Never Say Never escrita por FaaniZabini


Capítulo 1
Nunca diga nunca




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NEVER SAY NEVER

(NUNCA DIGA NUNCA)

 

A festa estava pegando fogo. Minhas pernas doíam de tanto dançar, os braços jogados animadamente para cima, o vestido já não muito comprido subindo cada vez mais. Eu fiquei doida no momento em que entrei na pista e só ia sair de lá se uma bomba fosse jogada na minha cabeça. Do contrário, continuaria dançando a noite toda. Mas então eu o vi.

Ele olhou pra mim, do outro lado do mundo, como se eu fosse a coisa mais surpreendente que já vira na vida. Como se tivesse me esperando, senti-me como o café amargo do final da noite de um sábado. Não sei por quanto tempo fiquei parada, no meio da pista de dança, vendo ele se aproximar. Mediu-me de cima a baixo, fazendo meu coração disparar.

-Oi.

Some things we don't talk about

Algumas coisas que nós não conversamos,

Rather do without

Melhor continuarmos sem

And just hold the smile

E simplesmente segurar o sorriso

Percebi um tom de hesitação em sua voz, como se não soubesse se deveria beijar meu rosto, me abraçar ou continuar onde estava. Aproveitei para analisá-lo melhor. Os cabelos negros bem cortados, como sempre; os braços morenos de fora, aparecendo pela manga arregaçada da jaqueta preta; os olhos brilhando no escuro, como se estivesse muito próximo a realizar um sonho que antes parecia distante; os lábios, entreabertos, do modo mais sexy possível. Uau, ele estava lindo.

-Oi – murmurei, o rosto queimando.

A música tocava alta, de maneira que não ouvia com clareza minha própria voz. Mas eu não me importava, pois sabia que ele havia entendido. Rafael sorriu – o sorriso mais lindo do mundo – e me estendeu a mão.

-Quer dançar? – ele perguntou, piscando.

Concordei com a cabeça e peguei sua mão, sem saber se deveria dizer alguma coisa ou simplesmente passar meus braços em torno de seu pescoço e me entregar àquela música. Meu coração quase parou com o seu toque quente na minha pele fria, um verdadeiro choque térmico. Não era a primeira vez que eu o tocava, mas entenda, não éramos realmente próximos um do outro. Aquilo era diferente, estranho. De uma maneira boa, é claro. Ou de uma maneira ruim, se considerarmos que eu fico bem bobinha nesses momentos cruciais de minha vida – perto dele, no caso.

É por isso que eu odeio vê-lo. Eu odeio sentir que meu coração ainda bate forte quando ele se aproxima, odeio o modo como fico sem jeito ao que nossos olhos se encontram. Odeio que ele deixe minhas pernas bambas e minhas mãos trêmulas. Odeio pensar nele de minuto a minuto, tê-lo em frente aos meus olhos cada vez que estou com outra pessoa. E odeio também que eu não consiga parar com isso. Não sei como posso eu ficar tão idiota perto dele. Perco o controle de tal forma que chego a sentir ânsia de mim mesma e dessa maldita esperança que sussurra em meu ouvido “talvez tudo tenha mudado”.

Falling in and out of love

Caindo dentro e fora do amor

Ashamed and proud of

Envergonhado e orgulhoso

Together all the while

Juntos todo tempo

-E então? – foi a única coisa que consegui dizer, em seu ouvido, depois de já estar sendo conduzida lentamente pela pista.

-E então o quê? – senti-o sorrir com os lábios colados em meu ouvido e me arrepiei.

-Então... – arfei – O que está fazendo aqui?

Sem julgamentos. Toda linda história de amor começa com uma perguntinha boba. Tipo, “você vem sempre aqui?”.

-Dançando com você – eu sorri.

-Na festa, eu quero dizer.

-Dançando com você – repetiu.

Eu ri rouco em seu ouvido, sentindo que se estivesse mais nervosa, explodiria.

