Shimmer escrita por scarlite


Capítulo 22
Capítulo 22




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Eu odiava aquele cheiro de frio. Detestava não sentir a ponta dos meus dedos enquanto mexia as mãos, e tudo que eu desejava nesse instante era estar com Bella enroscado num cobertor lendo mais um livro enfadonho dela.

No entanto, lá estava eu esperando na frente do colégio por minha querida irmã. Fazia o que pareciam horas, que estava plantado ali. Nada muito condizente com seu apelo de socorro por telefone, em suas proprias palavras: "um auxílio a uma pobre professora sem carro abandonada em frente ao seu local de trabalho, no frio".

Alice sabia ser bastante convincente e bastante dramática. Na realidade, fazia disso seu modo de vida especial. Ouvi finalmente o tilintar de sua voz esganiçada e excessivamente animada pelo corredor da escola; vinha acompanhada por um rapaz de óculos redondos e um cabelo esquisito. Percebi certa hesitação na minha irmã, provavelmente por conta do sorriso presunçoso que não consegui conter; a combinação de Alice conversando animadamente com um homem, e esse rubor traiçoeiro nas suas bochechas me deixaram contente, apesar do frio e da raiva.

O rapaz se aproximou, e percebi o quão alto ele era, e que, por baixo das lentes incomuns, dois olhos, de um verde vivo, me olharam com genuino interesse e, talvez certo desafio?

Alice limpou a garganta numa atitude totalmente “não ela”; estava desconcertada, e pelo brilho dos olhos do desconhecido, esperei que ele me perguntasse a que vinha e o que queria com ela. Podia ver o pomo de Adão descer e subir, meus olhos acompanharam divertidos aquele movimento, e não evitei a imagem de um galo de briga. Por isso ri por dentro e decidi me divertir um pouco.

- Ola gata, você demorou  - E dei minha melhor piscadela de cafageste. Algo que deve ter saído mais falso do que tudo na vida. Minha irmãzinha engasgou, e o moço arregalou os olhos. Senti minha boca entortando com o riso contido.

Meu Deus! Nada me faria rir mais do que ver a cara de ódio e divertimento de Alice ao bater no meu ombro e se virar para o rapaz, ficando lado a lado comigo. Ela sempre fazia isso quando crianças para que as pessoas vissem a semelhança entre nós. Algo no formato do rosto ou na cor dos olhos e da pele sempre nos denunciava, mesmo o jeito de falar dos Cullen tinha uma semelhança descarada. Engoli minha diversão e ofereci meu lado cortêz sorrindo simpatico.

- Jasper, este aqui é meu irmão, Edward. – Incrível, o tal Jasper suspirou de alivio e eu soltei a risada que vinha prendendo.

- Olá, Edward. – Ele se recompôs e me ofereceu a mão direita enluvada para um aperto.

- Tudo Okay, Jasper? Espero que essa pixel não esteja enlouquecendo todo mundo aqui nessa escola. – Levei outro tapa de minha irmã como resposta a meu humor espirituoso.

- Edward. Saiba que sua irmã é uma das profissionais mais admiradas dessa instituição. – Eu sabia disso. As crianças pareciam idolatra-la; e na realidade, ela parecia mais criança do que seus alunos. Talvez por isso desse tão certo lecionando no jardim de infância. Ele a olhou com admiração e ela lhe dovolveu carinho. E eu soube que eles tinham alguma coisa. Um silencio estranho se instalou e percebi que estava sobrando.

- Bem, Jasper, foi um prazer conhecê-lo. Espero você no carro Alice.

Caminhei pelo pequeno trecho que separava o feliz casal do carro, no outro lado da rua. O chão parecia quebrar a medida que minha botas se chocavam contra a água congelada. Inalei uma lufada de ar, e pensei sobre a carta que recebera mais cedo. Eu não havia mostrado a ninguém além de Emmet. Como sempre fazia em ocasiões confusas, ele coçou a cabeça e contorceu as sobrancelhas. Além de me orientar a não contar nada a mamãe para não preocupa-la por uma coisa sem sentido daquelas.

Dentro do calor artifial produzido pelo aquecedo, relaxei no banco. Fazia uma noite esfumaçada, efeito da temperatura congelante.

Muitas coisas circulavam na minha cabeça: O bilhete da minha tia, a agressão que Bella sofreu na escola, meu empreendimento, e sobre todas elas, como uma cobertura de sorvete derretendo e ocupando todos os vazios, minha paixonite cada vez maior por Isabella.

