Tudo que Vai escrita por IsaWonka


Capítulo 1
único.


Notas iniciais do capítulo

Música: Tudo que vai.
Banda: Capital Inicial.

Para a Mura.



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Hoje é o dia...

Eu quase posso tocar o silêncio.

A casa vazia...

Só as coisas que você não quis me fazem companhia.

Eu fico à vontade com a sua ausência — eu já me acostumei a esquecer.

               Aleksander ainda morava na mesma casa desde que tinha sido deixado sozinho. Destrancou a porta e entrou, jogando-se no sofá. Voltava de outra exaustiva reunião dos países — claro, cansava-se de tanto falar e rir. Não desgrudou de seus companheiros nórdicos um minuto sequer, incomodando o sueco tanto quanto era possível.

               Correu os olhos pela casa, desabotoando o grande sobretudo preto que sempre usava. Sua gravata lhe estava sufocando e apressou-se em desapertá-la também, deixando-a displicentemente solta em seu pescoço.

               A noite chegava devagar, como que cautelosa. As primeiras estrelas começaram a salpicar o céu ainda claro e o dinamarquês foi até o jardim, deixando o corpo cair na grama.

               Deitou-se e seus olhos encontraram as estrelas. Levou as mãos para a parte de trás da própria cabeça como em um travesseiro improvisado. Suspirou e apenas ficou ali enquanto o céu escurecia ainda mais.

               À medida que a luz desaparecia, as pálpebras dinamarquesas ficavam consideravelmente mais pesadas. Sua mente ainda vagava pela reunião e pelas memórias que ainda guardava com os nórdicos — um leve sorriso surgiu entre os lábios dinamarqueses.

               O sono finalmente se apossou do louro, assim como as lembranças.

Tudo o que vai...

Deixa o gosto.

               Aleksander sentiu que alguém se aproximava. Com um pouco de susto, abriu os olhos e pode ver que o sobretudo azul do indivíduo chegava-lhe até o meio das canelas. Ergueu um pouco mais os olhos, correndo-os pelo corpo do intruso e deparou-se com Berwald olhando-o por trás das lentes.

               O dinamarquês coçou a cabeça, confuso.

               — O que está fazendo aqui? — perguntou.

               Como quase sempre, o sueco não respondeu. Apenas joelhou-se na grama, ficando sobre Aleksander que, com um sorriso malicioso, inverteu as posições rapidamente.

               — Tsc... Sem resposta, sem acordo. O que pensa que está fazendo?

               Ambos ficaram se encarando, sem um diálogo decente. Aleksander levantou uma sobrancelha assim que Berwald deslizou uma das mãos pelas suas coxas. Pensou, consigo mesmo, o que diabos ele estaria querendo fazer — e o que quer que fosse teria suas consequências.

               Aleksander uniu os lábios e ficou levemente surpreso por não encontrar resistência: sem demora, as duas línguas entrelaçavam-se vorazmente e a respiração dos dois países misturava-se, assim como a saliva que escorria pela pele do homem que estava por baixo.

               Berwald segurou o dinamarquês pela cintura, firmemente, descendo um pouco mais as mãos com rapidez. Não demorou muito para que Aleksander fosse obrigado a separar os lábios para que pudesse gemer. Seus braços, que estavam apoiados ao lado da cabeça do sueco, fraquejaram momentaneamente e os lábios ainda estavam unidos, embora estivessem parados.

               Aproveitando-se do momento de fraqueza e distração do dinamarquês, Berwald inverteu as posições e atacou o pescoço de seu inimigo, intercalando mordidas fortes e lambidas enquanto sentia uma das mãos dinamarquesas acariciarem-lhe o membro que enrijecia cada vez mais.

               As bocas juntaram-se outra vez e agora ambos acariciavam-se e gemiam ao mesmo tempo, entre os beijos e as respirações exaltadas. O sueco cravou os dentes no lábio inferior do dinamarquês, fazendo-o... Acordar.

               Aleksander mal acordou e já havia inclinado o corpo para frente, subitamente, sentando-se. Sua respiração ainda estava ofegante, assim como no sonho, e podia sentir uma leve camada de suor a cobrir-lhe o corpo. Havia sido uma espécie de sonho completamente real, fazendo com que a excitação ainda percorresse-lhe o corpo: estava completamente arrepiado e se deixou cair para trás outra vez, contorcendo-se inconscientemente.

               Chegou a pensar que não conseguiria dormir novamente, até que percebeu que estava sentado ao lado de Tino.

... Deixa as fotos.

               O finlandês tinha uma câmera fotográfica nas mãos e estendeu-a para o dinamarquês:

               — Poderia tirar uma pra mim? — pediu, sorrindo. Geralmente só falava muito quando Berwald estava por perto.

               — Vai dar de presente para o sueco, é? — riu, brincando. No fundo, sabia da verdade e nem precisava ter perguntado. — Pra analisar a própria roupa é que não é.

               — Bom, vai tirar ou não? — cruzou os braços, virando de costas para Aleksander.

               — É claro que sim — respondeu pegando a câmera das mãos de Tino. — Posicione-se como você quiser e é só avisar. Já que vai ser para o seu ma...

               Levou um tapa do finlandês. Entendeu a mensagem e riu, parando por ali.

               — É melhor que você fique de lado — continuou. — Dobre um pouco os joelhos e coloque o dedo na boca — nessa hora, levou vários tapas, afastando-se alguns passos de Tino.

Quanto tempo faz?

Deixa os dedos, deixa a memória.

Eu nem me lembro...

               Ao perceber, estava sozinho novamente. Levantou-se, cambaleando levemente, e voltou para dentro da casa.

Salas e quartos somem sem deixar vestígios.

Seu rosto, em pedaços, misturado com o que não sobrou do que eu sentia...

               Jogou-se no sofá e olhou para o relógio — 23h30min. Como a hora passou tão rápido? Dormira tanto assim? Parecia ter sido tão pouco tempo... Se lhe perguntassem, responderia que tinha dormido por apenas quinze minutos, sendo que havia chegado em casa 19h.

Eu lembro dos filmes que eu nunca vi...

               A sala toda estava escura e o dinamarquês e o norueguês estavam sentados lado a lado. A TV passava um filme de terror e Adrien sequer mudava suas expressões. Aleksander já havia se cansado de tanto falar sobre o filme e seus olhos estavam pesados outra vez — o escuro também estava contribuindo para que o sono chegasse.

               Não demorou muito para que o dinamarquês escorregasse o corpo para baixo, encostando-se em Adrien que, no início, incomodou-se um pouco, mexendo o ombro na tentativa de incomodar Aleksander e fazê-lo sair dali — mas isso não surtiu efeito algum.

               Mais folgado impossível, o dinamarquês sorriu e voltou o rosto para o pescoço norueguês, sentindo seu cheiro. Deixava a respiração quente tocá-lo ali e beijou-o suavemente antes de fechar os olhos e adormecer rapidamente.

               Adrien voltou a ficar imóvel, tentando ignorar o dinamarquês e seu próprio corpo que se arrepiara ao senti-lo em seu pescoço.

... Passando sem parar, em algum lugar.

               Dessa vez, nada acordou o dinamarquês. Permaneceu ali a noite toda e, com certeza, acordaria com uma terrível dor nas costas.

Quanto tempo... Eu já nem sei mais o que é meu.

Nem quando, nem onde...

Tudo o que vai deixa o gosto, deixa as fotos.

Quanto tempo faz?

Deixa os dedos, deixa a memória...

Eu nem me lembro mais...

Eu nem me lembro mais.


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Notas finais do capítulo

Sem fantasminhas, fantasminhas! Reviews!