Páginas Novas escrita por Napalm


Capítulo 8
Um Cochilo No Quarto Da Morte


Notas iniciais do capítulo

Sim, demorei, sorry. Mas eis que...



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-Existe outra saída por aqui...

Alice abriu a grande porta que outrora vimos e não entramos, no grande corredor.

-Alice, eu, e acredito que Seth também, gostaríamos de perguntar algumas coisas pra você.

Alice continuou seguindo, subindo uma escada em vertical presa à parede daquela sala enorme – estava quase um breu o local, mas podia se ver alguns grandes objetos enfileirados no escuro. Veículos, talvez?

-Que é?

-Sabe – Fergo testou se a escada estava bem presa à parede com um puxão e começou a subir – Você conheceu este tal Targo antes?

-Pessoalmente, nunca. Mamãe me falava dele algumas vezes...

-E, bem, você sabe, como ela veio a conhecer tal repugnante ser?

-Eu também gostaria de saber. Certa vez, ela disse que ia visitar um anão que ela conhecia aqui em Adriel... Bem, não com essas palavras... Mas deu pra entender que são amigos de longa data.

-Não acha estranho que ela tenha tido amizade com um líder contrabandista?- Perguntei, e Alice parou a subida.

-Está insinuando – Começou com raiva – que minha mãe era dessa laia?

-Não, não é nada disso! - Disse, embora era o que se tinha para pensar. Mas não era uma boa hora para irritar Alice. Fergo e eu sabíamos que se ela tivesse um daqueles surtos agora, derrubaria todos nós.

-Bom mesmo.

-Sabe onde vai dar essa escada?

-Sim, eu vim por aqui.

E finalmente chegando no alçapão no teto, encontramos a superfície – uma espécie de bosque com vista para o mar. Fergo chegou até a ponta do penhasco e olhou o mar lá embaixo.

-Ali está o nosso porto.

Aproximei-me dele para contemplar também, juntamente com Alice.

-O que nos leva a outra questão – Continuou Fergo – Como você cruzou o mar, Alice?

Olhamos para ela ansiosos pela intrigante resposta. Ela estava um pouco encabulada.

-Er, bem... - Hesitou – Tive a sorte de encontrar um amigo com um barco.

-Um amigo com um barco?

-É. - Disse ela, como se fosse óbvio.

-Que amigo? A gente conhece? - Perguntei, confuso.

-Não me pressione, ok?!

E ela pôs-se a andar na outra direção.

-Vamos nos concentrar em reaver a pedra roubada. Seja lá o que for de tão importante nessa pedra, quem a roubou provavelmente sabe.

-Espero que as informações de um louco que acha que é a morte sejam úteis. - Disse Fergo, pondo-se a seguir Alice. -Por onde começaremos?

Alice parou, virou-se para nós e perguntou:

-Alguma sugestão?

-Hmm – Comecei – Que tal pedirmos informações na cidade?

Eles olharam para mim e riram muito.

-Tá, mas foi só porque não conseguimos pensar em nada melhor – Disse Alice enquanto encontrávamos as ruas mais movimentadas da cidade.

Era completamente diferente da vila – As pessoas iam e vinham de todos os cantos e só naquela rua onde estávamos havia mais pessoas do que Gaela inteira possuía. Deparávamos com uma espécie de centro comercial, com lojas espalhadas por toda parte. Imaginei que se eu perguntasse sobre algo sobrenatural numa aquelas grandes lojas, ou seria ignorado ou seria posto para fora.

-Você deu a sugestão, Seth – Disse Fergo – Agora a faça.

Eu olhei desanimado pra ele e depois em volta. Avistei uma loja minúscula entre duas maiores, praticamente esquecida pelo povo. Havia uma vitrine escura, muito sinistra, parecia que vendia algumas espécies de relíquias ou coisa assim. Entramos na loja e fomos recebidos com um inalável cheiro de mofo. Havia um monte de coisas inúteis nas prateleiras, feias o suficiente para ninguém as querer como enfeites domésticos. O balconista estava carimbando alguns papéis e quando percebeu nossa presença, retirou o monóculo e veio até nós. Vestia-se com um longo casaco marrom(ou seria um cobertor velho?) que se arrastava no chão, seu cabelo grisalho encaracolado cobria apenas as laterais, fazendo sua careca ser uma espécie de iluminação no local obscuro.

-No que posso ajudar os jovens senhores? - Perguntou.

-O senhor poderia nos informar, sobre... - Hesitei um momento. Olhei para Fergo e Alice que apenas me incitavam a perguntar. - Digo, você sabe se a Morte costuma perambular por aqui?

Fergo e Alice caíram na gargalhada. Mas o homenzinho da loja continuou sério.

-Não me diga que o senhor conhece a Morte? - Perguntou Alice, limpando as lágrimas e se recobrando.

-Creio que sei de quem vocês se referem – Disse o homenzinho, acariciando um crânio numa das prateleiras -O ser que procuram mora numa grande residência, não muito longe daqui. Creio que se seguirem sempre em direção contrária ao mar, logo encontrarão... - E olhou assombrosamente para nós - a Mansão da Morte.

-A Morte mora em Adriel? - Perguntou Fergo, incrédulo.

-Ah, sim. Todo mundo em Adriel já a viu. Uma vez ou outra, durante as madrugadas, ela sai de sua morada para visitar o cemitério. Dizem que ela leva de volta as almas que de lá fogem...

Estávamos perplexos. Olhávamos para o dono da loja sem saber o que dizer.

