A Vida do Dragão escrita por Nobumaru


Capítulo 2
Mais uma viajem


Notas iniciais do capítulo

Bem, pesso desculpas pela demora... Tive vestibular e tudo, então as coisas foram atrasando... Mas aqui vai mais um capitulo, espero que gostem.

Ah, um abraço virtual para Hibisko, que me motivou a continuar essa fanfic :)



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“Lorde Masamune” O mensageiro o reverenciou. “Trago uma mensagem de Edo, com os cumprimentos do Xogum aposentado, Ieyasu Tokugawa.”

Masamune Date assentiu, aliviado. Não parecia uma mensagem urgente, mas algo ainda o preocupava. “Diga logo. Você fez uma longa viagem, mas meu tempo é precioso, e não pretendo desperdiçar com você...” Masamune não gostava muito de falar assim com os outros (não mais...), mas ele tinha uma imagem a zelar.

Um olhar de raiva surgiu por um segundo no semblante do mensageiro. Mas ele refez a compostura e continuou a mensagem. “Meu senhor Ieyasu está doente, como sabe. Mesmo sob os cuidados dos melhores médicos do Japão, sua saúde cada vez piora mais.”

Masamune se levantou com um salto. “COMO ASSIM, ELE NÃO PODE...” Ele gritou, mas não conseguiu terminar a frase.

“Receio que sim, senhor...” O mensageiro se intimidou um pouco. “A doença atingiu seu estado terminal, senhor... Lorde Ieyasu... Está em seu leito de morte.”

O mundo girou ao contrário para Masamune. Ieyasu Tokugawa lutou tanto para enfim conquistar a unificação e a pacificação do Japão. E agora, alguns meses depois de conseguir realizar seu sonho...

“N-não... Não pode ser...” Masamune ficou cabisbaixo. Ele nunca admitiria, mas depois que seu pai morreu quando ele ainda era jovem, Ieyasu foi o mais próximo de um pai que ele tivera. Foi ele que mostrou para Masamune que apenas conquistar territórios não garantiria um futuro pacífico e próspero. Masamune lutou por ele em inúmeras batalhas, lutou quase até a morte para atingir aquele tão distante sonho de paz...

“Lorde Masamune... O senhor está bem?” Perguntou o mensageiro.

“SEU MALDITO!” Masamune gritou, fazendo o mensageiro pular de susto. Mas não era com ele que Masamune estava gritando. “EU QUASE MORRI EM NOME DO SEU ESTÚPIDO SONHO! EU SACRIFIQUEI O MEU SONHO PARA REALIZAR O SEU! E AGORA QUE ELE FINALMETE SE REALIZOU, VOCÊ RESOLVE MORRER?”. Masamune gritava para o alto, para aliviar sua frustração.

Antes que o mensageiro entendesse alguma coisa, Masamune saiu da sala rápido como um trovão.

Masamune correu para encontrar sua família nos jardins e contar pra eles as notícias.

“Ah, não...” Megohime abraçou o marido. “Que destino cruel...”

“Seria mais cruel se ele não tivesse realizado seu sonho...” Comentou Masamune.

“Pobre vovô Ieyasu...” Lamentou Iroha.

“Ah, já vai tarde! Aquele velhote tá vivo há tanto tempo que...” Tadamune calou a boca ao levar três cascudos na cabeça.

“Eu tenho que ir para Edo.” Masamune anunciou. “Parto ainda hoje.”

Iroha teve um sobressalto. “Edo! Tadateru está lá! Eu posso ir, pai? Por favor!” Ela implorou pro pai.

“É o que? Nada disso! Você não vai lá implorar pra se casar com ele!” Masamune retrucou. “É ele que tem que vir aqui pra implorar pra se casar com você!

“O QUE?” Tadamune gritou. “A maninha vai se casar?”

“Que noticia boa!” Megohime falou. “Devíamos dar uma gloriosa festa!

Masamune suspirou. “Gente! Por favor! O senhor Ieyasu está prestes a morrer! Não é hora para arranjar casamentos ou festas. Eu vou pra lá prestar minhas últimas homenagens. Mais nada.”

Megohime assentiu. “Você está certo, querido...” Ela deu um daqueles encantadores sorrisos. “Mande nossas condolências também...”

