The Devil Next Door escrita por M4r1-ch4n


Capítulo 2
Capítulo 2




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          Apoiando as duas mãos na pia do banheiro, Kaoru quase caiu para a frente e bateu a cabeça no espelho, tonto de sono. Ele não havia pregado o olho aquela noite.
          O maldito do seu novo vizinho havia se divertido a noite inteira.
          Inteira!
          Kaoru podia jurar que ele havia escutado gritos de mais de uma mulher ao mesmo tempo. Não que ele estivesse compenetrado em ouvir o que diabos se passava no apartamento ao lado, mas as vozes eram tão altas que ouvir tudo foi somente conseqüência.
          Piscando e jogando água gelada na sua cara, ele se xingava mentalmente por não ter se mudado no sábado, ficando com o domingo para descansar. Mas como a sua mãe havia pedido muito para ele passar mais um dia com ela, ele concedeu esse desejo à sua santa mãe e deixou para vir para Tokyo em cima da hora. Agora iria se apresentar no seu novo local de trabalho com a cara de quem não sabia o que era dormir.
          E se aquele ruivo fosse realmente o seu vizinho, ele não saberia mais o que \"dormir\" significava.
          Sentindo uma dor de cabeça vindo, ele saiu do banheiro, voltando para o quarto e tentando se lembrar onde ele havia deixado as roupas de trabalho. Coçando o queixo enquanto abria caixas espalhadas pelo chão, ele esperava que a filial de Tokyo da sua empresa não exigisse terno e gravata, porque ele não tinha muito desses. Se levantando rapidamente e observando a própria reflexão em um espelho que já estava no apartamento quando ele chegou, Kaoru também torcia para que seu chefe gostasse de cabelos coloridos.
          Na certa, não poderiam culpá-lo por falta de criatividade.
          Com um estalo, ele se lembrou que sua mãe havia etiquetado a caixa com as roupas, e saiu em busca dela pelo apartamento. Encontrou-a largada na cozinha no meio das sacolas de comida que havia comprado, sem saber o motivo. Levou-a para o seu quarto e se vestiu rapidamente, se dando conta de que teria de comprar um ferro de passar se quisesse roupas em ordem.
          Olhando no relógio, ele viu que não tinha muito tempo. Saltando as caixas que haviam virado obstáculos pelo seu apartamento, ele fez o café da manhã em tempo recorde, engolindo tudo apressadamente e dando os últimos retoques no cabelo e roupa antes de pegar a sua pasta e sair de casa.
          Dessa vez, apenas por precaução, ele guardou as chaves de casa no bolso interno do casaco.
          Impacientemente esperando o elevador mais uma vez, ele quase levou a porta do mesmo na cara quando o ruivo do 305 saiu de dentro dele, carregando uma sacola de uma das padarias próximas. Kaoru se lembrava de ter passado na frente dela na tarde anterior.
          - Ah, ohayou, vizinho!
          O outro homem sorriu, inclinando o corpo e cumprimentando o publicitário. Sem ter como ignorar a saudação perfeita e educada, Kaoru retribuiu.
          - Ohayou. - a falta da entusiasmo na sua voz era assustadora.
          - Ah, tão desanimado assim? - o ruivo sacudiu a cabeça rapidamente, sua expressão alegre. Parecia que alguém tinha colado o sorriso no rosto do outro - Não pode. Pegue um cigarro. - ofereceu, tirando um maço do bolso traseiro da calça.
          - Não, obrigado.
          Kaoru quis bater no seu vizinho. Ele mal havia lembrado do câncer em palitinhos naquela manhã; por que o cretino tinha que trazer à tona essa lembrança?
          - Não fuma? - o ruivo arqueou uma sobrancelha - Tudo bem então, cada louco com as suas manias. Ah, eu sou o seu vizinho.
          - Não me diga, verdade?
          O cinismo da voz de Kaoru, aliado às manchas pretas da falta de sono embaixo dos seus olhos causaram um efeito impressionante: o sorriso do ruivo encolheu um milímetro de cada lado.
          - Verdade. Ando Daisuke, mas sou conhecido por Die. - ele estendeu a mão do jeito ocidental e Kaoru a apertou, contrariado.
          - Niikura Kaoru.
          - Apelido?
          - Não tenho apelido.
          - Como assim não tem?
          - Não tendo. - o cinismo arrebatador de Kaoru ameaçou voltar.
          - Nós arrumamos um depois. - o ruivo pausou e o sorriso voltou ao seu tamanho antigo, parecendo se lembrar de alguma coisa - Estou interrompendo algo?
          O publicitário achava que era óbvio que ele não estaria esperando um elevador, de manhã cedo numa segunda-feira e ainda por cima de terno, se não fosse trabalhar.
          - Está. Eu tenho que ir trabalhar.
          - Meus pêsames. - Die fez uma profunda reverência, finalmente acendendo o cigarro que tinha retirado do maço há alguns minutos - Preciso ir, estão me esperando. Sayounara, Kao!
          - Kaoru. - corrigiu o homem de cabelos roxos enquanto via o ruivo se distanciar na direção do próprio apartamento.
          - Nah, eu disse que arranjava um apelido, não disse?
          O publicitário se controlou para não cometer um assassinato e entrou no elevador, socando a parede interna do mesmo. O barulho do encontro da sua mão com a superfície dura foi ligeiramente alto, e ele ficou a ver estrelas.
          - Isso deve ter doído! - gritou Die.
          Kaoru apertou o botão do térreo o mais rápido possível, mordendo os próprios lábios para não dizer nada enquanto estivesse no prédio. Assim que saiu para a rua, ele gritou várias palavras não exatamente bonitas que ele conhecia, fazendo duas senhoras do outro lado da rua arregalarem os olhos para ele.

