Lie - The Story Of The 8th Sin escrita por Koneko-chan, Yukari Rockbell


Capítulo 7
De dentro do estômago (e do fundo do coração).


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo ficou fofo demaaaaaaaaaais! Até eu me derreto ao relê-lo! :P
Enjoyy!



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Chapter 7 (Ep. 24, 25 – Brotherhood):
De dentro do estômago (e do fundo do coração).


Eu abri a porta esverdeada.
– É tão fácil enganá-los, humanos... – Envy dizia. Ele segurava uma faca em que estava atravessado um pedaço de bife.
Fechei a porta e ergui uma sobrancelha.
– Se gabando de novo, Envy? – perguntei. – O Dr. Marcoh não vai se impressionar muito com as pessoas que você já matou. E qual é a do bife?
Ele ergueu uma sobrancelha e olhou para o pedaço de carne na faca. Largou-os no prato sobre a bandeja e se apoiou na mesa.
– Estava apenas incentivando o Dr. Marcoh a comer um pouco. Ele deixou a bandeja cheia novamente.
Eu olhei. Ele tinha razão. Franzi o nariz e então sorri, olhando para o médico e alquimista velho sentado na cama.
– Você também é um homúnculo? – perguntou ele.
Meu sorriso aumentou um pouco.
– Eu imagino que o senhor seja velho, mas não cego. – apontei para a minha tatuagem de ouroboros perfeitamente visível no abdômen. Me aproximei dele. – Doutor Marcoh, Doutor Marcoh. O senhor precisa comer um pouco. – cantarolei. – Se agir direitinho, prometemos não machucar você.
– E aquele vilarejo estúpido. – Envy completou.
– Sim, isso também. Mas se preferir, doutor... – comecei. Minha expressão mudou, ficando dura e autoritária, na pior das hipóteses, cruel. – Eu posso fazer a parte de policial mau também.
Ele apenas ficou olhando para mim, surpreso com a mudança de atitude.
– Vou dar um exemplo. – falei, tirando uma adaga da bainha e apontando-a para ele. – Ou você come isso, ou eu vou te fazer comer. Bem simples, não?
– Tudo bem, Lie, não o assuste. Ainda o queremos aqui e não bolando jeitos de fugir. – Envy falou, porém rindo.
Eu me afastei do médico.
– Certo, vou voltar a ser a policial boa. – sorri para Envy. – Já está escurecendo, acho melhor irmos procurar o Gluttony. Wrath já sabe onde ele está, só precisamos ir buscá-lo.
Ele levantou a sobrancelha.
– Você quer ir?
Revirei os olhos.
– Claro. Toda oportunidade de fazer alguma coisa divertida é bem vinda.
Ele riu.
– Não vamos matar ninguém, lembre-se. Apenas...
–... Buscar o Gluttony. Eu sei. – falei dando de ombros. – Não seja por isso.
– Vocês... – ouvi o Doutor Marcoh dizer. – Brincam com a vida de pessoas... Por que isso?
Eu o olhei.
– Eu porque um dia estava entediada, e Wrath apareceu e me convenceu a juntar-me a eles.
Ele me olhou incrédulo.
– Você aceitou?
– Bem, estou aqui, não estou? – perguntei, sorrindo. – Eu não importo se vou colaborar com alguém bom ou mau. Só me importa se vou ter o que fazer. Hoje em dia as coisas são diferentes do que eram para mim há duzentos anos.
Ele balançou a cabeça levemente e olhou para as próprias mãos. Eu revirei os olhos.
– Vamos, Envy. – dirigi-me à porta, mas parei. – Ah, sim. Doutor Marcoh, vou deixar uma cópia minha aqui, seja bonzinho. Mas eu vou avisando, ela é tão real quanto a original.
Uma cópia minha apareceu bem ao seu lado e ele me olhou estupefato. Eu saí da sala seguida por Envy e ele imediatamente se virou para perguntar.
– Você não disse que era difícil manter uma cópia à distância?
Eu assenti.
