Aguarde-me

Jack:

Oi. Olha, eu tenho tanto a lhe dizer que nem sei exatamente por onde começar. Aqui estou eu rindo comigo mesma, estou escrevendo uma carta para alguém que já morreu! Mas não, você para mim ainda esta vivo, pelo menos dentro de mim. Nos meses após sua morte, após o naufrágio do Titanic, eu tentei deixar de amá-lo. "Você vai sofrer menos!" dizia uma voz em minha cabeça que ajudava-me a esquecê-lo, porém eu soube que eu ainda te amava, e que sempre iria te amar, então eu parei de lutar contra meu coração. E é por isso que você ainda esta vivo, de certa forma. Enquanto a chama de meu amor por ti estiver acesa dentro de mim, você ainda estará vivo.

Eu cumpri minha promessa. Batalhei por minha vida, por mais que tive que deixar-te. Chamei pelo barco que passava por aquele mar de gente morta e congelada. Isto não é justo, o mundo não é justo. As pessoas por serem ricas não são mais importantes! Elas não têm mais direito a vida do que as pessoas mais pobres! Ah, se você pudesse ter visto toda aquela gente morta boiando em seus coletes salva-vidas, você se sentiria revoltado assim como eu. Mas você não viu. Você estava morto exatamente como elas. Lembro-me de quando tive que deixá-lo afundar na água. Seus cabelos louros que estavam cobertos pelo gelo afundando na água, e eu não pude olhar em teus lindos olhos azuis, que já estavam fechados pela morte que lhe consumiu aos poucos com o frio daquela noite. Seu corpo sumindo na imensidão e na profundidade do oceano até desaparecer completamente.

Se tiver uma coisa que me lembro bem era o desenho que tu fizeste de mim. Naquele dia eu me senti diferente de todos os outros que eu já vivi. O jeito que tu me desenhaste era lindo, me deixava bonita, confiante. Eu não parecia uma boneca de cera, como em todos os outros desenhos que já fizeram de mim, eu parecia... Eu. Pena que agora este desenho maravilhoso e perfeito esta submerso. Nas profundezas do oceano, assim como ti.

É impressionante, mas absolutamente todas as noites eu sonho com a noite de 15 de Abril de 1912. Sonho com seu rosto perfeito e lindo, e quase me esqueço que é um sonho. Bem, quando era realidade ainda sim parecia um sonho, era tudo tão perfeito entre nós dois... Ora, tenho de parar de lamentar, estou molhando sua carta! Bem, mas eu sempre acordo na parte do sonho em que tu me beijas, definitivamente não é a mesma coisa que a realidade.

Terei de me despedir, pelo menos nesta carta. Aliás, não se esqueça de me esperar quando eu morrer. Vou estar deitada em uma cama quentinha, se lembra? Me aguarde, quando chegar minha hora, irei até ti, fitar estas suas lindas pérolas azuis que são seus olhos.

Agora não sei para onde mandar esta carta. Acho que vou deixá-la sobre meu coração, onde acho que é o local mais próximo que posso te encontrar.

Aguarda-me, onde quer que você esteja

Com amor

Rose Dawson

P.S: Eu adotei seu sobrenome, espero que não se importe.