Uma Noite, Frio e Café escrita por Juhhjulevisck


Capítulo 1
Capítulo único




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Eu sempre procurei por alguma coisa. Alguma coisa que eu desconhecia, alguma coisa que meu coração não fazia a menor ideia do que era. Talvez, desde o início, eu estivesse procurando por ela, apenas não sabia disso. 

 

Era uma sexta gelada em Londres. Minha semana havia sido insuportável, eu não conseguia mais suportar a minha vida de Comensal. É horrível. Você se sente um assassino, você se sente como se estivesse privando a vida das pessoas. O que, de certa forma, é o que acontece. Você se sente, de repente, muito inferior do que todas aquelas pessoas que prende.

 

Minhas mãos estavam quentes dentro do bolso da jaqueta, mas meu nariz estava congelando. Delicados flocos de neve caíam sobre o meu cabelo e sobre as minhas roupas, deixando nela seu rastro branco. Havia um vento cortante atingindo meu rosto e minha respiração saía em enormes baforadas brancas. Era uma avenida que, de dia, deveria ser muito movimentada. Naquele momento, porém, estava quase abandonada. Eu e as luzes pálidas dos postes trouxas éramos as únicas coisas, digamos, vivas ali. 

 

Alguns bares estavam abertos, como imaginei. Eu não queria tomar nada alcoólico, porém. Precisava de alguma coisa mais quente. Café ou chá, por exemplo. Do outro lado da rua, havia uma cafeteria aberta, provavelmente a única naquela noite fria. Atravessei a rua e entrei no estabelecimento, satisfeito com a temperatura agradável do ambiente. Com a ajuda de algum aparelho trouxa, a temperatura estava bem maior do que lá fora. Parecia até magia. 

 

Havia uma jovem moça do outro lado do balcão, usando um avental verde-musgo. Tinha cabelos cor de chocolate presos em um rabo de cavalo, atenciosos olhos castanhos e um sorriso no rosto. 

 

— Vai querer alguma coisa, jovem? — ela perguntou, com um jeito simpático. Sorri amargamente. Imagino que se ela soubesse da minha vida, jamais iria querer sorrir.

 

— Quero um café com marshmellow, por favor — pedi com a voz rouca. Ela assentiu em silêncio com a cabeça e escreveu alguma coisa em um aparelho que eu não sabia muito bem para que servia. 

 

— São 3 euros, senhor — ela disse. Rapidamente, mexi no bolso da minha calça e tirei uma nota de 10 euros, dinheiro trouxa. Despejei sobre o balcão e, alguns segundos depois, ela me devolveu os 7 euros que me sobravam de troco. — Pode ficar a vontade nas mesas, senhor. Eu levo o café na sua mesa — ela sorriu novamente.

 

— Obrigado — agradeci e me sentei em uma mesa no centro da cafeteria. Não tinha prestado atenção antes, mas o lugar era bastante agradável. Havia uma agradável música ambiente tocando – que eu não reconheci, afinal, eu não ouvia músicas trouxas – e um leve cheiro de café quente pairava no ar. As mesas eram de uma madeira clara e o tampo era de um vidro grosso que tinha um tom de verde água e as paredes eram mescladas de verde escuro e marrom, que dava um toque rústico agradável ao lugar. 

 

Corri os olhos pela cafeteria, que imaginei estar vazia. Não estava. Havia alguém, a várias mesas de distância, com os olhos presos dentro de um copo de café. Franzi a testa e imaginei quem seria bizarro o suficiente para ficar olhando para um copo de café. E, de alguma maneira, ela não me parecia estranha. Vi a moça do balcão trazer um copo e colocá-lo à minha frente. Distraído, levantei os olhos para ela e a agradeci em silêncio. Ela sorriu e voltou para o seu lugar.

 

Tomei o primeiro gole da bebida, satisfeito. Café tinha um gosto relativamente bom – e naquele frio infernal, mais ainda. Voltei então a observar a garota que estava sentada na outra mesa.

 

Até onde eu conseguia ver, tinha um rosto fino, que pareciam ser emoldurados pelos seus longos cabelos loiros e encaracolados que caíam em cascata pelas suas costas e que estavam enfeitados com uma fivela de flor, que seria até delicado, se não fosse completamente colorido. Tinha um anel de coração – enorme, por sinal – no dedo indicador da mão esquerda. Usava um colar de contas coloridas e usava um familiar brinco de beterrabas.

 

Exatamente. Draco, como você pôde ser tão burro?

