ócio escrita por briofita


Capítulo 1
mudança


Notas iniciais do capítulo

espero que gostem do primeiro cap



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Eu estava me mudando. Não sei bem ao certo porque estava fazendo isso. Tinha alguma coisa a ver com a minha mãe, e o namorado dela. Ela decidiu me mandar para Santo André dos Beduínos Cariocas, uma cidadezinha no interior do Amazonas, morar com o meu pai.

            Lá é legal, posso cultivar minha personalidade triste e miserável, conhecer alguém, me apaixonar e viver um romance doentio. Não sei porque pensei nisso agora, mas algo me diz que vai ser exatamente assim. E espero que seja. Quero me acabar na melancolia lol

 

            Cheguei em Santo André. Era frio, muito frio. Estranho, porque nunca havia sol. Um lugar ideal para quem não é chegado num bronze tropical. Bem, eu sou branquela mesmo, sol não é comigo. Pra mim está ótimo.

            Meu pai era policial. Cherife. Não sei bem, não me importo com isso, estou mais preocupada se ele se lembrou de comprar a neosaldina, a cólica ta de matar!

            Enfim, cheguei em casa (o infeliz tinha esquecido de comprar o remédio), fez um comentário sobre meu cabelo ter crescido, e disse que eu me divertiria na escola. Eu fiz “aham” e ele se tocou.

            No outro dia, meu pai me chamou no jardim. Lá estava ele, ao lado do Billy, um amigo nosso da família. Ele tinha um problema gravíssimo, algo horrendo que me apavorava e tinha até nojo de me aproximar dele... Ele tinha corrimento nasal.

            Ah, ele também tinha um outro probleminha. Perdera o movimento das pernas, então não podia andar, obviamente. Mas dificilmente as pessoas reparavam, o escarro na cara chamava muito mais atenção.

            Mas, enfim. Naquele dia ele apareceu com o sobrinho. O Jacob, um garoto que, na infância, era franzino, mas agora era marombado que nem um mastrondonte.

            - Fala, Jake – eu cumprimentei – opa, que calombo é esse aí no seu braço? Ah, é um músculo. Te peguei, hein, ahahah!

            - Bella, você e tão feliz – ele riu.

            Eles me deram de presente um fusca, coisa pela qual eu sou apaixonada.

            - Fusca! Lol vocês são ótimos.

            - Ah, Bella. Você é tão feliz – ele riu. De novo.

            Comeram o pão de queijo, receita mineira da vó Terezinha, um bolinho de fubá que só o papai sabe fazer e foram para casa.

            - Tchau Bella. Ah, você é tão feliz.

 

**********************************************************************

 

Era o dia de ir à escola. Entrei no Fusketone, nome que eu dei ao meu carango possante, já que eu era meio retardada na época. Menina é assim mesmo. Coloca nome em tudo o que se apaixona. Eu gostava tanto de um rimel que coloquei o nome nele de Ivonete. Mas aí me lembrei que não gostava de usar maquiagem, então joguei a Ivonete no Juvenal (o triturador lá de casa).

            Como dizia, eu estava a caminho da escola, nevava muito, mesmo porque, é total comum nevar na Amazônia, estado brasileiro mais propenso a esse tipo de atividade paranormal climática.

            Chegando na escola, comecei abafando. Todo mundo queria um pedaço meu. “Olha, é a garota carioca”, “A menina da cidade grande! Que gata”. Ai, eu queria morrer. Odeio ser o centro das atenções.

            Finalmente, entrei na sala. Logo de cara, conheci duas pessoas, O Maike da Silva e a Jéssica Silveira. Bons amigos, mas o que me interessou mais foi o carinha da aula de biologia. Ele tinha os olhos pretos, os cabelos rebeldes e acobreados. Tinha uma cara meio achatada e pálida, com umas olheiras. O nariz era estranho, parecia uma coxinha de catupiri. Mas a boca era até bonita. Alem do mais, Jéssica me disse que ele estava solteiro. Sentei-me ao lado dele, rezando para que não fosse baitola.

            Primeiro eu fiquei intrigada com a forma com que ele me olhou. Será que eu devia estar fedendo? Ele franziu o nariz, com aquela cara de nádega. Dei uma checada no cabelo, sentindo o perfume. Arc! Nunca mais compro perfumes na 25 de março!

            Sentei-me ao lado dele. O professor nos deu umas amostras de células, dizendo que, quem conseguisse descrever todas as fases da mitose, ganharia um pepino de ouro. Fiquei fascinada! Nunca vi um pepinão tão brilhante!

            - No sol eu posso te mostrar – o garoto falou. Eu o olhei, sem entender.

            - O que disse?

            - Eu posso te mostrar um pepino ainda mais brilhante.

            - Como?

            - Minha mãe adotiva tem um pepinal. Ela cultiva pepinos. É um desejo que ela adquiriu depois que meu pai adotivo deixou de dar um trato nela.

            Que isso? Que intimidade é essa rapaz? Nem o conhecia para ele ficar falando essas coisas! Aliás, eu nem me lembrava de ter dito em voz alta aquele lance do pepino.

            - Ah, tudo bem – eu dei de ombros – deixa eu ver... Metáfase.

            Ele pegou o microscópio.

            - Não, você está errada. É anáfase.

            - Querido, eu era a melhor na minha escola. Isso é metáfase.

            - É anáfase... Ah, seu nome é Bella, certo?

            - Sim.

            - Isabella.

            - Não. Xorosbella. Meu pai era fã do Xitaozinho e Xororó, alem do mais estava numa manguaça dos infernos quando foi me registrar. É por isso que prefiro que me chamem de Bella.  

            - Ah... Meu nome é Ed.

            - Eduardo?

            - Não. Edrângio Papiloma. Meu pai é médico, e gosta de como a língua estala quando se diz Papiloma. Mas todos me chamam de Edward.

            - Ah. Tudo a ver, hein.

            - Eu sei o que está pensando. Eu sou estranho e, provavelmente, meu pai também é.

            - Nossa você é bom. Você lê mentes?

            - Não, é que eu pensaria a mesma coisa no seu lugar.

            No fim das contas, era telófase.

 

            Quando a aula acabou, entrei no Fusketone, dei a partida e fui pra casa. No caminho, percebi como minha vida já estava mudando. No fim do dia, eu tinha três certezas.

A primeira. Havia alguma coisa no Edward, uma natureza que eu desconhecia sua força, capaz de ser terrivelmente ruim em biologia. A segunda, eu estava irrevogavelmente e doentiamente apaixonada por ele. E, terceiro, eu precisava parar de usar calças tão apertadas. Aquela merda estava esmagando meu útero na costela!


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