O que diabos eu devia falar?

 

Para minha sorte, o celular dele tocou. Ele bufou e pegou o aparelho, olhando quem era, então me lançou um olhar de desculpa e atendeu. Aproveitei para desligar o computador e guardar o Baú Belieber no guarda-roupa. Justin viu, e arqueou uma sobrancelha, olhando para o baú. Ignorei e terminei de organizar meu quarto, puxando o material para fazer o trabalho. Detalhe: Eu não conseguia me lembrar de ter combinado de terminarmos aquele trabalho em minha casa...

 

Enfim, ele falou com alguém no celular (não prestei atenção, sou educada), depois olhou para o material arrumado e percebeu que o clima já tinha esfriado. Sentou na beirada da cama e continuamos de onde paramos na aula. Acabou que ele empolgou e contou casos engraçados de cada lugar que visitou em turnês, e eu mal vi o tempo passar.

 

 

Só foi embora no final da tarde, e eu voltei ao computador. Alguém me chamava no MSN.

 

 

Mia: Anna! Como foi fazer o trabalho com o seu maior ídolo de todos os tempos? Incrível? Um sonho? Indescritível?

 

 

Anna: Eu não sou a maior fã de todos os tempos. E foi... Legal.

 

 

Mia: LEGAL? Você faz DUPLA com JUSTIN BIEBER e me fala que foi só LEGAL?! Como ele é pessoalmente? Ele cheira bem? O sorriso é muito estonteante? Tem mau hálito?

 

 

Anna: É, foi LEGAL. Quanta pergunta, Mia! Vocês vão acabar se falando, sabia?

 

 

Mia: Mas você já sabe responder todas. Então esquece, me responde a principal: Ele tem mau hálito?

 

 

Anna: Não. Oo’ E desde quando isso é o principal?

 

 

Mia: Desde que beijar garotos com mau hálito é horríííível.

 

 

 

Gargalhei da resposta dela.

 

 

Mia: Ah, adivinha quem vai tocar no Halligan sábado à noite?

 

 

Anna: Halligan?

 

 

Mia: É, sabe, o lugar onde tem shows...

 

 

Anna: Eu sei onde é Halligan, maluca, quem vai tocar? Nickelback? McFly? AAH, se for McFly eu piiiro!

 

 

Mia: Você é tão lerda às vezes... Claro que não, né, que é que McFly faria nessa cidade? Mas eu não reclamaria de ver o Dougie de perto...

 

 

Anna: Prefiro o Tom

 

 

 

Mia: Que seja. Prefiro o Justin, e é dele que eu to falando, anta. Show de Justin Bieber nesse sábado no Halligan, ingressos à venda a partir de amanhã à tarde.

 

 

Anna: AAAAAAAAAAAAAAAAH *---*

 

 

Esperei resposta, mas a única resposta que tive foi uma bronca da minha mãe, que foi no meu quarto e puxou a tomada do computador. Não entendi o motivo da raiva dela, mas tinha algo a ver com ter fotos de um amigo no meu quarto. Ela tirou todos os meus pôsteres e chegou a ameaçar tirar a roupa de cama. Seria hilário se não fosse tão trágico. Foi com muita briga que expliquei que Justin era cantor e novato na escola. E foi com infelicidade que eu vi que não tinha mais pôster nenhum no meu quarto.

 

 

Na manhã seguinte, ele sentou atrás de mim na sala. O professor de matemática, que era a primeira aula, faltou e a turma ficou livre.

 

 

Stacy saiu do lugar dela e foi para o lado de Justin, puxando uma cadeira para ficar próxima a ele. Sentei de lado para ver os dois sem que eles notassem.

 

 

- Então, Jus, é verdade que vai dar um show no sábado? – Ela perguntou, jogando-se pra cima dele.

 

 

- É sim. – Ele confirmou, se afastando o quanto pôde dela. Fiquei feliz com isso.

 

 

- Não acha que rolava de levar algum amigo? Ou amiga? – Ela sugeriu. – Sabe... Mostrar aos fãs que se deu bem na escola...

 

 

- Não sei se os produtores permitiriam. – Ele respondeu na hora. Fiquei pasma com a cara de pau de Stacy. – Mas obrigado pela sugestão.

 

 

Ela continuou insistindo, eu continuei ouvindo, ele continuou se esquivando das inconveniências dela. Os outros horários não nos permitiram conversas, e eu sumi de perto deles no intervalo.

 

 

Depois do almoço, fui com Mia comprar ingressos para o show. Conhecendo Justin ou não, eu ainda gostava de ouvi-lo cantar, e seria perfeito ir a um show dele. Na fila para os ingressos, contei à Mia sobre a conversa entre ele e Stacy.

 

 

- Garota boba. – Mia revirou os olhos. – Um dia alguém vai colocá-la em seu lugar.

 

 

- Acho que Justin pode ser esse alguém. – Observei.

 

 

A fila foi andando, até que, de repente, as pessoas começaram a sair irritadas. Ouvi uma mulher reclamando: “Deviam fazer em um lugar maior. Não venderam tantos ingressos. Já acabou?!”

 

 

Mia e eu xingamos o vendedor, o local de show e até os produtores. Eu, a mais estressada, fui quem mais reclamou. Não parei de falar nem quando sentamos na sorveteria.

 

 

- E que é que ele está pensando? Um show em um lugar desses?! Ele deve saber que tem muita gente querendo vê-lo cantar. Tinha que ser um lugar maior!

 

 

- Anna, vai culpar o Bieber por isso? – Mia perguntou, cansada.

 

 

- Vou! – Respondi, alto demais. – Porque ele devia ter mais noção! Chegamos cedo lá, não é justo que não tenha mais ingressos!

 

 

- Já parou para pensar que ele não é vidente?

 

 

- Isso não é ser vidente, é ser racional! Ele deve saber que tem milhares de fãs loucos por um show dele. – Retruquei.

 

 

Mia arregalou os olhos e abriu a boca, mas não emitiu som algum.

 

 

- Mia? – Chamei.

 

 

- Suponho que você se encaixe no grupo de fãs loucos por um show. – Congelei por cinco segundos antes de me virar e encará-lo. Ele sorria, de pé, me fitando.

 

 

- Humildade mandou lembranças. – Murmurei.

 

 

- Paciência mandou lembranças. – Ele retrucou, rindo, e eu não pude evitar sorrir ao me lembrar da brincadeira do dia anterior.

 

 

- Manda um abraço pra ela. – Completei, sorrindo. – O que faz aqui?

 

 

- Resolvi acatar a sugestão de Stacy. – O sorriso dele aumentou ao que o meu sumiu do rosto. – Convenci os produtores a me deixarem convidar alguém para ver o show dos bastidores ou do camarote, a pessoa decide.

 

 

- Você vai levar Stacy ao show? – Mia perguntou, horrorizada. – Credo! Depois dessa, perdi a vontade de ir.

 

 

Eu gargalhei e concordei. Ele colocou a mão no bolso e tirou um envelope dobrado de dentro, entregando-o a mim. Antes que eu pudesse perguntar o que era, ele saiu dali. Abri o envelope, curiosa, e meu queixo caiu.

 

 

Tinha um ingresso, justamente o que ele falou, para ver dos bastidores ou do camarote. Além do ingresso tinha um bilhete:

 

 

“Não quer saber se eu gostei de você?”