Pensei que com o tempo tudo não passaria de um momento de insanidade. Como um resfriado passageiro. No entanto, lá estava a imagem do seu sorriso, do seu rosto penduradas no meu ombro. O som da voz em nossas conversas particulares. E o pior de tudo é que agora eu tinha medo de me denunciar. A forma como olhava para ela devia ser gritantemente piegas e apaixonada; fico ainda supreso por pensar que ninguém reparou.

Ainda.

Esse ainda soava como uma ameaça; em alguns momentos minha ânsia era tao grande por amá-la de um jeito tão devastador, que desejava apenas me deixar cair, contar logo para alguém sem me importar com as consequencias. Assim eu poderia beija-la, enroscar-me nela, toma-la como minha para sempre. Esse sabor da palavra “minha” parecia salpicado de amargor na minha boca. Imaginava outro mundo, onde não houvesse laço de parentesco nos unindo, onde eu pudesse ser apenas um rapaz que se apaixonou e que tomou a moça para si.

O barulho da porta do carro me despertou desses devaneios. Abri meus olhos e dei de cara com uma Alice corada e de brilho nos olhos fitando o outro lado da rua.

Espantei os fantasmas que me afligiam, e deixei tudo amontoado na gaveta do depois. Era hora de perturbar minha irmãzinha.

***

O jantar estava na mesa. Bifes havaianos perfumavam deliciosamente a casa. Hoje estavamos recebendo Emmet e sua familia, que por morarem quase na vizinhança faziam disso um hábito. Meu irmão em casa era sinonimo de muita comida disponivel. Por isso, minha mãe caprichou na culinaria.

Olhando ao redor, não vi Bella, e nem Alice. O paradeiro da primeira me era desconhecido desde que cheguei em casa. Mas, da ultima era conhecido: No escritorio falando com o novo namorado.

Subi as escadas depois de checar a correspondencia. Encontrei Bella e o sorriso natural atrelado a sua figura se fez notar no meu rosto. Mas, a cena doce que vi levou meu coração para os meus pés gelados.

I've heard there was a secret chord

That David played and it pleased the Lord

But you don't really care for music do you?

It goes like this - the fourth, the fifth

The minor fall, the major lift

The baffled King composing Hallelujah

Parei e observei pela fresta da porta Bella embalar Adam nos braços. Ouvindo sua doce voz cantando bem baixinho, as notas da musica... Um sentimento forte de proteção me cobriu como um manto.

Maybe I've been here before

I know this room, I've walked this floor

I used to live alone before I knew you

I've seen your flag on the Marble Arch

Love is not a victory march

It's a cold and it's a broken hallelujah

    Abri a porta e entrei no quarto, me aproximei devagar, porem, dei demonstrações de estava ali. Ela se virou em minha direção e nos olhos castanhos pude reconhecer claramente familiaridade e aconchego. Uma lareira quentinha e um afago. Era esta a sensação.

Pensei novamente em todos os porques de não tornar meu sentimentos publicos. Como se estivesse no automático, envolvi meu braço sobre seus ombros sentindo a pele quente sob meus dedos. Adam estava cochilando traquilo nos braços da tia. Bella se recostou em meu lado, como se aquele fosse seu lugar de origem.

Nossa proximidade era tão natural, parecia uma força da natureza, e naquele momento, pensando daquela forma, tudo fazia sentido; e todos os meus medos e tabus derretiam como eu todo.

Beijando sua têmpora aspirei profunamente o cheiro de morangos. Era minha droga particular e não mortal; ela me fazia vivo e eufórico. Tinha uma necessidade primitiva de proteger, amparar... Era inexplicável.

- Senti sua falta. – Ela me falou olhando tão fundo nos meus olhos que me senti despido. Não sei o que meu rosto dizia, mas meu coração interpretou aquela frase de um jeito totalmente distorcido. Imaginei ser correspondido. Em alguns momentos, Bella parecia saber tudo. Ela era a rainha do meu mundo, e poderia me moldar em qualquer forma que desejasse, e, nesses momentos parecia saber muito bem disso.

Fui invadido por uma agonia estranha. Um grito estrangulado no meu peito, vontade de abraçá-la até tirar seu fôlego, ou perder o meu. Mas, em lugar disso, apenas deslizei meus dedos pelo seu rosto. Ela me olhou com carinho. E foi ai que não resisti, pela trigésima vez, talvez.

