Círculo escrita por VenusHalation


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Um círculo não tem nem fim, são infinitos, não tem um ponto final. Amizades verdadeiras são assim.



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Ele, um garoto frio, violento, talvez desumano. Há muito que não sentia nada a não ser ódio e sede por sangue. Um adolescente bem diferente, rosto sempre fechado, os olhos castanhos sempre frios atrás de óculos de grau e os cabelos que caíam lhe sobre o rosto. Algo em particular, que todos notavam, era a corrente que ele trazia no pescoço, uma espécie de corrente de cachorro onde na ponta havia um círculo e neste havia outros círculos menores. O garoto sorria muito pouco, e quando sorria era por puro sadismo. Mas qual seria o motivo? Ele não contava a ninguém, guardava para si, no fundo daquele coração gelado.

Ela, a garota de sorriso largo, rosto sardento, animadíssima. Era gentil, calma, um pouco bobinha e desastrada, porém, encantadora. Mantinha um sorriso largo, sempre e os olhos verdes em tom vivo sempre pareciam brilhar de felicidade, parecia até inabalável, fizesse chuva ou sol, lá estava à garota de longos cabelos ruivos sorrindo.

Tudo começou em uma manhã de março, naquele dia fazia duas semanas que ela havia começado um curso, nada muito diferente, apenas duas vezes na semana, era apenas para complementar seus estudos. Já havia feito alguns amigos no curso e se dava bem com todos.

Naquela manhã ao entrar na sala, viu aquele garoto de cabelos escuros, não se lembrava dele na turma.

O garoto desenhava no quadro com uma força que fazia um barulho agudo e irritante, ninguém gostava, mas os demais na sala já o conheciam e os que não conheciam decifravam em seu olhar algo que os dava medo.

Ela se sentou no seu lugar bem à frente e ficou vendo o garoto desenhar, quando este terminou, a garota olhou o desenho. O desenho era engraçado uma espécie de boneco que babava e outro que segurava uma faca, prestes a matar o da frente.

_Desenho legal! – Ela disse analisando de pé.

Ele olhou um pouco desconfiado, a ruiva sorriu tirando o celular da bolsa.

_Posso? – Ela inclinou o celular pra frente mostrando a câmera.

_Pode. – Ele apenas olhou e se sentou.

Ele a observou durante a aula. Estavam sentados há cinco carteiras de distância, não entendia porque a garota era tão natural com ele, ele sempre trazia repulsa aos outros.

Esperou até o fim daquela manhã de aula, sem mais falar com a garota, nem ao menos tinha perguntado seu nome. Veria ela de novo em um dia apenas, não sabia o porquê, mas tinha necessidade de saber o nome da menina.

Chegou o segundo dia da semana de curso, ele desenhava mais uma vez no quadro, o mesmo barulho, ela entrou na sala e observou de novo, dessa vez ele fazia garras, ficaram bem feitas, e ela olhava atenta a cada traço. Gostava do desenho.

A aula passou rápido e no intervalo alguns alunos do curso conversavam próximos ao garoto.

_Prefiro pop... – Dizia uma garota de cabelos curtos.

_Hm... Hip-hop é bem melhor! – Um moreno dizia.

_Vão escutar metal seus bando de sem cultura! – Ele disse intrometendo-se.

Ela se virou de imediato sorrindo, como sempre

_Metal? Escutem rock clássico! – Sorria a garota. – Anos 70...

_Clássico... Também é ótimo! –Pela primeira vez viam garoto sorrir.

_Esse garoto é dos meus! – Ela olhou para os outros.

_Talvez eu não seja. – Disse desconfiado.

_Prazer! Ikeda Natsuki! – Ela estendeu a mão.

_Hayashi Taiki... – Estendeu o braço, um vento bateu, sua corrente mexeu fazendo os círculos menores baterem.

O intervalo acabara naquele exato momento, Natsuki sorriu e voltou ao seu lugar. Ao termino da aula aproximou-se mais vez esperando Taiki juntar seus livros.

_Eeer... – ele olhou desconfiado. – O que quer?

_Nada. – Ela sorriu. – É que no outro dia vi que você vai para o mesmo lugar que eu.

_... – Olhou confuso.

_Bom... – Ela sorriu sem graça. – Sempre vou embora só, todos sempre vão para o outro lado.

