Acordei com o idiota do Michael arrancando minhas cobertas. Como odeio quando ele faz isso! Me virei antes que pudesse reagir e prendi sua cabeça com toda a minha força.

- Ser detestável. Sofra - tentei fazer a voz mais medonha do mundo.

- Me solte Lorenzo! Está esmagando meu crânio!

Mia cambaleou até a janela e pude ver suas orelhas mais vermelhas que pimentões. Não consegui conter o riso.

- Pare de rir e vá se trocar rápido! Saímos assim que a princesa ai terminar de se arrumar – disse revirando os olhos.

- Princesa? Eu né?!

Enquanto me trocava, Mia começou a falar alguma coisa, quase certeza que era sobre nosso primeiro dia como Mensageiros.

Mensageiros são como se fossem.. mensageiros. São mandados para todos os lugares do continente quando há necessidade de alguma encomenda, avisos de ou para reinos vizinhos. Podem até serem enviados para pequenas cidades em lugares inóspitos, mas isso é difícil. Mesmo sendo um cargo muito abaixo de Caçador, já é um bom começo.

Nos dirigimos para o Castelo no centro da cidade. Assim que chegamos, vi um guarda usando uma roupa que mais parecia um avental.  Cutuquei Mia e apontei para o estranho. Mia revirou os olhos como de costume.

- Ainda me pergunto se você realmente tem 17 anos.. – essa mania que tinha com os olhos era extremamente aflitiva.

- Vai acabar vesgo de tanto fazer isso.

Até achar a sala certa, entramos em umas 500. Sem brincadeira.

- Pra que tanta sala? – perguntei. Mas fui ignorado. - E todas estão cheias de frescuras.. rico é tudo frescurento mesmo.

Aposto que Mia sente mais falta de morar em um castelo do que da própria família. Deve ser por isso que revira os olhos e bufa toda hora. É mal de DNA.

Pouco depois de meu pai ter sido assassinado, minha mãe se matou. Eu fiquei meio pirado, sabe? Decidi ir até o Porto na tentativa absurda de achar o assassino. Provavelmente nem sabia o que faria quando o encontrasse, mas enfim.. foi lá que conheci Michael. Ele era uma caixa falante..

“- Alguém me tire daqui! – disse uma voz.. de algum lugar.

Olhei para todas as direções na tentativa de ver quem gritava, mas não vi ninguém.

- De onde fala? - perguntei para o nada.

- Da caixa!

Uma caixa que fala e que não existe. Eu não estava batendo bem da cabeça..

- Pai? É você? – mais uma vez me dirigi ao nada.

- Me tire logo daqui! Não sou seu pai! Sou Michael Suller, filho do rei de Unahgi.. preciso voltar e salvar meu irmão, por favor.. me tire daqui – disse o nada choramingando.

Por que o princípe de Unahgi estava em uma caixa que fala e que não existe?! Minha cabeça começou a doer.. eram muitos fatos que não tinham o menor nexo.

- Consciência?? 

- IMBECÍL!! – gritou minha consciência. Ela estava furiosa.

Respirei fundo e olhei mais uma vez ao redor. Do meu lado direito havia o Rio das Estações, do esquerdo.. o Porto.

Aonde estava a porcaria da caixa?!”

A maldita se encontrava um pouco mais a frente, junto com várias outras empilhadas dentro da Caravela atracada bem do meu lado. Demorei um bocado para acha-la.

Michael me contou que na noite anterior, seu reino havia sido invadido.

"- Foi um verdadeiro massacre.. - disse enquanto soluçava - O rei de Al de Baran deu ordem de morte à todos os Suller.. me- meu irmão me levou até o porto do reino e me embarcou em uma Caravela que estava partindo.."

Seu castelo foi destruído e a cidade se tornou mais uma colônia de Al de Baran.

Não preciso dizer que, depois disso, nos tornamos praticamente irmãos. E o mais interessante, é que também somos praticamente gêmeos. Pff! Só se for nos meus sonhos..

Mia tem cabelos castanhos e olhos verdes. Tem infernais TRÊS centimetros a mais que eu e é o príncipe (literalmente) encantado de qualquer ser do sexo feminino.. gentil, cavalheiro e blá, blá, blá.. Já eu, Lorenzo Scarlet, não dou a mínima se estou sendo gentil ou educado. Tenho 1,72 de altura, cabelos loiros, olhos azuis e não sou fresco.

- Tá me ouvindo Lorenzo?

- Aham.. to sim.

Provavelmente sabia que não havia escutado uma palavra sequer.

Michael POV 

Cada dia mais que passo com Lorenzo, mais dúvido que ele tenha um cérebro. Não bastasse ser uma lêmula, é também mais estúpido que uma porta. Minha conclusão? Ele não é apenas um idiota.. é um idiota ao quadrado.

Fomos enviados para pegar uma encomenda com um senhor chamado Villaça.

- Vocês deram sorte! Ele mora na Cidade de Gelo, dentro das Montanhas do Leste – disse o Comandante.

- O QUÊ?!?! – a lêmula estava fazendo um escândalo como sempre, mas dessa vez, com razão.

Imagine um lugar no fim do mundo. Agora imagine que chegando no fim do mundo, existe uma cidade no fim desse mundo. É exatamente para onde estavamos indo.