Sweet Caroline escrita por FaaniZabini


Capítulo 1
Doce Caroline




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SWEET CAROLINE

(Doce Caroline)

É possível ser um anjo sem asas. Por que não posso ser um sem sentir amor? Anjos não deveriam se sentir assim. Ainda mais por uma criatura tão vil, tão lasciva, tão desprezível, tão humana.

Humana. O maior pecado que um anjo pode cometer é se apaixonar por uma criatura humana. Em minha defesa, a mais bela humana que habita entre céu e inferno. Cabelos negros como a noite e olhos brilhantes como estrelas; como pode existir um ser tão pavorosamente perfeito e, ao mesmo tempo, tão perfeitamente pavoroso?

Where it began, I can't begin to know when

Onde tudo começou, eu não posso me lembrar

But then I know it's growing strong

Mas então eu sei que está cada vez mais forte

Seu nome era Caroline e ela era uma pecadora. Todos eles o são. Eu não sabia ao certo qual delito teria cometido, mas isso não importava. Nem o fato de ela ser uma humana era importante para mim, tal ponto sua beleza me deixara enfeitiçado.

Dentro de mim, precisava tê-la. Precisava beijar seus lábios, sua pele, toda sua presença. Mas não podia. Eu era um anjo e um anjo que se preze não pode aparecer para um mortal. Ninguém pode imaginar o caos que o mundo viraria se um de nós, apenas um, tornasse-se visível para um humano. A não ser, é claro, que este anjo se faça passar por um mortal, por um curtíssimo perído de tempo, estando ciente de que a punição por esse breve ato seria indiscutivelmente cruel.

Oh, wasn't the spring,

Ah, foi na primavera

And spring became the summer

E a primavera tornou-se verão

Who'd believe you'd come along

Quem teria acreditado que você viria

Só um anjo apaixonado estaria disposto a ceder a esse sentimento, sabendo das consequências. E, cá entre nós, anjos apaixonados são realmente incontroláveis. Nós sentimos as emoções de uma maneira muito mais forte do que os humanos e, assim, nos deixamos levar com mais facilidade. Eu a queria tanto, aquela pecadora indigna, que não consegui resistir à tentação de tocá-la, mesmo que por um minuto. Passei dias guardando-a, esperando a hora certa de agir, como um animal que espera pela oportunidade de atacar. Até que esta surgiu.

Caroline, minha doce Caroline, caminhando lenta e solitariamente pela rua deserta, o cabelo brilhando com os raios de sol que nele refletiam. Devo enfatizar que nunca a desejei tanto quanto naquele momento. Para mim, sua imagem era a da perfeição em pessoa e por mais que eu negasse, sabia que eu a amava. Com todas as minhas forças, eu a amava.

Hands, touching hands, reaching out

Mãos, mãos se tocando, estendidas

Touching me, touching you

Me tocando, tocando você

Então desci a Terra. O vento bateu gélido em meu rosto e pude ouvir seus passos se aproximando de mim, retumbando no asfalto como se estivesse marchando.

Um estranho formigamento atravessou meu corpo, tal qual uma lança. Aproximei-me de Caroline casualmente, podendo pela primeira vez analisar seu rosto melhor. As bochechas pálidas, os lábios cheios como colchões d’água, as sobrancelhas arqueadas.

Parei à sua frente. Se eu respirasse, certamente estaria arfando. Ela deve ter percebido que eu não era humano, pela forma que me olhava. Fiz com que nossos olhos se encontrassem. Ah, os olhos. Dois olhinhos brilhantes como estrelas, não me enganei nessa parte. Sua cor era âmbar, o que a deixava com um ar contraditoriamente sedutor e inocente. De imediato, uma ligação se formou entre nós. Uma ligação nada mais do que necessária.

