Olhava pela janela. A chuva caía. Seus pingos cristalinos como diamantes batiam violentamente na janela.

Mas, quando olhava a chuva, me sentia melhor. Menos triste com todas as mudanças feitas em minha vida.

Já mudei de cidade umas cinco vezes, e não me agradei muito com isso. Da primeira vez eu gostei, mas agora isso me deixa deprimida.

A cada lugar que vou, tenho que agir como uma pessoa diferente. Para tentar fazer amizades. Mas nem com todas essas mudanças eu consegui.

Meu pai enrtou no quarto. Não mexi um músculo. Continuei absorvida pela chuva.

Meu pai se chama Sérgio. Ele é um grande insistente.E aposto que ele não sairia do quarto até eu me virar. Mas eu não fiz isso. Pelo contrário, continuei imóvel, com os olhos fixos na janela.

-- Nunca vai se mexer? -- ele enfim disse, decepsionado por não ter me virado.

Ignorei-o. Não queria falar com ele. Eu estava muito triste.

-- Já está aí a 3 horas. O jantar está pronto.

Então ele achou que ia me convencer a sair de lá me oferecendo janta?

-- Carolina Lanny, saia deste quarto imediatamente! -- ele estava quase gritando. Meu pai tem problemas para controlar a raiva.

Virei-me, assustada.

-- Eu não vou sair daqui! Por que você insiste tanto?! -- eu disse, furiosa com a interrupção.

Ele deu um passo para trás.

-- Não é saudável ficar o dia inteiro olhando a chuva pela janela.

Eu revirei os olhos.

-- Também não é saudável ficar mudando de vida toda hora! Você acha que isso é bom para mim? -- eu o ameacei.

Ele ia continuar insistindo. Ele não desiste fácil.

-- Eu só quero o seu bem. Eu sei o que é melhor para você.

-- Se você soubesse, me deixaria sozinha! E não faria minha vida mudar a cada 5 segundos! EU sei o que é melhor para mim. -- eu gritei.

Ele finalmente se deu por vencido. Por enquanto.

Ele se virou e saiu lentamente do quarto. Eu, por minha vez, continuei olhando a chuva.

Eu detestava brigar com meu pai. Mas ele não entende o que é melhor para mim.

Ele estava bravo. Era possível ouvi-lo, gritando com meu irmão Lúcio.

-- Ela fica no quarto o dia inteiro, olhando a chuva! Vá falar com ela! -- disse meu pai, tentando convencer Lúcio.

Ele demorou, mas obedeceu. Ouvi seus passos vindo em direção ao meu quarto.

-- Você é maluca! -- ele provocou. -- Que tipo de pessoa fica olhando a chuva o dia inteiro?

Eu simplesmente o fuzilei com os olhos. Tinha a técnica perfeita para fazê-lo desistir.

-- E que tipo de garoto de 16 anos dorme com um ursinho de pelúcia? -- eu o desmascarei.

-- Eu saio se não contar para ninguém sobre o Ted. -- ele sussurrou, com medo.

Eu acenti com a cabeça. Continuei olhando a chuva.

Eu adoro a chuva. Ela é linda. É a única coisa que cura minhas tristezas. Minha vida rompida.

Toda vez que me mudo, tenho que começar do zero. E não é nada bom.

No dia seguinte, eu irei para uma nova escola. Ou seja, nova vida. Nunca gostei de ter uma vida nova. Pode ser uma chance de concertar os erros que cometeu, mas para mim não é bom.

Encostei a cabeça no travesseiro. Dormir é o único jeito de fugir da realidade. E ir para um mundo totalmente diferente. No meu caso, um mundo melhor.

A conversa que tive com meu pai não foi agradável. Mas não havia tido uma boa conversa com ele desde que nos mudamos para esta nova casa.

Nós não concordamos em quase nada. Por isso brigamos quase toda hora.

Minha mãe, Anna, está na Europa, fazendo uma viagem de negócios. Faz um mês que não a vejo. Desde que nos mudamos.

A mudanças sempre estragam a vida das pessoas. Pelo menos, estragaram a minha vida. E vai se difícil de concertá-la.