CAPÍTULO CINCO

Desci na porta do shopping e fui direto escolher o filme. Ele tinha falado qualquer filme que seja ás 16hs ou mais tarde. Escolhi o filme das 16:30. Achei perfeito. Não era romance, mas também não era ação ou terror.Odeio filmes de terror! Escolhi uma comédia.

Ainda faltavam 40 minutos para começar o filme. Mandei uma mensagem de texto para ele do meu celular – recém carregado – avisando em que horas o filme ia começar. Ele me respondeu com um : ‘ DAQUI A 15 MIN TO CHEGANDO AE. BJUS, JACOB’.

Resolvi esperar até ele chegar para entrar na fila da pipoca. ‘ Tomara que ele não demore’pensei. Foi naquele momento que eu vi uma pessoa que eu não esperava ver em nenhum momento: o Austin.

- Oi... Esperava te encontrar aqui...- sorriu ele para mim.

Não sei por que, mas aquele sorriso fez com que o meu coração desse uns pulinhos. No entanto, me convenci a acreditar que aquilo era por causa da fome gigantesca que eu estava sentindo naquele momento. Afinal, eu não comia nada desde a hora do almoço.

- Oi...- comecei sem graça ao sentir minhas bochechas pegarem fogo - Hã, Austin, o que... O que você ta fazendo aqui?

- Vim ao cinema. Pensei que ia precisar de companhia, já que o Jake furou.

-Ele não furou, ta? Só está um pouco atrasado.

-Atrasado? Ele já devia ter chegado a horas. Olha, já são 16:35. O filme já vai começar.- falou ele – E para você não ficar no ‘preju’ eu pago uma pipoca pra você e um hambúrguer depois do filme, ok?

Suspirei e olhei pro relógio. Estava desapontada. Mas não triste, afinal, eu teria a oportunidade de fazer as perguntas que faltam ao Austin enquanto estávamos no shopping.

- Ta ok, então. Mas eu vou querer um milk-shake gigante junto com o hambúrguer.

Ele sorriu pra mim – Combinado. Vamos?

Entramos e, não sei como, encontramos dois lugares vagos no meio do escuro.

Percebi que, em todas as partes cômicas do filme, ele olhava para mim como se querendo ver se eu achava aquelas partes tão hilárias quanto ele.Achei isso muito estranho, já que essas são coisas que casais fazem e não irmãos adotivos.

Foi quando me dei conta de que ele estava a menos de 30 centímetros de mim. Também senti uma estranha corrente elétrica entre nós. Não consegui ficar quieta no meu lugar depois disso.Parece que ele percebeu já que depois deu uma risadinha e sussurrou em meu ouvido:

- Aconteceu alguma coisa? Você está tão inquieta.

- Não. Nada. Ta tudo ótimo. – minha voz falhou

- Não está gostando do filme? Se você quiser...

- Não, não...O filme está perfeito.

Ele riu mais um pouco e depois se ajeitou na cadeira. Finalmente consegui me distrair com o filme e esquecer quem estava do meu lado e as estranhas sensações que essa pessoa causava em mim.

Quando o filme acabou, levantamos e fomos em direção a praça de alimentação. Pedimos dois hambúrgueres gigantes com fritas e tudo mais. Além do maior milk-shake - de morango pra mim e de chocolate pra ele – que já bebi na minha vida.

- Meu deus, estou me sentindo como se tivesse acabado de engolir um boi inteirinho e de uma só vez. – declarei depois de acabar com tudo num piscar de olhos.

- É, percebi. Pelo jeito que você atacou a comida. – disse ele rindo ( não pude deixar de perceber que ele ficava muito lindo quando sorria, mas não foi por causa disso que o meu coração deu mais daqueles pulinhos estranhos, não mesmo!) – Nunca te vi comer com tanta vontade assim na vida.

- Na verdade, nem eu sabia que era capaz de comer tão rápido assim. – declarei.Rimos muito dessa minha última confissão.

Foi nesse momento que o joelho dele encostou no meu.. Ele me pediu desculpas e tirou ele dali. Mas, em menos de 5 minutos, ele colocou o joelho lá de novo. Só que dessa vez, não pude deixar de perceber, ele não o tirou dali.

Fiquei vermelha instantaneamente. Como sempre ele percebeu e, também como sempre, não deixou passar em branco.

- Summer... Eu não sei, mas você parece estranha...- falou ele, enquanto me analisava.

