Shimmer escrita por scarlite


Capítulo 17
Capítulo 17




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CAPÍTULO 17: An nouveau monde

Passaram-se horas.

Pareciam até dias para mim, enquanto eu estive esparramado nesse maldito sofá branco.

Meu divertimento - uma opção para passar o tempo - tem sido observar o movimento dos ponteiros no relógio feio e simples da recepção. A cada indicio de nova presença na sala, vários narizes se erguem no mesmo instante, parecendo soldados empertigando-se na presença do general.

Meus olhos repuxavam pelo sono, beliscando e me cobrando pelas horas insones. Mas eu não podia dormitar, não com toda a ansiedade que circulava no ar, empanturrando-se no espaço, como uma substancia nodosa que gruda na roupa.

         Assim, me mantinha no padrão: Coçar os olhos, mexer os braços, encostar a cabeça no estofado, levantar, pegar café e tudo de novo. Sorte de minha irmã Alice, ela ter uma reserva natural de algum tipo de hormônio super estimulante. Parecia que não pararia quieta nunca. Até mesmo nessas horas ela encontrou o caminho para uma pequena confusão no momento em que quis entrar na sala do parto com minha cunhada e irmão.

         E se tinha um fato a se considerar sobre Alice era “Nunca a deixe trancada” quando ela estiver muito excitada com uma situação.

         A sala de espera do Hospital de Forks parecia ter sido invadida pela família Cullen. À esquerda, ocupando uma poltrona, estavam meus pais. Minha mãe, no colo do papai, torcia tanto as mãos que eu temia seriamente que acabasse perdendo um dos dedos. Do seu rosto adorável, as palavras ansiedade e euforia brilhavam. E eu as imaginava piscando acima da sua cabeça. No grande sofá do centro, estava Billy Black, tendo esparramada, bem próximo de si, nossa tia Jane.

         Ah, esqueci de mencioná-la?

         No fim das contas, diante dos últimos acontecimentos, não se admira que tenha ocupado minha mente com tudo, menos com as nossas visitas MUITO oportunas: Tia Jane, Bert – o marido – e os pequenos demônios que ela chama de filhos. Felizmente, estavam dormindo (o único momento em que o mundo descansa longe de suas pequenas mãozinhas maldosas), com tia Jane em casa. Caso contrário, já teríamos sido enxotados do hospital.

         Em frente da janela, Bella desenhava formas extravagantes no vidro embaçado da janela. Num ritmo que eu sabia estar perturbando minha tia Jane, volta e meia ela olhava com uma carranca para o som do dedo dela deslizando no material. Soprava, embaçava e desenhava. Disfarcadamente a olhei diversas vezes. Tentei perceber alguma mudança no seu comportamento normal... Até ansiei por isso. Mas, nada. Continuava a mesma Bella de sempre.

Me perguntei se ela sabia o que beijos significavam. Será que por eu nunca ter falado com ela sobre isso, ninguém o tinha feito? Impossível ela ser desligada do mundo a esse ponto. Em certo momento durante as duas horas que estávamos ali eu esperei que ela olhasse para mim e ruborizasse, algo tosco como isso. Mas, nada aconteceu. O olhar veio sim, mas acompanhado do mesmo sorriso bobinho de sempre.

         Pela primeira vez considerei a hipótese de Isabella ser um ser de outro mundo. Eu a beijei, ela permitiu. Provavelmente o seu primeiro beijo e foi tão... Absolutamente incrível para mim, me sentia tonto ainda. E bobo por estar parecendo uma menininha enquanto ela não manifestava reação. Eu deveria estar feliz com isso. Deveria respirar aliviado por tudo não ter passado de alguma brincadeira ou experiência de primos para ela. Mas havia uma parte de mim, bem pequena sob a multidão do bom senso, que suspirava sim de desapontamento por não ter significado para ela o que significou para mim. Por não ter feito com ela o que fez em mim.

