Wicked Mind escrita por Aphroditte Glabes


Capítulo 1
Capítulo 1 - Floresta do Desespero


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo... ansiosa



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Ela acordou quando o sol estava nascendo. Com os cabelos castanhos cacheados cheios de folhas e o vestido rasgado. Levantou-se rapidamente segurando-se nos galhos próximos sem entender o que estava fazendo ali, em meio às arvores.

 

Com a cabeça girando, Filipa tocou com a casca da arvore com a ponta dos dedos finos e pálidos. Um ruído as suas costas a distraiu. A garota se virou rapidamente e depois se voltou novamente para a arvore.

 

-O que estou fazendo aqui? – ela perguntou com os lábios apertados contra a arvore.

 

-Pssssiu – ela ouviu um sussurro as suas costas – Pssssiu, você é nova por aqui?

 

-O que? – perguntou Filipa, atordoada.

 

-Qual é seu nome? – perguntou a voz.

 

-Filipa – ela disse, com uma súbita lembrança vindo à mente – E o seu?

 

-Mona – disse a voz, hesitante – Mona Garrowson.

 

-Mona – repetiu Filipa, cansada – O que estou fazendo aqui? O [i]que[/i] é aqui?

 

-Aqui é uma floresta em lugar nenhum. Para meio-sangues, como nós, sermos caçados até a morte e servirmos de diversão para os queridos deuses vindos da Grécia.

 

-O que? – perguntou Filipa, com um sorriso nos lábios – Deuses gregos não existem. Apenas o Senhor Deus.

 

Mona riu baixinho, com desprezo.

 

-Eu também pensava isso, antes de ser trazida para esse lugar por causa do desgraçado do meu pai. Minha mãe nunca pode me criar, foi presa quando eu havia recém-nascido, pois eu não tinha pai. Fui criada por uma ama de leite, até alguns meses atrás.

 

-Quem é seu pai? – estremeceu Filipa.

 

-Não me agrada dizer o nome dele. Mas se quer mesmo saber, o nome dele é Hades.

 

-Hades, o deus dos mortos? – perguntou a garota, ofegante.

 

-Sim, e você? Quem é seu pai ou sua mãe?

 

-Eu não lembro de nada – disse Filipa, sentando no chão cheio de folhas secas.

 

-Sorte sua! Espere, vou aparecer!

 

 

Com um sobressalto, Filipa sentiu algo cair ao seu lado. Mona estivera o tempo todo em cima da arvore, observando-a. A menina recém-chegada tinha os longos cabelos loiros escuros presos em uma longa trança que chegava a cintura. Os olhos escuros eram amistosos, embora parecesse não confiar em Filipa.

 

Para Mona, Filipa era apenas mais uma meio-sangue perdida que não lembrava de nada, com certeza vinha de uma classe alta, pois o vestido de rendas azul estava apenas um pouco amarrotado.

 

-Você me assustou! – exclamou a morena – Preciso sair daqui. Como saímos?

 

-Não saímos – murmurou Mona – Nunca soube de ninguém que saiu, a não ser... Esqueça.

 

-Que ano estamos? – perguntou Filipa de repente – Eu não lembro...

 

-27 de fevereiro de 1887.

 

-O que? – perguntou Filipa, mais atordoada ainda – Lembro que... antes de desmaiar era dia 21 de fevereiro...

 

-Não é tanto...

 

-De 1259.

 

-Esqueça o que eu disse. É bastante!

 

-Como...

 

-Não sei!

 

-Por favor, quero sair daqui!

 

-Calada!

 

-Por favor...

 

-Calada! – disse Mona, dando um tapa na cabeça de Filipa – Estou os ouvindo chegar.

 

-Como sabe?

 

-Eles têm cheiro de morte. Siga-me!

 

Com uma agilidade surpreendente, Mona pendurou-se em um galho da arvore na qual Filipa estava encostada, a garota então, a seguiu. Subiram por vários metros, mas varias vezes eram atrasadas por Filipa que não conseguia segurar-se e arrancava galhos e fazia barulho. Quando finalmente chegaram ao topo da arvore, Mona pegou uma corda e a amarrou ao redor da cintura dela e de Filipa. Antes que a garota pudesse reagir, Mona pulou da arvore.

