Você Me Pertence. escrita por Vaani


Capítulo 5
Kill me in a record shop.


Notas iniciais do capítulo

Depois de três anos, aqui estou eu de novo. Espero que gostem ;)



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Abri a janela de supetão, como se temesse me acovardar no caminho e o encontrei parado na sacada do quarto dele, olhando pra mim.

Esqueci o secador e nem senti os cabelos molhados, somente devolvi o olhar e esperei ele falar.

–Eu já ia te chamar. – Ele disse, a voz rouca como se estivesse sem falar por um bom tempo.

–Hum. – Respondi debilmente, eu não sabia o que dizer e parecia não fazer esforço pra articular uma resposta decente.

–Eu queria pedir desculpas pelo que aconteceu. – Ele continuou, a voz um pouco melhor.

Eu só balancei a cabeça em um ‘sim’, continuava sem ter o que dizer. Estávamos a um metro de distancia e eu sentia como se houvesse um oceano entre nós. Ele parecia sentir o mesmo porque se mexia desconfortável e olhava para a sacada a todo momento, olhei pra baixo também e vi que o pé dele estava enfaixado. Quando isso tinha acontecido?

–Lily... eu...

–Você? – tentei ajudar.

Ele olhou pra baixo, pro pé, pra sacada e finalmente me olhou nos olhos daquele jeito perdido que ele fazia quando estava chateado.

Eu sabia que ele só olhava assim pra mim, quando ia me contar o que estava acontecendo e então eu tive certeza que ele não era meu amigo por pena.

–Você poderia vir aqui? – Eu estranhei a pergunta e ele percebeu então continuou – Eu iria ai mas meu pé está machucado.

–Ah... – disse – Ta bom, espera só um segundinho.

Voltei pro quarto, liguei o secador quando vi que minha blusa estava encharcada e dei uma pseudo-secada no cabelo, troquei de roupa e voltei pra sacada. Demorei mais dois segundos pra dar uma olhada no local e quando arrumei o jeito certo de ir pro lado dele eu me lembrei de como era mais fácil fazer isso quando éramos crianças e passávamos de um lado pro outro o tempo todo.

James me ajudou e me deu a mão enquanto eu descia com segurança pro lado dele, mas tentei não apoiar muito pra ele não precisar forçar o pé. Assim que estava completamente do lado dele eu soltei nossas mãos e um silêncio constrangedor preencheu o lugar.

Olhando pra todos os lados menos pra pessoa a minha frente, eu apertei minhas mãos em uma atitude clara de nervosismo e eu pensei que fosse desmaiar quando senti a os dedos dele tocarem delicadamente o meu queixo e levantar meu rosto.

–Eu realmente sinto muito. – Ele disse baixinho, como se não quisesse me assustar. – Eu nunca quis te meter no meio dessa confusão. Nem por um segundo eu imaginei que aquilo pudesse acontecer.

Meu peito encheu de algo que eu não soube o que era e eu consegui concordar com a cabeça, minha voz tinha se perdido em algum lugar do caminho.

–Então você me perdoa? – Ele perguntou e mais uma vez eu me vi balançando a cabeça, me sentindo uma criança envergonhada.

O cheiro de menta quase me sufocou quando ele me puxou pra um abraço forte, como se quisesse quebrar minhas costelas pra saber que eu estava ali. Assim que me recuperei do susto eu devolvi o abraço na mesma intensidade, segurando o choro enquanto o apertava.

–As vezes eu esqueço como você pode ser forte. – Ele brincou parecendo meio sufocado também e eu aliviei o abraço. Não consegui segurar e algumas lágrimas molharam a camisa dele. - Eu falo sério Lily, você não deve levar em consideração uma palavra do que ela te disse.

Ele me sentiu ficar tensa, então ele me fez olhar de novo nos olhos dele e repetiu.

–Eu amo você, nunca e em momento algum você foi nada perto de uma boa ação ou um ato de dó. – Eu solucei quando o ouvi repetir isso – Você é uma das pessoas mais especiais pra mim e se eu não mostrei isso durante os últimos anos foi porque eu sou um retardado. Tudo o que ela disse foi fruto da imaginação insana dela e eu estou profundamente arrependido por tudo.

–Promete? – Quando eu finalmente abro a boca pra dizer alguma coisa, o que sai é isso. Juro, eu poderia começar a me chutar a qualquer minuto.

–Prometo! – Ele disse sorrindo e me abraçou mais uma vez. Ficamos em silencio por mais um bom tempo. Ele só acariciando as minhas costas e mexendo no meu cabelo molhado. A noite caíra e o quarto dele estava completamente escuro. Agora minhas costas estavam encostadas no peito dele e nos abraçamos como há muito não fazíamos. De alguma forma eu não me sentia desconfortável assim.

–Quando você foi na minha mesa hoje mais cedo e me olhou daquele jeito eu me senti tão desesperado. Jurava que você ia me dizer pra sumir da sua vida. Eu tinha certeza que você me odiava. – Ele comentou.

