Ada Wong acabou de sair da sala de Albert Wesker. Havia entregado a amostra que havia lhe custado vários dias de um pesadelo que já tinha virado rotina.

 

Não estava sendo nada fácil ganhar a confiança de Wesker. Ele não era um sujeito qualquer e provavelmente nem era humano, já havia presenciado várias vezes a sua "morte". Mas ele sempre reaparecia ainda mais forte, como uma praga, um vírus.

 

Não fazia parte de seus planos entregar aquela amostra, mas depois daria um jeito de recuperá-la. Também não seria fácil... Podia até custar a sua própria vida, mas estava fora de cogitação deixar aquele vírus ainda mais perigoso que os anteriores nas mãos daquele maníaco. Mas, cedo ou tarde ele seria consumido por sua própria insanidade, assim como Krauser e todos os outros que tiveram contato com aquele pesadelo.

 

- Tsc... - Ela não queria mais pensar em nada. Só queria deitar e dormir. Fingir que aquilo não era com ela... Que não vivia uma vida dupla, tripla... Já tinha perdido a conta. Queria esquecer por alguns segundos, antes que a insônia e os gritos dos inocentes infectados atingissem sua mente. Por fora aparentava ser forte e não ter sentimentos, mas por dentro, sua cabeça ainda tentava entender como fora parar naquela situação.

 

Estava caminhando pelos corredores frios e metálicos da fortaleza que Wesker tinha construído. Aonde era? Nem ela tinha certeza, mas não fazia diferença. Adentrou em uma ala que fora toda destinada para ela. Sentou-se na cama e olhou para o teto por alguns segundos, depois fechou os olhos.

 

Gritos de mães por seus filhos, maridos por suas esposas, inocentes, pessoas comuns que nunca mais poderiam retornar as suas vidas normais. Até ouviu seus próprios gritos...

 

- Leon!

 

Por que sempre que ouvia sua voz, ela sempre chamava por Leon? Chegava a ser ridículo. Mas era fato que tinha se apaixonado por ele, no meio daquele caos de Racoon City, só que era impossível dar continuidade ao que nem tinha começado. Ela estava metida em algo grande de mais para sair...

 

Um barulho forte fez com que Ada abrisse os olhos bruscamente.

 

"São tiros" - Ela pensou.

 

Levantou-se, pegou sua pistola em cima da estante e correu para fora. Olhou para os lados, não havia ninguém, mas o barulho de tiros ainda era intenso.

Seu comunicador tocou, o abriu e viu logo de que se tratava. Wesker.

 

- O que houve? - Perguntou.

 

- Temos visitas... Parece que Leon S. Kennedy conseguiu entrar na minha fortaleza. Como, eu não sei, mas seu trabalho é eliminá-lo. Não quero erros, esse Leon já está atrapalhando mais do que deveria.

 

- Entendido.

 

E desligou. Já tinha passado por essa situação de ter que eliminá-lo, mas sempre conseguiu contorná-la sem deixar transparecer qualquer traição ou sentimento. Mas agora Wesker fora muito claro. "Sem erros". Sem novas chances. Se não o matasse, ela estaria fora. E isso não era algo que podia acontecer.

 

Correu na direção dos tiros, que aparentemente vinham da sala de experiências. Abriu a porta e se deparou com Leon cercado de Hunters.

 

- Ada?! - Sua expressão era de grande surpresa.

 

Ela sorriu.

 

- Há quanto tempo.

 

- Ajude-me aqui! - Disse ao disparar um tiro da direção de uma criatura.

 

A mulher riu.

 

- Sabe que não posso fazer isso... - Mas parecia esperar por algo.

 

Como se tivesse entendido a postura de Ada, assentiu com um sorriso irônico e atirou em todas as câmeras de segurança que haviam na sala.

 

- Agora você pode! - Gritou ele.

 

- Você é tão abusado - Revirou os olhos e apertou uma espécie de botão que estava sob uma das cápsulas de onde os Hunters haviam saído.

 

Uma cortina de gás encheu a sala, as criaturas em poucos segundos, estavam caídas no chão.

 

- Mas o que foi isso? - Leon perguntou.

 

- Nada que você precise saber - Ada respondeu, apontando a arma para sua cabeça.

 

- Isso de novo não, Ada. Vai dizer que tem ordens para me matar, já que está trabalhando para o Wesker, não é?

 

- Exatamente.

 

- Mas você não vai fazê-lo - Disse confiante.

 

- O que te garante isso ?

