The Clock. escrita por AnaBonagamba


Capítulo 2
Things that you'll never know.




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Novembro começou sem neve este ano, mas o frio que sentia naquela manhã fazia-me ter a sensação de estar a andar no Pólo Norte.

Como membro da Ordem de Fénix, não me podia dar ao luxo de passar os sábados a dormir em casa como antigamente, tentando resistir ao aroma do pequeno-almoço que a mãe preparava no rés-do-chão. Afinal de contas eu lutava contra o mal provocado por aquele cujo nome não deve ser pronunciado, se queria voltar à minha velha rotina sem ser atacada, e acordar sabendo que todos os meus amigos e as suas famílias estavam bem e em segurança, e não na expectativa de ver o meu pai chegar com uma má noticia sobre alguém conhecido, tinha de fazer alguma coisa.

Inclinei-me para uma das várias vitrinas da rua Knockturn, tentando perceber o que estava exposto através do vidro empoeirado. Recuei com as sobrancelhas cerradas ao perceber que olhava para um jarro cheio de cabeças encolhidas. Atrás de mim uma campainha tocou quando um homem alto e moreno entrou na loja, reconheci-o imediatamente, era Quevedo, um traste de pessoa que milagrosamente tinha escapado a Azkaban e continuava a sua vida anterior tão arrogantemente, que era incrível que não o tivessem de novo levado a tribunal.

Aproximei-me da vitrina da loja onde ele entrara, Borgin e Burkes, que como sempre parecia não ser limpa há cinquenta anos, e coloquei uma escuta no vidro que estava ligada ao meu ouvido. Fingi olhar com interesse o jarro cheio de olhos que estavam expostas na montra. Qual é o problema destas pessoas com estes estúpidos jarros? Perguntei-me mal-humorada.

- Bom dia Mr. Quevedo, estou a ver que recebeu a minha mensagem ontem, lamento que tenha sido numa hora tão tardia, espero não o ter incomodado. – Disse a emprega com um sorriso, não devia ser muito mais velha do que eu, era loira e parecia seriamente deslocada naquela loja escura e suja.

- Bom dia Susy, não te preocupes com isso, afinal fui eu que te pedi para me avisares logo que chegasse, independentemente da hora. Como está o teu avô? – Quevedo sorriu enquanto falava à empregada num tom bem-disposto e jovial, o que me surpreendeu, visto que sempre que o ouvira dava a sensação de ser um bruto desmiolado.

- Oh! O meu avô está óptimo como sempre. – Sorrio enquanto se baixava atrás do balcão e remexia em alguma coisa. – Sabe como ele é, sempre jovem. – Levantou-se e colocou um pequeno embrulho na superfície de madeira gasta sem tomar muita atenção. O motivo dessa distracção estava tapado pelo Devorador da Morte.

No entanto este pareceu não ligar ao que quer que fosse que ela estava a fazer e apressou-se a abrir a encomenda, retirando um relógio de bolso de aspecto antigo, feito do que parecia prata, sem perder tempo começou a examina-lo, procurando algo que negasse a sua autenticidade.

- Ah! Quevedo! Bem me parecia ter ouvido a tua voz, como estas? Bem como sempre não é? – Deu uma gargalhada depois de responder à sua própria pergunta. – Vejo que finalmente conseguiste o velho relógio de Slytherin.

Eu não me lembrava daquele Mr. Borgin, devia ter quase 90 anos, usava bengala e de entre a sujidade que me escondia das pessoas lá dentro, consegui ver pelo menos 4 dentes na sua boca. O que fazia do homem com quarenta anos que eu via normalmente ao balcão Mr. Borgin Jr., talvez a loira fosse a sua filha.

- Sim, finalmente, pensei que fosse uma lenda, ou que se tivesse perdido ao longo dos séculos, foi definitivamente uma sorte tê-lo encontrado, e ainda por cima em tão bom estado!