 

O grito desesperado de Filipa foi a única coisa que se ouviu, antes de ser abafado pela mão de Mona. As duas foram de encontro a uma arvore, mas não bateram e sim, atravessaram-na. Aquilo não era uma arvore. Era uma caverna, para falar a verdade.

 

A caverna era guardada por quatro guerreiros esqueletos, que fizeram Filipa encolher-se de medo. Sem esperar a garota, Mona caminhou lentamente em direção ao fundo da caverna. Os guerreiros esqueletos fecharam a entrada da caverna com pedras.

 

-Onde estamos? – perguntou Filipa, puxando a saia do vestido da outra.

 

-Espere e verá!

 

Seguindo obedientemente a outra, Filipa de repente viu-se diante de uma sala dentro do que parecia ser uma montanha. Havia uma fogueira no meio do salão, e ao redor haviam varias pessoas, sussurrando baixinho, mas quando viram Filipa, todos calaram-se.

 

-Irmão – disse Mona, com desprezo – Trouxe mais uma, Filipa.

 

-Mona, isso é arriscado. A ultima vez que você saiu e trouxe alguém, Maya morreu.

 

-Não precisava me lembrar, Charles.

 

-Esperem – interrompeu Filipa – Por favor, me expliquem tudo. Eu não estou entendendo nada. A ultima vez que me lembro eu estava... Eu estava... Estava na Rússia.

 

-Você é russa? – perguntou uma garota pequenina, de cabelos louros claros e olhos azuis – Eu sou islandesa.

 

-Ahhh, islandesa? De que pais é isso?

 

-Islândia.

 

-Não conheço esse país. Ele não existia, não existia no século treze.

 

-Você veio de século treze? – perguntou um garoto alto, de cabelos pretos e olhos verdes – Nós viemos do século dezessete. Aria e eu.

 

-Você é filho de quem?

 

-Poseidon – ele disse, estufando o peito – E Aria é filha de Héstia.

 

-Não entendo por que ainda estou aqui! Héstia nem é uma deusa poderosa! – reclamou Aria.

 

-Ela é filha de Cronos, e ela quebrou o pacto de virgindade eterna para ter você – lembrou-lhe o garoto.

 

-Vocês, por favor! – gritou Mona – Nós estamos aqhá MESES! Antes nós éramos quatorze, agora somos apenas seis. Quantos mais vamos termos que perder, até saberem que estamos em perigo?

 

Todos ficaram em silencio. Mona parecia liderar aquele grupo de [i]rebeldes[/i], e eles pareciam respeita-la.

 

-E vocês sabem que morremos apenas para diverti-los! – gritou novamente – Não queríamos nada disso! Nunca escolhemos ser filhos dos deuses, em primeiro lugar. Nós precisamos sair daqui, tentar não morrer!

 

-Conseguiu comida? – perguntou uma garota ruiva, com olhos cinzentos, mudando de assunto – Nosso estoque está acabando!

 

-Consegui algumas frutas e vários cantis de água do riacho, onde não tinha monstros!

 

-Ótimo – murmurou – Por favor, me passe água!

 

-Aqui – disse Mona, jogando alguns cantis para ela.

 

Depois de toda a comida ser distribuída, Mona preparava-se para outro round. As coisas provavelmente piorariam, mas Mona disse:

 

-Venha comigo, Filipa!

 

-O que?

 

-O que? – ecoaram os outros, e Charles continuou – Ela vai morrer, Mona. Como aconteceu com Maya...

 

-Não precisava me lembrar, irmão. Eu sei muito bem qual foi o meu erro. Não o cometerei novamente. Vamos, Filipa!

A garota foi atrás de Mona, que tirava uma espada de bronze celestial de um canto da caverna e a jogava para Filipa.

 

-Tome, pegue! Não a perca, e vamos logo, por favor!

 

-O que? Espere, Mona. Não quero ir...

 

-Você irá! Vamos, rápido. Antes que os monstros nos farejem!

 

-O que...

