E Agora? escrita por Yokichan


Capítulo 1
Único.


Notas iniciais do capítulo

O começo do fim.



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Faz exatamente uma semana que você me proporcionou o segundo pior dia da minha vida. O primeiro? O dia em que você disse amargamente que me odiava e desapareceu. Eu imaginei que fosse para sempre, e agora eu volto a ter essa sensação. Desta vez, será mesmo para sempre? Se for, eu só tenho uma pergunta a fazer – e sei que ela tão cedo não será respondida. E agora?

 

“E, queria dizer adeus.” – você disse, e foi como tudo começou.

 

         Naquela tarde, eu estava estarrecida. Eu não conseguia agir normalmente, tudo parecia impossível demais, eu não podia acreditar que você estava se despedindo e não queria que ninguém percebesse meus olhos molhados e meu nariz vermelho. Estupidamente, eu armei um escudo impenetrável ao redor de meu coração e me tranquei ali. Era o único modo de não desabar, aquela era a minha única defesa.

 

“Isso não tem futuro, nós dois sabemos.” – você continuou. – “E nos últimos dias, isso tem trazido mais tristezas do que alegrias, e pelo que eu sei, isso não vai acabar.” – tudo era verdade, eu sabia.

 

“E você vai ficar legal sabendo que podemos nunca mais nos falar, pra sempre?” – perguntei. – “Isso não te perturba?”

 

         Sinceramente, eu queria ter gritado e implorado pra você ficar ao invés de fazer essa pergunta. Eu queria ter repetido o quanto eu te amo, queria ter prometido que ficaríamos bem, mesmo sem ter certeza de nada. Mas agora eu entendo minha frieza: eu estava em estado de choque, enregelada.

 

“Eu sumo, arrumo alguém, paro de pensar em ti, não sofro. Você pára de pensar em mim, fica com seu namorado, casa, tem filhos, vira de um homem só. Sua vida fica perfeita.” – você sugeriu, verossímil.

 

“Isso vai ficar pra sempre pra mim como algo inacabado, por isso não posso esquecer.” – argumentei, contida por trás de meu escudo.

 

“Qual o fim disso? Nenhum.”

 

“Não, você está errado.” – afirmei, entorpecida.

 

“Não, você está errada.” – você contestou.

 

“Não.” – meu peito era uma locomotiva caindo para fora dos trilhos.

 

“Sim, não tem fim. Me dê um fim.” – você pediu.

 

“Isso não pode ter um fim sem que a gente se veja um dia. Então não importa quanto demore, não vai ter um fim sem que esse dia chegue.” – a afirmação jorrou torrencialmente do fundo de meu coração.

 

         Por Deus, eu nunca menti pra você em todo esse tempo, nos dois confusos anos em que tentamos nos estabelecer entre altos e baixos. Eu apenas menti para mim mesma, porque a realidade não era o que eu queria. Não era como eu queria.

         Eu engolia os soluços, lutando para me manter ali, firme.

 

“É melhor, não tente se enganar, você sabe disso. Talvez eu venha a me arrepender, caso aconteça, por favor ignore-me, suma, sei lá.” – eu ainda espero por sua recaída. – “Não te odeio. Te amo mesmo, só quero o melhor pra ti e pra mim também. Não quero ser mais o idiota enquanto você julga seu namorado ‘o inocente’ por não saber de nada.” – nada daquilo seria o melhor para mim.

 

“É, eu tenho orgulho de você.” – porque você era forte, ao contrário de mim. – “Eu nunca conseguiria deixar você, por vontade própria.”

 

         Eu ainda não conseguia entender o que era aquilo. O que eu estava sentindo? Era como acontecera há dois anos atrás, quando eu senti que nada mais seria bom longe de você, mas desta vez era pior. Não éramos mais duas crianças brincando de amar, não éramos mais dois personagens. Agora éramos reais, entendíamos o que queríamos, e por isso a dor era estupenda.

         Antes de você partir, eu pedi para que você aceitasse o diário que eu havia escrito sobre você, sobre nós, por todos aqueles dias até então. Você não quis, talvez por medo de uma recaída, talvez por indiferença.

