A conversa de sua mãe com a corretora de imóveis no banco da frente daquele imóvel a estava entediando, o sol quente a deixava cansada e a péssima noite de sono forçava seus olhos a se fechar.

A conversa parecia distanciar-se aos poucos, tornando-se apenas um som de fundo enquanto ela começava a se ver num lugar diferente.

Conhecia essa sensação das cansativas aulas de Gramática, essa era geralmente a hora em que desistia de prestar atenção e ia se distrair na terra dos sonhos.

E agora estava sentada num campo com a cabeça apoiada desconfortavelmente no tronco de uma árvore.

-Cloe! Larga mão de ser preguiçosa - alguém a chamou enquanto puxava sua mão a forçando a ficar de pé.

Cloe reconheceu os estranhos cabelos curtos e repicados de um tom roxo escuro e os olhos castanhos quase que imediatamente.

-Nathally? – se surpreendeu dando uns passos para trás.

-Oras! Cadê o meu abraço? Não nos vemos à dez anos!

Isto era verdade, faziam dez longos e tediosos anos que não se viam.

Nathally era sua companheira de todas as brincadeiras, já foram piratas, astronautas, jedis, super heroínas até padres já foram (afinal alguém tinha de presidir o casamento da Barbie com o Ken).

-Você lembra, não é?

-Claro que sim – deu uns passos à frente a abraçou a amiga – senti sua falta.

Por nove anos Nathally permaneceu esquecida e, agora parecia que foram nove anos muito chatos sem ela. Nathally era quem colocava a diversão em tudo que faziam, percebeu o quanto sentiu falta dela esses anos.

Fora neste reencontro que entendeu que o sentimento que sempre tinha de que algo estava faltando era por que não consegui mais nem se lembrar da sua antiga amiga dos cabelos roxos.

-Então, vamos brincar do quê? – Nathally indagou com a mesma energia infantil de anos atrás.

-Não sei – Cloe parou para pensar e se decidiu – de tudo!

-É isso aí!

E as duas voltaram à infância, onde podiam ser a Batgirl e a Mulher Gato, onde derrotavam o Darth Vader, onde tudo era possível com um pouco de imaginação.

E Cloe se divertiu, sentindo a alegre nostalgia de brincar com sua melhor amiga da infância.

Elas se sentaram para descansar e Cloe apoiou a cabeça na árvore fechando os olhos para relaxar naquele belo campo.

A mesma sensação de distanciamento voltou e a conversa chata ficou clara. Estava novamente no carro.

-Acordou? – sua mãe perguntou a encarando pelo retrovisor.

-Sim – murmurou lentamente se sentando direito, olhou para fora e viu um campo idêntico ao do sonho. E começou a se sentir mal por ter deixado sua amiga novamente. Mas que droga! Ela já estava com saudades, queria dormir novamente, mas o sono parecia ter a deixado.

-Hey, psiiu – a voz de Nathally soou e Cloe se virou vendo a garota sentada ao seu lado – eu voltei.

Cloe sorriu, tudo bem que já tinha 16 anos, mas a falta que aquela amiga lhe fez criou a certeza de que definitivamente, não estava velha demais para ter uma amiga imaginária.