Laços de Amizade - por Pedro escrita por Sonhador


Capítulo 1
Capítulo 1




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CAPÍTULO UM


Por Pedro


Ah! Que dia! Lindo dia! Amanhecendo, as aves cantando, os raios de Sol incomodando meu gostoso sono... O que? Como assim?
- Pedro? Pedro, meu filho, acorda!
- Hã? O que?
- Você já deveria estar de pé, levante-se!
Olhei para o despertador, que marcava 06h45min, e me veio uma porção extra de sangue à cabeça.
- Seis e quarenta e cinco? A senhora tem noção do que acaba de fazer? Não se acorda um filho às seis e quarenta e cinco da madrugada! Isso é tortura! Você não me ama?
- Amo sim, o bastante para não querer que perca o primeiro dia de aula.
Nesse instante arregalei meus olhos e lembrei que esperei durante dois torturantes meses por esse dia. O primeiro dia de aula num colégio novo! Que barato! Para mim era sempre incrível quando esse dia chegava. Mal podia esperar a hora de encontrar com meus colegas de classe! Ainda não os conhecia, na realidade não fazia a menor idéia de quem fossem, e isso era o melhor de tudo, não sabia o que estava me esperando, mas com certeza não temia.
- Porque não me chamou antes, mãe? Tem noção de que horas são? Assim vou chegar tarde. - Imediatamente pulei da cama, pus-me a correr ao banheiro para não me atrasar e tentei ser bem breve.
Uns 30 segundo depois saí do banho, minha mãe me olhou com um olhar questionador e deu uma cínica risadinha:
- Nossa, Senhor Pedro, que rápido! Achei que seis e quarenta e cinco da madrugada não era hora de ninguém se levantar. - Pura covardia, usou minhas próprias palavras contra mim.
Mas não me intimidei; repliquei:
- Não em pleno primeiro dia de aula, Dona Marta, afinal você não vive dizendo pra eu estudar?
Ela saiu do quarto rindo e ainda soltou uma piadinha:
- Apresse-se, querido, ou vai perder a apresentação da turma.
Tentei ir o mais rápido que pude e saí correndo de casa.
- Espero não estar esquecendo nada! – Pensei.
Quando passei pela esquina de casa lembrei-me de um pequeno detalhe: meu caderno. Justo ele! Voltei suspirando e tentei não deixar minha mãe perceber, mas não deu certo.
- Pedro, o que você esqueceu? - Perguntou irônica, mas eu não podia entregar o jogo.
- Nada, mãe, apenas estava apertado. - acho que escapei, se ela soubesse que esqueci meu principal instrumento de estudo faria gozação com a minha cara enquanto eu fosse vivo.
Por fim o colégio. Depois de uma corrida contra o tempo cheguei ofegante ao porteiro, que me barrou logo na entrada. O que? Como assim? Depois de tudo isso ainda vou perder a primeira aula? É tortura demais pra uma só manhã. Esperar quarenta e cinco minutos sentado num banco era como esperar os créditos de um filme acabar para poder ver a última cena dele. Tedioso, mas eu não conseguiria mesmo, por isso tratei de me levantar para conhecer o lugar onde eu estava, o pátio da escola. Era grande, tinha uma área chatinha na lateral onde ficavam as mesas e alguns bancos, nada demais; bom mesmo foi quando me deparei com a outra lateral. Um parque! Que fantástico! Tinha escorregadores, gangorras e o mais “massa”: espiribol. Era tudo pra mim.
Enquanto observava algumas pinturas feitas nas paredes (que por sinal não me interessavam nem um pouco, mas não tinha nada melhor pra fazer, e para aquele banco é que eu não voltaria) ouvi o portão se abrir e alguém saudar o porteiro. Na mesma hora me virei e corri em direção ao garoto que acabara de adentrar.
- Poxa, nem acredito! Como está? Estou muito feliz em ver você.
O rapaz não esboçou muito entusiasmo, apenas olhou para mim com uma expressão estranha e respondeu sem muita euforia um “Oi?”.
