CAPÍTULO SETE

Percebi que a cada dia que passava eu estava mais confusa. Comecei a sentir uma dor de cabeça insuportável. Resolvi deitar um pouco. Só até a hora do jantar.

Quando acordei, imagina o que eu descobri: estava com febre. Parece que, só para tornar as coisas muito piores, eu estava tendo uma crise de sinusite. O que mais poderia ficar pior?

Deixa que essa eu mesma respondo. Por onde eu começo? Talvez, pelo fato do meu próprio pai não ter acreditado em minha doença, já que ele passou o jantar inteiro me interrogando sobre o Jacob. ( Sim, parece que o Austin fez questão de dar todos os mínimos detalhes. Desde o fim do namoro dele com  a Kelly até o toco que ele me deu no cinema.)

 Mas também tem a parte em que, quando eu estava subindo para o quarto, eu quase cai em cima do Austin que por acaso estava atrás de mim. E eu não tinha caído por que eu tropecei e sim por que eu estava muito fraca.

- Ei, Sum, cuidado aí! Você está meio...- ele colocou a mão na minha testa para sentir melhor a minha temperatura – meio quente! – falou enfim alarmado.

- Dãh. – foi a única coisa que eu consegui dizer.- Agora, me larga, eu quero ir para o quarto. To com frio. – reclamei.

Eu acho que, pela primeira vez na vida, ele fez o que eu pedi. Quando dei por mim, estava deitada na minha cama, toda coberta e com um termômetro debaixo do braço. Ah, já ia me esquecendo, com todos no meu quarto me olhando com preocupação.

A Mary, ficava tentando me distrair enquanto o tempo do termômetro passava.O papai, estava gritando com a secretária eletrônica da celular da minha mãe, já que ele não tinha idéia do telefone da minha alergista. E o Austin ficava pra lá e pra cá me perguntando de 5 em 5 minutos se eu estava me sentindo bem ou se queria alguma coisa. Só tenho um comentário para tudo isso: QUE BIZARRO!

Logo depois disso, meu pai desistiu de tentar entrar em contato com a minha mãe e me fez a pergunta mais importante de todas e que ele já devia ter feito há muito tempo.

- Summer, você por acaso, não teria o celular da sua médica salvo no seu celular?

- Claro, pai. Era isso que eu estava tentando te dizer esse tempo todo só que esses dois sempre me mandavam ficar quietinha. Que saco, se eu soubesse que seria assim, teria tomado um tylenol e ido para cama sem dizer nada.

- Nem brinque com isso, Sum! – me repreendeu a Mary – Você tem que nos informar sobre tudo que estiver sentindo, ok? E me desculpa pelo excesso de cuidados. Eu acho que é o instinto materno.

- Ta, ta, deixa essa conversa pra depois. Agora Sum, onde você colocou a droga do seu celular? Eu não o acho em lugar nenhum...- falou meu pai hiper estressado.

- A febre está abaixando, graças a Deus! – falou a Mary.

- Achei! – gritou o meu pai com o meu celular na mão e já apertando os botões furiosamente.

Ele saiu do quarto pra poder gritar a vontade sem incomodar ninguém. A Mary, depois que viu que a temperatura estava abaixando, resolveu fazer uma sopa pra mim. Acho que mais para distrair ela do que para me alimentar. Fiquei sozinha com o Austin no meu quarto.

Assim que ele percebeu isso, fez que ia sair, só que fui mais rápida do que ele.

- Austin, não vai não. Não quero ficar sozinha aqui. – falei. Ele parou instantaneamente com o som da minha voz e me encarou. – Acho que prefiro vocês me enchendo a paciência que o silencio.

- Foi mal, eu só fiquei meio preocupado com você. Você me deu um belo susto quando quase caiu da escada. Nem gosto de imaginar o que aconteceria se eu não estivesse bem atrás de você.

- Obrigada. Eu nem tive a chance de agradecer. E não só por isso. Mas também pelo alerta que você me deu da Kelly com o Jacob. Foi legal da sua parte ter me falado aquilo.

- Você merece um cara melhor do que o Jake.

- Tipo quem? Hoje em dia é difícil achar um cara legal por quem se apaixonar. – rolei os olhos. Do jeito que o meu corpo tava dolorido, até esse simples movimento doía.

- Que tal o THEGUY? Eu cheguei a ler alguns dos seus e-mails e ele parece ser bem legal...

- Só que eu nem sei quem ele é. Alem do mais, mesmo se eu soubesse não sei se ficaria com ele. Desde que me mudei para cá, coisas estranhas estão acontecendo...

- Estranhas? Em relação a que? – ele me interrompeu.

- Aos meus sentimentos. Eles estão super hiper mega confusos. Às vezes eu acho que estou ficando louca.

- Você não é, nunca foi e muito menos será algum tipo de louca. Que você é meio destrambelhada quando está perto das suas amigas, isso não se pode negar. Mas louca, acho que você está exagerando...

- Você acha? Você não sabe como é difícil ser eu. Nos últimos dias, está parecendo impossível...

- Pára de falar besteiras!– falou ele – Mas mudando de assunto, o que você disse sobre o Jacob e a Kelly?