Com Adam ali nos seus braços, apenas virei seu rosto em minha direção, e me permiti aquele momento de insanidade. Mandei tudo a merda: Nosso parentesco, nossa família lá em baixo... Me permiti adorá-la com meus olhos, diminuindo a distância entre nós bem devagar, sentindo aqueles enormes olhos sobre mim, chequei o que estariam transmitindo. Apenas reconhecimento e confiança. Havia passado a ultima chance de voltar atrás. Me senti caindo num precipício alto, e a vertigem me achou.

Era tão macio como lembrava. E tão maravilhoso quanto. Suspirei alto, mas, ela parecia totalmente sob controle; como se aquilo fosse natural: beijar o primo com quem cresceu...

Por um instante a razão me chamou ruidosamente, do fundo da minha mente e eu fiz menção de me afastar. Era tudo muito confuso. O que eu estava fazendo! Eu era louco? Doente? Todos os temores e culpas vinham me encontrar vorazes... Merecia morrer por deixar aquilo acontecer; meu Deus! E se alguém me visse fazendo aquilo?! Eu devia estar cometendo todos os pecados possíveis...

Senti seus lábios nos meus novamente, me chamando de volta para o precipício. Então me atirei sem hesitação, eu estava perdido mesmo. Era diferente. Não tinha mais o gosto de susto, nem a adrenalina de um acidente. Era intencional. E Bella com toda a sua inesperiencia estava se aventurando comigo por terreno desconhecido para ambos.

Isso vai soar clichê e ridiculamente parecido com livros de romance baratos: Estar com Isabella tinha um sabor completamente diferente de qualquer outra experiencia anterior.

Inconscientemente aprofundei o beijo, e se não fosse por Adam, eu a teria apertado contra mim. Me afastei com calma, encostando a testa na dela, ainda de olhos fechados. Acaricei seus cabelos; encontrei o castanho incrível e brilhante, e a amei um pouco mais por me dirigir tanta emoção.

- Eu não consigo mais ficar longe de você. – minha voz saiu agoniada, estranha para mim mesmo. Fiquei surpreso e assustado com o fato de não ter me contido. Ela poderia se assutar com toda aquela intensidade; o pedido de desculpas se amontoava na garganta. Sua resposta me surpreendeu tanto que me silenciou automaticamente:

- Então não fique.

O olhar sôfrego que me dirigiu, e ao mesmo tempo a segurnaça com que falou aquilo me fez questionar sua sanidade.

- Bella, você sabe do que estou falando? – Ela se afastou de mim, e senti quase uma dor física pelo ato. Pensei que sairia pela porta, mas, ela se virou para o canto do quarto e colocou Adam no berço que ficava ali no caso de visitas ocasionais. Não demorou para voltar para mim. Envolveu minha cintura com seus braços num abraço apertado. Ainda com a cabeça no meu peito, disse as palavras mais improvaveis para ela:

- Eu também preciso de você Edward.

Diz o aforismo, que as palavras têm poder. Um poder avassalador, posso endossar. Ouvir aquilo foi o equivalente e tomar um choque direto no musculo cardíaco. Segurei seu rosto entre as minhas mãos, e a beijei novamente dessa vez sem me conter. Não havia nada que impedisse agora. Degustei a mesma euforia de antes, só que o tom era diferente, temperado como estava pela aceitção declarada dela.

A paixão é uma coisa estranha, ela mistura várias substancias numa especie de sopa: carinho, desejo, memorias, dever, instinto, amor. Não dá pra saber onde um começa e o outro termina; sobra espaço apenas pra sentir.

Com Bella nos braços, nada existia ao meu redor. Apenas ela, sua pele e o calor e cheiro deliciosos que só ela tinha.

Fui arrancado daquele mundo por um som insistente. Demorou apenas alguns segundos para meu cérebro voltar a funcionar; foi o bastante para criar uma fenda no meu mundo colorido.

Postada a porta do quarto, com os braços cruzados e os olhos carregados de condenação, estava Alice. Tomei o maior susto da minha vida. Mas, não soltei Bella. Era como se tivessem que amputá-la de mim agora.

- O que está acontecendo aqui? – Felizmente ela sussurrou. E eu soube que teria muitas explicações para dar.


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