Ele não era como a maioria, ele era uma pessoa apaixonada que estava sozinho naquele Café.

Via as pessoas conversando animadamente, casais trocando leve caricias e a figura que mais e menos era destacada, sentada no fundo, deixava que o vento da tarde gelada esfriasse sua expresso; Escrevia intensamente como se as gargalhadas e sussurros não o incomodassem. Aquela sim era uma pessoa digna de atrair seus olhos.

As horas foram passando e as pessoas iam e vinham da pequena lojinha de café, mas o garçom, mesmo trabalhando, distraia-se em olhar para o moço sentado em uma mesinha no fundo, que só parava de escrever para pedir outro expresso.

Já tarde, havia poucas pessoas. Sentado entre elas a jovem figura agora parecia frustrada e cansada, chamou o garçom, que pareceu hesitar, mas movido por, tão pura curiosidade e ingenuidade a atender ao pedido de "fechar a conta" do cliente tão fascinante.

Entregou a conta e, relutante, foi atender um casal que esperava para fazer o pedido. Quando voltou sua olhara quem, mesmo de costa, o prendia o moço não estava mais lá, sobrara apenas o dinheiro e um papel mal dobrado com grandes manchas escuras de seu café.

O garoto de avental, primeiramente contou o dinheiro, que não havia nada a mais ou a menos, depois leu, com todo o cuidado, a página, que havia sido arrancado do livro para servir de bilhete.

Minutos se passaram e houveram alguns que o chamaram, porém o garçom continuou fiel ao que lia, não se mexia nem falava, apenas lia e relia a carta deixada pelo cliente.

Como se o tempo não houvesse passado ele começou a recolher a bagunça da mesa e a levar para o balcão.

Enquanto separava o lixo do que tinha que ser lavado, novamente, deparou com o pedaço de livro. Olhando para os lados, com medo que alguém o visse e o repreendesse, colocou o papel no bolso.

Sabia que aquele aglomerado de letras significava mais que uma simples página manchada e cheirando café da tarde; sabia que significava muito além de uma figura sentada no fundo de um Café, cujos sentimentos foram quase não notados.

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"A quem quer que você seja,



Venho, praticamente, todos os dias neste Café e, desde quem me lembro, reparo em tua feição, garçom.



Mesmo o senhor nunca tendo reparado na figura que !! apreciava, estou grato por hoje não ter tirado os olhos de quem sempre te contemplou.



Sinto em não poder gratificar-te como tem sempre feito jus a ti, mas escrevo em um pedaço de uma pura e libidinosa poesia que faz quem que eu te julgue digno de entender.



Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta ...

Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d\'aço...

E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.



Espero que quando nos encontremos da próxima, e não distante vez, terei coragem para ousar trocar minhas sílabas com as tuas, e não só para pedir mais uma café expresso.



Estarei esperando assim, e assim espero.



Homem da mesa 07"

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