         Infernos! Só deus sabia o suplicio que estava sendo ficar longe dela, ou o pior, ficar perto durante estes últimos meses. Tocar sua pele e ter de controlar milhões de pensamentos bizarros acompanhados de dezenas de reações ainda mais extravagantes. E o pior de tudo: Eu estava sozinho nessa. Não poderia dividir esses disparates com ninguém. Eu não podia simplesmente chegar para um de meus pais ou irmãos e dizer: Eu acho que estou desejando Bella. Isso será minha sentença de morte com Emmett e de internação com meu pai.

         E lá estava ela, linda e dolorosamente doce; com seus imensos olhos castanhos brilhantes e dentes brancos, o sorriso fácil, indelével...

Recobrei os meus sentidos com o som seco da voz de Jasper estapeando o silencio sonolento da sala.

         - Pessoal! – parecia animado, o que me aliviou imediatamente.

Rápido, como num flash, todos nós demos um salto ficando de pé, como crianças ávidas em volta de doces.

         - Vocês querem a boa ou a má notícia? – Bateu palmas no ar, olhando ao redor do nosso mutismo.

         - Pelo amor de Deus homem, diga logo – Papai soou imensamente agoniado com a demora de Jasper em dizer as notícias. Jane e Billy olhavam interessados para a expressão do médico.

         - A boa. – Bella praticamente gritou fazendo com o que o Doutor desse uma risadinha baixa.

         - Bem, devo dizer que vocês precisarão de mais espaço na fazenda. – Ele fez uma pausa teatral, olhando no entorno da sala para nossos olhos arregalados.

         - Fala logoo – Bella miou com uma voz de protesto bem típica.

         - Porque vocês têm um grande e saudável, pequeno Cullen para acolher agora.

         Então a sala irrompeu numa comemoração grupal, cheia de “owws” e “obrigado Deus”... E essa coisa toda. Meu pai abraçou o doutor Hale sendo seguido por todos os outros.

         - A mamãe está passando muito bem, com seu bebê. – Ele continuou.

         - Mas e a má notícia? – Alice questionou com os olhos sobre a figura pacifica de Jasper.

         - Ah, ia me esquecendo: A má noticia é que em lugar de uma pessoa se restabelecendo, temos duas. Os nervos do pobre Emmett não agüentaram.

         - Ele desmaiou? – Perguntei realmente surpreso e bem humorado, e Jasper balançou a cabeça confirmando e rindo também. – Pelo amor de Deus! Ele é um médico, como ele pôde? – E ri com vontade do meu irmão. Isto seria uma coisa que eu não ia esquecer.

         - Podemos ver o bebê? – Minha irmã parecia que a qualquer momento saltaria corredor afora para o quarto de Rosalie.

         - Podem sim. Mas, será rápido e em subgrupos para não agitar demais a Rosalie.

         Esme, Carlisle e Alice primeiro. Isabella, e eu, por último. Tia Jane estava ocupada demais tagarelando com uma das enfermeiras. Essa seria a ordem já que Billy disse que não havia necessidade de incomodar a mãe e o bebê já que ele não era da família.

         Chegou nossa vez, e quando encarei os olhos do meu irmão sobre o pequeno embrulho, tive a sensação de que nunca saberia o que ele passava. Nunca o vira tão eufórico e emocionado antes. Nem mesmo quando entrou na escola de medicina, ou ganhou o primeiro jogo na escola. Ele, Rosalie e o bebê formavam uma pequena e feliz família. Sorri diante da imagem.

         - Hey bebê... – Ouvi a voz de Isabella num sussurro leve, como as cócegas das asas de uma ave. Ela olhava para o embrulhinho nos braços de Rose com adoração, admiração, como se estivesse presenciando o maior evento do mundo.

         Me aproximei por trás, silencioso, louco para não perder os detalhes da reação dela perto da criança. Parecia tão impressionada, e eu apenas me atraia por isso, como um imã. Claro que eu queria ver meu sobrinho, pega-lo no colo e felicitar Rosalie. Mas, mesmo nesse momento, presenciar as emoções de Bella era fundamental.

