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Capítulo 22
O Santuário Selado - Parte IV - O Erro do Passado




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O Santuário Selado – Parte IV – O Erro do Passado

O rosto de Athema era parcialmente coberto pela cortina de cabelos negros que alcançavam seu ombro. Pelo pouco que podia se ver de sua face magra, podia-se dizer que era um homem de bastante cicatrizes – um homem que encarara a morte milhares de vezes. Ele sorria mostrando seus dentes afiados. Seus pulsos estavam mantidos no alto, amarrados à correntes, bem como suas canelas – o que aquilo representava? Sua longa túnica negra também se mantinha presa a uma corrente que envolvia todo seu corpo, enlaçando-o no pescoço.

—O que é você?! - Alice perguntou, espantada.

—Eu sou O Guia. Mas de certo – Ele disse, ainda sorrindo – Não importa o que sou, mas o meu destino. Estou fadado a servir o Livro por toda eternidade. É isto que está escrito.

—Suas palavras são totalmente vazias. - Helena ponderou.

Athema jogou seu corpo para frente. Todos pularam para trás, prontos para se defenderem. Mas não era uma investida. Seu corpo ficou flutuando numa posição vertical, sendo pendurado pelas correntes que travavam seus braços e pernas para trás.

—Você. - Naquela posição, a cabeça de Athema estava apontada para mim. Subentendi que era a mim que ele estava se referindo. - Carrega um grande ódio pela minha pessoa.

Eu fechei firmemente os punhos.

—Mas como sempre... - Ele continuou – Você não sabe o que está fazendo. Está agindo às cegas. Devia parar de acreditar em tudo que lhe dizem. Seu ódio é em vão. Assim como a luta que todos vocês esperaram vir travar aqui.

—Viemos aqui – Helena interviu – para impedir que o planeta seja destruído.

As correntes voltaram a se mexer e Athema voltou a sua posição inicial de “cruz”.

—E como pretendem fazer isso? - Athema perguntou, debochado.

—Alterando o Livro. - Helena respondeu. Estranhamente, esta agora parecia uma resposta muito ingênua.

—Vá em frente. - Athema falou. - É só colocar sua mão sobre as páginas do Livro do Destino, e dizer em voz alta o que quer que seja alterado.

Ninguém se moveu.

—Você... - Alice começou. - Não vai tentar nos impedir?

Athema suspirou. Até seu suspiro ressoava pela sala sinistramente.

—Não. Afinal, dizer-lhes que tal ato não fará diferença também parece ser em vão.

—E por que não faria? - Perguntei.

Ele me fitou os olhos.

—Por sua culpa.

Ah não, de novo não...

—Você adora jogar a culpa de tudo sobre mim, não é? - Eu disse, impaciente.

—Não é culpa minha. Na verdade... é sua! - Ele deu uma risada rouca. -Sinto dizer que é assim que as coisas são.

Aquele cara já estava me dando nos nervos.

—Posso saber o porquê?

—Será um prazer lhe mostrar.

Repentinamente, duas mulheres entraram na sala. Uma delas estava bastante ferida, seus curtos cabelos azulados estavam pregados à face devido ao suor. Ela se recostou na parede da sala enquanto a outra a ajudava a se sentar: esta, tinha uma pele muito clara, longos cabelos castanhos, olhos de um azul intenso... Ela se virou para o Livro e caminhou em direção do mesmo.

—Que...? - Helena começou.

Ela e Zero estavam petrificados, Alice e Fergo estavam espantados...

A mulher continuou caminhando e simplesmente passou pelo corpo de Alice como se ela não existisse indo até o Livro do Destino. Sem que a boca de Athema se movesse, sua voz ressoou pelo local:

—Maria. Então, vocês chegaram até aqui.

Maria olhou ao redor, sua expressão nem um pouco amedrontada, pelo contrário, mantinha um semblante de bastante determinação.