          O primeiro pensamento que cruzou a mente do publicitário ao entrar no seu novo local de trabalho era que ele definitivamente iria precisar de um conhecimento muito, mas muito maior de palavrões se ele fosse conviver com o ruivo do 305. A singela conversa que Die havia engatado com ele antes que pudesse sequer descer pelo elevador e ir para a rua havia custado a perda de dez valorosos minutos, e agora o homem de cabelos roxos estava quase ofegando.
          Jogando para o lado uma mecha de cabelo que obstruía sua visão, Kaoru se recompôs e entrou no saguão do novo edifício. Ele havia perdido o trem que deveria ter tomado, e ao invés dos vinte minutos que ele planejara ter de antecedência, tinha somente dois.
          Aquele seu vizinho iria pagar. Assim que ele pensasse em um jeito de fazer isso.
          Após ser informado por uma das recepcionistas, Kaoru mais uma vez se sujeitou aos elevadores, coisas que ele estava começando a odiar, e chegou ao seu novo escritório: um dos cubículos no vigésimo terceiro andar.
          Várias pessoas andavam de um lado para o outro, e o publicitário ficou parado na entrada, sem saber se avançava e caçava seu lugar ou pedia ajuda. Foi tirado do seu devaneio por uma mão no seu ombro.
          - Sumimasen?
          - Ah, ohayou gozaimasu. - Kaoru cumprimentou. A pessoa que se encontrava na sua frente tinha o cabelo castanho claro, um pouco comprido e passando dos seus ombros. De expressão delicada e olhos castanhos simpáticos, o homem de cabelos roxos teria jurado que se tratava de uma mulher se a voz que ele tivesse ouvido não fosse tão grave para uma.
          - Bom dia. Niikura-san?
          - Hai, sou eu. - um aceno afirmativo de cabeça se seguiu à pergunta.
          - Ah, sou Terachi Shinya, o secretário do diretor. Estava esperando pelo senhor.
          Shinya sorriu e começou a andar, e Kaoru deduziu que deveria segui-lo. O par passou por um corredor cheio de vários cubículos, e de repente o loiro à sua frente parou, indicando com a mão uma mesa vazia, exceto pelo computador.
          - Esta é sua mesa. - explicou o secretário, enquanto Kaoru colocava sua pasta sobre a mesa - Você poderá arrumá-la do jeito que quiser depois. Fez boa viagem de Hyogo?
          - Sim, fiz. Obrigado por perguntar. - o publicitário sorriu genuinamente. Shinya parecia ser uma pessoa muito educada e simpática - Começo a trabalhar hoje, certo?
          - Exato. Pode pedir ajuda para qualquer um aqui, mas como você vai dividir esse espaço com Toshiya, seria bom se fizessem amizade.
          De repente, um homem de feições indiscutivelmente marcantes e bonitas surgiu do outro lado da divisória.
          - Me chamou, Shin-chan?
          - Não, Toshiya-kun. Mas quero apresentar Niikura-san, ele será seu colega aqui.
          - Hajimemashite. - Kaoru fez uma pequena reverência - Niikura Kaoru.
          - Ah, o prazer é meu. Sou Hara Toshimasa, mas todo mundo me chama de Toshiya. - ele sorriu, cruzando os braços e apoiando-os sobre a divisória, deitando a cabeça sobre eles logo depois - Ne, Shin-chan! O jantar de hoje ainda está de pé?
          - Se Hayashi-san não precisar de mim, sim. - em seguida, ele se virou para Kaoru - Hayashi Yoshiki é o diretor deste andar e de mais alguns. Em breve ele deverá passar por aqui para ver como você está, Niikura-san.
          - Pode me chamar de Kaoru, Terachi-san.
          - Nesse caso, somente Shinya. Espero que vocês dois se dêem bem! Bom trabalho! - se despedindo, ele acenou e se foi entre os corredores, entrando em uma sala no fim do mesmo. Kaoru suspirou e se sentou na sua cadeira, ligando o computador e abrindo a sua pasta.
          - Kaoru-kun? De onde você vem?
          - Hyogo. Fui transferido para cá há poucos dias.
          - Sim, eu soube! - Toshiya sorriu - Me disseram que era alguém talentoso que viria para cá. Tem alguma criação sua aqui com você?
          - Não. - Kaoru devolveu o sorriso, colocando alguns objetos seus sobre a mesa - Mas se quiser ver, trago outro dia. Minha casa ainda são caixas e mais caixas.
          - Mudanças. - o homem de cabelos azuis fez uma careta engraçada - Eu também sou de fora, de Nagano. Tokyo é melhor... Meu antigo chefe era o demônio em pessoa.
          Kaoru repentinamente se lembrou do seu adorável vizinho.
          - Imagino. - ele deu um sorriso cúmplice - Existem pessoas que parecem ser colocadas no nosso caminho somente para atrapalhar.
          - E como! - Toshiya riu com vontade, sendo logo repreendido por um colega de trabalho - Ne, Kaoru-kun! Vamos sair hoje depois do expediente. Quero dizer, Shinya, eu e mais alguns. Gostaria de ir junto?
          - Ah, obrigado pelo convite. Irei sim.
          - Ótimo! - Toshiya bateu palmas - Então vamos ao trabalho. Conversamos mais tarde!
          O homem de cabelos azuis voltou para o seu cubículo, e ambos mergulharam no serviço. Ao contrário do seu vizinho, seus colegas de trabalho pareciam ser legais. E o convite para o jantar vinha a calhar.
          Porque ele queria ficar o mais longe possível do seu apartamento.


Continua...

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