Nami POV

Saindo de casa, fui direto encontrar a Carol que estava lá no Villaça. Ela estava conversando com o menino moreno, o Michael.

Os olhos dele brilhavam de um modo tão engraçado. Eu tinha certeza que ele estava caidinho por ela.. aiai.. *suspiro  se pelo menos ele soubesse de tudo, saberia o tamanho da rodaba. Mas a Carol.. não entendo, na verdade, eu ainda não sei. De qualquer forma, ela deve saber que não pode se envolver com uma pessoa normal desse jeito.

Olhei para o casal e soltei uma risada baixinha, o que fez minha presença ser revelada.

- Como ele está? – perguntou Michael.

- Acordado – soltei mais um suspiro – infelizmente.

Ele me retribuiu a resposta com um olhar meio bravo.

- Ainda se sente um pouco fraco, mas aparenta estar bem melhor – completei gesticulando com a mão. Aproveitei o movimento para arrastar minha amiga para um canto – Precisamos conversar. – olhei mais um vez para o menino – Com sua licença, já voltamos.

Ele deu de ombros e saiu da casa.

- O que foi?

- Ele é um caçador, mas não sabe.

- O Lorenzo?! Então ele descobriu? Você já o matou?! – exclamou arregalando os olhos.

- Não. Ele é perfeito. – encostei na parede e abaixei a cabeça – Se eu o treinar.. talvez ele possa matar aquela maldita..

- Ele não conseguiu sentir que somos diferentes? Nami.. assim ele vai acabar descobrindo.. se já não descobriu.

- Mesmo que ele tenha o pressentimento.. ele não precisa saber o que significa – dei um pequeno sorriso e uma piscadela - Como eu disse, ele não sabe que é um Caçador, muito menos como funciona ser um.

- E o Michael?

- Ficará aqui. Com você.

- O QUÊ?!?! – olhei em seus olhos e percebi uma certa felicidade com a notícia.

- Levarei ele para conhecer alguns velhos amigos.. e o treinarei para matar a Prima – tampei sua boca antes que berrasse novamente – Ah! Quase me esqueço.. terá de cuidar do Yuki até que eu volte. Lorenzo não pode desconfiar de nada, certo?

- Ahhhh! Isso não vai dar certo! Prima?! A única pessoa existente que é tão forte quanto ela é você Nami!

- Eu não consigo mata-la, nem ela a mim. Eu já te expliquei isso várias vezes. Não faça mais perguntas. Você está me devendo um favor, lembra?

- Tudo bem, tudo bem.. mas ainda acho que não vai dar certo..

- Ah vá!

Antes que pudesse ir embora, a doida pulou na minha frente com os braços estendidos e os olhos arregalados.

- Acabei de lembrar que você não pode sair da cidade! E o feitiço?

- Eu te ensinei muito bem. Carol.. você é perfeitamente capaz de mantê-lo.

- Ma-mas..

- Boba.. você não vai estar sozinha. Fique junto da Nadia. Se bem que.. acho que o seu ‘namorado’ será mais do que suficiente – suas bochechas coraram de leve - Eu volto logo. -  disse sorrindo.

Sai apressada e Michael estava do lado de fora. Fiz um sinal para que entrasse e segui meu caminho até de volta para minha casa.

Assim que cheguei, mal abri a porta e senti ser bruscamente empurrada e virada de costas para a parede. Minhas mãos estavam firmemente presas e meu corpo prensado contra o de Lorenzo.

Ao contrário da minha, sua pele era quente, a respiração lenta e pausada. Sua cabeça pousava ao lado da minha, a boca perto do meu ouvido, como se fosse me contar um segredo.

Lorenzo POV

Nenhuma reação.. ela simplesmente não tentou revidar. A apertei mais forte para ver se conseguia algum sinal de dor.

- Então é assim que você agradece quem cuidou de você?

- É assim que eu faço fedelhas irritantes responderem às minhas perguntas. - ela querendo ou não, ia me explicar algumas coisas..

- Você ficou me esperando atrás da porta esse tempo todo?

- Não. De alguma forma.. eu sabia que você estava chegando. – acabei me desconcentrando um pouco quando parei para analizar minha posição. Eu estava meio.. próximo demais. Seu cheiro era incrivelmente delicioso.. parecido com orvalho da manhã. Não pude deixar de ficar um pouco vermelho, mas também não estava disposto a larga-la tão cedo – Não vou deixar você continuar com seu joguinho de perguntas. Me explique tudo, alto e claramente.

- Ts.

- Não estou com pressa.

- Nem eu.

Ficamos em silêncio por um bom tempo. Sem mover um centímetro do lugar. De um modo muito.. estranho, eu estava gostando de estar ali, com ela. Deixei minha cabeça encostar em seu ombro e fechei os olhos. Um arrepio lhe correu pelo corpo e seus braços se enrigeceram.