         - Ele é tão pequenininho.

         - É sim, mas, é tão perfeito não é? – Os olhos de minha cunhada pareciam querer saltar do rosto. Cheios de lágrimas ainda não derramadas.

         - Ele é perfeito sim, ainda bem que não herdou nada de você Emm. – Brinquei enquanto esticava um dos braços, passando em torno de Bella para a mãozinha minúscula do pequeno.

         - Olha o titio Edward cabeção, filho. – Meneei minha cabeça, sorrindo para Emmett. Perdoei sua brincadeira sem replicar unicamente pelo momento que passava.

         - Eu posso segurar? – Nem tinha percebido que minha mão estava na cintura de Bella até sentir ela se movendo para mais perto da cama.

         - Só tenha cuidado com a cabecinha... Assim, coloque na curva do seu braço. – Rose instruiu cuidadosa, e Emmett fez a volta na cama, e parecia querer pegar a criança dos braços de Bella a todo o momento.

         - Pode deixar Emm. – Garanti ao meu irmão. Cerquei Bella com um braço. Bem mais alto do que ela, podia ver o corpinho do meu sobrinho envolvido no cobertor de bebê. Só as minúsculas mãos e o rosto vermelho passavam livres pelo embrulho. Um tufo de cabelo preto e brilhante escapulia da touca. Acariciei com a mão livre os cabelinhos dele, sentindo quão macios eram. Bella olhou para mim e eu sorri. Demorei um bom tempo sentindo os fios, o cheirinho de talco e bebê das roupas do pequeno Cullen.

         - Meu Deus, isso tá bem estranho. – Meu irmão olhava para nós com os olhos arregalados, e eu corei, Pude sentir meu rosto esquentando.

         - Deixe-os Emmie. – Rosalie parecia encantada e piscou para mim aumentando o desconforto que surgiu de repente em mim.

         - Parabéns sobrinho! – Tia Jane entrou na sala me salvando, e abraçou meu irmão com afeto e o seu jeito exagerado de sempre.

         Sussurrei para que Bella devolvesse o bebê, o que ela fez com relutância. E nos preparamos para sair da sala.

         - Tia não demore, Rose tem de descansar.

         - Estou a caminho Eddie. – Trinquei meus dentes. Odiava esse apelido dito por outras pessoas. Soava infantil e terrivelmente critico na boca de tia Jane.

         Fechada a porta atrás de mim, foi incrível a sensação de timidez que me tomou. Eu não estava sendo eu mesmo nos últimos dias. Era Bella ali ao meu lado, tentava enfiar o pensamento na minha cabeça a todo custo. Enfiei as mãos nos bolsos e caminhei ao seu lado em silencio pelo corredor. Quando a olhei, parecia serena como sempre. Um meio sorriso encurvando seus lábios para cima, nos cantos.

         Abri minha boca umas dez vezes, pensando falar alguma coisa. Mas, sempre me vinha uma única frase “Está tudo bem com o fato de eu ter te beijado?”

Então eu fechava a boca a meio caminho. Bella era tão avoada que eu não duvidaria se ela não se importasse nem um pouco com o que houve. Parecia viver mais no mundo particular dela. Mas, eu me importei.

         - A vida é mesmo espantosa não é? – de repente ela me perguntou. E eu franzi a testa encarando sua expressão misteriosa. Era um ar diferente que Bella assumia só de vez em quando. Uma feição de quem sabia algo, um segredo, um fato que todos desconheciam. Não encontrei nada a dizer diante daquele rosto e daqueles olhos. Só pude concordar.

         - Sim, por certo que é. – A fitei, e depois o chão.

E eu podia sentir na minha pele, no ar, em tudo as mudanças chegando lenta e dolorosamente se instalando como sempre é. Quase um presságio. Uma sensação.

Como tudo.


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