Oh, sweet Caroline

Ah, doce Caroline

Good times never seem so good

Bons tempos nunca parecem tão bons

I made him climb to believe it never would

Eu estive propenso a acreditar que eles nunca seriam

Seus lábios se abriram por uma fração de segundo e tornaram a fechar. Vi o corpo que adotei refletido em seu olhar – cabelos escuros, olhos claros, ombros largos – e pensei comigo mesmo que estava parecendo um idiota. Quem em sã consciência gostaria de um homem assim? Eu nem sequer era bonito. O que ela estaria pensando de mim?

Ela pareceu hipnotizada, perdida em meu olhar. Sim, estava perdida em meu olhar. Eu era um anjo; espantaria-me se não estivesse. Caroline estava fascinada por mim. Era uma extensão de meu poder, o que me permitia estar próximo a ela – e eu o odiava. Se deixasse o poder que me foi dado de lado, certamente que Caroline se afastaria de mim. E eu não podia suportar a idéia de ser rejeitado.

-Quem é você? – perguntou.

Sua voz soava como o toque de uma peça de seda, tão leve e macia era. Foi a minha vez de ficar estático, sem poder lhe dar uma resposta. E, mesmo que conseguisse, o que lhe diria? Contaria a verdade, que eu era um anjo? Ou mentiria que era um simples humano, envergonhando a mim mesmo e a toda minha raça?

-Oh, Caroline – sussurrei, quase esquecendo que ela podia me ouvir.

-O que você...? – aquela voz, de novo. A voz que penetraria meus pensamentos mais profundos por toda a eternidade.

-Não – coloquei o trêmulo dedo indicador em frente aos seus lábios, num sinal de silêncio que por séculos vi os humanos fazerem uns aos outros.

And now I, I look at the night,

Mas agora eu, eu olho para a noite

And it don't seem so lonely

E ela me parece tão solitária

We fill it up with only two, oh

Nós vamos preenchê-la com apenas duas pessoas

Por mais que soubesse que ela estava sobre meu controle, eu espantei-me quando não tentou perguntar de novo. Meio que esperei que insistisse, que provasse estar fora de meu alcance. Assim, talvez, eu desistisse de seu amor.

Apesar de seu silêncio, ela esticou a mão para tocar meu rosto. Aquilo estava indo longe demais. Eu estava seguindo pelo caminho da tentação, mas não pensei nem por um segundo em recuar. Segurei-lhe o pulso levemente e mais uma onda de calor passou por mim. Tudo que eu conseguia pensar era em como era bom seu toque, a sensação de ter sua pele na minha.

Estava ficando insuportável. Eu precisava parar com aquilo. O que não significava que eu queria, mas sim que, infelizmente, iria.

Fechei os olhos, interrompendo nosso contato. Seu pulso mexeu-se desconfortavelmente em minha mão e o soltei. Mas, diferente do que pensei, nã ouvi seus passos voltando a caminhar pela rua. Devagar, deixei-me encará-la de novo – desta vez, sem encontrar seu olhar.

Caroline continuava me olhando com fascínio. Apesar da distância entre nossos olhares, podia senti-la a me analisar. Era uma sensação desconfortável, mas gostosa em sua essência. Algo dentro de mim dizia que ela gostava do que via e que não via apenas minha aparência. Via o anjo dentro daquele corpo forjadamente mortal.

-Quem é você? – voltou a perguntar e, desta vez, não pude impedi-la de tocar meu rosto com as pontas dos dedos.

And when I hurt

E quando me machuco

Hurting runs off my shoulder

A dor se deixa correr por meus ombros

How can I hurt when holding you

Como posso estar machucado estando com você?

Não há meios de descrever aquele momento. O calor de novo, insuportável, incontrolável. Delicioso. Meus olhos cerraram-se de leve, aproveitando.

-Eu sou um anjo.

Eu disse a verdade. Ao contrário do que pensei, ela não fugiu de mim ou duvidou de minha palavra; apenas sorriu. O sorriso mais lindo do mundo, e era meu. Ela acariciou meu rosto, fazendo tudo dentro de mim acordar.

