Arquivo Uchiha escrita por XxSAYURIxX


Capítulo 2
[Raiden] - O que Eu quero Proteger


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado à minha maninha amada, akahime.
Amo-teee, maninha-gêmula-separada-ao-nascer!!! ♥33



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O que Eu quero Proteger

 

           

 

 

 

           Passos rápidos. Vultos. As copas das árvores nada mais eram que borrados cor-de-musgo. O tilintar do choque entre as armas de metal. O vento forte. Gritos. Escuridão. Sangue. Escuridão. Corpos. Escuridão. Desespero?

           E então, como de costume, um minuto antes do relógio despertar, meus olhos se abriram e a mão automaticamente apertou o botão, desligando o alarme antes que tocasse. Mais um pesadelo? Sentia o corpo pesar, tentado a ficar inerte, envolto nos lençóis brancos, macios e perfumados de algodão. A semana havia sido difícil. Muitas missões de alto risco e compromissos diplomáticos. Hoje era dia de folga. Sim, para todos....mas não pra mim. Capitão das forças especiais da ANBU.

           Mesmo livre das missões, treinamentos sempre foram minha rotina diária ao longo dos meus 18 anos. Foi neles que encontrei minha terapia...e minha salvação. Mas não quero me lembrar disso agora.

           Comecei a me vestir, recordando-me do sonho de há pouco. As imagens foram ficando nítidas em minha mente. Sim, aquela fora uma das primeiras missões que completei quando tinha 11 anos. Um dia antes do exame chuunin daquela temporada. Lembro-me que antecipei a data da missão, mesmo a contragosto de meus companheiros em ter que trabalhar em pleno feriado. Mas eu tinha um compromisso importante no exame chuunin do dia seguinte, e eu não me permitiria faltar...

           Cortei minhas lembranças, ao terminar de me arrumar.

 

- “Okaa-san já deve estar servindo o café da manhã e não quero me atrasar” – pensei, dando uma última olhada no espelho.

 

           Abri a porta do quarto e assim que pus o pé direito pro lado de fora, senti-o bater contra algo líquido. O odor férreo subiu às narinas, misturado ao cheiro de pó. A casa estava aos frangalhos e havia rastros e poças de sangue ao longo do corredor. Suspirei.

 

- Tsuki! Saia já, de onde estiver. – bradei, fechando os olhos e cruzando os braços; sinceramente, não acordara com humor para brincadeiras...ainda mais desse tipo!

 

           Não demorou muito e minha irmã caçula saiu de trás da parede onde o corredor se bifurcava. Veio a passos saltitantes em minha direção, desviando dos escombros.

 

- Ahhh... – murmurou, decepcionada, fazendo biquinho, logo em seguida – Aniue, seu chato!

 

- Quantas vezes já lhe disse para parar com essas brincadeiras?

 

           Sempre que podia, Tsuki tentava nos pregar uma peça. Por Kami-sama! Será que ela nunca ia desistir? Por melhores que fossem seus genjutsus, é muita audácia da parte dela achar que eu um dia vá cair numa dessas. Isso já estava se tornando irritante.

 

- Ohayou, minna-san.... – no mesmo momento, Itachi saía de seu quarto, ainda sonâmbulo, com a calça do pijama, a camisa do avesso e a escova de dentes dentro da boca, escorada no canto.

 

- Ohayou... – eu e Tsuki respondemos em uníssono.

 

           Ele continuou andando lentamente, até entrar com os dois pés em uma poça funda de sangue. Parado, ele dirigiu calmamente seu olhar ao chão. Foi então que a escova de dentes caiu.

 

- AHHHHH!!! O que aconteceu aqui?! – berrou, imerso em horror.

 

- Viu? – Tsuki abriu um meio sorriso malicioso – Nii-san sempre cai! Hahahaha!

 

- Kai! – desfiz o genjutsu – Deixe de ser infantil, Tsuki...

 

- Mas o quê...?! Sua pestinha! – depois de despertar do “pesadelo”, Itachi jocosamente deu uma chave de braço em Tsuki, desarrumando os longos cabelos da menina com a mão.