-E o que vai fazer depois que a música terminar? – perguntei, não querendo realmente saber a resposta.

-Dançar com você.

Eu jurava que ele iria dizer algo como “dançar com outra menina”, “ir embora”, “pegar um refrigerante” (daquele refrigerante que é um chá de sumiço, na verdade), “encontrar meu amigo” ou “deixar você dançar com outro surtudo”. Mas não. Ele queria dançar comigo a noite toda – e eu estava, adivinhe, tentada a deixar.

-A noite toda? – meus lábios encostaram em seu ouvido e senti-o estremecer.

-Se você não tiver outros planos.

You can never say never

Você nunca pode dizer nunca

While we don't know when

Ainda não sabemos quando

Time and time again

Mas de novo e de novo

Younger now then we were before

Mais jovens do que éramos antes

Ele estava flertando comigo. Talvez estivesse querendo me beijar. O que não era uma má idéia, considerando que eu iria parar de falar idiotices se minha boca ficasse ocupada. Idiotices como a que ele queria me beijar só porque estava dançando comigo. Ou, talvez, ele quisesse mesmo. De qualquer forma, eu não iria saber até ele fazê-lo – se é que ele iria mesmo. Enquanto ele não me beijava, comecei a imaginar cenas dentro da minha cabeça de como aconteceria. Se eu pensava que podia não acontecer? Sua mão apertando forte minha cintura não me deixava pensar que não.

-E se você cansar de dançar comigo? – se eu ainda não tinha me tocado que minhas perguntas estavam acabando com o clima? Não, eu não tinha.

-Há mais coisas que podem ser feitas, além de dançar.

Ele estava insinuando que queria me beijar. Ri baixo comigo mesma, como se também não estivesse morrendo de vontade de agarrá-lo. Rafael mordiscou o lóbulo da minha orelha, beijando de leve meu pescoço e me fazendo ter um arrepio de desejo. Foi a sua vez de rir rouco.

-Tem idéia de quais? – sussurrou perigosamente.

Concordei com a cabeça, sem forças pra fazer mais que isso.

-Ótimo – ele afastou seu rosto do meu. Não pude evitar um gemido de desapontamento.

Ah, não! Fique, fique, fique! Eu quero sentir a sua bochecha na minha, será que você não percebe? Eu te quero perto de mim. Volte cole nossos rostos de novo, por favor. Ficar tão próxima de você é viciante, o tipo de coisa que não precisamos, mas que depois que temos, não há como viver sem.

Eu queria dizer isso, realmente queria. Mas minha voz parecia não sair.

Picture you're the queen of everything

Você é a rainha de tudo

Far as the eye can see

Longe como o olho pode ver

Under your command

Sob seu comando

Ele sorriu convencido pra mim, como se dizendo que sabia que eu o amava. E, bem, não é que ele não esteja certo, mas eu odeio aquele sorriso. Era um curvar de lábios que me fazia tremer, mais até do que a presença da própria pessoa. Era o meio que ele encontrava de me contar que sabia do efeito que causava sobre mim.

Acho que ele me achou estúpida, parada lá, olhando pra ele. Não que ele já não tenha percebido isso antes, é claro. Mas a culpa não é minha. É toda dele. Completamente culpa dele. Se talvez não tivesse sorrido, ou arrumado o cabelo de um jeito sexy, ou até mesmo evitado me olhar nos olhos, as coisas tivessem sido diferentes. Talvez, só talvez, eu não tivesse me apaixonado por ele.