– Mas essa eu vou deixar “no automático”. – fiz aspas com os dedos. – Ela vai agir como se fosse eu lá, só que vai falar menos. Mas garanto que não vai machucar o doutor.
– Não achei que fosse.
– Ah – falei. – Você ouviu o Wrath contando sobre o estrangeirozinho de Xing que lutou com ele mais cedo?
Ele assentiu e sorriu maliciosamente.
– Estou doido para encontrar com esse cara, quero ver se ele luta tão bem assim ou se Wrath já está ficando velho.
Eu balancei a cabeça.
– Não estamos indo para que você se divirta.
– Eu sei, mas nunca elimine uma possibilidade! – ele disse ainda sorrindo.
Não pude evitar rir um pouco.
Dirigimo-nos à saída e não demoramos a chegar onde as coordenadas de Wrath apontavam. Logo que chegamos já estava um tumulto e eu fiquei confusa quando Envy se transformou em um cachorro.
– Eu vou verificar, tenho como espreitar melhor nessa forma. – disse ele.
– Certo. – respondi. – Mas não suma, volte aqui para me avisar.
Ele assentiu e eu me escondi atrás de uma árvore. Alguns minutos entediantes depois, o cachorro-Envy voltou a certa distância de mim.
– Eles estão aqui. – disse ele, virando-se e caminhando mais um pouco.
Eu o segui, já ouvindo Gluttony gritando e ouvi alguém murmurar:
– Eu estava pretendendo lutar, mas ele é assustador.
– Ele também mudou bastante... – outra voz respondeu.
– Como vamos pegá-lo? – perguntou outra familiar. Reconheci o som meio metálico como a voz do Armadura-kun.
Foi confirmado isto quando eu os avistei. Eles ouviram nós nos aproximando, mas eu fiquei fora de vista, apenas observando. Havia um loiro com uma trança comprida para trás. Imaginei que fosse Edward Elric, o Baixinho-kun. O Armadura-kun e um pandinha ou projeto de gato pendurado em seu ombro e ainda um cara de cabelo escuro e olhos puxados – imaginei que fosse o tal cara de Xing, Ling Yao.
Como aquele moleque fugira de Wrath?
– O que foi? – perguntou o Armadura-kun, se virando quando Ling puxou a espada. Ao avistar Envy em forma canina, ele murmurou: – Um cachorro?
– Pare, Gluttony. – Envy falou.
– E-Ele falou! – Edward se manifestou.
Gluttony olhou para nós. Estava estranho e diferente, agora parecia um monstro de verdade. Eu tive razão em temê-lo nos primeiros dias que passara ali.
– E aí? Já faz um tempo. – disse Envy para o loiro. Ele se transformou de um jeito genuinamente teatral e eu revirei os olhos.
– Exagerado. – murmurei.
Envy sorriu e ignorou, mas eu soube que ele ouvira.
– Baixinho do Aço-san. – disse ele.
Os olhos do baixinho se arregalaram e ele veio correndo na nossa direção. Eu me preparei, mas Envy não parecia preocupado.
– Quem é pequeno como uma formiga?! – gritou.
Ele deu um pulo e ergueu o pé, mas acabou chutando a árvore onde eu estivera próxima. Envy desviou para o outro lado e eu fiquei o olhando como se ele fosse doido. Edward pareceu não me notar.
– Acalme-se! – disse Envy erguendo as mãos como se fosse apartá-lo. – Só viemos buscar o Gluttony! Não vim lutar com você, baixinho-san...
– É a sétima vez! – gritou o loirinho, dirigindo um soco a Envy.
Envy, por sua vez, pulou para o galho de uma árvore bem na hora e o punho do Baixinho-kun foi parar em outra árvore.
– Envy, o que você fez para ele? – perguntei.
– Que conversa é essa? – Envy retrucou sem me dar atenção.
– Duas vezes agora... E cinco vezes no Quinto Laboratório! Foram as vezes que você me chamou de baixinho! – gritou. – Não vai me dizer que esqueceu!!
Eu apenas fiquei olhando, surpresa. Envy estava com a mesma expressão que eu e murmurou:
– Que maldita memória é essa?
