Lisbete podia ver o sangue escorrendo da parede até o chão. Ela se debruçou dos braços da sua mãe e fechou os olhos. Depois da alguns segundos viu os gritos de Rosely, sua empregada.

     O sangue que estava no carpete estava arroxeado, indicando que havia se passado mais de algumas meras horas. Ela sentia um gosto de veneno nos lábios, era um gosto estranho.

      Os acontecimentos que se seguirem depois não foram do conhecimento dela. Como uma criança de cinco anos poderia entender aquilo?

        Abraçada debaixo de uma mesa, era segurava sua boneca de porcelana contra o peito. Naquele dia, ela pouco fez, além de ficar sentada fitando o nada. Ela era invisível para os olhos de qualquer um.

          Quando soou  meia noite ela ainda estava em baixo da mesa. Encolhida de olhos fechados. Quando sentiu uma voz roca, mas mesmo assim calma e acolhedora. Ela abriu os olhos, e saiu da mesa, sua boneca Loren, balançava as perninhas em cima da mesa piscando os olhos, e sorrindo:

           - Como se sente??

           Lisbete, não pareceu entender muito bem, porém não se sentia assustada, muito menos amedrontada:

            - Mal !!

            - Pobre criança!!

            A boneca começou a alisar os cabelos mel de Lisbete, sorrindo, com o mesmo ar acolhedor.

             - O que posso fazer por você?

             - Me levar para longe daqui...

             A boneca sorriu, e olhou para Lisbete de um jeito não muito acolhedor.

             - Posso fazer isso... mas vai ter que me fazer um favor... um lindo e belo favor.

              A boneca escorregou da mesa até o chão, com mais agilidade da qual um gato utiliza para pular de uma árvore. Ela então caminhou até para porta que saia para o jardim. Lisbete a seguiu.

              A noite naquele dia, estava estranha. Uma neblina no céu tampava as estrelas, e a lua não podia ser vista. Apesar de pequena, a boneca não parecia enfrentar problemas ao atravessar o jardim da mansão, nem ao enfrentar a fria rajada de vento.

              A boneca então parou em um imenso carvalho, com um buraco no tronco. De dentro dele a boneca tirou um punhal de vidro,enrolado em pano de seda vermelha.

               - Não vai doer nada.

               Lisbete, ouviu essas palavras da boneca, parecendo que vinham de um lugar muito distante. Ela fitava o carvalho, quando sentiu uma dor imensa atingir seu braço, e um sono inconfundível tomar conta dela. Quando olhou para baixo viu um extenso corte no  seu braço, que ia do pulso percorrendo metade do ante-braço.

                A boneca jogou por fim o punhal no chão, e limpou o corte com o pano de seda vermelha. Antes de desmaiar, ela viu o rosto da boneca, sendo tomado por um tom negro, e uma risada.

             Lisbete acordou de repente, debaixo da mesa, com sua empregada balançando seu minúsculo corpo.

             - Garota o que é isso no seu braço ?

             Lisbete olhou para seu braço, o qual tinha uma marca extremamente vermelha, um vermelho púrpura, mas não havia corte nem sangue. Mas outra coisa atingiu seu pensamento.

              - Onde está minha boneca?