-Imagino que... A única vantagem para alguém morar naquela casa sozinho e sem nunca ter nenhuma espécie de visitas... - E novamente, olhou-nos com o olhar assombroso - …Seja não ter que pagar o imposto, que é muito caro! - E começou a rir debilmente.

-Não acredito que levamos esse cara a sério – Disse Fergo, desconcertado.

-Ei, tudo que eu disse é verdade! A Morte também já veio aqui na minha loja para procurar...

-Quanta asneira! - Disse Fergo, irritado -Vamos embora!

-Não, continue – Disse Alice, séria. -O que ela veio procurar?

-Não disse... - Disse o homenzinho com um sorriso - Mas revirou totalmente a minha loja.

Logo, pensei: o que numa loja como aquela interessaria a qualquer pessoa?

-Vocês vieram ao lugar certo... Se estão indo até a mansão, tomem cuidado... Ninguém ousa pisar lá. Mas, peço que levem isso...

E nos entregou o crânio que estava acariciando.

-O Crânio de Mafalda. Acredite, será útil.

Alice pegou o crânio, olhou para o crânio, olhou para o dono da loja e repetiu tal ato mais umas três vezes.

-O Crânio... - Começou Alice - ...de Mafalda... Não, obrigada.

-Não, é seu. Não terá que pagar, acredite, você vai precisar.

Alice olhou para ele com desgosto e se virou para sair da loja.

-Obrigado, senhor – Agradeci – Muito obrigado, mesmo.

Saindo da loja, Alice subiu na placa da mesma, escalou alguns tijolos e...

-Ah, dessa vez eu não vou atrás dela, não. Se quiser ir, fique à vontade – Disse Fergo, olhando a garota escalar o prédio.

Quando Alice chegou lá em cima, ela olhou para o horizonte – a direção contrária ao mar. Tão rapidamente quanto havia subido, ela desceu, suspirou e disse:

-Há realmente uma mansão enorme, totalmente negra, no outro lado da cidade.

Olhamos instintivamente para Fergo, mas este não disse nada.

-O que está procurando?

Estávamos diante a grande mansão isolada onde supostamente vivia a morte.

-A.. campainha? - Eu disse, olhando pela grade para ver se achava tal dispositivo.

-Poupe-me. - Disse Alice, escalando a grade e pulando do outro lado. -Vamos.

Eu e Fergo jogamos as mochilas por cima do portão e depois escalamos a grade para alcançar o que seria o jardim da mansão. Andamos pela pequena estrada de mármore que levava até a porta principal, que era imensa. Estava de noite e isso tornava o ambiente mais sombrio e naturalmente, mais propício para um lugar onde seres sinistros deveriam perambular.

-Fergo, pode ajudar nisso aqui? - Perguntou Alice, apontando as fechaduras(havia várias).

Fergo entortou a cara, mas pegou uma espécie de canivete na mochila e e enfiou o que deveria ser a lâmina na fechadura e repetiu o ato até que a porta estivesse completamente destrancada. Então, Alice empurrou-a.

Deparamos com um grande saguão que parecia meio esquecido na casa. Se alguém conseguia morar ali, realmente não era alguém normal. A grande mesa central estava tombada, com um dos pés quebrados, as lamparinas jaziam no chão, sendo a única iluminação naquele lugar empoeirado a luz que vinha das grandes janelas suspensas, a maioria com partes do vidro quebrado.

-Olá? - Gritou Alice. Sem resposta, ela caminhou até o fundo do saguão, sendo seguida por nós, e subiu a escada de madeira que dava nas partes superiores da mansão. Chegamos num extenso corredor.

-Sai! - Rugiu Alice, chutando um rato que a roía as botas.

-Acho que ninguém mora aqui há séculos. - Comentou Fergo. - Aquele velho louco da loja deve estar se acabando de rir a essa hora.

-Eu estranharia se a casa da Morte fosse toda bonitinha... - Disse Alice, demostrando que ainda tinha uma ponta de esperança que tudo que aquele homem dissera não era uma grande asneira. Numa das portas do corredor, havia uma placa colocada torta, suas inscrições ilegíveis. Um dormitório? Abri a porta e ela rangeu estridentemente. A essa hora, se houvesse alguém na casa além de nós, já sabia da nossa visita.

Entrei no cômodo sendo seguido pelos outros dois. Era mesmo um dormitório. Apesar da bagunça, era um cômodo que provavelmente tinha sido frequentado recentemente.

-Tem que estar aqui. - Disse Alice, deixando o Crânio de Mafalda sobre uma mesinha e se pondo a remexer as gavetas, a cama e o que houvesse em sua frente.

-Legal – Disse Fergo sorrindo, observando a sua volta. - O quarto da Morte!

Pomo-nos a procurar pela pedra roubada. O cômodo era grande, afastamo-nos um dos outros eventualmente. Havia umas cadeiras espalhadas aleatoriamente pelo quarto, assim como várias escrivaninhas e prateleiras. Tudo rondando uma grande cama circular, acortinada com belos veludos - a única coisa bonita que eu tinha visto no aposento, até o presente momento.

Havia algo em cima de uma escrivaninha no canto do cômodo que me chamou atenção. Aproximei-me da coisa...

-Gente, vejam isto! - Peguei o porta-retratos para levá-lo até Alice e Fergo, mas no momento que o retirei da escrivaninha, uma fumaça verde começou a se espalhar pelo cômodo.

-Droga! - Gritou Fergo, desesperado – Não respirem, saiam já...

Mas antes que ele conseguisse terminar, simplesmente caiu no chão e apagou. Alice jazia na cama e logo eu, também, perdi os sentidos.


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