- É? Mas eu estou me sentindo ótima ... - minha voz falhou, o que contribuiu com o que ele não acreditasse em uma palavra que eu tinha dito.

- Não sei, não...Você me parece meio...- ele chegou mais perto der mim diminuindo o espaço entre os nossos rostos. Até que ele arregalou os olhos surpreso com o que tinha concluído – corada.

Fiquei imóvel. O que mais eu podia fazer? Ele estava lá, tão perto de mim e o meu coração parecia que trabalhava num circo de tantas cambalhotas que deu de uma só vez que eu não conseguia pensar em nada. Mas como sempre ele que teve a primeira reação. ( como que ele conseguia fazer aquilo? )

- Summer, eu... Eu preciso te falar uma coisa... Uma coisa muito importante.

- Ué, fala. – consegui sussurrar para minha surpresa.

Bom, como sempre alguma coisa tinha que acontecer quando estou conseguindo ter uma conversa decente com o Austin. Dessa vez, foi o celular.

Adivinha quem era. Não, ninguém nunca iria adivinhar.Era o Jacob Black. Parecia que ele queria se desculpar por ter me dado o cano. Eu estava tão atordoada que nem consegui entender direito, mas disse que estava tudo bem e que no dia seguinte a gente se falava melhor. Ele concordou e nós desligamos.

Quando olhei para frente, o Austin tinha se afastado e estava me olhando pensativo. Quando percebeu que o estava encarando, se ajeitou na cadeira e perguntou:

- Então, qual foi a desculpa esfarrapada que ele deu dessa vez? Não, deixa que eu adivinho. Hã... já que ele é o astro do basquete lá na escola... já sei, treino de última hora!

- Não! – olhei para ele me perguntando como o cara que estava tão intenso a minutos atrás ficou tão rude em tão pouco tempo – Ele foi levar o gato no veterinário. Não sei, eu não entendi direito. Parece que ele engoliu uma meia ou algo assim.

- E você acreditou, né? Isso que é inacreditável! – disse ele apontando o dedo pra mim.

- Eu acho que ...

- Você não vê, Sum? – me interrompeu -  Ele está te usando para por ciúme na Kelly. Ele deve ter estado com ela durante todo esse tempo. E não com um gato que come meias.

- Eu acho que isso não é da sua conta. – continuei, rezando para não ser interrompida de novo – E você não deve se intrometer na minha vida. Sou eu que escolho o que fazer dela, e faço isso sozinha, ok?

Ele me olhou como se eu fosse uma retardada mental.

- Concordo. A vida é sua. Vou deixar que você se ferre sozinha. – Abri a boca para reclamar, mas ele foi mais rápido – Agora, chega de brigas. Ta tarde, ainda tenho dever de literatura para fazer.

Assenti com a cabeça, furiosa por dentro. Por que? Porque eu sabia que ele estava certo. E não queria admitir. Que, com certeza, o Jake não passou todo esse tempo em uma clinica veterinária preocupado com um gato que come meias. Isso era impossível. Com toda certeza, ele estava com outra pessoa ocupado em fazer coisas muito mais interessantes. E a Kelly era essa pessoa.

Quando cheguei em casa, a primeira coisa que eu fiz, foi me trancar no meu quarto. Mas não porque eu estava deprimida demais por ter levado um fora e sim pra poder digerir tudo que aconteceu.Todos os sentimentos que vieram do nada e ao mesmo tempo. E também por causa da mesma coisa. Mas qual era o motivo pra tudo isso?

Olhei para o relógio, já era tarde. Meu pai já devia estar dormindo. Resolvi que deveria mandar uma mensagem para o THEGUY. Não que eu achasse que ele merecesse, ainda achava ele um completo idiota. Mas sim porque eu queria muito saber quem ele era. Vamos combinar que não é justo uma pessoa saber quem você é e você não saber quem é essa pessoa. No entanto, quando fui procurar pelo meu laptop, eu não achei em lugar nenhum do meu quarto. E sabia que se saísse dele, podia acordar a casa toda, já que a minha porta faz um barulho horrível quando eu a abro. Acho que está na hora de colocar um óleo nas dobradiças...Então, resolvi que já era hora de dormir. Amanhã seria um lindo dia e eu iria esquecer de tudo o que aconteceu quando acordasse.

Eu nem preciso dizer que isso nunca aconteceu.