Abri os olhos para o escuro e pestanejei duas vezes tentando clarear a minha visão. Ouvi murmúrios de fundo e tentei seguir as vozes. Foi então que os vi ao longe e toda a sala se iluminou. Era um grande salão pintado de branco e azul marinho. Nos cantos e na direcção do trono, várias gravuras de cenas gregas estavam expostas, assim como inúmeras estátuas de deuses, titãs e seres mitológicos.
    Aproximei-me e permaneci nas sombras - ou assim eu pensava - a tentar ouvir o que eles falavam. Reconheci um dos homens como o meu pai - Oceanus, o titã dos mares, com rebeldes cabelos e barba avermelhados da cor dos meus e os olhos azuis-esverdeados que eu havia herdado - ele usava uma t-shirt branca com uma camisa de surfista aberta por cima e uns calções pretos pelos joelhos. Remexeu um poucos os pés e as sandálias roçaram o chão provocando um barulho agudo. O homem na sua frente encarou-o um tempo em silêncio, passou a mão pelos cabelos castanhos com um brilho dourado assim como os olhos e só então se sentou na cadeira livre, á frente do trono onde o meu pai estava sentado.

    - então como ele está? Alguma novidade? - perguntou o meu pai com um sorriso de canto.

    - feliz é que não está não é? Não depois do que fizemos no passado de qualquer maneira - murmurou a ultima parte baixinho. O meu pai soltou uma gargalhada alta e o outro continuou - mas triste também não está.
   
    - é claro que não deve estar feliz. Tens que admitir Céos, não deve ser nada divertido ficar sem os .. Ahm .. - riu enquanto fazia dois zeros com a mão e os juntava. O outro juntou-se ás risadas e concordou silenciosamente. Dei um passo para a frente tentando ouvir melhor e ofeguei, dando-me conta de que aquele homem ao lado do meu pai era Céos, o titã da inteligência.

    - sempre gostei do teu humor, essa é a verdade - informou Céos sorrindo.

    - graças aos deuses que a Serina ficou com o meu humor, imagina se ela pegasse a idiotice do Apolo? - gargalhou de novo e só então franziu a testa como se se lembrasse de algo - de que lado achas que ela irá ficar?

    - não sei, mas tudo aponta que ela ficará no lado dos Olimpianos, ou então que não escolherá um lado .

    - mesmo se mostrarmos o garoto? Talvez ele consiga mudar as ideias dela .. - perguntou o meu pai trocando o peso de uma perna para a outra e apoiando a cabeça nas mão esquerda. Céos pareceu pensar um pouco.

    - talvez, as hipóteses que resulte são altas. Afinal ela têm bastante sangue titã, e não foi apenas o teu humor que ela herdou - ponderou o titã com um sorriso enquanto batia os dedos da mão direita no encosto da cadeira. Eu prendi a minha respiração ao dar-me conta de que conversaram sobre mim e reprimi o desejo de avançar para a frente. Deuses, se aquilo era um sonho, porque eu tinha tão pela noção das suas presenças fortes dentro da sala? Era como se me sufocassem. O meu pai olhou na minha direcção e sorriu. Por segundos pensei que ele era capaz de me ver e fiquei assustada. Deuses, aquele era um sonho, apenas isso. Eu estava a divagar, estava assustada, isso tinha mexido com a minha imaginação. Mas não era bem assim, no fundo eu sabia que era verdade. E tudo isso se clareou quanto ouvi o meu pai chamar-me.

    - Serina, não achas que é má educação ouvir a conversa dos outros? - perguntou com um sorriso de canto. A minha respiração dificultou-se, mas não o demonstrei. Pelo contrário, avancei na direcção deles sentindo os meus pés meio que flutuarem do sonho e curvei-me um pouco na frente do meu pai. Só então olhei para Céos e vi que este me encarava. Como se me estudasse. Percebi que talvez isso fosse normal para ele quando este olhou para o meu pai, encarando-o, como se esperasse que ele dissesse alguma coisa. Claro, Oceanus também o percebeu e sorriu para mim estalando os dedos e fazendo aparecer um trono menor em tons de azul escuro e azul claro na sua direita - para a princesinha das profundezas do mar - ele disse gesticulando na direcção do trono menor ao seu lado. Engoli em seco enquanto me sentava ao lado do seu trono azul escuro reluzente e encarava Céos com algum receio - bem, passemos ás apresentações - ele disse antes de uma gargalhada - este é Céos, ele é teu tio - informou-me e então voltou o rosto para o titã da inteligência que o encarava aborrecido - e esta é a Serina, minha filha meio-sangue que têm a bênção de Hipérion. Uma beleza não é? - senti as minhas bochechas corarem quando vi que Céos concordava e então o olhar do meu pai caiu novamente sobre mim - agora princesa, não vamos fazer isso de novo okay? Os teus amigos estão á tua espera, é hora de saíres do mundo de Hypnos - ele disse um pouco reprovador antes de estalar os dedos e a minha visão embaciar-se. Então tudo ficou negro.

    Abri os olhos, voltando a fechá-los de novo quando a luz incidiu directamente sobre eles. Praguejei alguma coisa e voltei a abri-los, dando de caras com um tecto dourado. Sentei-me com o susto e olhei em redor. Estava dentro de um salão. Desta vez na realidade. A minha mochila estava colocava ao meu lado. Percy, Annabeth, Sally, Alina e duas garotas bastante semelhantes estavam na entrada, ao lado da porta. E ao meu redor estavam doze pessoas com cerca de seis metros de altura. Arfei enquanto os meus olhos se arregalavam de surpresa. Deuses, eu estava no Olimpo, e Zeus encarava-me como se fosse capaz de furar o meu crânio com o olhar. Sem dúvida, eu não tinha acordado na melhor altura.