_E eu com isso? – Respondeu seco.

_Quero saber se... Bem... – Ela se aproximou não se incomodando com a grosseria. – Quer ir comigo?

Taiki olhou confuso, alguém havia pedido para ir embora com ele? Isso era estranho.

Olhou de novo para a garota, era ruiva, sorridente e tão animada que chegava a ser irritante; Viu os olhos verdes praticamente implorando para que ele a acompanhasse, sentiu o vento mais uma vez balançar sua corrente, riu por dentro.

_Tudo bem. – Disse o moreno colocando a mochila nas costas.

Seguiram o caminho, ela falava animadamente, na verdade ele pensava o tempo inteiro o porquê dela não calar a boca, ele apenas ouvia ou quando abria a boca era para falar algo totalmente grosso ou contar alguma história bizarra de mortes, mutilações, demônios e entre outras.

Continuaram assim por todas as manhãs, porém, agora andavam juntos nos intervalos e se falavam mais no começo das aulas, tornaram-se bons colegas. E foi em umas das voltas para casa Natsuki olhou o colar estranho.

_Por que usa esse colar? – Perguntou ela.

_É importante para mim. – Ele apertou fortemente.

_Importante como? – Ela parou de frente para ele olhando o colar, quase vesga.

_É um círculo de amizades. – ele suspirou. – Cada pequena argola pendurada representa um amigo de verdade.

_Por que um amigo de verdade? - ela perguntou confusa.

_Um amigo de verdade é alguém que passa confiança, alguém que se importa cm ses sentimentos e não é capaz de te usar ou brincar com você. O círculo do colar não tem nem fim, são infinitos, não tem um ponto final. - ele a olhou. - Amizades de verdade são assim, sem fim. 

_Nossa! – ela sorriu. – São apenas quatro pequenas argolas...

_São quatro os meus amigos, e acredite, são poucas as pessoas que se podem chamar de amigos...

_Que bonito...

_Nem tanto. – O garoto abaixou a cabeça.

_Por quê?

_Ganhei da minha melhor amiga.

_E por que não seria lindo?

_Ela... – O garoto respirou fundo. – Ela morreu num acidente de carro há dois anos.

_Aaah... – A ruiva afastou-se colocando o cabelo atrás da orelha. – Sinto muito.

_Bom... – Ele hesitou. – Perder alguém que se ama é algo pelo qual eu não quero passar de novo. - suspirou. - Não quero abrir espaço para amigos novos.

_Achei que nós... - ela calou-se mudando a frase. - Deve ser difícil perder uma amiga...

_Quando viajou ela disse que voltaria bem, ela prometeu, na verdade e me deu o circulo de amizades dela. – Ele respirou fundo tentando não chorar. – Eu prometi a mim mesmo que quando ela voltasse contaria a ela que... Eu a amava. Hana não era para mim só uma amiga, ela era a garota dos meus sonhos, séria, sarcástica, a personalidade mais “obscura” que já havia visto, não tinha medo de falar o que pensava... Ela me ensinou a ser quem sou hoje, ela era a mim, parte de mim, éramos iguais... – ele segurou o colar com força. – Esse colar é o vínculo mais forte que tenho com ela.

_Desculpe. – Natsuki ficou séria pensando se realmente ser do jeito que ele era fosse algo bom. – Não sei realmente o que dizer.

_Tudo bem. – Ele arrumou os óculos. – Sei que agora ela sabe e ela está sempre comigo, sei quando ela está aqui.

Continuaram o caminho para casa em silencio.

E assim foi por mais de um semestre e por mais que Taiki ainda a achasse estúpida e irritante sentia um conforto imenso ao estar ao seu lado e uma necessidade cada vez maior da presença da ruiva. Talvez por sua personalidade fria e séria o calor do sorriso da ruiva o fazia se sentir melhor, o fazia se sentir estranhamente vivo e feliz.

Naquela manhã o vento forte balançava seu círculo de amizades e a sensação de conforto sumiu durante o resto da semana inteira, uma longa semana.

Natsuki não aparecia na aula, não atendia aos telefonemas ou respondia aos e-mails e mensagens de celular, depois de uma semana longa e agoniante ela apareceu, mas estava diferente, o olhar era triste e seu sorriso não aparecia por nada. E foi assim por semanas: Natsuki calada, triste e apagada.