Ele desceu da árvore e eu contornei o Baixinho-kun até ficar próxima.
– Gluttony, venha cá. – falei, pois este ainda nos procurava.
– Você causou muitos problemas. – disse Envy, olhando-o quando ele se aproximou.
– Mustang está aqui! Eu... Eu... Vingarei a Lust! – Gluttony gritou.
– Não pode fazer nada com o Coronel. – Envy protestou. – E nem com os irmãos Elric.
– Não pode ser!
– A presença que senti antes... Quantos há dentro de vocês, homúnculos? – o cara de Xing perguntou.
Envy fez cara feia.
– Não interessa, do olho puxado. –  respondi desafiadoramente.
– É você? – Envy perguntou. – O moleque que enfrentou o Wrath?
– Não é moleque! Eu sou o 12º príncipe de Xing e meu nome é...
Eu e Envy nos entreolhamos.
– Pode comê-lo. – dissemos em uníssono para Gluttony.
Logo, Gluttony estava correndo atrás do moleque de Xing e este gritava por socorro. Não pude evitar rir.
– Ai ai, queria ver Gluttony comer alguém, ainda tenho curiosidade. – murmurei.
Envy riu um pouco ao meu lado.
– Entendo... – ouvi o baixinho murmurar.
– Parece que não podem fazer nada conosco. – completou o irmão.
–Eles são bem lerdinhos para entender as coisas, não? – murmurei para Envy, que riu.
– Então... – continuou Edward, unindo as mãos e se agachando para o chão. Em segundos o chão formou uma barreira entre Gluttony e Ling.
Eu franzi o cenho. Ele podia fazer alquimia sem precisar fazer o círculo. Isso seria um problema para mim, mas graças a algumas habilidades minhas eu não dependo de alquimia numa luta.
– Deixo esse lado com você! – gritou ele para o garoto de Xing.
Eu coloquei as mãos na cintura. Eles acham mesmo que o garoto é bom o bastante para enfrentar a mim e a Envy ao mesmo tempo?
– Lie, deixe isso comigo. – disse Envy. – Tudo bem, – continuou, referindo-se ao príncipe de Xing. – poderia me mostrar? A habilidade do cara que lutou contra o Wrath.
Eu suspirei e saí do caminho.
– Tudo bem, não estou com humor para isso mesmo. Vou ficar assistindo. Mostre-me do que é capaz, Envy. – adicionei, com um sorriso presunçoso.
Ling começou a correr até Envy e investiu vários golpes. O homúnculo, entretanto, desviava de todos.
– Até que você é bom. – riu-se ele.
– Obrigado pelos elogios. – disse o de Xing, que então deu um golpe com a espada e cortou o abdômen de Envy.
Senti um impulso de atacar, mas me mantive no lugar. Era só um corte, ele não precisava de ajuda. Isso se regeneraria logo.
– Te peguei! – Envy rosnou.
Sua mão se transformou na cabeça de uma cobra e seu braço foi ficando mais comprido e esverdeado. O animal então se enroscou no pescoço de Ling, que pareceu levemente surpreso.
– O que acha? Os humanos não conseguem fazer isso, não é?
– Envy, você fala demais. – comentei.
Ele me mostrou a língua.
– E então, prefere morrer sufocado ou apanhar até morrer? – sua outra mão se transformou numa lâmina. – Ou então fatiado?
O garoto de Xing largou a espada.
– Sendo assim... – murmurou. Ele aprofundou o pé na terra e jogou um monte de areia nos olhos de Envy. Eu mordi o lábio, com raiva. De onde vinha todo esse meu instinto protetor, falando nisso? Envy perdeu o controle e o garoto conseguiu se soltar, investindo outro golpe quando recuperou a espada.
Eu franzi o cenho, tentando me manter no lugar. Envy ficaria furioso se eu me intrometesse.
– Jogar areia nos olhos. – disse ele cambaleante. – Que truque sujo!