 

- Nhaaa, nii-san! Pára!! Hahahaha! – e caíram na risada. Eu apenas observava e não pude deixar de sorrir diante daquilo.

 

- Raiden! Itachi! Tsuki-chan! O café está na mesa! – a voz de Okaa-san soou do andar de baixo.

 

           Nos recompomos o mais rápido possível, e logo estávamos descendo as escadas. Otou-sama já estava sentado, com um pergaminho à mão, e bebericando uma xícara de café. Na mesa de madeira maciça, coberta sob uma fina toalha de renda, havia diversos quitutes, dispostos graciosamente sobre pratos de porcelana e cestas de palha trançada.

 

- Ohayou gosaimasu. – nós três cumprimentamos, nos dirigindo aos nossos respectivos lugares.

 

- Ohayou, meus amores! – Okaa-san nos abriu o sorriso de sempre, já se pondo a servir a bebida da preferência de cada um de nós.

 

- Ohayou.  – Otou-sama respondeu, em tom baixo, sem desviar os olhos do pergaminho.

 

           Um breve momento de silêncio pairou no ar. Cada um de nós escolhia o que comer, perdidos nas opções da mesa farta. Okaa-san sempre fora ótima cozinheira.

 

- Raiden. – eis que Otou-sama resolveu se pronunciar.

 

- Hai? – respondi, enquanto bebia o chá que Okaa-san acabara de me servir.

 

- Já escolheu sua esposa?

 

- Pffffff!!! – coloquei a mão na frente da boca pra não espirrar chá no Itachi, que estava sentado à minha frente. Como Otou-sama conseguia falar aquilo de maneira tão séria e seca?!

 

- Hahahaha!.... – Okaa-san riu de minha reação. Tsuki parecia que se segurava para não cair na gargalhada. Aposto que só não o fez por estar com a boca cheia de pão....embora, com certeza, tenha tentado!

 

- Já conversamos sobre isso, Raiden. O clã Uchiha precisa de herdeiros o mais rápido possível. Você já tem 18 anos e, no momento, apenas nós representamos a linhagem. É bom que você e Itachi arrumem esposas logo. – explicou, ainda passando os olhos calmamente pelo documento à suas mãos.

 

- H-hai....*cof*.... Otou-sama. – tentava me recompor, ainda meio engasgado. Decidi nem argumentar sobre o assunto. Já havia um tempo que ele nos cobrava tal coisa. E parece que ainda insistiria naquilo.

 

- Espero que também tenha entendido, Itachi. – Otou-sama tirou os olhos do pergaminho, vagarosamente, olhando de esgueira para meu irmão.

 

- ......... – Itachi estava todo feliz, comendo um pedaço de torta de maçã, quando notou o peso do olhar sobre si – O quê?

 

- ............. – Otou-sama apenas moldou a face, com uma gota enorme de frustração estampada nela.

 

- Nyaaa!!! – Tsuki protestou – E eu, Otou-san? Quando é que eu vou casar, hein!? – de fato, dentre nós três, ela era a mais ansiosa por formar família. Tsuki sempre sonhara com isso. A típica princesinha dum conto de fadas.

 

- Matte, Tsuki; tudo a seu tempo. O pilar que sustenta e protege a família é o marido. Raiden e Itachi já estão aptos a fazer isso, portanto, independente de quem escolham para esposa, isso não fará muita diferença. Quanto a você, musume.....sou eu quem escolherá o homem digno de te desposar. – explicou, firme, enquanto deixou o documento em cima da mesa para finalmente se servir de algo para comer.

 

- Wakatte, Otou-san.....– resignou-se, revirando os olhos azuis – Demo....onegai, faça isso logo! – por fim, emburrou do mesmo jeito.

 

- Nee, Anata....vai mesmo continuar com essa idéia de escolher o marido de nossa filha? Não acho que isso vá dar certo... – Okaa-san era a única que ousava contrariar Otou-sama. Eu apenas permanecia calado. Aliás, tentando acabar de comer rápido pra sair logo dali. Aquele assunto não me era nada confortável.

