Fiquei ali. Fiquei ali parada, olhando para a foto. Para qualquer pessoa no mundo, aquilo é só um pedaço de papel. Mas, para mim, é um pedaço de papel que guarda uma lembrança.

E eu achava que nada podia me separar de Jane. Éramos como melhores amigas. Mas algumas amizades não duram para sempre.

Eu perdi quase tudo com as mudanças. Principalmente minha amizade com meu pai. Nós não nos falávamos, e quando isso acontecia era praticamente uma briga.

Continuei olhando para a foto. A foto de minha mãe. Eu tinha várias fotos dela.

" Sinto sua falta. " Eu pensei, enquanto olhava para a foto.

A chuva ficava cada vez mais forte. Podia ver seus pingos batendo na imensa janela de meu quarto. É, IMENSA!

Meu pai é muito exagerado. Ele comprou uma casa gigante. E isso era desconfortável. Parece que nossa família se separou. Eu fico a maior parte do dia em meu quarto.

Vi a maçaneta da porta se virando. Não deu tempo de deitar na cama.

Meu pai estava ali. Parado diante a porta, olhando para mim e para as fotos. Ele não se mexia. Não dizia nada.

-- Vista-se. Já está na hora. -- ele disse. Foi tão baixo que tive dificuldade em entender.

Peguei meu uniforme na cabeceira da cama. Tranquei a porta. Eu precisava de mais privacidade. De um tempo para ficar sozinha. E pensar em coisas.

Vesti-me e desci correndo as escadas. Por que meu pai teve que comprar uma casa com tantas escadas? Não fazia sentido.

Quando cheguei na sala, meu pai me olhava, furioso.Ele fez sinal para que eu abrisse a porta e entrasse no carro. Ele parecia decepsionado comigo. Mas o que eu havia feito?

Talvez fosse por causa do baú. Mas ele estava no meu quarto, e ninguém podia me empedir de abri-lo.

Entrei no carro, em silêncio. Não falamos nada a viagem inteira. Fiquei olhando as árvores sendo balançadas pelo vento e a chuva batendo no vidro do carro. O céu estava escuro. Completamente cinza. Estava frio até memo dentro do carro. Eu nunca tinha visto um dia assim.

Ele parou o carro na frente do portão. Eu saí sem dizer nada.

Quando entrei na escola, levei um susto enorme. O pátio era gigante, bem maior que o da minha antiga escola. Percebi que ia ser difícil decorar o caminho para as salas.

Perto de uma das portas, estavam duas garotas. Elas logo olharam para mim.

Elas vieram em minha direção. Nem sei por que.

-- Oi! Eu sou Sam! -- disse uma das garotas.

Isso era impossível. Uma pessoa falou comigo?

-- E eu sou Julia. Você deve ser nova. Nunca te vimos aqui.

-- Eu... vim de outra cidade. -- tomei coragem para responder.

As duas se entreolharam. Pareciam surpresas.

-- Nós sabemos o quanto as mudanças são difíceis. -- disse Sam.

Ah, elas não sabiam MESMO o quanto as mudanças são difíceis. 

O sinal tocou. Sam segurou meu braço e foi me puxando até a sala. Pelo jeito ela já sabia onde ficava.

Sentei do lado dela. Júlia, por outro lado, sentou perto de um garoto. Ele era loiro e tinha os olhos pretos.

Sam revirou a boca, com nojo, quando olhou para o garoto. Não tive coragem de perguntar quem era ele. Mas eu precisava saber.

A professora entrou na classe. Eu nem prestei atenção. Não sabia se olhava para Sam ou para Júlia. As duas mostravam coisas que eu precisava saber. Por que Sam odiava aquele garoto?

Quando a aula terminou, fui falar com Sam.

-- O que tem de errado com aquele garoto? -- perguntei.

-- O nome dele é Tom. -- ela suspirou. -- Ele é o namorado da Ju.

Fiquei em choque. Ela o odiava por que?

Tom e Júlia chegaram perto de nós. Ele sorria enquanto abraçava ela.

-- Oi. -- ele disse. PARA MIM! Ele não parecia ser chato. Não sabia qual era o motivo deSam, para odiá-lo. Mas ela tinha que ter um bom motivo para eu acreditar nela.

Ficamos andando em direção á saída. Eu conseguia conversar com Ju e com Tom. Mas Sam parecia não gostar.

Quando chegamos ao portão, meu pai estava parado.

Entrei no carro sem dizer nada. Não queria deixá-lo mais aborrecido do que estava.

Quando chegamos em casa, ele me levou até meu quarto.

-- Carol... -- ele suspirou. -- Tenho uma coisa muito séria para falar.