—É só colocar sua mão sobre o Livro do Destino – Athema continuou, tranquilamente – e recitar em alto e bom som, o que quer que seja alterado.

Maria olhou para a amiga sentada no chão, ofegante. Ela lhe disse:

—Faça, Maria...

Maria colocou sua mão direita sobre as páginas abertas do Livro do Destino, que começou a irradiar um brilho roxo...

“O Destino de Seth jamais será alterado por qualquer linha deste Livro.”

Então, ela e sua amiga desapareceram do local. Após alguns segundos de silêncio, Athema disse:

—Isso que acabaram de presenciar aconteceu há pouco mais de dezesseis anos atrás.

—E porque está nos mostrando isso? - Zero perguntou, desnorteado.

Mas era tão óbvio...

Bom... - Começou Athema, um pouco frustrado – Se ainda querem alterar o Livro, fiquem à vontade. Mas como O Guia, terei o dever julgar e punir qualquer um que ousar tocar o Livro do Destino. Façam por sua conta e risco.

Todos olharam um para os outros encabulados.

—Mas... - Alice começou, determinada - … e se nós matarmos você antes?

—Estará livre para tentar. - Athema incitou.

Alice levou a mão até uma de suas adagas e atirou em direção a Athema. Repentinamente o ar da sala mudou...

Ou era meu jeito de respirar que estava diferente?

Eu podia ver a adaga rodando no ar, centímetro por centímetro, saindo da mão de Alice em direção a Athema. Até mesmo o som que ela fazia em cada rotação estava audível... Até que a adaga parou no meio do ar, posicionou-se horizontalmente e voltou-se contra dona dela, como um projétil disparado de uma arma de fogo, saindo pela culatra.

Alice caiu no chão, agora com a velocidade normal, atingida pela própria adaga, que cravara-lhe o ombro. Ela soltou um grito de dor.

—Alice! - Gritamos, Helena, Fergo e eu, juntos correndo para confortá-la.

—Seu maldito! - Zero guinchou, formando uma esfera de fogo em cada palma da mão e, com um grito furioso, as lançando contra Athema. O Guia simplesmente riu debochado e novamente, lançou as esferas de volta contra o grupo.

Uma barreira de estalagmites de gelo surgiu em nossa frente, bloqueando as esferas.

—Muito bom, Seth... - Athema disse. - Mas você deve pensar melhor antes de criar estalagmites tão pontudas...

E dizendo estas palavras, a barreira se levantou do chão e, flutuando, desceu para a posição horizontal, as pontas dos estalagmites apontandas para nós.

—Foi um prazer. - Athema disse, fazendo com que a barreira voasse ao nosso encontro.

Era o fim.

Fechei os olhos esperando que aquele finco de gelo me matasse. Mas nada tinha acontecido... Ousei a voltar a olhar e percebi que a barreira flutuava ainda, embora a pouquíssimos centímetros de todo o nosso grupo.

—Pensei que nunca iria aparecer. - A voz sinistra de Athema ressoava, debochada.

Olhei para cima e entendi o que ele quis dizer.

Sobre nossas cabeças, uma garotinha com um estranho penteado de rabo-de-cavalo lateral flutuava...

Ayede!

É melhor você desistir, Guia. - A voz com um timbre doce, mas sem nenhum sinal de infantilidade de Ayede, bradou -Você não vai ter chance!

E estalando os dedos, fez com que a barreira de gelo tivesse seus estalagmites separados e então, fossem espalhados pelo chão.

—Quem é ela? - Fergo me perguntou.

—A gente já se conheceu uma vez, Fergo. - Ela olhou para ele sorrindo – Mas não foi neste “tempo”.

Fergo se intrigou.

—Quando Zero queimou o Livro do Destino, o próprio Livro ativou um de seus mecanismos de defesa para impedir que seu conteúdo fosse perdido. Ele usou seu próprio poder para voltar na sua ultima alteração e assim, impedir que sua destruição ocorresse. É claro, o Livro do Destino tem vários mecanismos, mas creio que por alguma razão especial, decidiu usar este método.