Comecei a puxar assunto com ele, não era bem o estilo dos amigos que costumo ter, mas era o que eu tinha naquele momento.
- O que achou da nova escola? Não! Não responda, eu sei que está adorando! É muito bonita, não é mesmo? Fale como foram suas férias! Aposto que bem cansativas, como as minhas. Bom, fiz muita coisa boa, mas nada se compara ao primeiro dia de aula, concorda? Ainda mais quando a escola é nova e ninguém conhece ninguém, assim como eu não te conheço. Ai, meu Deus, eu não te conheço! Como você se chama?
Sua expressão permaneceu exatamente a mesma, depois que eu acabei de falar ele simplesmente balançou um pouco a cabeça positivamente e respondeu:
- É. Realmente eu não conheço você.
É só isso que ele tem a dizer? "eu não conheço você."? Ou ele é mesmo uma pessoa de poucas palavras, ou não havia gostado muito de mim. Fico com a primeira hipótese, impossível não gostar de mim. Mas independente do que fosse eu iria fazê-lo falar.
- Então vamos resolver esse problema! Eu me chamo Pedro e moro aqui perto, três quadras acima, faço o terceiro ano médio, na verdade vou fazer, mas a partir de hoje, então acho que já posso dizer que faço.
- Legal. - Achei que ele fosse falar só isso, mas ele continuou: - me chamo Isaac, moro aqui perto e vou entrar no terceiro ano também.
- Que “massa”, vamos estudar juntos, o que você acha?
- Ér..., bom.
Decepcionei-me mais uma vez com a resposta desmotivada do Isaac. Bom, ao menos já sabia como chamá-lo.
Após conversarmos um pouco ouvimos a sirene disparar. Era sinal de que acabara a primeira aula, e junto com ela minha ansiedade e tortura. O porteiro nos chamou e eu estava cruzando a grade que destinava às salas com meu novo amigo, na verdade colega, mas eu sabia que isso mudaria, pois eu havia proposto para mim mesmo o desafio de mudá-lo, seria difícil, pois ele não é muito bom de diálogo, mas, como eu mesmo falei, é um desafio.
Isaac seguiu em direção ao banheiro, eu fui direto para a sala de aula, só tinha um problema, eu não sabia qual era. Havia várias no mesmo corredor (na verdade o único). No meio do colégio avistei um homem com uma camisa social branca e uma gravata vermelha, imaginei que fosse o inspetor. Ele era um “armário”! Gigante e forte. Eu me assustei a princípio, mas lhe perguntei com um grito onde ficava a minha sala. Ele me repreendeu na hora e me aconselhou a não fazer mais isso, porque estava tendo aula bem ao meu lado, mas ainda assim me respondeu.
- Terceiro ano, não é isso?
- Sim, isso mesmo!
- Bem ao seu lado. - Falou ironicamente. - Devia prestar mais atenção nas portas!
- Droga! Me rebaixei pedindo informação para esse cara, e o que eu precisava saber estava bem pregado na porta. – Pensei. - Bom, agora já era! A parte mais difícil estava feita, agora só faltava entrar.
Pronto, da forma que eu esperava! Todos bem sentados, com os olhos fixos no professor, que estava de jaleco branco e possuía uma barba volumosa concentrada ao redor da boca. Ao fechar a porta dei uma boa olhada na sala, e em seguida no Senhor Diego (seu nome estava escrito no bolso de seu jaleco), que prontamente me cumprimentou.
- Bom dia! Pode entrar, fique à vontade! – Foi bastante educado.
- Obrigado, Professor...? – Fingi não saber seu nome, só pra puxar conversa.
- Diego. Professor Diego, de redação. Lá atrás tem algumas cadeiras vazias, pode ir. – Uma tentativa frustrada de me fazer sentar depressa, mas não foi tão fácil.
- Diego! Sabia que o nome do meu tio é Diego? E também já tive outro professor com esse nome. – Insisti no diálogo.