– Desde pequeno, muita gente vem tentando me assassinar... Então tive que aprender algumas dessas técnicas. – ele se aproximou de Envy e eu estreitei os olhos, descruzando os braços. – O que acha? – perguntou com um sorriso. – Não poderia ficar quieto e me deixar capturá-lo? Eu só quero informações sobre a imortalidade. Não quer sentir dor, não é?
Ele apontou a espada para Envy, que levantou o rosto.
– Merda! Não fique se gabando, humano! – berrou.
– Não subestime os humanos, homúnculo!
Eu fiz uma cópia minha atrás de Ling e experimentei uma técnica que há tempos não tentava fazer: trocar de lugar com a cópia. Concentrei-me e fiz a troca sem que nenhum deles percebesse e quando estava em posição, coloquei uma adaga nas costas dele.
– Todos em Xing são distraídos assim? – perguntei, permitindo que a cópia sumisse e deixasse sua fumacinha. – Que bom que ainda estou aqui.
O garoto olhou pelo canto do olho para onde eu estava antes e então seu olhar veio em minha direção. Eu sorri maldosamente.
– Largue a espada, não queremos que ninguém se machuque, não é? E Gluttony ainda precisa do jantar, não quero te matar antes disso.
Vi Envy trincar os dentes.
– Lie, não preciso de ajuda!
Eu o olhei sarcasticamente.
– Não, eu que preciso. – ironizei. – Repetindo o que já disse, Envy, você fala demais. Perde a oportunidade de matar enquanto fica tagarelando.
Eu ouvi um som forte e metálico, mas quando fui olhar para o lado, fui arrastada por uma chuva de pedras, uma armadura gigante e um moleque loiro que é mais pesado do que aparenta. Ah, e não me esquecendo de um gato preto e branco esquisito.
– Aahh! – gritei para Edward. – Elric, saia de cima de mim!
– Ei, ei! Não atrapalhe aqui. – Ling começou a dizer, mas foi interrompido por um soco de Envy, que se aproveitou de sua distração. Ainda sim, ele desviou e cortou fora a perna do homúnculo.
Quando Ling se preparava para desferir outro ataque, Envy se transformou naquela garota que estava com ele da última vez – Wrath falara dela. Como era mesmo seu nome? La Fan?
– Agora, Gluttony! – disse ele com um sorriso no rosto quando Ling hesitou em mata-lo.
O Baixinho-kun saiu de cima de mim.
– Ling! – gritou.
Eu me levantei em seguida e comecei a correr atrás dele. Não, ele era um sacrifício, não podia ser devorado! Antes que eu pudesse evitar, Edward deu um salto e se jogou para tentar salvar o amigo.
– Droga, um sacrifício humano não pode... – começou Envy, pegando no tornozelo dele.
Eu tropecei em alguma coisa e caí no chão próxima a eles. Legal, pensei. Ferrou.
– Irmão! – Alphonse gritou.
E então era tarde demais e tudo escureceu.

Era escuro. E tinha algo pontudo a poucos centímetros de perfurar meu abdômen.
– Irmão! – o grito do Armadura-kun ecoava na minha cabeça repetidas vezes sem que eu pudesse controlar.
Irmão... Família. Quando eu pensava nessa palavra, antigamente, o que me vinha à mente era Luke e as pessoas de Dubith com quem eu me relacionava. Afinal, eu sou um homúnculo, não tenho família biológica – a não ser, talvez, que você conte as almas que ficam na Pedra Filosofal que me formou. Mesmo assim. Agora, quando o grito de Alphonse Elric ecoou pela minha cabeça, a palavra “irmão” se deformou em sua voz metálica até acabar virando “família” – sério, não me pergunte como. Mas dessa vez o que me veio à mente não foi Luke.
Foi Envy.
Não pude evitar soltar um gemido dolorido. Primeiro, em ver que meu plano de não me importar com mais ninguém para não acabar saindo ferida não estava funcionando. Segundo, por causa da porcaria que estava quase atravessando meu estômago. Eu apertei os olhos e os abri.
A primeira coisa que eu vi? Um líquido vermelho como se fosse um rio. Pisquei algumas vezes até entender que era sangue. Tentei me levantar e vi que o que espetava meu estômago era uma estátua. Ficando em pé, olhei ao redor e arregalei os olhos me lembrando de tudo.