—Então, tudo aquilo que Seth contou aconteceu mesmo? - Fergo perguntou, embora não lhe restassem dúvidas há muito tempo. - Quero dizer, não foi um sonho, não é?

—Exatamente. No tempo anterior, eu bati na sua porta e lhe entreguei pessoalmente os arquivos de Teoremo sobre o aGravity. Mas desta vez, eu resolvi não dar as caras...

Alice gemeu de dor. Helena desconcentrou-se de Ayede e voltou a lhe afagar. A lâmina ainda estava perfurando Alice...

—Ayede... - Comecei. - Esta é a nossa chance de terminar com o seu sofrimento... Eu estou entregue a sua causa!

Ayede sorriu para mim e disse:

—Obrigada, Seth, você é maravilhoso.

Sorri pra ela de volta, embora meu interior recusasse aquele sorriso.

—É tudo muito lindo... - Athema começou, fazendo-nos retesar mais uma vez. -Mas vocês deviam pensar duas vezes antes de apoiar essa garotinha... Ou essa velhota.

—Não caia na lábia dele, Seth – Ayede interviu – Ele adora inventar histórias.

—Ah, isso não é verdade. - Atheme disse - A única contadora de histórias falsas aqui, cá entre nós, é você, Ayede.

—Vai tentar jogá-los contra mim agora, seu maldito? - Ayede ponderou.

—Seth. - Athema se virou para mim. - Se seu ódio por mim é pela dó dessa pobre coitada, escute o que tenho a lhe dizer.

Ayede parecia tensa:

—Seth, não vamos dar ouvidos a esse louco. Só existe uma maneira de derrotá-lo e não podemos perder essa chance! - Ela olhou para o Livro do Destino. - Eu vou usar o meu poder para neutralizar os poderes de Athema, você sabe o que fazer!

Eu concordei e me aproximei do Livro.

—Seth... - Athema começou. - As histórias que ela te mostrou eram pura invenção... falcatrua mesmo. Ayede é poderosa? Sim, não vamos negar, embora para ela não seja o suficiente o poder que tem. Pense, Seth. Se você me matar, alguém vai entrar no meu lugar. E como Guia, a pessoa terá seus poderes ampliados de uma forma inacreditável. E advinha, quem vai ficar com meu posto, depois que eu morrer?

Senti-me paralisado. Tudo ao meu redor estava desabando. Não... Isso era mentira.

—VOCÊ É LOUCO! - Ayede gritava.

—Todo aquele papo de perseguição – Athema continuava, sem dar ouvidos aos berros de Ayede – Quanta bobagem. Eu não tinha razões pra fazer uma coisa desta. Quando Ayede conheceu Teoremo, sua inteligência e seus amigos dispostos a darem a vida por qualquer causa lhe inspiraram a criar, não vou negar, o mais engenhoso dos planos que eu já presenciei. Primeiro Ayede lhe forneceu a sabedoria quanto às partículas de Magia para que Teoremo pudesse criar seu projeto. É uma pena que Ayede, em sua loucura e devoção pelo rapaz, que era apaixonado por outra mulher, tenha trancado o pobrezinho no próprio aGravity, onde ela o teria como relíquia só pra ela. Convenhamos que não é fácil chegar na plataforma no local onde ele está.

—Mas... - Zero começou – Foi você quem puniu Teoremo e o trancou lá!

—E quem te falou um absurdo desses? Eu teria punido Teoremo por alterar o Livro sim, afinal, eu vivo para isto. É este o meu dever. Mas não foi assim que aconteceu.

—SETH! - Ayede gritava, chorando – Isto tudo é mentira! Não deixe ele fazer isso com você!

Eu não sabia o que pensar. Estava desnorteado demais com aquele jato de informação.