 

- Por que você já teve inúmeras chances de me matar e como pode ver, estou vivo e disposto a chutar a cara daquele maldito Wesker.

 

- Ah, agora vai dar uma de durão hein? - Riu - Acontece que eu o deixei viver por que fazia parte de meus objetivos. Agora que você não tem mais serventia, posso matá-lo.

 

Leon levantou as sobrancelhas, incrédulo. Estendeu os braços.

 

- Vamos, atire.

 

- Essa pressão psicológica não funciona comigo, já deveria saber.

 

- E é por que sei que você não irá atirar. Vamos logo - E abaixou a arma de Ada - Quero logo acabar com isso.

 

- Mas você não entende!!

 

Leon a olhou surpreso. Nunca tinha visto demonstrar qualquer outro sentimento além da frieza.

 

- Estou em algo que não posso sair, e agora tenho que te matar para conseguir que tudo dê certo.

 

- Tudo o que ? - Indagou.

 

Ada virou o rosto de lado. Então ele segurou em seus braços fazendo-a olhar diretamente em seus olhos.

 

- Estou cansado desse joguinho idiota. Pode até não me contar seus objetivos, não me interessa, mas você não é assim. Essa não é aquela Ada que conheci em Racoon City.

 

- Realmente não sou. Aliás, já tive tantas personalidades que nem sei mais qual é a minha...

 

- Pare de fraquejar! - E olhou para ela ainda mais fundo - Sei que está aqui por que não tem opção, mas eu estou lhe dando uma! Vamos embora daqui.

 

Ela pensou que talvez fosse até fácil matá-lo. Mas não era. Sempre estivera cuidando dele na surdina, tanto em Racoon City como na ilha de Sadller. O sentimento tinha superado a razão da espiã. Tinha tomado uma decisão.

 

- Leon... - Colocou as mãos em seu rosto, observando cada traço de suas feições.

 

Pela primeira vez não conseguia raciocinar com clareza. Não queria saber das conseqüências de seus atos. O puxou para si, dando um sorriso malicioso e o beijou. Lenta e memoravelmente.

 

Leon ficou atordoado no começo, mas correspondeu logo em seguida. O impossível finalmente tinha se concretizado, e como sempre, no lugar mais improvável do mundo: Numa sala cercada por corpos de criaturas.

 

Ada sabia que não poderia mais voltar atrás em sua decisão, e que provavelmente lhe custaria caro. A qualquer momento, mais dúzias de monstros apareceriam ali. Mas o momento foi estragado por seus pensamentos, que finalmente superaram seus delírios. Puxou a arma de que estava em sua perna. Leon ainda estava de olhos fechados, beijando-a, mas ela não poderia perder mais tempo.

 

Um barulho de tiro os afastou bruscamente. O homem olhou atordoado para a poça de sangue que jazia em sua frente.

 

- Ada... O que... ?

 

Ela havia atirado em sua própria perna. Ofegante e caída no chão, ainda mantinha aquele sorriso misterioso e sedutor, aquele que sempre dava quando tinha algo em mente.

 

- Tome isso - E entregou-lhe um objeto de tamanho médio que estava escondido em seu vestido.

 

- O que... ?

 

- É uma bomba. É potente o suficiente para explodir toda essa base.

 

- Mas e você?! - Leon perguntou tentando levantá-la.

 

- Não se preocupe. Eu sempre dou um jeito...

 

- Ada...

 

- Ande logo! - Gritou.

 

- Eu prometo que te trarei de volta!

 

- Não faça promeças que não pode cumprir - Riu.

 

- Eu definitivamente cumprirei - Disse com uma cara orgulhosa. Então ligou o detonador e disparou para fora da sala.

 

- Nos veremos em breve... - Falou sozinha, pegando seu comunicador...

 

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5 minutos depois, fora da fortaleza, Leon observa todo aquele lugar ruir com o disparar da bomba. Será se Ada teria escapado? E Wesker?

 

Como em resposta de suas dúvidas, viu um helicóptero voando acima de sua cabeça. Estava baixo o suficiente para ver quem estava dentro. Ada enfaixava sua perna, e dentro também havia poucas pessoas.

 

Se ela havia sobrevivido, Wesker também tinha. Acompanhou o helicóptero com os olhos, e antes dele de sair de vista completamente, jurava que tinha visto Ada sorrir em sua direção daquela maneira tão singular e misteriosa de sempre.

 

A mulher de vermelho havia vencido novamente, de uma maneira que só ela sabia como.

Só restava ir embora e começar tudo de novo...

 

 

----- Fim -----