–Não – eu disse com a voz rouca, então limpei a garganta e continuei – Eu nunca fiquei com ódio seu, mas eu estava mortificada com a ideia dela ter dito qualquer verdade ali. Eu me sentia horrível, você não sabe o quanto.

–Na verdade eu meio que sei um pouco... ouvia seus soluços de noite. Fiquei totalmente sem saber o que fazer, minha vontade era invadir seu quarto e dizer que a Nora tava louca. Nossa amizade sempre foi e sempre vai ser verdadeira. Ela nunca soube o que dizia. – Ele parecia irritado. Amizade, que ódio dessa palavra.

–Eu avisei que ela era cérebro de verme podre – Eu brinquei e ele riu. Conversamos por mais um bom tempo ali, em algum momento eu ouvi minha mãe bater na minha porta e desistir. Fiquei feliz em ter deixado-a trancada e quando eu olhei no relógio do quarto dele, vi que era uma da manha, eu me sentia completamente cansada mas satisfeita de estar ali com ele. Então ele levantou da cama, mexeu no que parecia ser uma gaveta e trouxe algo na minha direção. Eu percebi que era uma camisa quando ele subitamente começou a tirar a minha e num ato involuntário eu ergui os braços, assim que ele se livrou da minha camiseta molhada ele me deu uma dele, eu não me senti envergonhada pois estava tão escuro que eu me surpreendi dele ter encontrado qualquer coisa ali. Ele trocou a dele também e pegou o que parecia ser uma toalha e secou meu cabelo bagunçadamente mais um pouco, estava quase totalmente seco, assim que terminou ele foi me deitando na cama e eu não ofereci resistência. Graças as forças divinas reparadoras ele tinha uma cama de casal e dois travesseiros. Logo que eu estava deitada na cama com ele, a uma distancia segura e respeitosa (infelizmente, devo acrescentar)ele pegou o cobertor e jogou em cima de nós, passando-o completamente pela minha cabeça. Eu rapidamente o puxei pra baixo e fechei os olhos. Me preparando pra dormir sem pensar exatamente no que estava fazendo.

Cinco minutos depois eu abri os olhos e disse:

–James.

–Oi? – ele perguntou.

Eu estou apaixonada por você.

–Obrigada por tudo.

Eu te amo.

–Que isso Lily, obrigado você por ainda querer ser minha amiga.

Fique comigo, eu preciso de você.

–Boa noite, durma bem.

–Você também, meu anjo. Durma bem.

...

Dez minutos depois.

–Sabe que musica ta tocando na minha cabeça? – Ele perguntou divertido, eu sorri ao perceber que ele também não estava conseguindo dormir.

–Qual?

–Kill me In a Record Shop.

–Puts, desenterrou.

Don’t you go? No need to leave the light on, there’s no one here tonight, only you and I.

Kill me in a record shop now, one shot and it took me down…– Eu continuei cantando a letra.

–Lembra quando a gente ouvia ela vinte vezes por dia?

–Tava mais pra vinte vezes por hora, né. Eu lembro até que sua mãe queria queimar o cd.

Ele riu, eu ri.

–Verdade, acho que ele nunca odiou tanto uma musica como essa, mas também, éramos irritantes com aquilo, aposto que sua mãe queria por fogo também.

–Ah, com certeza, mas a gente ouvia mais na sua casa, de qualquer forma.

–Lembra quando a gente viciou em Blink?

–Claro! Where are you? And I’m so sorry, I cannot sleep, I cannot dream tonight, I need somebody and always…

–Sua parte preferida sempre. – Ele completou – Nossa fase Nickelback foi memorável também. Eu me sentia tão Chad Kroeger.

–Ah, foi quando você ganhou seu segundo violão né? Ai você decidiu aprender a tocar de verdade.

–Eu me lembro de você revoltada, não querendo cortar as unhas pra aprender. – Ele disse rindo.

– E de fato eu não aprendi, até hoje não consigo deixar minhas unhas tão grandes igual antes.

–Tá bonita assim, eu gosto quando você pinta de azul. – Ele comentou, pegando na minha mão e apertando minhas unhas de um jeito brincalhão.

–Ah, só você... minha mãe vive reclamando.

–Ela reclamava bastante quando você cortava meu cabelo, lembra?

–Nossa, ai sim você desenterrou, faz quanto tempo... seis anos desde a ultima vez?

–Por ai, o pior era que minha mãe nem ligava.

Rimos muito e continuamos assim, conversando até que o despertador dele tocou as seis e meia. Não tínhamos pregado o olho mas eu nunca tinha me sentido tão leve.

Por uma noite inteira havíamos conversado sobre todo o nosso passado e eu me diverti exatamente como antes. Eu imaginei como teria sido o momento se por algum minuto eu pudesse chamá-lo de meu. Meu James. Não meu melhor amigo James, mas eu não ia pensar nisso agora e arruinar o momento.


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