Enfim cá estou eu caminhando para minha nova sala acompanhada da diretora e todos os olhares sobre mim.

Já tinha me acostumado com isso, mas não esperava notar surpresa e deslumbramento em vez de zombaria ou descaso.

A mulher parou na porta falando algo com o professor que estava dando aula antes de se voltar para mim.

-Bem-vinda – disse ela solene me dando passagem

Assenti enquanto entrava na sala repleta de alunos que me olhavam curiosos.

-Bem, senhorita... – disse o professor me olhando

-Scalat – o ajudei me voltando para ele enquanto ouvia os gritos de espanto de todos.

Ele piscou atordoado, depois assentiu com a cabeça mesmo ainda estando surpreso por me ver ali.

-Sente-se, por favor – recomendou ele gesticulando para algumas cadeiras vazias.

Ajeitei a alça da minha bolsa no ombro e logo depois fui me sentar numa cadeira ao lado da janela. Era engraçado ver o choque nos rostos das pessoas enquanto me sentava, mas não estava ali para brincadeiras.

Martin era meu objetivo e iria proporcioná-lo da melhor maneira que quisesse.

Retornei meu foco a aula que se tratava de Física, o assunto que o professor ensinava para mim já era fichinha, pois já tinha visto antes no Instituto.

Vipers.

Não tinha visto eles quando sai do colégio ontem, bem provável que não quisessem despedidas já que viriam para cá também.

Três dias atrás nem me preocuparia com isso ou qualquer coisa relacionada, mas o mundo dá tantas voltas que me deixa zonza.

Deixei meu olhar recair em duas lideres de torcidas oxigenadas que comentavam sobre um aluno novo que chegara ontem no colégio. Pelo modo como falavam ele deveria ser uma perdição sem tamanho.

Voltei meu foco para o professor que continuava sua explicação, mas nem dava atenção. Comparada com as aulas no Instituto, aquilo iria ser muito tediante.

Encolhi-me na cadeira cruzando os braços e lutando para não dormir até que o sinal tocasse para que outro professor entrasse e fizesse seu trabalho.

Dessa maneira foi se seguindo todas as aulas onde tive a vontade de dormir, mas me segurei para não fazer esse papelão.

Alguns alunos vieram falar comigo tentando serem amigáveis ao segundo que queriam saber porque voltei. Mentia dizendo que o Instituto não era meu lugar, as pessoas eram mesquinhas demais.

Uma mentira deslavada, mas que colou com força.

Quando o sinal tocou para o tempo livre, guardei minhas coisas na bolsa e ajeitando meu cabelo em um ombro sai da sala rumo a cantina onde certamente encontraria quem queria. Notei que todos já sabiam da minha volta e me olhavam incrédulos e curiosos. Loucos para saberem a razão de estar ali.

Se fossem inteligentes logo sacariam o motivo.

Entrei na cantina ouvindo as inúmeras vozes que cessaram bruscamente ao me verem. Tornei meu olhar sereno e fui comprar meu lanche antes de ver quem eu almejava, só que não foi preciso fazer isso já que quando colocava a soda na minha bandeja ele ficou na minha frente debruçando-se na minha direção.

-Olá, Martin – disse calma enquanto colocava uma pêra na minha bandeja.

-Sentiu minha falta não foi? – indagou ele com escárnio

Voltei meus olhos para ele vendo a expressão de deboche que tinha misturado ao desejo. Minha mão coçava com a vontade de esbofeteá-lo.

-Talvez – disse dando de ombros.

-Se quiser podemos repetir a dose de antes – insinuou ele

Então como se tivessem quebrado a corrente que prendia aquele fato, tudo veio à tona com uma velocidade monstruosa que fizeram minhas mãos tremerem e a postura firme e desinteressada ser reduzida á nada.

-O que foi? – perguntou ele numa voz inocente – Está com medo do que?

Não respondi queria primeiro ajustar minhas emoções que estavam descontroladas.

-Vamos, Scalat – instigou ele – Sei que você voltou porque me queria de novo. Sei que é verdade.

-Vai sonhando – disse uma voz firme enquanto braços me envolviam e os fios negros de Amanda obstruíam minha visão.

Consegui ver a expressão de choque aparecer no rosto de Martin antes que me afastasse de Amanda olhando para ela surpresa ao ver a fúria emanar por todo seu olhar.

-Que cara mais otário – resmungou atrás dela acompanhado de Gregory e Isaac que olhava para Martin irritado.

-Não acredito – disse Suzanne incrédula passando a frente de Martin e encarando Amanda com um sorriso de escárnio – Amanda?

Ela apenas arqueou a sobrancelha fazendo Suzanne gargalhar seguida de Martin que se controlou mais rapidamente.

-Vocês não mudaram nada – concluiu Amanda cruzando os braços.

-Não creio que teve coragem de pisar aqui – disse Suzanne em meio aos seus risos – Parabéns por ser tão hipócrita.

Corri meus olhos dela para Amanda que estava seria demais.

-Do que ela está falando, Amanda? – perguntei a encarando

-Não me diga que não sabe? – indagou Suzanne me olhando com descrença – Por serem farinha do mesmo saco deveriam saber disso não.

-Não é que gostei da vadia – disse Isabel pondo uma mão no ombro de Al

Suzanne a olhou com certa fúria.