– Santa merda. – murmurei.
O lugar era sinistro e muito escuro. Um mar de sangue que ia até meus joelhos banhava mil coisas que aparentemente haviam sido comidas por Gluttony. Casas, carros, estátuas, construções e até pessoas, como constavam os esqueletos. Eu olhei para o chão, procurando ver meus pés. E foi aí que eu percebi o pior.
– Ahhh não! – protestei. – Não, não, não.
Trinquei os dentes. O sangue. Estava. Cobrindo. Minhas. Botas. Sangue! Nas minhas botas! Minhas preciosas botas de cano alto! Tirei o pé alguns centímetros do chão, sentindo o sangue escorrer por dentro e molhar minha sola.
– Droga! – rosnei. Envy ia me pagar por isso. Era tudo culpa dele.
Comecei a andar, guiando-me pelos pontos que pegavam fogo por ali. Não, qual é, não tinha como o estômago do Gluttony ser tão grande. Eu abri um pequeno sorriso, tendo minha curiosidade saciada.
– E agora, – murmurei sozinha, cética. – será que se eu gritar e implorar ele me cospe de volta?
Não caminhei muito e encontrei um ponto flamejante que me chamou atenção. Se eu tivesse um coração, ele se encheria de alegria até bem lá no fundo. Mesmo sendo por ver o principezinho de Xing e o Baixinho-kun deitados numa espécie de plataforma e conversando. Eles me notaram se aproximando.
– Ah! Deus, se Você existe, obrigada. Bom saber que ainda tem alguém vivo aqui nesse inferno. – falei em voz alta.
Eles não pareceram felizes em me ver, mas eu ignorei esse fato.
– Ei, garota, como saímos daqui?! – perguntou Edward Elric.
Levantei uma sobrancelha.
– Garota é sua avó, eu tenho nome. É Lie. – respondi mal educadamente. – E eu não sei como sair daqui, não acha que se eu soubesse já o teria feito?
– Não, você viria atrás de mim. Sou, por algum motivo, importante para vocês, não é? – rebateu.
Assenti, conformada.
– Loirinho-san, Moleque de Xing-san, vocês viram o Envy por aí?
– Felizmente não. – Respondeu o dos olhos puxados. – E já disse que não sou moleque! Sou o 12º príncipe de Xing, Lin...
– E quem é você para me chamar de Loirinho-san?! – interrompeu.
Eu dei risada e apontei para Ling.
– Sei o seu nome, só tenho preguiça de falar. – deslizei o dedo para apontar para Edward. – E, Loirinho-san, imaginei que preferisse ser chamado assim do que se eu usasse o outro apelido referente à sua altura.
– EU NÃO SOU BAIXINHO! – gritou.
– Não disse nada disso. – falei dando de ombros, ainda sorrindo. Relaxei a postura e me apoiei em um pedaço de prédio do século anterior, suspirando. – Se vocês não encontraram o Envy, isso é um problema. – murmurei.
– Por quê? Ele provavelmente ia me matar. – Ling rebateu.
– Eu sei. Mas sem ele temos menos esperanças de encontrar como sair daqui. – eu baixei o rosto para esconder um sorriso afetado. – Mas se depender de mim, é bom ele não me encontrar ou vai se arrepender que meu Padrasto o tenha criado.
– Por quê? – perguntaram os dois, confusos.
Eu ergui o rosto, sem me importar que minha expressão sombria fosse vista.
– Três razões. Vocês vão descobrir quando o encontrarmos.
– Hã, e você disse “padrasto”? – Edward perguntou com o cenho franzido.
– Sim, eu disse.
– Pode explicar?
Assenti.
– Eu me juntei a este grupo de homúnculos recentemente, não fui criada pelo mesmo cara que Envy, Lust ou Gluttony.
Eles franziram o cenho.
– E quem os criou?
Eu sorri com a tentativa de extrair informação.