“Eu vou.” Masamune sorriu de volta. “Não sei quando vou voltar... Eu quero estar lá quando... Chegar a hora...” Masamune correu gritando ordens aos seus criados para prepararem sua carruagem.

Em alguns minutos, a carruagem de Masamune estava pronta. Ele já estava de partida, e se despedia de seus criados, amigos e família.

“Querido, o senhor Kojuro lhe desejou uma boa viagem. E disse também que lamenta não poder te acompanhar.” Megohime comunicou à Masamune.

Masamune suspirou. Kojuro Katakura foi e ainda era o seu melhor amigo e guarda-costas. Eles cresceram juntos como irmãos, e a amizade entre eles era inabalável. Mas Kojuro sofreu uma queda feia de cavalo, e perdeu todos os movimentos da cintura para baixo. As coisas nunca mais foram as mesmas, e ele ia cada vez mais perdendo a vontade de viver. Ele tinha mais ou menos a mesma idade de Masamune, mas muitos o confundiam com um velho, tamanha sua decadência.

Eu apoio você, Mestre Masamune, porque eu apoio a liberdade. Somente quando o Japão estiver livre das garras desses tiranos dominadores, a terra estará em paz. Masamune se recordou da frase que Kojuro disse, pouco antes da batalha de Sekigahara. Somente o senhor pode dar a tão sonhada liberdade para o povo do Japão, e por isso, eu lutarei até a morte por seu sonho!

E agora, lá estava Kojuro Katakura, preso numa cama para o resto de seus dias. Sim, o destino costuma ser cruel com as pessoas que não mereciam...

“Obrigado, Mego... Diga para ele se cuidar, ok?” Masamune tentou sorrir, mas a lembrança das duas tentativas de suicídio de seu melhor amigo eliminou qualquer possibilidade de sorrir. “Ei, Iroha, por que você não passa um tempo com o tio Kojuro? Ele disse que gosta quando você lê para ele.”

Iroha tentou disfarçar sua cara de desânimo, mas concordou. “Sim, papai.”

Masamune abraçou a filha. “Muito obrigado, Iroha... Eu prometo que voa acertas as coisas entre você e Tadateru. Nem que eu tenha que arrastá-lo para cá!”

Iroha riu e beijou o rosto do pai. “Até mais pai. Se cuida...”

“Pode deixar!” Masamune olhou em volta. “Ei! Onde está o Tadamune?”

“Ele sumiu de novo, pai!” Iroha disse “Deve ter ido arrumar briga com os amigos.”

Megohime suspirou. “É incrível como ele se parece com você, Masamune...”

O samurai riu, coçando a nuca. “Você acha? Eu pensei que eu era mais alto naquela idade...”

“Você achava? Eu fui mais alta que você até os catorze anos!” Megohime riu, abraçando o marido.

“Verdade... E agora...” Ele a agarrou e a levantou do chão. “As coisas mudaram com o tempo!”

Os dois riram bastante, e se beijaram enquanto Masamune erguia Megohime no ar.

Os dois foram interrompidos por um criado. “Com licença, senhor Masamune. Sua carruagem está pronta.”

“Ah, sim, claro...” Masamune botou sua mulher de volta no chão. “Eu tenho que ir... Minha princesa...”

Megohime sorriu. “Tudo bem... Mas não fique triste demais quando... O senhor Ieyasu...”

Masamune concordou, abraçando ela. “Megohime... Você cuida das coisas por aqui enquanto eu estiver fora?” Ele havia prometido nunca mais falar isso pra sua esposa. Era o que ele dizia antes de partir em todas as batalhas. E ele sabia que o pior medo dela era de não vê-lo voltando mais...

Os olhos de Megohime se encherem de lágrimas e ela mal segurou o choro. “Odeio quando você fala isso... Mas sim, eu tomo conta...” Ela enxugou os olhos. “E você vai cuidar bem de si mesmo enquanto estiver fora?” Essa era a resposta costumeira dela.

“Não prometo nada!” Masamune riu. “Até mais... Princesa...” Masamune beijou a mão de sua esposa e partiu para sua carruagem.

