Páginas Novas escrita por Napalm


Capítulo 2
Gaela


Notas iniciais do capítulo

O primeiro capítulo está bem descontraído. Só espero que depois a mudança não seja drástica demais! =O



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~*

–Seth. Seth. Seth. Seth. Seth. Seth. Seth. Seth....

Aquilo já estava me irritando.

–Seth. Seth. Seth. Seth. Seth. Seth...

Abri os olhos e já não tinha mais sono. Ninguém sabia acordar alguém de uma forma tão irritante quanto minha mãe.

–Seth!

–Sim, mãe?!

Sentei-me na cama e minha mãe se levantou dela.

–Alice esteve aqui. - Disse ela, calmamente. - Ela quer que você a ajude nos preparativos da festa.

–Festa? Que festa?

E então me lembrei que amanhã era meu aniversário.

–Quer dizer que eu vou ter uma festa? - Perguntei, sorridente.

–Não, bobinho! -Minha mãe disse rindo. Mas não era sarcasmo. - É pro filho do prefeito, Erico, ele faz aniversário amanhã também, se lembra?

Deitei na cama com apenas um movimento. Talvez ela quebrasse e o chão me consumisse.

–Ah, claro. Como pude me esquecer?

–Então se apresse.

–Por que eu tenho que ajudar nos preparativos?

–Porque Alice pediu.

E minha mãe se retirou do quarto, com o sorriso de sempre no rosto. Para Dona Laura tudo estava sempre ótimo. Ela era daquelas pessoas que sempre estão sorrindo, cantarolando alegremente e dizendo para os outros como estão felizes. É uma maneira boa de encarar a vida, sem dúvidas, mas não é muito agradável em certos momentos como o atual. Ela adora a Alice, uma garota que está sempre aqui na vila Gaela, apesar de não morar exatamente dentro dela. Conheço-a desde a infância e ela é uma dos meus melhores amigos. É uma boa pessoa também, apesar de ter algumas manias peculiares.

Depois de ter trocado minhas roupas e feito tudo o que uma pessoa normal faz quando acorda, saí do meu quarto e desci as escadas. Minha casa não é grande, assim como nenhuma da vila é. Há o quarto da minha mãe, o meu, a cozinha e o banheiro e só. Despedi da minha mãe e saí de casa.

Durante a trajetória até a praça de Gaela, existe uma parte do caminho que infelizmente tenho que passar em frente para alcançar a praça. Assim que me aproximei da casa, corri o máximo que pude para passar despercebido por sua dona, a Dona Esmeralda. Mas não adiantou. Ela pulou da janela, caindo de pé milagrosamente com suas pernas finas e seu corpo aparentemente frágil, embora somente na aparência, de uma idosa centenária. Ela começou a correr atrás de mim, gritando:

– A MORTE ESTÁ PRÓXIMA! ESTÁ PRÓXIMA! VOCÊ VAI MORRER, TOME CUIDADO!

Continuei correndo e ganhei distância daquela louca e já não conseguia mais ouvir seus berros.

Pronto, estava na praça da vila, onde sempre encontro-me com Alice e Fergo. Mas nenhum dos dois estavam lá. Assim como Alice, Fergo é um dos meus amigos mais próximos. Estudamos um com o outro desde que entramos para a escola e isso nos vinculou. De qualquer forma, o pessoal da vila toda se conhece, haja vista que seu tamanho é minúsculo.

E lá estava Jessica, me olhando furtivamente atrás da placa que mostrava o nome da praça. Assim que eu a olhei, ela se assustou envergonhada e tentando se esconder, ganhou uma dor na cabeça e um pedaço da placa ao se levantar num embalo. Corri até ela, que acabou caindo no chão, devido à força com que bateu a cabeça, e lhe perguntei, ajudando-a a se levantar:

–Está tudo bem?

