Remexeu a taça entre os dedos novamente. Traçando círculos imaginários no ar. Olhava para a bebida em seu interior vorazmente. Vinho. Com seus tons avermelhados, tão belos. Encarava o líquido dançar ao movimento da taça em suas mãos, que também brincava entre seus dedos. Levou esta a boca, mas hesitou por um instante, para recuá-la novamente.

Passou a língua em seus lábios, sentindo um gosto adocicado. Pensou primeiramente ser o vinho que bebera anteriormente, mas refletiu, e concluiu que era do beijo da amada. Da ex-amada, agora morta, por um acesso de raiva, mescla de ciúmes. Repousou a taça de cristal na mesa ao lado, e levantou-se da poltrona no qual estava sentado, deixando seus pensamentos perturbados o levarem por idas e vindas na vasta sala.

O frio começaria a tomar conta do aposento, se não fosse pela lareira, a que agora ele fitava. O fogo crepitava sob a lenha ressequida, causando secos estalos, ecoando pela sala. Voltou a se sentar na poltrona vermelha, pegando a taça e levando aos lábios rubros, bebendo todo o líquido, pondo-se a cair no chão. Morto. Pelo vinho envenenado.