O baile já começara, alguns cavalheiros convidavam suas damas sutilmente para uma dança enfeitando a música lenta, outros, esperavam a chegada da pessoa certa á luz de velas nos cantos do salão.

As mesas escoltadas para as sombras eram revestidas por um tecido branco delicado, como se leite jorrasse pelas suas bordas e aterrissasse levemente no chão de madeira, velas estavam posicionadas estrategicamente em cima de algumas delas, iluminando pontos específicos com seu borrão dourado.

Eu observava a cena sentado em uma das cadeiras escuras escondidas por ali, meu pé batendo no solo ao ritmo da melodia que dançava sua própria coreografia pelo ar. Convidados iam e vinham conversando animadamente, ou falsamente, com alguém importante, trazendo um cenário diferente aquele lugar cercado de passos ritimados.

Algo se destacou entre as várias máscaras brilhantes, me levantei subitamente, sentindo uma necessidade imediata de saber o que era aquilo que iluminava o lugar mais do que o pequeno fogo  da velas queimando lentamente.

Sua máscara era negra com detalhes dourados, simples, mas muito mais bonita do que os muitos disfarces que vira aquela noite, talvez fosse pelo rosto que a emoldurava, delicado, a boca fina formando um sorriso escondido, e os olhos, por entre a bela máscara, de um verde cintilante, que fuzilavam a pessoa com que falava.

Fui me aproximando do centro do salão, onde a tinha visto, sem perceber aonde meu pés me levavam, sentindo leves batidas quando trombava com algum despercebido na pista. Eu não via mais ninguém, apenas ela, como se todos estivessem amaldiçoados a viver na escuridão em que estavam e só ela pudesse iluminá-los.

Quando me viu indo em sua direção, ela desviou a atenção para mim, deixando a conversa da pessoa ao lado morrer, enquanto sorria a cada segundo em que ficavamos mais próximos.

Me dei conta de que estava sorrindo também, e, em um pedido mudo, estendi minha mão, esperando ansiosamente para ser correspondido.

Ela pôs sua mão na minha, macia como algodão, e se aproximou de mim, me dando permissão para conduzi-la em uma dança graciosa. Lentamente, percorremos todo o salão, atraindo os olhares alheios para nós. O sorriso não saira de seu rosto, e seus olhos me fuzilavam intensamente, não me permitindo olhar para outra direção.

Não trocamos uma única palavra durante toda a música, apenas deixando nossos corpos se entenderem através do ritmo, quando a melodia cessou, paramos sutilmente um em frente ao outro, e trocamos um último adeus enterrado no olhar.

Ela se afastou de mim e andou por entre as falsas máscaras que nos encaravam, um lamento invadindo o olhar.

Foi a primeira e última vez que encontrei meu verdadeiro amor.