Morte descolou seus lábios delicadamente dos lábios doces de Vittória. Ela era a única que sabia de sua identidade. Vithor. Lembrava-se vagamente de sua vida humana, mas não se lembrava de como havia se tornado a Morte.

  Descobriu tardiamente que havia se apaixonado pela garota morta em sua frente. Desejou poder chorar, voltar no tempo. Ele havia mentido para conseguir sua vida. E agora se arrependia profundamente.

  Abraçou o corpo agora vazio de Vitta. Estivera tão obcecado com o mistério que a garota representava que não havia percebido a alusão de seu nome Vitta – Vida. Ela era sua vida. E ele a havia matado. Havia matado a si memso.

  Não havia nada a ser feito. Levantou-se com o corpo de Vitta em seus braços. A exata imagem dos sonhos que Vittória tivera em seus aniversários.

Levou-a para o submundo dos seres implícitos da vida humana.

  Os dias passaram. Ian foi encontrado morto na praça. Houve toda uma comoção em torno de sua morte e do desaparecimento de Vittória. A princípio pensaram que era sequestro. Mas as semanas passaram e ninguém entrou em contato.

  Não havia sangue seu no local. Apenas um fio de cabelo no tronco de uma árvore antiga na praça e a marca quase apagada de seus sapanos nos retalhos de solo entre a grama da pracinha.

  O bandido cujo tiro matou Ian foi preso. Era um traficante. Estava com uma quadrilha de 6 pessoas que carregavam armas, munição, drogas e dinheiro.

  Thaís e Tay se casaram, os pais de Vittória tiveram outro filho. Jessica morreu também. Não suportou a perda do namorado, o qual era tão afeiçoada e o desaparecimento da amiga, tão querida como uma irmã. Enterraram Jessica e Ian um ao lado do outro.

  Thaís e Tay se casaram, os pais de Vittória tiveram outro filho. Falavam muito pouco da irmã para ele.

  Passaram-se dias, semanas, meses e nenhuma notícia sobre o desaparecimento de Vitta. Alguns diziam que havia fugido, outros pensavam que havia morrido no caminho da fuga. Outros, mais supersticiosos, inventavam incontáveis histórias sobre seu desaparecimento.

  Nenhum chegava perto da verdade. E nem chegaria.

  Os anos foram passando. Ela foi dada como morta  

  Nada foi esclarecido.

Viver é morrer. E morrer é viver uma nova etapa...
A Vida é passageira, todos se vão quando a Morte vem buscar...
É essa efemeridade que nos faz querer aproveitar cada segundo, sem olhar pra trás e sempre de cabeça erguida...
A Vida, para nós, deixou de ser eterna a partir do momento em que se entregou à Morte...