Uma noite calma e silenciosa. Na verdade, mais calma e silenciosa do que o normal, adentrava lentamente a madrugada sem nenhum empecilho. Era uma das raras noites em que o loiro realmente conseguia dormir. Quase que profundamente...

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHH! – Um berro soou destruindo completamente a serenidade da noite. Como se não bastasse, houve um barulho de uma pancada em seguida.
Os sons não eram de mesma autoria. A pancada vinha da porta do quarto, que havia sido brutalmente escancarada pelo loiro que acordara com o grito.
- Vai se fuder, Matt! – Mello berrou furioso. – Quem você pensa que é pra ficar berrando a essa hora da madrugada e me acordar?!
- VOCÊ! – O ruivo acusou apontando o dedo em direção ao outro. – Você que arrancou meu videogame da tomada e da TV?!
- Ah, é isso? – Ele coçou a cabeça e suspirou com desprezo. – Achei que já tinha visto. Tirei de manhã...
- Que merda leva uma pessoa a fazer isso, ein?! Por que?! – Matt arremessou o controle do videogame contra o outro. Por sorte, ou costume, Mello conseguiu se desviar e deixou que o aparelho batesse na parede. – Eu tava quase fechando o jogo! Eu nem tinha desligado o videogame pra não ter risco de perder nada! Tava ligado há uns três dias!

- Se você ficar tacando essa porcaria por aí, aí sim quebra e você perde tudo. – Disse sem fazer muito caso das reclamações. Abaixou-se e pegou o controle do chão.
- Você ta me ouvindo?! Eu disse que perdi tudo! Você tem noção do quanto eu demorei para chegar até o ultimo nível?
- Não tenho. Não perco meu tempo com essa merda. – Respondeu dando de ombros enquanto observava o ruivo sentar-se no sofá e afundara a cabeça entre as mãos.
- Você não tinha o direito de matar meu bebê, seu filho da puta!
- Bebê?! – Mello repetiu inconformado. – Viu só? Você está mais do que viciado! Isso já se tornou doentio! Essa merda de jogo te deixou doente, Matt. Dá mais atenção para ele do que pro caso Kira. Mais do que pra vencer do Near! Mais do que pra... – Mello parou subitamente de falar. Desviou o olhar para o teto e torceu para que Matt não fizesse nenhum comentário idiota.
- Mais do que... Pra você? – Matt levantou o rosto e ao ver o loiro trincar os dentes, sorriu. – Ta com ciúmes do jogo, Mello?
- Engole já suas palavras ou eu faço isso! E ainda faço você engolir esse troço junto! – Ameaçou levantando o controle do videogame.
- Mas era isso que você ia dizer, não era? – Matt sorriu, provocando-o. – Que eu dou mais atenção pro jogo do que pra você...
- Hoje, você dorme no sofá. – Murmurou com raiva. – E o controle vem comigo pro quarto. Vamos ver como você fica sem mim e sem essa merda. – Ele entrou novamente no quarto batendo a porta com mais força do que quando a abriu. Trancou, girando a chave duas vezes.
Matt começou a bater insistentemente na porta cada vez com mais força.
- Melloooo! Me deixa entrar, Mello!
- Não. – Resposta curta, grossa e fria.
- Por favooooor! Ou pelo menos devolve o controle, sem ele não dá pra jogar!

- Por isso mesmo que eu peguei ele, seu idiota. – Respondeu de mau humor. – Vai dormir e me deixe em paz, vagabundo!
- Mas Mellooooo... – Matt choramingou como uma ultima tentativa. Talvez fosse melhor mesmo desistir e ir dormir antes que o outro se irritasse ainda mais.

Mello acordou com seu mau humor matinal. Não, não só matinal, era assim o dia todo...
Passou a mão pela cicatriz em seu rosto e em seguida observou o controle do videogame em cima da cômoda velha ao lado da cama. Percebeu o lado de Matt na cama ainda meio arrumado e decidiu que era melhor ver como ele estava...

Foi até a sala e encontrou o ruivo dormindo desajeitado sobre o sofá. Dormir ali parecia extremamente desconfortável e frio, afinal o apartamento tinha janelas quebradas que permitiam que o vento entrasse constantemente.
O loiro largou um cobertor sob o outro, apesar de não demonstrar, se preocupava com ele.
E talvez fosse bom variar um pouco e fazer algo legal por Matt...

“Game Over!”, foi o que Matt ouviu. Não sabia se era real ou se era mais um de seus sonhos onde faz parte de um jogo de videogame. Mas o “plec” de barra de chocolate sendo quebrada, o fez perceber que era mais que um sonho.
- Como pôde morrer num nível tão fácil? – O ruivo perguntou quase que em um sussurro ao abrir os olhos e flagrar Mello tentando jogar sem muito sucesso.
- Não tenho paciência para esses jogos estúpidos. – Mello reclamou largando o controle, mas ainda mirando a TV com um enorme “Game Over” de letras coloridas. – Eu sei que não consegui e nunca conseguiria recuperar todo o seu jogo, mas dei uma adiantada. Você não vai ter que começar do zero de novo.

- Você fez isso por mim? – Indagou apontando para si mesmo.

Mello não respondeu, só pegou a barra da chocolate ao seu lado e mordeu um grande pedaço para manter sua boca ocupada e não ser obrigado a responder.

O ruivo abriu um grande sorriso. Se debruçou do sofá, esperando Mello terminar de mastigar, para dar-lhe um selinho.
- Para de sorrir assim. – O loiro ordenou, sem ser obedecido. – Matt, mandei parar de sorrir desse jeito idiota!
Nada. Absolutamente nada mudou.
- Para com isso agora ou eu jogo essa porra de videogame pela janela!
- NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃAÃÃÃÃÃÃO!