Um Conto de Fadas para Lilly escrita por Leees


Capítulo 1
Capítulo único.




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 A noite era agradável. Estava quente, tinha um céu estrelado e um vento confortável, que impedia as pessoas de sentirem calor. Uma criança e sua família andavam de mãos dadas. Eram duas pessoas que caminhavam rumo a um destino com a mesma consistência de um veneno, daqueles que permitem ao usuário ter uma longa agonia antes da morte.

 A casa não chamava atenção por ser um tanto pequena a olhos comuns, mas garantia uma vida boa e segura. Não para eles, é claro, mas para qual quer um que viesse a ter coragem de morar lá depois dessa noite.

 O homem abriu a porta sem muita rapidez. A mulher carregava a garotinha no colo. Ambas tinham longos cabelos ruivos e o pai já começava a ter fios brancos misturados em seus fios loiros, mesmo não aparentando ser tão velho.

 Ao entrarem na casa, a garota correu para seu quarto para pegar alguns brinquedos. A mulher foi terminar a janta e o pai se serviu de vinho enquanto olhava a lua cheia e esperava a filha voltar.  A mãe aproximou-se dele e falou baixo:
 - Quanto tempo ainda temos? - Estava aflita, o homem evitou olhar para ela.
 - Até a meia noite. - Era mentira. - Não deixe que isso te controle, deve sorrir para ela. - A mulher concordou, beijou o homem e foi para cozinha. Ele não sabia quanto tempo tinham, mas sabia que estava próximo. Não podia mais fugir, não queria mais fugir! Ao menos se a garotinha inocente pudesse fugir para sempre... Mas não seria para sempre. Seria até o dia em que sua inocência a traísse. Não havia nada a fazer, tinham que pagar por um erro. Não havia problema para ele e sua esposa pagarem, mas não era suficiente. A filha também pagaria. Mesmo sem culpa, mesmo não tendo escolhido nascer nesse berço. Faria de tudo para que o sofrimento dela fosse amenizado, pena que falhou.

 A garota desceu as escadas, carregando uma boneca de porcelana, sua preferida. Ele havia prometido brincar com ela, e cumpriu a promessa. Não demorou para que sua esposa se juntasse a eles. As brincaderas que faziam eram simples, mas agradavam a garota e ao casal. A cada 5 minutos a mulher voltava para cozinha para terminar o jantar, até que mandou os dois irem comer.

 O jantar era macarrão, a comida favorita da garota. A sobremesa era bolo de cenoura, o bolo favorito da garota.
 Enquanto comiam, a menina contou seu dia. Os pais ouviram atentamente. Quando ela terminou, o pai e a mãe começaram a contar seu dia. Os três riam juntos, concordavam juntos e negavam juntos.
 Ao terminar o jantar, brincaram mais um pouco, até que chegou a hora de dormir. A mãe levou a filha para seu quarto, ajudou-a a colocar sua camisola de seda branca e a deitou na cama. O pai entrou no quarto e ambos se sentaram ao lado da garota.
 - Papai! Mamãe! Contem uma história! - Ela sorria enquanto fazia o pedido. Os pais olharam-se procurando uma resposta, e pelo olhar decidiram concordar com a garota.

  Era uma vez um reino mágico, onde os habitantes podiam usar da magia. Mas havia regras, que restringiam as magias e impediam o caos de tomar o reino. Nesse reino, o céu ainda permitia que suas estrelas fossem vistas e o verde jamais seria trocado pelo cinza.
 Era um belo reino, tirando o rei e a rainha, que foram dominados pelo egoísmo e causaram tristeza ao reino.

 

 - O que eles faziam? - Os olhos infantis fuzilaram o pai, que sorriu triste.

 

 Os dois deixaram com que o povo sofresse, criando guerras que beneficiariam apenas a eles. Esqueceram que mesmo que não sentissem nada, o povo lutava, morria e sofria por algo que não seria muito para eles. Pessoas lutavam, morriam e perdiam entes queridos apenas para alimentar o ego do rei e da rainha.

 Um dia, o povo decidiu acabar com isso e iniciou-se uma revolução. Com medo, o rei e a rainha fugiram usando sua magia. Com ela, foram para outros mundos, outras dimensões até que chegaram a uma em que acreditavam estar salvos.

 Então a rainha deu a luz a uma garotinha, a uma linda princesa, que não tinha nenhuma das impurezas dos pais e assim viveram felizes... Ou quase. Toda vez que fechavam os olhos, viam o sofrimento de seu povo, até que um dia arrependeram-se de tudo que fizeram. Mas já era tarde. O povo havia os encontrado.
 Deram um dia para eles. Se fugissem, eles saberiam e seriam executados imediatamente, independente do dia ter acabado ou não.