– Desculpe Loirinho-san, não sei até onde posso falar então melhor ficar de boca fechada. – dei-lhe uma piscadela cúmplice. – Além do que – completei. – o Padrasto ia ficar bem bravinho e eu tenho sinceramente um pouco de medo dele.
De repente, o garoto de Xing levantou-se olhando fixo para outra direção.
– O que foi? – Baixinho-kun perguntou.
– Algo está vindo. – respondeu. – Isso é...?
– Ora, ora, são vocês. – a voz de Envy ecoou desgostosa pelo lugar.
– Envy! – gritei e corri em sua direção.
Ele ergueu uma sobrancelha, ainda com a expressão de desaprovação. Eu pulei em seus braços e deixei que meus lábios encostassem-se aos dele, num beijo. Ele ficou por um momento assustado, mas sem reação. Então eu ergui o joelho direito com toda a força contra o estômago dele. Seus lábios se desgrudaram dos meus e ele se dobrou de dor. Aproveitei para dar um golpe com o cotovelo direito na nuca dele, fazendo-o abaixar ainda mais. Sorri maliciosamente e postei as mãos na cintura.
– Que diabos?! – ele gritou, olhando para mim ainda abaixado. – DE QUE LADO VOCÊ ESTÁ??
Eu fiquei séria.
– Do seu. – respondi. – Mas você mereceu isso.
– O que eu fiz?!
Comecei a contar nos dedos.
– Primeiro, se me lembro bem, na primeira vez que perguntei para onde ia tudo o que Gluttony comia, você respondeu perguntando se queria descobrir, o que significa que era totalmente agradável a ideia de me ver aqui.
Envy gemeu e recuperou a postura. Eu não dei chance para que falasse, passando a contar no outro dedo.
– Segundo, é culpa sua estarmos aqui e minhas botas estarem cheias de sangue. Você vai ter que conseguir outras pra mim caso essas estraguem. E terceiro – deixei que minha expressão ficasse sombria novamente. Essa parte me incomodava. – Por que antes de sermos engolidos você gritou pelo Loirinho-san ali em vez de mim, que também estava na área de alcance do Gluttony?!
Eu estava ciente de que todos olhavam para mim como se eu fosse louca. Eu não podia fazer nada, meu coração inexistente pedia do fundo por uma resposta. Depois de alguns segundos, Envy se manifestou.
– Hmft. Ele é um sacrifício importante. – respondeu. – O Pai ia ficar bravo se o perdêssemos.
Eu estreitei os olhos.
– Quer dizer que eu não sou importante?! – rosnei, aumentando o volume de minha voz.
Ele pareceu assustado por um minuto com minha reação e olhou para Edward e Ling, como se pedindo ajuda para lidar com a situação. Quando não obteve resposta, ele virou novamente para mim.
– C-Claro que é, Lie, só que ele... Espera aí, você também correu atrás dele!
– Sim, corri, e daí? Ele é um sacrifício importante, não é? E você não estava em perigo na hora, só se pôs em perigo depois, quando eu não conseguiria mais te tirar do caminho. Eu duvido que o Elric aí seja do tipo que dê a vida para te salvar, seu idiota!
Foi só então que percebi o que disse. Ai. Meu. Deus. Como pude deixar que essa honestidade toda passasse pela minha garganta? Como pude deixar que essa verdade fosse ouvida pelo Envy? Minha expressão vacilou enquanto ele me olhava com curiosidade. Eu pensei um pouco e resolvi agir como superior. Engoli em seco e ergui o queixo, virando-me como se ainda estivesse irritada e sentando em um monumento próximo.
Tudo ficou um pouco em silêncio enquanto todos olhavam para mim.
– Ok, parem de olhar pra mim, certo?! Que foi cometi algum crime?! – gritei, lançando um olhar irritado a todos.
– Hmm... Afinal de contas, era o Envy. – murmurou Ling.
– Diga-nos onde fica a saída! – Edward se impôs.
A expressão de Ling se alterou como se ele tivesse ouvido um absurdo.
– Isso não é bonito, Edward Elric!
– Cale a boca! A prioridade é sobreviver!
– Cale a boca!
– Cale a boca! Cale a boca! Cale a boca!
