Encarei Hipérion assim como ele me encarou a mim, depois da sua gargalhada – que agora declarei como irritante – calou-se e apenas me olhou com um ar surpreso. Em minhas mãos Atlantis parecia queimar de vontade para atacar, mas eu sabia que era apenas o seu efeito, e agora que notava bem, reparava que o ar em torno de nós estava realmente quente, como um dia ensolarado de verão, afinal, Hipérion albergou um dia o cargo que é agora do deus Apolo.

     - estou inclinado a te ajudar – ponderou enquanto fitava o mapa nas minhas mãos – estou á procura de algo á semanas, podemos sempre fazer uma troca que dizes? – fitei-o percebendo que pensava trocar a pérola pelo mapa e mordi o lábio, tinha sido um presente de Nyx, e se a deusa ficasse irritada? Eu não necessitava de mais uma para a lista ...

     Está tudo certo criança, sei que farás a escolha certa e a melhor. Surpreendi-me ao ouvir a sua voz na minha cabeça e dei um passo para trás encarando Hipérion que esperava uma resposta, bem, se Nyx concorda, porque não?

     - se me ajudares, eu dar-te-ei o mapa que Nyx me entregou – disse-lhe humedecendo os lábios. Hipérion olhou para mim e deu um sorriso, algo entre o cruel e o divertido, e apenas concordou enquanto abria caminho entre o deserto de árvores negras. Engoli em seco e segui-o, o calor continuava a aumentar, e antes que desse conta, vi-me na frente de um enorme rio de lava escaldante – como esperas que mergulhe nisso? – perguntei-lhe assustada. Ele encolheu os ombros e suspirou.

     - este é o local exacto da localização da pérola, com uma condição especial serás capaz de mergulhar no rio e pegá-la – olhei para ele de sobrancelha erguida.

     - que tipo de condição especial? – Hipérion soltou uma gargalhada e encarou-me em silêncio.

     - do tipo de bênção de um titã do sol – respondeu sarcasticamente. Caí de joelhos no chão ao sentir o meu corpo aquecer de repente, era como se a pele começasse a queimar. Olhei para as mãos e braços, céus, eu tinha um brilho avermelhado intenso. Ofeguei durante uns segundos e pouco tempo depois, mal conseguia sentir o calor ao meu redor, apesar de saber que ele estava lá. Dei-me conta de algo, Hipérion me havia dado a sua bênção. O que apenas podia significar que eu estava imune ao fogo – agora, será que me passas o mapa?

     - eu cumpro as minhas promessas – respondi de má cara passando-lhe o mapa para as mãos, e este acenou, desaparecendo da minha frente em chamas. Voltei a encarar o rio de lava, e o meu estômago apertou-se de ansiedade enquanto eu esticava o pé para entrar. Nada. podia sentir o calor invadir-me, mas não sofria queimadura alguma. Engoli em seco e apertei as mochilas ás minhas costas antes de pular para dentro do rio, mergulhando fundo.

     Ali não era a mesma coisa que no mar ou nos rios comuns, não havia peixes, não havia vida. Tudo era queimado pelo fogo. Mordi o lábio há medida que descia cada vez mais, até que vi algo brilhante no fundo. Nadei mais um pouco, sentindo depois a força enorme que a pérola emanava, céus, e se ao contrário do que Nyx dissera, eu também sofresse os seus efeitos? Parei a minha mão a centímetros de pegar a pérola azul brilhante, engoli em seco e finalmente lhe toquei. Mais uma vez nada. De verdade que era imune. Sorriu e voltei á superfície para me dar conta de algo extremamente perturbador .. eu não estava no mesmo sítio de antes. Céus, eu nem mesmo sabia onde diabos tinha ido parar! A areia não era mais negra ou cinzenta, mas sim tinha um tom púrpura escuro, as árvores invés dos ramos carbonizados estavam carregadas de folhas e algumas maçãs, na frente, existia uma caverna. Saí do Flegetonte e guardei a pérola na mochila junto com as roupas, não a fosse eu perder depois de tudo e olhei em redor. Deuses, onde me tinha enfiado? Será que havia saído do Tártaro? Ao longe vi um homem de longos bonitos cabelos prata sair pela entrada da caverna e corri para ele, vestia algo branco, como uma túnica grega, e a sua pele era pálida, contrastando com os olhos negros. Ele olhou-me e parou, um sorriso de canto apareceu no seu rosto.

     - já saímos do Tártaro? Onde estamos? – perguntei-lhe ofegante da corrida. Ele olhou para mim com uma sobrancelha erguida e suspirou.

     - céus, não vejo o que a minha mãe vê de especial para te ajudar, só por seres a filha de um titã não te faz menos irritante que os outros heróis – resmungou para ele mesmo antes de me olhar – sim, deixaste o Tártaro, filha de Oceanus, e estás na frente da caverna de Hypnos, o meu irmão trouxe-te aqui com ordem da nossa mãe – engoli em seco ao dar-me conta que o homem na minha frente era Thanatos, o deus da morte, e humedeci os lábios com nervosismo agradecendo mentalmente a Nyx por me ter ajudado mais uma vez.

     - como posso sair daqui? – questionei de novo, ele parecia entediado, e eu certamente não queria aborrecer o deus da morte certo? Apesar de vomitar nos sapatos de Hades e chamar-lhe filho da mãe ser bem pior ..

     - tsk, descobre sozinha, sou o quê, algum tipo de mapa? – resmungou antes de desaparecer numa fumaça negra. Eu olhei estática para o local onde o deus tinha estado. Rude, extremamente rude. Pensei enquanto olhava para os lados e só então para a caverna. Céus, eu não queria ir até Hypnos, provavelmente adormecia. Dei a volta e olhei em redor. Óptimo, estava perdida, assim como a profecia previra.