–Sim, obrigada. - Ela respondeu corada, pressionando com as mãos a parte da cabeça que havia batido, passando por baixo da placa e se recompondo.

–Ah, que bom então... Você viu a Alice, Jessica?

–Não! – Ela me olhou com raiva, se virou furiosa para ir embora e acabou ganhando mais um calo, só que desta vez na testa. Ela se abaixou e foi correndo para algum lugar que já não pude ver.

Subitamente alguém gritou atrás de mim.

– OIÊ! – Alice anunciara, dando um tapão nas minhas costas.

– Alô! – Virei-me para ela. Sempre que a vejo tenha a sensação de que Alice seria uma garota muito linda se não andasse com seus cabelos loiros tão desarrumados e vestisse apenas com trapos.

–Tenho trabalho para você! - Ela disse, colocando um maço de cartas na minha mão.

–O que é isso?

–São os convites da festa! Um para cada morador na vila!

Olhei para ela incrédulo.

–Eu vou ter que entregar isso tudo hoje?

–Sim.

Ela sorria como se falasse algo bom.

–Você vai fazer o quê?

–Vou abater os porcos e as galinhas!

–Só?

–Sim, daí já treino minha pontaria.

Alice retirou as duas facas que sempre levava à cintura e começou a rodá-las nos dedos. Ela era uma exímia lutadora, perita na arte diplomática e mestra em prestidigitação. Sua paixão era furtar pessoas que passavam na estrada. Pelo menos em Gaela ela era sossegada.

–E o Fergo?

–Ah, ele está muito ocupado! Ele está com uma nova invenção. Disse que dessa vez a gente voa.

Fergo gostava de inventar coisas e era o cara mais inteligente que eu conhecia. Porém havia esses dias que ele simplesmente não saía de sua casa, a prol de alguma arte nova em que trabalhava.

–Ah, acho que ele comprou alguma coisa pra você. Havia um embrulho sobre mesa dele, bem enfeitado. - Alice mudou seu rosto para um expressão pensativa. - Mas talvez seja pro Erico, o filho do prefeito.

Dispensei comentários.

–Eu ainda vou ver se arranjo alguma coisa para você, tá bem, Seth?

No outro aniversário, Alice havia me dado uma jaqueta de couro, muito estilosa por sinal. Até que uma vez eu estava com ela pela vila e fui atacado por um bando de valentões que eventualmente me tomaram a jaqueta, me acusando de ladrão. Só podia agora ter esperanças de que ela não roubasse nada de ninguém pra me dar de presente.

–Agora, vá entregar as cartas!

Alice saiu correndo e a perdi de vista. Talvez, se eu começar agora, pensei, sobra algum tempo para dormir à noite.

Olhei para o primeiro convite. Estava endereçado para Dona Esmeralda. Não. Esse vou deixar pra depois, passei para o próximo e fui entregando para as pessoas que estavam ali na praça. Andei por toda a cidade até que sobrou apenas os que eu separei para mais tarde. Resolvi começar pelo da Jessica, cuja morada estava mais próxima.

Bati à porta da casa da garota e ela abriu. Quando me viu, corou e fechou a porta na minha cara. Ouvi um grito lá de dentro. Ela abriu a porta novamente, sorridente desta vez.

–Olá de novo, Seth!

–Oi Jessica, vim te entregar o convite da festa do Erico.

–Ah!

Eu estendi o convite para que ela pegasse. Ela olhou para minha mão por um momento.

–Pode pegar.

–Oh!

Pegou o convite na minha mão e disse:

–Eu vou estar na festa, sim. Mas comemorando para você, Seth.

Sorri para ela agradecido. E então ela fechou a porta.

A próxima da minha lista negra era a filha do prefeito, irmã de Erico. Pra quê ela tinha que ter convite? Fui até a casa do prefeito e bati na porta. O prefeito abriu-a.

–Olha! Se não é o Seth! O que te traz aqui, eleitor?