 

- Nunca faço escolhas erradas, Ino. Nós demos certo, não? – rebateu, mordendo um pedaço de pão.

 

- Uhn...mas que eu saiba, eu quem tive que te conquistar, não que você tenha me escolhido, Sr. Uchiha Sasuke! – dispondo uma mão na cintura enquanto na outra segurava a bandeja com os pratos que já tirava da mesa, Okaa-san arqueou a sobrancelha de maneira provocativa, como se estivesse zombando de Otou-sama.

 

- Você é quem pensa. – com essa mínima frase, curta e grossa, Otou-sama deixou Okaa-san desconcertada, fazendo-a até ruborizar um pouco. Realmente, ninguém conseguia ficar “superior” à Uchiha Sasuke por muito tempo.

 

- Gochisousama. – terminei o café, já me levantando – Vou treinar um pouco.

 

- Está certo, querido. Só não se esforce demais, ok? – Okaa-san me sorriu, enquanto Otou-sama apenas observou minha saída.

 

- Hai.... – assenti, fechando a porta.

 

           O sol já brilhava forte, amenizado apenas por algumas nuvens que flutuavam no céu, volta e meia encobrindo-o. Caminhei, em meio àquele silêncio tão acolhedor. O vento soprava refrescante em meus ouvidos. Aquela sinfonia que envolvia meu corpo e guiava meus passos em meio à grama verdejante. A sensação de paz tão entorpecente que nem vi que já havia chegado à área de treinamento do Distrito.

           Os robustos troncos de madeira que eu colocara há apenas uns 3 dias já estavam ficando gastos. Tsc. Logo eu teria que trocá-los novamente.

           Desabotoei o costumeiro traje de batalha, deixando-o jogado um pouco longe; ficando apenas com a calça preta e uma regata branca de algodão. Hoje era dia de treinar taijutsu e minha pontaria, portanto, quanto mais liberdade para meus movimentos, melhor.

           Amarrei os porta-kunais em ambas as pernas, como sempre fiz. Já ia me pôr em posição de ataque, quando, de relance, vi uma figura familiar se aproximando.

           Mas o quê? Ela aqui?!

 

- Ohayou gosaimasu, Hikari-hime. – cumprimentei, com uma leve reverência formal.

 

- Ohayou, Raiden-san. Tão cedo....e já treinando? – respondeu, se aproximando de mim. A face com o leve rubor característico. Não sei dizer o porquê, mas eu tive a leve impressão de que ela não queria ter sido flagrada.

 

- Hai. Alguém na minha posição não pode dar brechas, Hikari-hime. Tenho que me manter o mais preparado possível para cumprir com minha obrigação. - lhe sorri bem leve, notando seu nervosismo. Hikari-hime era tímida e, por vezes, mais calada que eu. Tentativa vã, a minha, de ser “simpático” e deixá-la mais à vontade.... Ao invés disso, ela ficou ainda mais nervosa. – E a senhorita? O que faz por aqui tão cedo? Veio ver Tsuki, suponho.

 

- Hai.....combinamos de sair hoje. – como eu pensava, ao ver o assunto focado em minha irmã, ela me pareceu um pouco mais confortável em conversar – O dia está ótimo para um passeio na vila.....deveria aproveitar melhor suas folgas, Raiden-san. Feriados servem para isso, se divertir.....não precisa provar nada para ninguém; meu Otou-san o tem na sua maior estima. – aquelas palavras me pegaram de surpresa, tanto quanto o sorriso que ela me dirigiu. Ouvir da própria filha do grande Hokage, o qual admiro e respeito muito, que eu tinha a confiança dele, com certeza era um dos melhores reconhecimentos que eu poderia ter.