A carruagem coberta e luxuosa de Masamune viajava rápido pelas estradas de Oushu (Região norte do Japão). Não havia muito movimento naquela época do ano, e os cavalos de Oushu eram famosos por sua velocidade e resistência. Após algumas horas de viagem, eles já cobriram quase metade da distância da jornada.

“Muito bem... Assim, ao anoitecer, já devo estar em Edo...” Masamune murmurou para si mesmo, enquanto escrevia em um pergaminho.

E então, com um solavanco e o relinchar assustado dos cavalos, a carruagem parou. Masamune quase caiu pra frente.

“Ei! Quem mandou você parar, seu projeto de ogro?” Ele gritou, se levantando. Quando abriu a porta da carruagem e saiu, viu o cocheiro morto com três facas atravessando-lhe o peito. À frente, na estrada, um vulto alto e diabólico olhava para ele.

Com mais de 1,9 metros de altura, pálido como um cadáver, cabelos com a cor do fogo, lá estava ele. Kotaro Fuma, o demônio do Caos. Um guerreiro lendário dos tempos da guerra. Havia lendas sobre ele em todo Japão, todas sobre suas aparições nos campos de batalha e sua sede de sangue inimigo. Ele costumava servir o clã Hojo, até este ser destruído pelo clã Toyotomi. Depois disso, Kotaro Fuma saiu errante por todo Japão, deixando morte e caos por onde passava.

“Kotaro Fuma...” Murmurou Masamune, sacando seu sabre ocidental. “Então nos encontramos de novo...” Ele ainda guardava cicatrizes bem feias do último combate.

“Hahaha...” O demônio do Caos riu, olhando para Masamune como se ele fosse um verme. “Quem diria... O cachorro de Tokugawa que acha que é um dragão... Que oportunidade perfeita para derramar o Caos nessa terra...”

Masamune apertou com força o punho de sua espada. Ele não podia perder a cabeça contra esse adversário. Se tinha algo mais perigoso do que as habilidades de combate de Kotaro Fuma, eram suas habilidades de entrar na cabeça do oponente e destruí-lo de dentro pra fora. “Se eu sou um cachorro, então você é menos que um verme! Uma praga que está à solta desde a queda dos Hojo! Uma praga que vou exterminar hoje!” Ele gritou, mas ainda não atacou.

“Hahaha... Pensa que pode me vencer em meu próprio jogo? Eu poderia destruir sua mente, seus sonhos, esperanças... Tudo o que sobraria seria uma casca vazia penosa e insignificante, que eu eliminaria facilmente...” O demônio riu sinistramente. “Mas não seria divertido... Pretendo dar uma chance a você, e ver seu olhar de terror ao a vê-la escapar entre seus dedos... Sim... Isso seria bem... Satisfatório...

Sem mais esperar, o demônio atacou, correndo em disparada contra Masamune, com lâminas semelhantes a garras atadas nos braços. Masamune saltou para o lado e golpeou com a espada, que foi bloqueada pela estranha arma do ninja.

“Tolo...” Kotaro murmurou, fazendo um movimento rápido e atacando Masamune em seu ponto cego: o lado direito.

Mas isso era o que Masamune esperava. Em todas as batalhas, sempre o atacavam em seu ponto cego. Durante anos, ele treinou sua audição intensamente, para compensar a falta de seu olho. No começo foi difícil, mas Masamune agora já era um guerreiro calejado. Ele não desenvolveu apenas sua audição, mas também seus instintos. Agora, ele não considerava seu ponto cego uma desvantagem em combate. Ele se abaixou para se desviar do golpe, brandindo a espada para acertar o ninja na altura dos pés.

Ele teria cortado fora ambos os pés do demônio, mas este pulou com um mortal de costas, ao mesmo tempo em que chutava Masamune no rosto. Kotaro aterrissou em cima da carruagem do samurai, enquanto Masamune tentou se recompor do golpe que levara.

“Desgraçado...” Murmurou Masamune, cuspindo um pouco de sangue.

Kotaro riu. “Muito lento...” O ninja saltou da carruagem e atacou com uma velocidade inacreditável. Uma tempestade de golpes foi desferida contra Masamune, que fazia o que podia para se esquivar ou bloquear os golpes. Mas Kotaro era rápido demais, e Masamune estava sem sua armadura, e logo ele estava coberto de ferimentos.