– É uma pena, mas não tem saída. – disse Envy, que agora estava sentado numa pedra, como eu, mas mais longe.
Nós três paramos e olhamos fixos para Envy, surpresos.
– Pra onde vai aquela ideia de tudo o que vai, volta? – arrisquei.
Ele me lançou um olhar e depois olhou para eles novamente.
– Que desnecessário. Até eu fui engolido. – murmurou, levando a mão à testa, decepcionado.
– Que lugar é este? – Ling perguntou. – É mesmo dentro do estômago do Gluttony?
– Isto é o estômago dele e ao mesmo tempo não é. – Envy respondeu, encarando-o. – Pequenino do Aço, mesmo sendo um alquimista, não percebeu que lugar é este?
Uma sombra passou pelo rosto de Edward, mas ele resolveu ignorar.
– Falando nisso... Quando eu fui engolido pelo Gluttony, – começou. – aquela sensação... onde foi que...
– Você deve se lembrar. – incentivou Envy com um olhar afiado. – Você já experimentou antes.
Ele hesitou e deu um passo para trás, assustado.
– A Porta da Verdade?! – exclamou. – Mas aquele lugar... Não era assim... Era um espaço totalmente branco com portas.
– Então o verdadeiro é assim? – Envy perguntou.
– Verdadeiro?
– Gluttony é um falso Portal da Verdade que o Papai construiu.
– O que disse?!
– Mesmo o nosso Pai, com todo o seu poder, não foi capaz de criá-lo. Este portal da verdade... este lugar é um espaço entre a Verdade e a realidade.
– Espaço? – ecoou o Loirinho-kun.
– Não podemos sair. Só podemos esperar as nossas energias se esgotarem. Todos nós só podemos esperar a morte aqui.
– Impossível...
Eu olhei para Envy, realmente com medo. Não, eu não queria morrer aqui. A palavra que Edward proferiu ecoou em minha mente e me lembrei do dia em que conheci Greed. Envy dissera: não existe isso de impossível. Não era uma das nossas frases preferidas? Agora eu via onde ela realmente se aplicava.
     – Eu não vou aceitar isso! – Edward gritou. – Não brinque comigo, Envy! Ei!
– Não tem saída...? – Ling sussurrou, o olhar distante. – Morrer aqui?
– Ei... Ei... Espere! – murmurava o loiro. – Se eu morrer... O que o Al vai fazer? Eu prometi a ele que voltaríamos para nossos corpos juntos. Droga! Por que ficam falando em criar portas?! Afinal, quem é esse “pai”? É o Führer Bradley?!
Envy pareceu levemente surpreso e eu tentei reprimir um leve riso. Wrath? O Pai? Engraçado.
– Bradley? – Envy murmurou. – Não, não é. Ele é apenas um homúnculo.
– Então era mesmo. – Ling confirmou.
– Vocês são realmente lerdos para entender as coisas. – murmurei, recostando-me.
– O Quinto Laboratório... – continuou o Baixinho-kun – Usar a vida de pessoas... A Pedra Filosofal... Homúnculos... Se o Führer também faz parte disso, Ishbal também foi coisa de vocês?
– Ishbal?! – Envy perguntou, a expressão começando a afetar-se um pouco. Sua risada ecoou dolorosamente. – Ah, aquele foi um trabalho incrível! Sabe qual o motivo que causou aquela guerra?
– Se me lembro, um oficial do exército matou uma criança de Ishbal.
– Isso mesmo! E fui eu mesmo quem atirei na criança!
Os olhos de Edward se arregalaram.
– Aquilo foi ótimo! Um único disparo causou uma guerra tão grande! Aquilo foi mesmo incrível! – continuou, rindo. – Ah! Tem mais... o oficial do qual eu me disfarcei era um dos que se opuseram à ocupação de Ishbal!
Edward pulou da plataforma para a grande poça de sangue, os olhos em chamas. Preparei-me para um provável conflito, embora ele estivesse indo em direção a Envy. Percebi tarde demais que um sorriso leve estava estampado em meu rosto. Eu não ficara sabendo dessa história de Ishbal, pelo menos não da parte que envolve os homúnculos. Ah, Envy realmente é mais genial do que eu pensava.