 

“Se não vai se livrar dele, guarde. Se sofrer com isso, agüente.” – você sugeriu.

 

         Como eu poderia te odiar por aquilo, naquele momento? Como eu seria capaz de colocar qualquer ódio acima do medo de ficar sozinha que eu estava sentindo? Não, eu não te odiei por negar uma lembrança nossa.

 

“Conte sobre nosso relacionamento pra QUALQUER um em off. E vê se eles aprovam.” – você provocou, e eu fiquei sem palavras. – “Conta pro seu namorado, que tal?”

 

         Eu nunca contaria nossa história pra qualquer amigo que eu tivesse naquele momento, nunca falaria sobre nosso amor tão sincero e profundo para quem não poderia compreender. Ninguém compreendia, ninguém acreditava no amor como eu acreditava. Eu nunca tive amigos que me conheceram totalmente, eu nunca deixei que ninguém me desvendasse por completo, eu sempre tive meus segredos, e você levaria todos eles consigo.

         Tudo o que eu consegui responder ao final de algum silêncio: “Entendo.”

 

“Boa noite.” – e você desapareceu.

 

         Calmamente, eu levantei da cadeira, abandonei o computador aberto na sua janela – agora esmaecida – e saí do quarto. Meu rosto estava vermelho, meus olhos brilhavam a dor da sua partida, e atravessando cabisbaixa o corredor escurecido do apartamento, eu entrei no banheiro e tranquei a porta. Abracei o rolo de papel higiênico e me encolhi no canto da parede como uma criança que tem medo do escuro. Pronto. Eu estava segura para chorar.

         As lágrimas desciam de meus olhos como ondas que batem nas pedras e salpicam para longe, minhas lágrimas doces. Abraçada aos meus joelhos, eu chorei em silêncio por um longo tempo. Afinal, aquele ainda era o meu segredo. Eu estava chorando a morte da torre vacilante que construímos juntos, a torre que você havia derrubado com um toque de dedo e agora jazia em ruínas, esparramada pelo chão. Meu peito doía, algo estava ferido ali dentro, sangrando.

         “E agora, como vai ser?” “Eu estou sozinha, você me deixou sozinha, amor.” “O que eu farei amanhã, e depois de amanhã, e para sempre?” “Acabou. É, acabou.” Meu sussurros não tinham voz. Montes molhados e amassados de papel higiênico depositavam-se ao meu lado, o pedestal de meu fracasso. Oh, como doía! Como doía muito, e ainda dói. Agora eu sei que é na alma que reside a verdadeira dor.

         Meu corpo era chacoalhado pelos soluços que não podiam ser ouvidos, e eu congelei quando meu nariz começou a sangrar. As bolas de papel higiênico começaram a empilhar-se vermelhas sobre as brancas, e eu imaginei que meu coração houvesse inundado meu corpo de sangue. Quanto aquela ferida ainda doeria?

 

         Fazem apenas sete dias desde que você se foi, e eu ainda sinto vontade de chorar quando a água quente do chuveiro toca meu corpo frio, quando chove, quando está frio, quando eu não consigo dormir e me encolho debaixo dos cobertores – e desabo. Eu continuo molhando meus travesseiros e construindo montanhas de papel higiênico. Eu continuo me machucando e me iludindo, esperando por um dia em que você voltará, como voltou da última vez. Eu sei que se você quiser, você pode me encontrar, e eu sei também que não farei objeções quanto à isso. Porque eu sou fraca, porque eu necessito de você, e porque meu amor continua vivo. Não se deixa de amar com um mero “adeus”.

         Eu ainda não tive coragem de tocar no seu diário, adormecido no fundo da gaveta. Eu não tive coragem de abri-lo e lê-lo, e lembrar que ele continua tão perto de mim me angustia. Porque quando eu o tiver em minhas mãos, eu sei que vou desmoronar mais uma vez.

 

         Ainda há esperanças aqui, esperanças tolas. E eu sei, amor, que um dia você vai me ver bem na sua frente, e quando essa hora chegar, você vai saber que serei eu. Talvez seja tarde demais, mas ainda há esperanças tolas dentro de mim.

 

“Ei, lembra de mim?”


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