“Maldito!” Masamune brandiu sua espada para afastar seu inimigo, mas este se esquivou e chutou-lhe o peito. Masamune voou 4 metros antes de cair no chão.

“Então é só isso?” Perguntou Kotaro, decepcionado. “Eu esperava mais... Mesmo vindo de um cachorro como você...”

Masamune tentou se levantar. Ele cuspiu mais sangue.

“Eu tive uma idéia...” Kotaro disse para si mesmo. “Vou matar você, e depois sua família inteira. Assim toda Oushu ficará sem um líder de direito... Mergulhando todo o norte do Japão no glorioso caos... Sim... Isso seria bem satisfatório.

Masamune se levantou automaticamente. “Você... Nunca... VAI ENCOSTAR UM DEDO NA MINHA FAMÍLIA!” Ele gritou, e mais rápido que Kotaro esperava, atacou. Masamune atacou impiedosamente, botando toda sua força de vontade em cada golpe.

Interessante... Pensou Kotaro, enquanto se esquivava e bloqueava. Ele fica mais forte quando está à beira do desespero... Ele não vai desistir mesmo se eu cortar suas pernas fora... Uma dor aguda interrompeu seus pensamentos. O sabre de Masamune finalmente o cortou, na altura do tórax. Droga! É Melhor eu me recompor... Com um movimento rápido, Kotaro pulou para trás, novamente em cima da carruagem coberta de Masamune.

Masamune aproveitou esse momento para recuperar o fôlego. Ele estava exausto. Essa última investida consumiu toda a energia que ele tinha.

O corte no peito de Kotaro era mais grave do que parecia. O sangue jorrava abertamente da ferida, e mesmo um guerreiro lendário como Kotaro não era imune à perda de sangue. Mas olhando para sua ferida e para seu próprio sangue, o ninja só riu. “Então parece que esse cachorro raivoso sabe morder além de latir... Interessante...”

“Calado!” Gritou Masamune. “Eu... Eu sou um guerreiro de verdade!” Flashes do seu passado retornaram à sua memória. O dia em que seu pai morreu... O dia em que ele matou seu próprio irmão... A grande batalha de Sekigahara, que mais parecia o próprio inferno... A batalha no cerco de Osaka, quando um guerreiro de armadura vermelha caia sob sua espada... “EU SOU O DRAGÃO!”

Masamune se sentiu coberto de energia. O trovão que explodiu no alto, que anunciava uma tempestade, foi como o rugido de uma fera que rasgava os céus. Sem mais avisar, ele saltou.

Kotaro tentou se esquivar, mas ele sabia que era inútil. Ele nunca tinha visto um guerreiro com tanta... Vontade. Masamune estava transbordando de vontade. Vontade de vencer e de viver. Essa era sua fonte de energia. Kotaro sabia que não podia vencê-lo.

O golpe de Masamune foi como um trovão. Um golpe em vertical tão poderoso que partiu sua carruagem ao meio. Os cavalos fugiram assustados como se estivessem sendo perseguidos por um predador feroz.

Kotaro Fuma foi cortado em pleno salto, em sua última tentativa de fuga. Agora ele jazia no chão, em uma poça de sangue, rindo de seu próprio destino.

“O que é tão engraçado?” Masamune perguntou, ofegante. “Você está morto.”

“Tudo isso é engraçado...” O demônio caído tossiu e cuspiu sangue. “Você pensa que vou morrer? Não... Enquanto existir Caos nesse mundo, eu existirei. Enquanto houver uma gota de desordem no oceano da paz, eu viverei.” Ele tossiu mais sangue. “Meu corpo pode morrer aqui... Mas o caos nunca morrerá...”

A respiração do demônio cessou, e ele deu sua ultima risada débil...

A chuva começou a cair fortemente, como os trovões anunciaram, enquanto o sol se punha.

E Masamune caiu inconsciente no chão.


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Notas finais do capítulo

E é isso! Me desculpem mesmo pela demora, tenho estado com um bloqueio ultimamente. O próximo capítulo virá logo, eu prometo!



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