- Sum, mude de roupa agora! A Dra Malone vai te consultar agora na casa dela.- fechou a porta e depois, mudando de idéia, voltou a abri-la – Austin, vá dormir. Está tudo bem agora. Amanhã você tem aula esqueceu? Anda, já pro quarto!

Para minha surpresa, ele o obedeceu como se ele fosse seu próprio pai e saiu do meu quarto. Fiquei atônita quando percebi que quase falei tudo que estava sentindo para ele. Fala sério! Ainda bem que eu não falei nada. Com certeza ele ia rir da minha cara e ia usar aquilo para implicar comigo depois.

Finalmente, consegui me vestir e ir em direção a porta do meu quarto. Desci a escada e entrei no carro seguindo em direção ao centro. Mas os meus pensamentos não estavam ali e sim em uma coisa que estava debaixo de várias revistas na sala de casa: o meu laptop. Será que já estava na hora de uma reconciliação?

* * *

Como eu tinha dito, eu tive uma crise alérgica. Agora preciso tomar uma colher de chá de xarope de 8 em 8 horas. Pelo menos, o gosto dele não é tão ruim assim.

No dia seguinte não fui à aula. O Austin trouxe as minhas lições para casa e até me ajudava com algumas delas. Naquele dia, a Mary tinha saído pra fazer compras e meu pai ainda estava no trabalho. O que quer dizer que eu estava sozinha com o Austin. Como sempre que fico perto dele o meu coração tem umas reações esquisitas, que tem piorado a cada dia, resolvi ficar no meu quarto e tentar descobrir quem é o THEGUY.

Desci as escadas ansiosa, estava com um pressentimento bom em relação a isso. Até que vejo o Austin sentado no sofá assistindo a um filme qualquer. Congelei no mesmo instante.

- Oi... – eu disse.

- Ah... Sum... Oi. – Porque essas três palavras me deixaram tão esquisita? – Você está sentindo alguma coisa? Tudo bem?

- Tudo tranqüilo. Só vim buscar meu laptop. – segui em direção as revistas empilhadas em cima dele ao lado do sofá.

Eram tantas que fiquei com preguiça de tirar uma por uma e depois coloca-las de volta no lugar, também uma por uma. Então resolvi simplesmente puxar. Só que, como eu estava fraca, não deu muito resultado. Ele me olhava com curiosidade, parecia estar se divertindo.

- Você quer, por favor, levantar desse sofá e me dar uma mãozinha?

- Mas por que eu faria isso se estou me divertindo muito daqui?

- Qual foi? É só uma ajudazinha. – implorei.

Ele riu mais um pouco. Não parecia disposto em me ajudar.

- Então ta. Eu consigo fazer isso sozinha. – Mesmo que dure a vida toda, pensei.

Ele riu mais ainda. Logo depois disso, eu senti uma mão quente sobre a minha. Era ele. Com uma delas ele puxava o meu laptop e com a outra segurava as revistas para não caírem. Assim que conseguiu retira-lo dali, ele o me entregou, mas me encarava com um olhar meio que indeciso, como se resolvia se me contaria alguma coisa ou não. 

- Obrigada.

- De nada. – ele continuou me olhando e disse – Sum, quando você disse estar confusa em relação aos seus sentimentos, não era em relação ao Jake. Era em relação ao THEGUY?

- Não. Na verdade, ele nem é mais tão importante assim. Eu só estou curiosa pra saber quem ele é.

- Mas então, existe outro?

- Existe. Só que eu acho que eu só enxerguei esse sentimento tarde demais.

- Você o conhece há muito tempo? Tipo da escola ou da sua antiga rua, coisas assim?

- Mais ou menos. Primeiro eu o conheci em uma festa da empresa do meu pai.- Eu não acreditei que estava falando.

- Uma festa?

- É e depois descobri que ele era da mesma escola que eu, até que descobri que ele era...

- Essa festa é a mesma que nos conhecemos? – ele me interrompeu com um brilho estranho nos olhos. Talvez não fosse tarde demais.

Resolvi ignorar a pergunta dele. Respirei fundo e o encarei.

-Descobri que ele era o filho da mulher que o meu pai estava namorando. – Pronto disse. Agora já era, não dava pra voltar atrás.

Ele pegou minha mão, jogou meu laptop no sofá e me puxou pra ele, falando no meu ouvido:

- Não é tarde demais.

Então, ele começou a me beijar. E parecia que não ia parar nunca e eu não queria que ele parasse. Estava me sentindo tão feliz, como eu não me sentia fazia muito tempo. Quando finalmente me largou, eu estava sem fôlego.

- Por que nunca fizemos isso antes? – perguntei com um sorriso idiota nos lábios.

- Pelo mesmo motivo de você ter demorado tanto. – ele me lembrou, me puxando de volta para ele.   

 - Meu pai não pode saber disso por enquanto. Ele vai pirar.

- É. Não quero que ele me proíba de ficar no seu quarto ou você no meu. Mas ele vai acabar descobrindo, ainda mais porque eu pretendo compensar todo esse tempo perdido com você.

- Espero que você faça mesmo isso.

- Sum, - disse ele no meu ouvido – que tal começarmos agora?

Sorri com a sugestão dele. Um segundo depois já estávamos nos beijando muito. Eu não conseguia parar de pensar naquilo. Mas como sempre, alguma coisa sempre chega para nos atrapalhar. Dessa vez foi a mãe dele.