 

- Eu as aproveito, Hime-sama. Talvez não da maneira mais divertida, mas da melhor maneira para shinobis como eu. Fico feliz em saber da confiança de vosso pai. Diante disso, tenho que fazer jus a tal confiança, não? – falei, sereno – Eu faço parte das Forças Especiais da Anbu de Konohagakure. Para guerreiros como nós.....um dia a mais de treino pode significar a salvação de muitas vidas, e até da nossa própria... – suspirei, vendo que estava enchendo a pobre garota com preocupações que ela não precisava ter – Mas sim....é um belo dia para um passeio. Aposto que Tsuki se divertirá muito em vossa companhia, Hikari-hime.

 

- Arigatou pelas suas palavras e pela sua atitude, Raiden-san....pessoas como você são raras hoje em dia, mesmo aqui em Konoha. – estranhamente ela fez uma breve reverência, afastando-se de súbito – Agora vou procurar Tsuki-chan...ela deve estar me esperando...

 

- Hiiiikari-chaaan!!! – a voz de minha irmã soou estridente, mesmo estando relativamente longe – Aqui!!! Vem! Quero que me ajude a escolher com que roupa eu vou! Ainda não me decidi!!! – acenava, eufórica, do pátio da mansão.

 

- Hehe, não falei? – ela riu abertamente, mesmo sem perceber, do escândalo de Tsuki – Bem, vou lá...até mais, Raiden-san. Bom treinamento. – despediu-se e saiu correndo.

 

           Apenas sorri diante da doçura bucólica daquela cena. Duas amigas, felizes, como margaridas embaladas pela brisa do verão. Voltei a treinar, agora mais avidamente. Eu precisava ser forte. Sempre o mais forte. Só assim....só assim conseguiria impedir que outros sentissem a dor e o desespero da escuridão....das trevas banhadas a sangue. Só assim os pouparia de sentir....o que eu sinto. Nem que para isso eu tenha que me afundar ainda mais nesse abismo.

           Aquele sorriso. Tão gracioso. As gargalhadas delas que eu ainda ouvi antes que sumissem casa adentro....aquela alegria, aquela paz, aquela inocência, aqueles sonhos....estampados no olhar cândido de cada idoso, no abraço amoroso de cada pai em seu filho, na pureza de cada ser que vinha à vida, na ingenuidade dócil dos animais, na beleza das flores e na harmonia das florestas. Minha família, meus amigos, meu povo, meu lar. É isso....o que eu quero proteger!

 

 

Bom....aí está o 1° capítulo do Arquivo Uchiha! E para abrí-lo, nada mais, nada menos, que o “phodônico-mor” (apelido dado carinhosamente pela minha miguxa cacazetiii), Raiden! <3

Espero não decepcionar! E aguardo o review de cada um de vocês!

 

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GLOSSÁRIO

 

[1] Aniue = irmão (termo arcaico, usado para se referir ao irmão mais velho, o varão da família. Por ser tão antigo, denota um respeito e admiração exacerbados)

[2] Onii-san / Nii-san = irmão (termo para se referir ao irmão mais velho; a diferença entre o 1° e o 2° é que o prefixo “o” denota um maior respeito)

[3] Okaa-san / Kaa-san = mãe

[4] Otou-san / Tou-san = pai

[5] -sama = sufixo que demonstra extremo respeito e polidez, usado para pessoas importantes ou autoridades

[6] Kami-sama = Deus

[7] Ohayou / Ohayou Gosaimasu = bom dia (a diferença é que o 2° é mais formal)

[8] Hai = sim / certo

[9] Matte = espere

[10] Wakatte = entendo

[11] Demo... = mas...

[12] Onegai = por favor

[13] Nee.... = preposição que equivaleria a um “uhm...” ou “hey...”

[14] Anata = querido (termo utilizado pela esposa para se referir carinhosamente ao marido)

[15] Musume = filha / menina

[16] Gochisousama = estou satisfeito (seria um agradecimento como o “Itadakimasu” - obrigada pela comida - mas enquanto esse é feito no início das refeições, o outro e dito ao final)

[17] Hime / -hime = princesa / alteza (o primeiro seria o substantivo, enquanto o outro seria um sufixo adjetivo)

[18] Arigatou = obrigado(a)

[19] Minna = pessoal


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