Por mais que o tempo passe, eu não consigo evitar amaldiçoar o momento em que o vi pela primeira vez. Foi quando tudo mudou pra mim. Mesmo sabendo que ele nunca seria meu de verdade, eu o quis como ninguém. Eu sei que ele está fora do meu alcance, mas nem por isso o último vestígio de esperança morrerá em mim ou esquecerei de amá-lo. Ele é a única pessoa que eu realmente me importo, mas ele não liga. É o único que eu quero, mas também o único que sei que não posso ter. Irônico, não? Mais irônico ainda é que cada vez que o vejo, é como se uma luz se acendesse dentro de mim, me fazendo sentir coisas que nunca senti antes com qualquer outra pessoa. E, mesmo assim, tudo o que ele consegue fazer é sorrir convencido.

É. Ele sabe que eu o amo, mas não tem nem idéia do quanto.

I will be your guardian

Eu serei o seu guardião

When all is crumbling

Quando tudo está desmoronando

I'll steady your hand

Vou segurar firme a sua mão

-O que foi? – Rafael pareceu preocupado.

Mordi meu lábio e senti uma lágrima correr por meu rosto, enquanto eu o afastava e saia dali, o mais rápido possível. Eu não queria que ele me fizesse de brinquedo, como tantos outros já fizeram. Não queria tê-lo por uma noite sabendo que na manhã seguinte ele poderia ser de qualquer outra. Eu simplesmente o amava demais para me contentar com uma só vez.

Em meio a música alta, ouvi-o gritar por mim, mas não consegui parar. Tinha que sair dali o mais rápido que pudesse, antes que caísse em tentação. O problema é que ele estava vindo atrás de mim. Eu estava prestes a começar a chorar porque não o teria nunca pra mim e ele estava correndo atrás de mim. Se em minha vida houve um momento irônico, foi este.

-Gabriella! – ele me alcançou, segurou meu braço e me virou de frente para ele, quando eu estava na porta que dava para fora – Quer, por favor, me explicar o que aconteceu?

Respirei fundo, tentando não encará-lo.

-Eu nunca te disse isso, mas eu gosto de você, de verdade – aquilo estava saindo e eu não consegui evitar; o nó em minha garganta estava apenas aumentando – Eu te amo. E por isso eu não posso ficar perto de você esta noite.

We're falling apart

Nós estamos nos separando

And coming together again and again

E chegando juntos novamente e novamente

We're growing apart

Nós estamos distanciando

But we pull it together,

Mas nós nos mantemos juntos

Pull it together, together again

Nos mantemos juntos, juntos de novo

-Por que não? – ele pareceu seriamente ofendido.

-Porque eu não quero te beijar – respondi, num fiapo de voz – Eu não quero que você me use por esta noite e me deixe mais apaixonada do que já estou.

-Eu não quero te usar – Rafael ergueu meu queixo, fazendo nossos olhos se encontraram –, eu nunca usaria uma garota como você.

Com a outra mão, ele limpou a lágrima que rolara pelo meu rosto. Eu fechei os olhos, aproveitando seu toque em minha pele. Senti-o se aproximar mais.

-Você, pra mim, é especial – ele sussurrou – Eu não sei por que demorei tanto pra admitir pra mim mesmo, mas eu te quero, Gabriella. E muito.

Meu mundo pareceu girar e os céus sorriram pra mim de novo quando nossos lábios se tocaram. Parecia que um feitiço fora jogado em nós e que o tempo parara na minha felicidade. Naquele momento perfeito, percebi que eu não me importava se nossa história se resumisse numa noite. Afinal, tudo depende daquela única noite.

-Eu não sei o que dizer – murmurei, quando ele afastou sua boca da minha.

-Eu te amo – meu coração parecia querer pular do peito quando ouvi essas palavras; por incrível que pareça, eu sabia que ele falava sério – Eu te amo demais. Achei que você deveria saber disso.

-Nunca pensei que fosse ouvir isso de você, Rafael – sorri.

-Nunca diga nunca. Nunca - ele beijou meus lábios de novo, leve e carinhosamente, como se tudo tivesse mudado.

Don't let me go,

Não me deixe ir

Don't let me go,

Não me deixe ir

Don't let me go,

Não me deixe ir...

 

 

 

 

 


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