- Loren..

- Você disse que me treinaria.. então em algum momento terá que me explicar tudo.

Ela soltou um longo suspiro. E tentou se recompor.

- O que você quer saber?

Naquele momento poderiamos ter ido sentar.. mas como eu estava, ahn.. me sentindo um verdadeiro idiota, realmente queria continuar daquele jeito mesmo.

- O que, afinal de contas, são Magos?

- Pessoas especias.. possuem dons incomuns – ela falava com dificuldade, como se cada palavra pesasse em sua garganta – Por algum motivo, ninguem sabe o porque, elas conseguem dominar elementos naturais, esses: água, fogo, terra, ar e luz, e conseguem ler mentes.

- Dominar?

- Sim, poder controla-lo, mudar sua forma e trajeto. Não é capaz, nem de criar, nem de sumir com o elemento que controla.

- E como eles são? Digo.. de aparência.

- Já disse que são pessoas. Pessoas iguais a eu, a você.

- Como? E-eu nunca imaginei.. achei que eram seres bizarros..

- A única diferença, é que todos os Magos tem olhos vermelhos. É assim que os distinguimos de pessoas comuns. - fez uma pequena pausa - Eles são aprizionados pelos reinos, que acabam explorando a sua dominação. Assim.. um reino com um Mago que domine o elemento da terra, terá plantações sempre fartas. Em uma guerra, a dominação de fogo dá uma grande vantagem..

- Mas porque presos? Não poderiam apenas servir os reinos como soldados? Ou sei la.. você me entende?

- Poderiam. Mas.. a primeira coisa que se aprende como caçador.. ‘Magos não são humanos, são apenas servos da humanidade’. Por causa dessa frase.. eles são catalogados como seres inferiores. Como se fossem objetos de posse. Armas, que medem a força do reino. E como um meio de monopolizar essas armas, só alguns poucos sabem sobre o assunto. Pessoas aleatórias são privadas do conhecimento de sua existência, por pura ganância.

- Então.. os reinos treinam caçadores para capturarem Magos?

- Sim.

- De que reino você é? E porque está nesse fim de mundo?

- Servia ao reino de Ren. Mas cansei de prender pessoas tão humanas quanto nós para serem torturadas e forçadas a trabalhar de um modo tão.. horrível. Então, acabei me exilando aqui.

- E como você fez para se tornar uma Caçadora?

- Não é uma questão de  ‘fazer’. Você simplesmente nasce sendo. Quer dizer.. caçadores, nada mais são.. do que Magos. Mas com uma dominação diferente. Nós conseguimos controlar a mente e cancelar a dominação de Magos elementais. E não temos olhos vermelhos.

- Controlar?

- Sim. Como mestres. Dependendo da sua força mental, eles fazem qualquer coisa que você desejar. Se tornam verdadeiros escravos.

- Eu ter passado mal, tem alguma coisa a ver com.. eu ser um Mago?

- Sim. Só que você ainda não sabe se controlar. Quando é exposto a certas situações, seu corpo pode responde por você. Mais alguma coisa? Se você pudesse me soltar.. eu agradeceria.

Um segundo, eu já havia me afastado uns três metros de onde estava e me virado na tentativa de esconder minha cara de idiota encabulado.

Ela começou a andar de um lado para o outro. Pegando duas mochilas e as enchendo com muitas coisas.

- Acho que você esqueceu de perguntar porque eu estava sangrando.. antes que faça: eu caço animais também. Animais mesmo. Ou você acha que os moradores dessa cidade vivem só de plantas? – coçou a cabeça e colocou o inticador no meu nariz – É bom ser um excelente aprendiz. Não tenho muita paciência com moleques estranhos – me olhou com uma sombrancelha levantada e puxou o cabelo para trás com a outra mão – Iremos partir hoje mesmo. Quanto mais cedo, melhor. Não se preocupe com seu amigo. Ele está em boas mãos.. aliás, acho que a última coisa que ele vai ficar é incomodado de ficar a sós com a minha amiga. – após concluir a fala, soltou aquele mesmo lindo sorriso de quando havia se apresentado, o que fez meu coração acelerar.. e aah! Garota irritante!

Ela me entregou uma das bolsas e correu em direção à um pequeno estábulo. Enquanto a seguia, organizava a enchurrada de informações em minha mente.

Subimos nos cavalos e partimos em disparada montanha a baixo. Estava um frio de rachar os lábios e conforme me afastava da pequena cidade.. sentia algumas pontadas no peito. Seria meu corpo reagindo de novo? Voltei meu foco para frente e encarei as costas da menina. A sensação me era bem familiar agora. Pensando bem.. eu sempre tinha essa sensação quando ela estava por perto.. ela e a amiga dela. Realmente.. muito estranho.