 

Depois que saíram da caverna, a porta foi fechada novamente atrás das garotas. Mona ia na frente, caminhando suavemente para não fazer nenhum barulho. Filipa seguiu a garota, com o mesmo cuidado.

 

-Ei, Mona...

 

-Psssiu.

 

-Mona!

 

-Quieta! Eles estão por aqui!

 

-Os monstros?

 

-É – disse a garota, puxando um arco que estava preso as suas costas – Saque a espada e cuidado! Não faça nenhum barulho...

 

Filipa pisou em uma folha seca, que produziu um barulho espetacular na mata silenciosa que as cercava. Mona sibilou com fúria e socou uma arvore próxima. Filipa começou a balbuciar desculpas sem sentido quando a mão de Mona tapou sua boca.

 

Com a mão ainda na boca de Filipa, Mona puxou-a até uma pedra no alto do morro onde estavam escondidas. Lá embaixo, um garoto baixinho e gordinho de olhos escuros e cabelo que parecia cor de vinho gritava:

 

-Alguém ai? Por favor, me ajudem!

 

Ele se calou quando viu um movimento num arbusto próximo de si. Um segundo depois, algo saltou de lá e o garoto começou a gritar novamente. O que saíra dentre os arbustos era uma mulher muito bela. Tinha a pele cor de café e os cabelos negros, mas os olhos eram vermelhos enquanto as presas cresciam.

 

Vampira, pensou Filipa tirando a mão de Mona da sua boca. Ajoelhou-se ao lado da pedra, assistindo tristemente enquanto a vampira drenava o sangue do garoto.

 

-Está vendo? – sussurrou Mona – É isso que acontece com quem fica aqui fora desprotegido. Lá em cima, quando os outros heróis matam os monstros, as cinzas deles voltam para cá, até estarem fortes o suficiente para se recomporem e voltarem para a Terra.

 

-Você sabe onde estamos?

 

Ela parecia estar sofrendo quando disse:

 

-Filipa, vou contar-lhe algo que nunca contei a ninguém. Dias depois de chegar aqui, alguém veio falar comigo. Foi meu pai – ela grunhiu a palavra [i]pai[/i] com o desprezo notável em sua voz – Ele disse para me cuidar, que aqui era o verdadeiro inferno. Estamos abaixo dos campos de punições, abaixo do Tártaro, debaixo de tudo que possamos imaginar. Aqui é o lugar onde os piores monstros estão trancafiados, até onde o criador do universo está. Caos e os seus filhos, Erebus e Nyx. Eles comandam esse lugar. Eles que nos trazem para cá.

 

Filipa ficou paralisada. Ela pensou que poderia ser ruim, mas era muito pior. Muito pior de tudo que havia imaginado.

 

-Mas o sol...

 

-É artificial, assim como a Lua que está sobre nós nesse momento.

 

-Eu gosto da Lua... – murmurou Filipa – Ela me lembra de nunca desistir, sempre acreditar nos meus sonhos!

 

Um sorriso crispou-se nos lábios de Mona. Ela que continue a acreditar em contos de fadas, pensou.

 

-Aqui você não pode sonhar com um final feliz, Filipa. Isso aqui é um pesadelo.

 

As garotas calaram-se. Depois que a vampira drenara todo o sangue do garoto, ela levantou-se e com uma suavidade extremamente estranha, saiu caminhando para a floresta novamente.

 

Mona saiu de trás da pedra seguida por Filipa, que não sabia exatamente o que a outra estava fazendo. Quando chegaram junto ao corpo seco do garoto, Mona revirou os bolsos, tirando algumas moedas de ouro e mais nada.

 

-Temos que voltar, o sol logo vai nascer e os monstros vão voltar para suas tocas acima das arvores. E se nos ouvirem, nós estaremos mortas.

 

-Mas, eu quero sair daqui!

 

-Guarde seus sonhos para alguém que queria ouvi-los. A vida não é justa!


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Notas finais do capítulo

Gente, desculpem uma coisa. Ali Filipa diz que não sabia sobre a Islândia, mas esse país foi descoberto no século X. Então, milhões de desculpas por isso!



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