A Dança escrita por Senhorita Mizuki


Capítulo 3
Trap


Notas iniciais do capítulo

Tema: #25 palestra
Beta: Mudoh Belial
Personagens: Camus, Milo
Censura: PG
Sumário: "Algumas vezes se perguntava se Milo fazia de propósito."



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Trap

The one I love is standing near
The one I love is everywhere
I can woo you
I can amuse you
But there is nothing I can do to make you mine

Parou à frente da figura que descansava a cabeça na mesa, olhando-o amargurado. Havia passado semanas estudando, preparando seu discurso sobre Platão. E aquela pessoa que havia prometido assisti-lo, encorajá-lo quando confessou ter medo de se apresentar na frente de várias pessoas, havia dormido a palestra inteira.

Camus ergueu o punho, respirando fundo, baixando-o em seguida. Não valia a pena. Sentou-se na carteira ao lado, fazendo um tremendo barulho ao soltar seus livros na mesa. Milo pulou de susto, olhando desorientado para os lados. Os garotos da sala olharam para trás, soltando risadinhas. Camus lançou-lhes um olhar irritado, fazendo-os desviar o olhar deles.

Milo esfregou os olhos, parecendo ainda muito sonolento. Quando fitou Camus, sentado na cadeira ao lado, blasfemou tão alto que percebeu alguns olhares virados para si. Baixou o tom de voz, aproximando a cadeira do francês e sussurrando.

- Oh, desculpe… - começou – Eu juro que tentei ficar acordado, Camus, mas estou muito cansado.

Camus continuou olhando para frente de braços cruzados, trincando seus dentes e decidido a não encará-lo. Milo suspirou e ficou um tanto impaciente:

- Realmente, Camus. Você tinha de discursar sobre filosofia? Tanto assunto interessante para se falar... – parou quando percebeu que o outro não viraria pra ele – Ah, ótimo. Vai mesmo me ignorar? Uma atitude muito adulta essa sua...

- Quieto! – sibilou de volta, podia-se ver sua mandíbula tensa – Quero ouvir a apresentação de Shaka.

O grego o encarou irritado, voltando sua cadeira à posição de antes, cruzando os braços e assistindo o indiano que começava a falar sobre a filosofia budista. Na verdade Camus não estava prestando atenção alguma ao que o outro dizia, focando os olhos em um ponto atrás do loiro. Não podia evitar se sentir ofendido. E pensar que havia se sentido seguro quando pisou no tablado e encontrou o sorriso de Milo, no fundo da sala. O bastardo sabia o quanto era importante para ele. E ainda assim ele dormira logo após cinco minutos.

Olhou-o de esguelha. A cabeça de Milo pendia para frente, os olhos começavam a ficar pesados e sabia que não demoraria muito para debruçar-se na mesa e descansar a cabeça nos braços. Cansado, ele disse. Camus sabia por que estava tão sonolento, não havia dormido a noite inteira. Não por uma razão nobre ou útil, mas porque havia se divertido a noite toda.

Alguns rapazes haviam chamado-o para uma noitada no vilarejo, e Milo não podia recusar um pedido daqueles. O grego como de costume o convidara a acompanhá-lo, mas Camus disse que teria de estudar mais um pouco para sua apresentação. Pode ver no rosto do amigo que se esquecera completamente, sentindo-se magoado no íntimo. Mas mesmo assim ele saiu para a farra.

Camus virou-se para Milo, que já dormia de novo, o rosto virado para si. Relaxou os braços, suavizando a tensão que mantinha na mandíbula. Admirou a expressão tranqüila, o rosto redondo e bronzeado, os lábios entreabertos, que pareciam macios. Não pode deixar de pensar em quantas pessoas aquela boca havia beijado na noite anterior, corando ligeiramente.

Não era justo. Fazê-lo sentir daquela maneira, sorrindo como se não fizesse doer seu peito, tocando-o como se não o fizesse sentir calor. Fazendo-o confiar nele e sentir-se seguro, para depois magoá-lo, para depois agir como se não tivesse feito nada de errado.

Aquela amizade o estava destruindo, desde que percebeu seus sentimentos. Quando percebeu que não ter Milo perto, - o infernizando, puxando-o para lá e para cá, o envergonhando com brincadeiras, - só o deixava mais solitário. Não o admitiria nunca, e não era porque deixaria o ego de Milo ficar maior do que já era. Mas porque era entrar em um terreno perigoso.

Era entrar para perder. Se ele começasse a aceitar seus convites, a ceder a suas brincadeiras, a deixar que os toques se tornassem algo mais... Iria se tornar só mais um e, quando não fosse mais divertido, Milo o descartaria. Não acreditava que poderia suportar aquilo.

E ainda havia seu mestre. Não o decepcionaria mostrando-se ser tão fraco – um cavaleiro de gelo que não resistia a fraquezas tão mundanas.

Totalmente alheio ao que Shaka discursava, Camus deitou a cabeça sobre a mesa. Ficou por um tempo observando-o ressonar baixinho, notando as suaves olheiras debaixo das pálpebras cerradas. Não, não iria mudar. Estava bem do jeito que estavam.

Os cabelos azulados se esparramavam pelos ombros, e Camus não resistiu a erguer o braço e tirar um cacho que caía pela face. Milo respirou fundo e abriu os olhos, fazendo um Camus com o coração aos pulos recolher o braço e voltar a olhar para frente da sala. O grego esfregou o nariz, murmurando algo, antes de se virar para ele e chamá-lo. Quando o francês o ignorou, voltou a aproximar sua cadeira da dele.

- Não acredito que ainda está bravo comigo! – sussurrou.

Camus sabia que se o olhasse agora, seu rosto ficaria vermelho, e provavelmente começaria a discutir com o amigo. Mas foi salvo pela instrutora, uma amazona em seus quarenta anos e que já não usava máscara, cuja função era lecionar os jovens cavaleiros. A mulher mandou-o ficar quieto, não que Milo fosse obedecer alguém. No entanto o grego voltou a afastar a cadeira, olhando Camus de um jeito, que sabia querer dizer que ainda não tinham acabado.

Podia imaginar o que aconteceria: Milo continuaria pedindo desculpas, passaria a mão em sua cabeça, um braço enlaçado na sua cintura. E ficaria assim até que Camus cedesse, e ele sempre cedia, perdoando todas as faltas do grego. Faria com que suas noites continuassem agitadas e cheias de pensamentos, de coisas que nunca iriam acontecer.

Algumas vezes se perguntava se Milo fazia de propósito. Para vê-lo cair. Para se divertir.

The one I love roosts in the mind
Can snap this spell
Or, increase hell
I can chase you and I can catch you
But there is nothing I can do to make you mine
Black cloud, black cloud


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Notas finais do capítulo

N.A.: Admito que essa foi fraca. Mas na próxima continua na sequencia da primeira parte do Arc. ^____~