipulação não era só aquilo que havia aprendido, não era só movimentar os elementos era se tornar parte deles, fundir sua alma com eles ser uma só com a natureza, isso iria exigir muito trabalho e dedicação.

Na semana que se seguiu foi todos os dia para a casa, a limpou e organizou utilizando somente os elementos, muitas coisas que estavam lá ela iria utilizar no apartamento que estava procurando, suas colegas eram ótimas, mas agora precisava se dedicar sem preocupar-se em ser vista dentro de casa. Começou a treinar escondida e aprender a controlar com precisão cada um desses elementos, antes mesmo do esperado ela já os dominava com muita habilidade e alegria, era diferente do principio da descoberta sentia-se mais ligada aos seus familiares, ligada de uma forma que nunca imaginou ser possível os seis haviam se tornado um só dentro dela. Assim a vida ficava cada vez mais fácil, trabalho e estudos Ariel enxergava um novo mundo e com ele mais tranquilidade e paz de espírito. 


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Notas finais do capítulo

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