Dadas três semanas do comportamento estranho da garota, o moreno manteu distância até o fim da aula apenas se aproximando para acompanhar a colega até em casa. No meio do caminho ele resolveu falar algo.

_Natsuki?

_Taiki... – Ela sorriu fraco.

_O que... – Ele olhou os olhos tristes. – O que aconteceu?

_Bom... – Abraçou o moreno e começou a chorar. – Eu contei que o amava...

_Então... – Ele acariciou os cabelos da garota. – Por que está tão triste? Fale coisa com coisa!

_Ele foi embora... – Ainda chorava. – Me usou e quando eu disse...

_Calma! – Disse grosso. – Conte-me sem chorar que, diabos, aconteceu!

_Estávamos juntos há alguns meses. – ela soluçou. – Então... Eu estava certa de que éramos feitos um para o outro e disse que o amava, ele sumiu depois disso e me mandou uma mensagem dizendo que tinha acabado... Eu... Eu... – Ela chorava novamente. – Eu sou idiota!

_Acalme-se! – ele gritou olhando as lágrimas rolarem. – Esse cara é um idiota!

_Será que... – ela cobriu os olhos com as mãos. – há algo errado comigo?

_Cale a boca! – Ele abraçou gritando novamente.

_Eu sou irritante e estúpida, não é? – Ela soluçou. – Por isso ele...

_Aos meus olhos... – Ele interrompeu. - Você é perfeita... Não há nada de errado, ele é apenas um idiota!

_Desculpe.

_Pelo quê?

_Por ser tão irritante.

_Sabe... – Ele ainda a mantinha nos braços. – Eu gosto de alguém também. Sei o quanto dói.

_Gosta?

_Sim... Ela é uma garota completamente diferente da garota que um dia havia amado... Ela me completa, de alguma forma. - ele suspirou. - Me dói vê-la sofrer tanto... 

_Diferente da Hana? – ela pareceu confusa. - Por que não conta a ela?

_Porque sei que a resposta que ela daria seria “não”, mas tenho medo de que ela fique comigo por pena.

_Se ela fizer isso... – ela disse séria. – Se ela ficasse com pena... Estaria te usando como ele fez comigo.

_Tem razão.

_É...

Permaneceram em silêncio tomados pelo abraço apertado e caloroso por uns minutos.

_Ela é irritante e estúpida. –Ele disse sussurrando em seu ouvido.

_Quem? – ela arrepiou.

_A garota que amo.

_Sabe a resposta... - Natsuki afundou o rosto no peito de Taiki fazendo sua voz chorosa vir abafada.

_Eu sei... – Ele a apertou ainda mais no abraço. – Mas agora sei que ela não seria idiota o bastante para brincar comigo.

Natsuki afundou ainda mais o rosto no peito de Taiki que sorriu leve apoiando o queixo na cabeça da garota pensando nas palavras que nunca dissera a amiga Hana, sentindo seu coração leve e uma presença quente ao ver que com o abraço o colar, agora gelado e molhado por conta das lágrimas da ruiva, lhe tocava o peito com força.

_Que bom que sabe... – Ela soltou-se do abraço depois de se aliviar-se do choro. – Vamos para nossas casas.

Passados dois dias, lá estavam eles no curso novamente. Natsuki sorriu, era bom vê-la sorrir de novo, mesmo que fosse um sorriso mais fraco, mas para Taiki era o bastante para ver que ela iria superar. Passaram à manhã como todas as anteriores. Na volta para casa a ruiva olhou o colar que trazia o círculo de amizades.

_Há uma nova argola pequena aí. – Ela olhou curiosa para quinta argolinha.

_É. – Taiki sorriu segurando a mão da ruiva. – Tenho mais um amigo de verdade.

O vento passou balançando as argolas que fizeram um barulho agudo e musical, o garoto sorriu, olhou para o céu e em seus pensamentos dizia: “Obrigado, Hana!”


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Notas finais do capítulo

Minha primeira one-shot original! o/
Achei ela bem bonitinha, embora bem corrida também, mas me perdoem, por ser a primeira acho que não ficou muito boa, prometo melhorar =D
De qualquer modo espero que gostem.
Bom é isso aí, obrigada por ler! *---*
See ya!