—Isso tudo era apenas o começo do plano. - Athema voltou a falar - Mesmo com todo seu poder, Ayede não podia arriscar aparecer daquela vez. Afinal, todos os outros Guardiões da Verdade estariam aqui e seria muito mais difícil. Com o extermínio do grupo, a atenção de Ayede voltou-se para Seth. E para quê apressar as coisas, não é, Ayede? Você sabia que logo Seth viria ao Santuário Selado por conta própria. Controlou os Magarats para que a culpa caísse sobre os Guardiões do Santuário e sobre mim, sem contar que foi um ótimo empurrão para que Seth achasse o caminho para cá mais fácil. E vamos falar sério né... - Athema riu. - Mecanismo do Livro uma ova. Tendo longos anos para estudar o caminho que Seth haveria de traçar, além de seu poder para voltar no tempo, foi fácil para Ayede construir uma ilusão com as mesmas características de seus amigos, Seth, e fazer você se aventurar pelo mundo para conhecer as coisas melhor...

“E depois que você acordara do seu sonho, era o único que lembrava do que havia acontecido. Afinal, nada daquilo realmente acontecera. Logo, Ayede estava pronta para dar as caras e comover você com uma história inventada para que finalmente pudesse se unir ao motim que daria certo! Com o risco de destruição total do planeta, era óbvio que os outros Guardiões da Verdade não iriam ficar aqui para serem destruídos. Tive que levá-los para uma dimensão segura, enquanto este pequeno problema estivesse ameaçando destruir tudo.”

—PARA! - Ayede gritou – É incrível como você conseguiu inventar tanta bobagem! Seth, - Ela se virou para mim, tentando achar meu olhar, que estava meio perdido -Você conhece a versão verdadeira da história. O que te contei e o que você viveu é verdade. O que acabei de contar também é. Você foi o único que não perdeu a memória, Seth, porque... por causa das palavras de Maria.

—Na verdade – Athema interrompeu. -A única consequência das palavras de Maria há dezesseis anos atrás é o problema de eu ou qualquer outra pessoa não poder impedir que a Terra seja destruída agora. O Livro do Destino não pode mais interferir no seu destino, Seth...

A pressão do local aumentava cada vez mais. Athema continuava:

“'O Destino de Seth jamais será alterado por qualquer linha deste Livro.'. E com estas palavras, Maria salvou você e condenou-lhe ao mesmo tempo. Se o Livro for alterado para que a Terra não colida com o seu outro eu, o seu destino estará mudado Seth. E isto o Livro não pode permitir.

Ele deu uma pausa, mas logo voltou a falar:

—Agora este papo de mecanismo de defesa é asneira.

—Seth, é agora! Não podemos mais perder tempo. - Ayede dizia - Ainda há uma chance. Temos que derrotar Athema para termos livre acesso ao Livro do Destino e então, daremos um jeito de impedir a destruição da Terra!

Aproximei-me do Livro do Destino. Parei de frente para o objeto. Olhei para Athema, ele sorria... Virei-me para Ayede, ela me olhava esperançosa.

Olhei em volta... Meus amigos espantados... Alice ferida.

O meu destino estava escrito, mesmo não estando escrito no Livro. Eu devia morrer juntamente com o resto do planeta. Era esta a minha sina.

Estendi a mão. Um dos estalagmites que estavam caídos no chão flutuou.

—Seth, o que está fazendo? - Ayede perguntou... o estalagmite estava apontado para o seu lado.

Virei-me para Helena, Zero, Fergo e Alice... Sorri e falei:

—Conto com vocês!

Fechei os olhos e fiz a ordem para que o estalagmite atacasse.

Ele voou furiosamente em minha direção...

Um estalo.

O corpo de alguém caído no chão, algo lhe perfurara o ventre...

Vozes gritavam o meu nome.

Vozes desconexas.

Calaram-se.


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