 

Lovegood. Luna Lovegood. Esse era o nome dela. Tomei mais um gole do café e continuei observando-a. O mais estranho foi que ela me parecia bizarramente bonita. Notei então nas suas roupas. Usava um sobretudo azul turquesa e calças brancas. Seus sapatos eram simples tênis, que seriam ainda mais simples se não tivessem uma estranha mistura de verde limão e rosa pink. 

 

E eu notei que tudo nela era bonito. Desde as roupas bizarras até o cabelo loiro, passando pela fivela e pelo par de tênis. Tomei mais um gole de café, que já estava esfriando. Luna ainda estava absorta no seu copo de café – que deveria estar vazio, a julgar pelo tempo que ela o ficou encarando. 

 

Senti meu coração bater consideravelmente mais rápido quando ela levantou os olhos. Diretamente para mim. Ela estava olhando dentro dos meus olhos. E seus olhos eram lindos. Absurdamente lindos. E então ela sorriu. O sorriso mais bonito que eu já tivera a oportunidade de ver. 

 

Apertei meus dedos em volta do copo de café, nervoso. Porém, não cometi o pecado de interromper o contato visual com ela. Era tranqüilizante, tinha o efeito semelhante ao de uma droga. Não que eu conhecesse uma, claro. 

 

Pude ver que ela deu uma risada e a vi se levantando e caminhando na minha direção. Comecei a suar frio debaixo das camadas de blusas que usava. Ela se sentou na cadeira à minha frente e me encarou com um olhar risonho.

 

— Olá, Malfoy — ela cumprimentou, com a voz serena.

 

— Draco — corrigi. 

 

— Como é?

 

— Me chame apenas de Draco — esclareci, sorrindo.

 

— Ah, sim — ela murmurou, desviando o olhar. Voltou a olhar para o copo de café. Outras pessoas fariam aquilo provavelmente por constrangimento. Ela parecia fazer aquilo por simples tédio. O que eu queria entender, porém, era o que ela tanto via naquele copo – que agora eu tinha certeza, estava vazio.

 

— O que você está fazendo? — perguntei, não resistindo ao impulso. Ela ergueu os olhos e me olhou, cética. 

 

— Ainda restam duas gotas de café aqui dentro. E elas não se desgrudam, porque elas se amam. E eu estou olhando para elas. O que mais poderia ser? — ela disse calmamente, como se aquela fosse a coisa mais comum do mundo. Tentei reprimir uma risada que estava presa na minha garganta e que eu tinha certeza que sairia a qualquer momento. 

 

— O que foi? — ela perguntou, notando a minha reação. Piscava constantemente os olhos azuis esbugalhados e me olhava incrédula. Pigarreei baixinho. 

 

— Nada — tentei parecer sério, mas não consegui impedir que um sorriso surgisse no canto do meu rosto.

 

— Draco, entenda. Essas duas gotas estão unidas, como se nada as pudesse separar. Elas se amam, e isso é lindo — ela disse, dando de ombros. Colocou o copo vazio de café na frente do meu e entrelaçou os dedos, me observando com ternura. As palavras que ela havia dito haviam mexido comigo. Eu nunca tinha ouvido algo tão bonito sair da boca de alguém. Por mais que, na hora, eu tenha achado engraçado, era lindo. Muito menos se essa pessoa era a garota que eu considerava a mais louca do mundo.

 

Eu estava em silêncio, apenas apreciando as palavras que ainda ecoavam na minha cabeça. Luna não disse nada. Apenas continuou a me observar, e pude notar também que um sorriso se abria lentamente no seu rosto. Voltei a encará-la e nossos olhares se cruzaram novamente. Seu sorriso foi murchando aos poucos e eu sabia que estávamos à mercê de algum sentimento que não conhecíamos direito. Assim como as gotas de café, imagino.

 

Inclinei-me por cima mesa e contornei o seu rosto com os meus dedos, sorrindo. Coloquei uma mecha de cabelo que estava caindo sobre seu olho atrás da sua orelha. Ela sorria também. Deslizei meus dedos para a sua nuca e a puxei para mais perto. Dava para sentir o hálito com aroma de café e menta roçando no meu rosto. 

 

Acabei com os milímetros de distância que nos separavam. Meus lábios estavam sobre os dela e meus olhos estavam fechados. Eu queria aproveitar aquele momento ao máximo. 

 

Naquele momento, descobri que finalmente eu tinha achado o que eu sempre havia procurado. O amor. 

 

E eu achei tudo isso numa noite.

 

Estava frio.

 

Havia o aroma do café nos envolvendo.

 

E quando você vê por esse ângulo, nem o mais gélido dos frios parece ser realmente gelado.


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Notas finais do capítulo

Hm. E aí gente, mereço reviews?