- É? Que bom! Tem mesmo várias pessoas com esse nome. É bem comum. – Falou desviando um pouco o olhar para a turma, tentando me fazer entender, de uma forma educada que eu devia sentar. Eu percebi isso, mas continuei onde estava, só para ver até onde iria sua mansidão.
- E as pessoas não lhes confundem às vezes? – Quando percebi que não tinha mais o que conversar comecei a perguntar coisas mais idiotas que o normal. Teve um fundo de propósito, para a turma perceber, eu adorava ouvir rumores de risos, mas a reação foi diferente da que e imaginava.
Uma menina, muito bonita, por sinal, que estava sentada na segunda cadeira da fileira encostada na parede, se manifestou, e a berros me repreendeu na frente de toda a sala:
- Ei, menino, qual é o seu problema? Não entende que está atrapalhando o professor e a todos nós? Vá se sentar! Além de chegar atrasado ainda quer fazer tumulto!? – Logo percebi que teria um longo ano pela frente, e que essa menina estaria no meu caminho. Mas não fui só eu quem levou repreensão: - E o Senhor, Professor? Vai permitir que um aluno o trate assim, com tão pouco caso? O que é isso?
Finalmente ela se calou. Após tamanho espetáculo eu não podia mais continuar lá. Fui procurar uma cadeira para sentar, para isso me dirigi até o “fundão” e olhei para todas as opções, na verdade duas: à direita um rapaz calado no cantinho da sala, olhando apenas para seu caderno e para o quadro; à esquerda um trio de “patricinhas”, que pareciam já ser antigas amigas, uma atrás da outra, e que, de vez em quando, se cutucavam para cochichar. Não me agradei de nenhum dos dois lados, mas, infelizmente, eu não podia ficar em pé e nem sentar no chão, então sentei na cadeira ao lado do aparente “nerdzinho”.
- Oi, como vai? – Cutuquei o garoto após perceber que ele não era de muita conversa.
- Oi! – Respondeu-me com uma expressão feliz, mas fez de tudo para que eu não percebesse, talvez não quisesse me dar cabimento, mas gostou de eu ter falado com ele.
- Qual é o seu nome? – Prolonguei o diálogo.
- Arthur, e o seu?
- Pedro. Eu perdi alguma coisa de interessante na primeira aula? – Falei com medo de ter perdido a apresentação.
- Não! A coordenadora veio aqui nos dar as boas vidas e dizer que mais tarde o diretor chegaria com toda a equipe da direção e coordenação da escola para nos conhecer.
- Legal! Então o professor só deu aula desde que entrou?
- Sim. – Falou balançando a cabeça um pouco rápido.
Passados alguns segundos Isaac entrou, e agiu de uma forma bem diferente de mim, apenas balançou a cabeça uma vez positivamente e falou um “com licença” quase inaudível. A única opção que ele tinha era sentar perto das meninas, pois era a única cadeira que sobrara. Lamentei não poder sentar perto dele, mas tinha Arthur, que também encarei como um desafio, devido à sua timidez.
Após algum tempo a coordenadora Karla bateu à porta da sala e entrou com os diretores Rômulo e Juliani, também donos do colégio, e alguns vice-diretores, os quais não prestei atenção nos nomes e em quantos eram, só lembrei que um falava com a língua presa, o que seria um prato cheio para mim.
- Bom dia, gente! – Saudou-nos o diretor com a voz um pouco fanha. – Como estão? Saibam que é um imenso prazer recebê-los na Instituição de Ensino Tomodachi, e que toda essa equipe se preparou muito durante essas férias para que todos vocês recebessem o melhor. Vi que já conhecem o professor Diego. Ao longo da semana conhecerão os outros profissionais que lecionam aqui, tenho certeza que se agradarão muito de todos.
Após muito “blá blá blá”, finalmente às apresentações. Cada profissional falou seu nome, e logo em seguida foi nossa vez. Não decorei o nome de quase ninguém, apenas dela, aquela menina irritante que gritou comigo: Lessa! Esse era seu nome. Vou guardá-lo em minha memória até o dia em que darei o troco que ela merece.
