Ele estava sentado no chão, encostado na parede imunda. Ali, sob toda aquela chuva. Quando o outro chegou, embaixo dum guarda-chuvinha vermelho, ele apenas levantou a cabeça e o observou.

- Reita. - chamou o do guarda-chuva – Não seja idiota, vamos embora daqui.

- Eu quero ficar sozinho. - foi só o que disse, com voz pesarosa.  Ruki fitou-o por alguns instantes; aqueles dolorosos instantes.

- É sempre assim, não é? É sempre tudo do seu jeito. - disse o menor, tentando olhar além do véu de água, para qualquer lugar que não fosse os olhos do outro – E quando não é, bem... aqui está você.

- Por que você está aqui? - a voz pesarosa ainda não desaparecera e, dessa vez, veio preenchida de um tremor hesitante – Você não se importa comigo. Só com a sua música e a sua banda.

- A nossa banda. - corrigiu o outro, sem se deixar abalar pelas palavras duras que lhe foram dirigidas. E dessa vez, olhou Reita diretamente nos olhos - Não seja infantil. Vamos, levante daí e vamos para casa. Os outros estão nos esperando.

 O que estava sentado não disse mais nada, ficou apenas ali, encarando o outro.

- Não me importo com os outros, não me importo com a nossa banda ou a nossa música. - franziu o cenho e fez um biquinho,  que lhe deu um ar infantil.

 Ruki não pôde deixar de soltar um risinho divertido.

- Do que você está rindo? - perguntou Reita, claramente irritado.

- Você é exatamente como uma criança. - e Ruki sorriu – Uma criança idiota.

 Depois disso, ficaram em silêncio. Não um silêncio incômodo e pesado, mas um silêncio pensativo, e confortante, até.

 Reita ficou de pé, frente a frente com o outro.

- Mas o baixinho aqui não sou eu. - com o braço estendido, bagunçou o cabelo do menor.

- Não, Reita, seu imbecil! - deu uma pausa e, depois dela, um sorriso – Você sabe que eu odeio quando mexem no meu cabelo.

- É, eu sei. - ele disse com voz baixa, pegando o outro pela cintura.

 Ruki deixou o guarda-chuva no chão e, ali mesmo, sob o aguaceiro, beijaram-se; com o gosto doce das mágoas lavadas pela chuva...