-Do que foi que você me chamou? – perguntou ela colocando as mãos na cintura

-Como se você não fosse uma – respondeu Isabel a olhando aversiva

-Sua...

-Poderiam controlar a língua de vocês enquanto minha namorada está por perto? – indagou alguém passando seu braço ao redor do meu pescoço.

Igual aos demais voltei meu olhar para o cara ao meu lado tentando não demonstrar surpresa ao ver que se tratava de Zero.

-Prove – instigou Suzanne certa de que não éramos namorados.

Seus lábios formaram um sorriso antes de me puxar para mais perto de si mordendo minha orelha. O que causou um tremendo arrepio em mim que vi Suzanne ficar vermelha de raiva batendo o pé com impaciência.

-Isso não é o suficiente – declarou ela nos olhando com descrença e pura raiva.

Ele deu um suspiro de derrota. Minhas pernas estavam bambas, temendo que com isso fosse mais ridicularizada e levasse os demais juntos comigo, mas para meu total espanto Zero uniu nossos lábios em um beijo inesperado e que tinha gosto de morango com hortelã.

Minha mão impulsivamente agarrou seu cabelo enquanto ele tentava aprofundar o beijo explorando o que pudesse da minha boca. Seus lábios eram ardentes que por um segundo me esqueci de tudo querendo apenas tê-los colados aos meus, só que como um lembrete à imagem da ruivinha entrou em foco e me afastei dele.

O olhei por um segundo com fúria antes de despejá-la no tapa que marcou seu rosto.

-Ainda estamos brigados – disse enfática – Não me perturbe.

Em seguida puxei Amanda pelo pulso deparando enquanto saia com Nemesis. Meus olhos se umedeceram.

-Desculpe – murmurei ao passar por ela.

Vislumbrei um sorriso em seus lábios ao sair da cantina. Balancei a cabeça incrédula.

Deveria estar ficando louca.

-Scalat – disse Amanda ficando ao meu lado

-Depois – disse seria enquanto a guiava para um dos bancos próximos a quadra.

A lembrança de Martin retornou no mesmo instante, mas a afastei com violência me virando para Amanda.

-Compactuei com aquele teatro lá dentro – disse seria – Agora eu quero a verdade de tudo.

Os olhos dela pareceram sair de foco por um segundo antes de voltar à tona junto com o suspiro dela.

-Passei pela mesma situação que você Scalat – começou ela vendo a serenidade permanecer em meu rosto – Anos atrás estudei aqui, queria ser líder de torcida para ser uma das populares, mas para fazer isso tinha que fazer algo mais além do teste para que fui admitida.

Procurei me sentar indicado que ela fizesse o mesmo, só que ela preferiu ficar em pé.

-O irmão de Martin era capitão na época e ele tinha acabado de entrar no time – retomou ela oca – Meu teste era de escolher um deles e você sabe... Pensei que aquilo seria fácil, era apenas seduzir, ficar e quem sabe ter um deles como namorado. Só que não foi isso que aconteceu quando escolhi Joe. Ele era um doce de pessoa até que me expôs da pior maneira possível para todos.

-Igual a mim? – balbuciei chocada

Ela meneou cabeça negativamente.

-Nada de vídeos ou fotos, ele preferiu ao vivo e á cores mesmo, me deixou nua para todo o colégio ver enquanto ele assistia de camarote com os outros – disse ela com um olhar opaco.

-Por que isso? – perguntei levando minhas mãos a cabeça.

-Faz parte do grupo deles – respondeu ela calma – É uma tradição que os jogadores e as lideres de torcida humilhem alguém para serem notados, pra mostrarem aos demais que não devem mexer consigo.

Trinquei os dentes tentando dissipar a indignação que me tomava. Então era esse o segredo que tinham, foi por isso que ela me instigava querer vingança.

-Você me usou – disse solene a olhando

-Não – negou ela seria – O que Martin fez é algo que precisa ser vingado, parado. Já cuidei de Joe algum tempo atrás.

-Quanto tempo?

-Cinco anos – respondeu ela – Agora ele está numa escola reformatória.

-Por sua causa – refleti seria

-Em parte – disse ela – Entenda Scalat, Isaac me tirou daqui naquela época com o desejo de nunca mais voltar, mas quando me contaram o que aconteceu com você...

-Então não foi a Nemesis que me colocou no Instituto? – a interrompi                              

-Não, fui eu que pedi a Derick para abrir apenas essa exceção – disse ela solene – Não queria que fizesse uma loucura por conta disso.

-Você poderia ter me contado – disse seria

-É meio difícil de falar sobre isso.

Notei sua expressão de desconforto em seu rosto e vi que falava serio. Dei um suspiro forte enquanto pensava em tudo que aconteceu minutos atrás.

-Se quiser podemos parar por aqui – sugeriu ela

-Não – disse autoritária – Pensando melhor existe alguém mais que merece uma lição.

Ela arqueou a sobrancelha antes de compreender a quem me referia.

-Suzanne – concluiu ela seria

-Essa sim o assunto é vingança – reforcei deixando minha voz firme.

Ela respirou fundo antes de me olhar.

-Tem certeza?

-Absoluta – disse convicta

-Então é hora de botar fogo nessa escola – satirizou ela com um sorriso brotando de seus lábios.