–Trouxe o convite da Erica.

Sim, a irmã de Erico se chamava Erica.

–Ah pode deixar comigo que eu a entrego!

Deixei com ele, achando aquilo tudo muito ridículo. Enfim, despedi de Pegorith e olhei para os três convites restantes. Dona Esmeralda, Fergo e O Gato. O Gato? Que...?

Dirigi-me até o endereço do tal O Gato. Nunca havia reparado aquela casa na vila. Achei que conhecia todos de lá. A porta estava aberta. Chamei, mas ninguém respondeu. Havia um espelho na direção da entrada da casa e uma placa pendurada nele. A curiosidade foi mais forte e eu entrei na casa para ler a placa de perto.

“Para espantar os mal vindos.”

De repente, algo começou a roçar na minha perna. Era um gato branco. Daí eu fiz a ligação. O Gato. Gato branco. Senti-me estranho quando estendi o convite para o gato. Ele pegou a carta com a boca e adentrou para os cômodos da casa. Acho que está entregue, pensei.

Aos poucos, acabou por sobrar somente duas cartas. Como Fergo não atendia, deixei para que eu fosse lá por último. Respirei fundo e me aproximei da casa de Dona Esmeralda. Ela estava capinando o mato próximo de sua cerca. Quando ela me viu, me olhou com seu olhar sinistro e resmungou:

–Sua vida está por um fio, garoto. Na verdade, nem sei por que você ainda está vivo.

E voltou a capinar. Hesitei em me aproximar de Dona Esmeralda, mas o fiz. Ela me examinou mais uma vez e pegou o convite na minha mão.

–Tome cuidado. - E olhou fundo nos meus olhos. Eu podia sentir a respiração dela na minha cara. - O grande dia já era pra ter chegado!

Forcei um sorriso para ela e me distanciei rapidamente.

Já era noite, as pessoas da vila já estavam dormindo, exceto Dona Esmeralda, que continuava capinando. Era provavelmente umas onze horas da noite quando Fergo finalmente atendeu a porta.

–Entra aí! – Ele me disse e eu adentrei na sua sala, cheia de tralhas, embora muito bem organizadas.

Fergo morava sozinho, apesar de ter apenas dezessete anos – um pouco mais de um ano mais velho que eu. Antes de me dar atenção, ele escreveu alguma coisa rapidamente em alguns pergaminhos em cima da mesa. Fergo era um cara esguio, tinha cabelos tingidos de roxo que estendia até um pouco acima dos ombros. Seus óculos camuflavam seus olhos muito escuros.

–Trouxe o convite do Erico.

Ele pegou o convite comigo e pegou um embrulho que estava na mesa e me estendeu.

–Seu presente.

Fiquei um pouco sem graça e o agradeci abrindo o embrulho, curioso. Era uma bandana vermelha. Coloquei-a imediatamente na cabeça.

–Ficou ótimo. - Ele disse, orgulhando-se do seu presente. – Bem melhor do que aquela sua azul velha.

Começamos a falar umas bobagens até que deu meia-noite no relógio da parede.

–É melhor eu ir, minha mãe deve estar preocupada.

Eu ri por dentro do meu próprio comentário. Minha mãe, preocupada?

–A Dona Laura? - Ele riu de mim. - Provavelmente está dormindo um sono perfeito.

–Sim. - Eu disse. - Ela só vai ter preocupações sérias sobre qualquer coisa na vida quando um meteoro cair na vila!

Nós dois rimos da minha piada infeliz, quando o chão estremeceu e um barulho de explosão veio de algum lugar não muito distante. Corremos para fora de casa para ver o que aconteceu enquanto outras cabeças apareciam nas janelas das casas. Dona Esmeralda estava ali perto, olhando para o nada. Ela disse, carrancuda:

–Eu disse a vocês. O fim está próximo.

Ao longe, via-se uma cortina de fumaça que se estendia para o céu...


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