- Está tudo bem, senhor Silva? – perguntou-lhe a sua secretária, Jessica Santos, quando ele voltou ao escritório.

                Rubens não sabia o que faria sem ela. Aquela mulher era uma deusa e precisava mais dela que nunca, agora que tinha havido uma fuga e informações na empresa.

                - Não, Jessica, não estou bem. Preciso de falar com o Denis imediatamente. Diz-lhe que venha ao meu escritório.

- Sim, senhor Silva.

- Jessica, já te disse que podes tratar-me por Rubens.

- Sim, é verdade, mas quando chega ao escritório tão zangado como hoje...acho que é melhor respeitar o protocolo e tentar passar despercebida.

- Alguma vez te tratei injustamente? – perguntou-lhe Rubens.

- Claro que não – sorriu Jessica.

Rubens também sorriu. Se não fosse pela maldição que pendia sobre a sua família, teria demonstrado àquela preciosa secretária o quanto estava interessado nela.

A maldição profetizava, exactamente, que todos os membros da família Silva teriam sorte no amor ou nos negócios, mas nunca em ambas as coisas.

Manuel Silva, o avô de Rubens, tivera muita sorte nos negócios, mas morrera só e amargurado. O pai de Rubens, Aderito, fora e continuava a ser, um homem muito feliz no amor e tinha uma relação maravilhosa com a mãe de Rubens.

E agora os seus irmãos estavam a estragar tudo, não cumprindo o pacto de sangue que tinham feito em adolescentes. Tinham prometido que conseguiriam devolver o bom nome à família, tanto nos circuitos de Fórmula 1 como na empresa, especializada em carros desportivos de luxo.

Rubens vivia em Milão, mas viajava por todo o mundo para acompanhar os convidados que chegavam aos grandes prémios de Fórmula 1. Como presidente da Silva Motors, estava encarregado, naquele momento, do próximo lançamento do Vallerio Roadster, um clássico dos setenta, que tinha o nome de um dos pilotos de Fórmula 1 mais conhecidos da época, Pierre Henry Vallerio, grande amigo de Manuel Silva.

- Posso fazer alguma coisa por si? – perguntou-lhe Jessica.

- Continuar a fazer o teu trabalho – respondeu Rubens.

Cada vez confiava mais na sua secretária e, graças a ela, as coisas corriam bem. No ano passado, Rubens apercebera-se de que alguém andava a roubar segredos da Silva. No inicio, tinha sido o design do motor e algumas modificações. Rubens, Denis e Danielson não tinham levado muito tempo a perceber que havia uma toupeira. Chegaram à conclusão que o infiltrado estaria nos escritórios de Milão, mas não tinham conseguido avançar mais.

Danielson estava muito ocupado porque era o condutor de Fórmula 1 da equipa Silva, logo não tinha tempo para controlar o que acontecia nos escritórios. Denis estava ocupado com a família Vallerio certificando-se de que o uso que faziam do nome do corredor cumpria o que Pierre Henry assinara.

Portanto, a única pessoa disponível para investigar quem era o infiltrado era ele, que estava decidido a encontrar o espião e a enfrentá-lo.

- Vou dizer ao Denis que venha o mais depressa possível – anunciou a secretária. – Recebeu uma chamada de Ian Stark. Deixei o telefone tocar até passar ao atendedor de chamadas para ele poder deixar-lhe uma mensagem.

- Obrigada, Jessica.

Rubens entrou no seu escritório, o escritório que todos os presidentes da Silva Motors tinham ocupado, desde que o seu avô comprara aquele prédio em 1964. Naquela época, o avô não tinha poupado em despesas porque queria que todo aquele que entrasse no escritório ficasse com a ideia precisa de que quem ali estava tinha muito poder, queria que soubessem que se tratava de um homem que podia fazer coisas importantes.

Rubens aproximou-se da parede onde estava pendurado o retrato do avô ao lado do seu primeiro carro de Fórmula 1, o primeiro carro da Silva Motors, que ele mesmo desenhara e conduzira no Grande Prémio de Le Mans.