– E ele posteriormente – continuou ele com uma risada afetada. – foi enviado para a corte marcial! Humanos são mesmo seres fáceis de manipular.
– Maldito. – Edward murmurou. – Você matou uma criança inocente... A nossa cidade natal foi destruída... O povo de Ishbal foi massacrado... A família de Scar foi morta... E também a Winry não teria perdido os pais! Seu...!
Com isso, Edward já tinha chegado perto o suficiente de Envy. Seu braço de aço se ergueu e ele disparou um grande soco bem na testa do homúnculo.
– O quê? – ouvi-o murmurar quando não houve efeito nenhum. – Ele nem sentiu.
– Querem brigar, moleques? – perguntou Envy, sua voz raivosa e sombria.
– Ed! Para trás! – Ling gritou, aproximando-se um pouco.
A faísca típica da alquimia começou a se espalhar, vinda de Envy. Ele se levantou em cima da pedra.
– Já que vamos morrer aqui mesmo – disse cambaleante. – Vou lhes mostrar um pouco do inferno!
Envy começou a se transformar. Dessa vez, não era uma transformação comum. Ele se alterava cada vez mais em uma forma que eu não podia distinguir.
– Você viu as pegadas dele quando lutamos na floresta? – perguntou Ling a Edward baixinho.
– Não.
– Quer dizer que aquelas marcas não eram de um peso normal. A verdadeira forma dele é muito...
Ele se interrompeu, abismado. Envy agora tomara sua forma original, ou eu pelo menos achava. Meus olhos estavam arregalados – não como os dos garotos, apenas demonstravam uma leve surpresa. Eu acho que não consigo fazer uma descrição perfeita da grande criatura verde, cabeluda e feia à minha frente, portanto nem vou tentar.
Ele largou as patas dianteiras no chão (francamente? Era semelhante a um lagarto gigante.) e provocou uma onda de sangue que arrastou Ling e Edward para longe. Eu consegui me manter no lugar, mas sangue espirrou em mim.
– Droga! – Edward gritou.
– O que é isso?! – Ling protestou. – Onde isso é um homúnculo... Um humano criado?!
– Envy, que saco. – falei, com raiva. – Já estragou minhas botas, agora vai acabar com minha jaqueta também?
– Não ligo para sua jaqueta, Lie. Cale a boca. – Envy (?) rosnou.
Eu estreitei os olhos e emburrei a cara.
– Você fica feio assim. – comentei.
– Droga. – repetiu o Baixinho-kun. – Isso não é nada bom.
– Sim, realmente – Ling concordou.
Envy atacou Ling, fazendo Edward gritar por ele. Provavelmente ele se arrependeu, porque também foi arremessado para o outro lado. Envy parecia estar seguindo meu conselho de falar menos, mas continuava a rir.
– Ed! – o príncipe de Xing começou a correr até ele. – Pode fazer uma arma? – perguntou quando eles e Envy estavam a uma distância segura.
– Deixe comigo. – disse Edward juntando as mãos. – Com esse mar de sangue, o que não falta é ferro.
Logo ele jogou uma espada para o companheiro – e, nossa, ele não tem a menor noção de estilo pelo que vi: uma caveirinha na ponta. Ling pareceu concordar comigo.
– Você tem um péssimo gosto.
– Onde? Não ficou perfeito? – Edward perguntou sorrindo. – Consegue?
– Eu acho, afinal, esse tamanho todo... Com um só ataque quebrei duas ou três costelas.
– Também foi algo assim comigo. Sendo assim precisamos atacá-lo com tudo.
Eu suspirei e apoiei o rosto na mão.
– Vocês falam mais do que o Envy. Vamos, idiotas, lutem!
– Quer ver luta? – Envy perguntou. – Vai ver luta...


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Notas finais do capítulo

Ok, ok, esse capítulo deu um p*ta dum trabalho pra postar ¬¬ O site tem algo contra a Lie. Ou contra mim.