Eu era o anjo mais louco e mais feliz que existiu. Talvez ela fosse tão louca quanto eu, mas estar ao seu lado era no mínimo surpreendente. Era perfeito.

-Olhe pra mim – pediu Caroline.

-Não – a resposta foi imediata, mas mesmo assim, foi impossível não encontrar seu olhar. De novo – Caroline, minha doce Caroline. Você é uma tentação tão grande.

Ela não respondeu. Estava sob meu poder. Desviei o olhar, fazendo-a acordar.

-Quando você olhar em meus olhos, se perderá – murmurei – Peço que não o faça mais. Não quero controlar você.

-Por que não? – vi um sorriso confuso em seus lábios.

-Porque eu amo você – admiti, erguendo a mão para tocar a sua que ainda estava em meu rosto.

Oh, warm, touching warm, reaching out

Ah, quente, um toque quente, estendidos

Touching me, touching you

Me tocando, tocando você

Ela suspirou.

-Deixe-me olhar pra você – Caroline colocou a mão em meu queixo e ergueu meu rosto de encontro ao seu.

Fechei os olhos o mais depressa que pude. Não, eu não a controlaria. Não enquanto tudo estivesse saindo bem como estava.

-Ouça - sua voz estava mais calma do que nunca –, eu quero olhar para você. Eu quero ser controlada.

Oh, ela estava pedindo para que eu exercesse todo meu poder? Abri os olhos. Se possível, suas duas pedras cor de âmbar estavam mais brilhantes do que nunca.

E, numa fração de segundo, Caroline estava sob meu poder, pela terceira vez. Desta vez, não hesitei em realizar meu mais desesperado desejo. Ela aproximou-se ainda mais de mim e beijou-me, seus lábios nos meus.

Consequentemente, fechei os olhos, esquecendo completamente de que o beijo era efeito do poder de meu olhar. Caroline estremeceu e afastou-se subitamente. Antes que eu pudesse lamentar, ela cerrou as pálpebras e nossas bocas voltaram a se encontrar, perigosamente.

Oh, sweet Caroline

Ah, doce Caroline

Good times never seem so good

Bons tempos nunca parecem tão bons

Oh I made him climb to believe it never would

Ah, eu estive propenso a acreditar que eles nunca seriam

Foi um simples tocar de lábios, mas tão sublime que parecia que havia durado mais do que alguns pouquíssimos segundos. Eu queria mais, queria-a para sempre. Mas, de repente, senti-me sendo arrancado dali, da forma mais bruta possível.

Ah, aquilo aconteceria, uma hora ou outra. Era hora de pagar pela minha insanidade de amor.

Soltei a mão de Caroline, evitando seus olhos. Desta vez, não por medo de controlá-la, mas por medo de ver ali a confusão que certamente estava sentindo.

-Adeus – falei baixo, como se, se ela não ouvisse, essa separação não estivesse acontecendo.

-Eu amo você – ela disse; arfei e sorri comigo mesmo.

Deixei-me levar pela brisa que traria meu castigo, sem me importar com isso. Naquele momento, eu percebi o quanto aqueles poucos minutos valeram a pena. Percebi que, enquanto estava com ela, tive o melhor momento de minha existência. E percebi, principalmente, que qualquer que fosse minha punição, eu não me arrependeria. Não, eu não me arrependeria de nada que tivesse feito pela minha doce Caroline.

Ohhh, sweet Caroline, good times never seem so good

Ahhh, doce Caroline, bons tempos nunca pareceram tão bons

Eu não me importo em nunca mais vê-la. Não me importo em nunca mais tocar sua mão, ou beijar seus lábios, ou ouvir sua voz. Afinal, eu toquei-a, beijei-a, ouvi-a uma vez. E, como dizem os anjos apaixonados, tudo depende dessa única vez.

 


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