- Ouvi dizer que era indestrutível sabes. – Os dois homens riram.

- Avô. – Mistério resolvido sobre a identidade dela pensei. – Quem são estes dois?

Mr. Borgin Sr. pegou na moldura que a neta lhe estendia, tirou os óculos do bolso e levou algum tempo até acertar na posição correcta para conseguir ver. – Oh! Onde estava isto? – Parecia surpreendido. – Não via esta foto há muito tempo.

- Estava aqui no balcão, na última prateleira. – Mr. Borgin mostrou a imagem a Quevedo que se inclinou para a frente de modo a conseguir ver melhor.

- Não pode ser! – Disse num tom de voz tão baixo que quase não consegui ouvir.

- Sim, sim, é o jovem Lord quando trabalhou para mim após sair de Hogwarts. Esta jovem, cujo o nome definitivamente não me lembro. – Disse num tom aborrecido. – Esteve cá coisa de dois ou três meses, lembro-me que ela desceu as escadas com um ar apressado e a chorar, disse-me que tinha de ir embora e que o jovem Mestre estava de cama com uma febre muito elevada, saiu por aquela mesma porta. – Apontou para a porta da loja. - E nunca mais a voltei a ver. Não se preocupou com o ordenado ou com os seus vestidos.

- Eles parecem tão apaixonados! – Suspirou Susy. – Nunca imaginária que o Quem Nós Sabemos pudesse ficar assim.

Seguiu-se um momento de silêncio, em que todos pareceram olhar para a maldita fotografia que eu não conseguia ver.

- Adorava ficar a conversar sobre os tempos a juventude do meu senhor, mas tenho outros assuntos a tratar. – Disse Quevedo de repente, e colocou um saco de moedas no balcão e virou as costas em direcção à porta.

Apressei-me a tirar a escuta do vidro, que deixou uma marca no pó, ajeitei a roupa, puxei o capuz para cima, tentando ocultar todos os meus cabelos ruivos e precipitei-me contra Quevedo que acabara de sair da loja com o relógio na mão.

Por milagre consegui tirar-lho, mas não contei com o facto de ele se desequilibrar, e me empurrar por algum motivo para dentro da loja.

Acabei por bater contra a porta com mais força do que desejava e a gravidade completou o resto da acção atraindo-me como uma pedra, para uma queda embaraçosa no meio do estabelecimento, no entanto consegui ouvir o sonoro crack que o relógio emitiu quando o meu peso caiu sobre ele.

Atordoada consegui sentar-me no chão, puxei o capuz mais para cima, desta vez não para cobrir o cabelo, mas para cobrir o meu rosto que deveria estar vermelho. Recolhi o mais rapidamente que pude o relógio e uma ou outra peça que tinha saltado para fora do mecanismo, enquanto mentalmente me ria do que tinham dito sobre a indestrutibilidade do mesmo. Terminei de me levantar e virei-me para a porta, o que vi fez-me paralisar, na rua estava uma grossa camada de neve, continuei a olhar estarrecida até sentir uma presença atrás de mim.

Olhei por cima do ombro à espera de ver a loira, mas o que vi quase fez o meu coração quase parar, como se não basta-se o facto de a neve lá fora estar intocada, o meu pior pesadelo desde o segundo ano, olhava com as sobrancelhas franzidas para aquele fenómeno, tão intrigado como eu estava à momentos.

Tom Riddle.

Estava mais velho do que no seu diário, devia ter uns vinte e poucos anos, as suas feições estavam mais definidas, e tinha crescido alguns centímetros. Arrepiei-me e voltei-me de repente para ele fintando-o nos olhos, coloquei o relógio no bolso e apertei-o até sentir o vidro partido do mostrador ferir-me a mão.

Eu não ia sobreviver a este encontro disse-me uma vozinha algures na parte de trás do meu cérebro. E eu concordei com ela.


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Notas finais do capítulo

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