Depois de um bom tempo acabaram as apresentações, e junto com elas a aula de redação. O professor consecutivo foi Márcio, um professor de biologia, que tinha a voz enrouquecida. Todos esses defeitos que eu encontrava nas pessoas seriam utilizados, mas no momento oportuno.
Quarenta eternos minutos depois ouvi o som do sinal que liberava os alunos para o intervalo. Era minha chance de conhecer o resto do colégio; eu tinha apenas quinze minutos, mas era o suficiente, pelo menos para hoje.
Caminhei curioso pelo corredor, cumprimentando alguns alunos como pretexto, só para entrar nas outras salas e ver se não eram melhores que a minha. Na verdade eram todas da mesma forma, exceto pelo tamanho, onde a minha se destacava, por ser a maior do colégio, o que me enchia de soberba, mas não era pra menos, pois comportava cerca de cinqüenta alunos, um número bastante alto em relação às outras, que não passavam de quarenta.
Após conhecer e me enturmar com pessoas de outras turmas, percebi que meu tempo de lazer acabou. Quando voltei à sala (antes que a maioria dos outros alunos entrasse) fui falar com o Isaac, que entrara quase junto comigo:
- E então, ta gostando? – A minha expectativa era que ele fosse pelo menos mais simpático do que antes.
- Na verdade, não. – Respondeu seriamente
Eu continue com a mesma feição, mas por dentro meus olhos estavam arregalados, meu queixo caído, e eu indignado. Como assim!? Que menino chato! Será que ele não pode fazer o mínimo possível de esforço para pelo menos aparentar ser alguém agradável?
- Ué, mas por quê? O que está te desagradando aqui? – Tentei entendê-lo.
- O problema não é a escola, o problema sou eu.
Pronto, agora é que eu não tava entendendo mais nada mesmo. Ele estava concordando comigo! Mas continuei perguntando, eu queria entender o que estava acontecendo com ele.
- Ainda não estou te entendendo.
- Você não precisa entender. – Falou após ter olhado bem nos meus olhos. – A aula já vai começar. – Dirigiu-se ao seu lugar enquanto o professor Márcio entrava na sala.
Fui sentar pensando no que Isaac havia me falado. Não entendi o que ele quis dizer, mas fiquei triste por ele. A minha curiosidade se confundia com a minha preocupação, e fiquei até a última aula pensando numa maneira de descobrir o que se passava com ele, tanto que nem prestei atenção no nome do último professor que entrou após a aula de biologia, só sei que era um de geografia. Notei que durante a aula quase toda o Isaac estava de cabeça baixa, debruçado na cadeira da frente, então, quando acabou fui falar novamente com ele.
- Por que caminho você vai para casa?
- Ainda não sei se vou a pé, ou se meu pai vem me buscar. Vou ligar pra ele. – Eu estava torcendo para que ele fosse a pé, para eu ir com ele.
Não pude deixar de perceber a mudança do seu semblante ao falar com seu pai ao telefone. Falou sem muito entusiasmo. Quando desligou o telefone deu uma olhada no visor do celular e o guardou.
- É, parece que meu pai vem me buscar. – Falou esboçando um riso forçado.
- Ah, que pena. Então ta beleza. Amanhã a gente se fala. – Na verdade não tava nada “beleza”, eu queria que ele fosse a pé comigo. Mas tudo bem, eu ficaria conversando com ele até seu pai chegar.
Antes de cruzar a porta não pude deixar de perceber que o Arthur continuava sentado, arrumando sua bolsa.  Deixei o Isaac ir na frente e voltei. Notei o rapaz meio desconfiado, então tentei descontrair.
- Poxa, você deve trazer muita coisa, não é? Quanto trabalho pra arrumar a bolsa. – Falei com ar de riso.
- É, eu trago muitos livros. – Correspondeu simpaticamente, porém, ainda desconfiado.
- Bem diferente de mim. - Ainda rindo mostrei a única coisa que levava: meu caderno. - Então está bem, vou te esperar pra sairmos juntos. Você vai a pé para casa?
- Vou sim. – Notei surpresa em seu olhar, o que me deixo um tanto curioso também.


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