 Mas o rei e a rainha já não temiam por suas vidas, mas sim pela vida da princesa, que não merecia pagar pelos pecados de seus pais incompetentes. Porém, o povo não se saciaria até ter o sangue real como vinho e seu corpo como pão.

 

 - Mamãe, eles morrem? - Não há como descrever os sentimentos da criança ao ouvir aquela história, afinal, era apenas uma história.
 - Não podemos te contar o final! Terá de esperar! - A mãe sorriu, e a garota também, mas ela já estava começando a lutar contra o sono e não sabia se ia aguentar até o final. Antes de continuar, a mãe deu corda na boneca de porcelana, fazendo com que uma música de ninar começasse a tocar.

 

 Então o rei, a rainha e a princesa aproveitaram ao máximo seu dia, rindo e brincando. Até que a pessoa que iria atrás deles chegou, mas a princesa já estava dormindo.

 

  O casal sorriu, não teriam de contar o fim já que ela havia dormido. Lágrimas silenciosas escorriam por ambos os rostos. A mulher virou-se, tampando o rosto com as mãos, e o homem tirou de seu casaco um punhal.

 Foi a última vez que colocaram sua filha para dormir.

 Com a música de ninar ao fundo o homem mirou o punhal sobre o coração de sua filha, sem conseguir impedir que as lágrimas escorressem.
 A mãe segurava-se para não gritar, para não impedir o marido e para não se matar antes.

O rosto sereno da garota tinha um sorriso estampado, sua pele era branca e seu corpo pequeno, parece uma boneca, pensou o pai em meio ao desespero silêncioso que tomava sua mente. Pouco a pouco, foi aproximando o punhal do peito dela. Por mais silêncio que fizessem, ambos choravam como nunca haviam chorado.

 Era isso o que tinham de fazer para que sua amada filha não sofresse, mas o homem não teve forças para concluir tal ato e deixou o punhal cair sobre o chão de mármore.
 Ele olhou em choque para a mulher e a abraçou, esta retribuindo o abraço. Ela pegou o punhal e se retirou do quarto, levando o marido consigo, para esperarem na sala o seu fim.

 Algumas horas se passaram, a garota acordou lembrando-se de que não havia ouvido o fim da história. Seus pés tocaram o chão de mármore do quarto, que era iluminado por um abajur azul. Foi até a porta para perguntar aos seus pais o fim, mesmo sabendo que teria de acordá-los para isso. Suas pequenas mãos tocaram a maçaneta, mas não foi ela quem as girou.

 Voltou correndo para sua cama, em sua cabeça podia ser apenas o seu pai ou sua mãe. A porta foi aberta, mas não era nenhum de seus pais.

 Um garoto, que havia virado um homem, mas ainda um garoto entrou no quarto. Usava uma armadura dourada, que combinava com seus cabelos e seus olhos cor de céu noturno, e em sua cintura havia uma espada.

 - Quem é você? - Não estava assustada, aquilo deveria ser um sonho. Perguntaria a ele se ele sabia o final da história.
 Ele não respondeu, se aproximou e desembainhou a espada, erguendo-a na direção da garota.

 - É filha dos donos da casa? - Ela concordou com a cabeça, afastando-se lentamente, mesmo não fazendo diferença. - Peço então para que estenda seu braço.
 - Você sabe o final da história? - Ele a encarou, tentando transparecer que aquilo não era importante.

 - Estenda o braço. - Ela negou.
 - Apenas se me disser o final da história! - O rapaz suspirou e abaixou a espada.
 - Qual história? - Como eu havia dito, ele ainda era um garoto, mesmo sendo já um homem.

 Então ela contou a história que seus pais lhe contaram, não alterando nem mesmo os mínimos detalhes. Ouvindo aquilo, o homem, que ainda era um garoto, sorriu.

 - Conto o que acontece com o rei e a rainha, mas promete que me estende seu braço depois?
 - Apenas se depois disso me contar o que acontece com a princesa! - Encarava-o.
 - Combinado! - Percebeu que a garota queria logo que ele contasse, então o garoto, que já era um homem, sorriu triste e contou. - O rei e a rainha foram mortos, enquanto imploravam para que nada de ruim fosse feito para a filha.

 A garota estendeu o braço, com a espada ele fez um corte e respingos azuis mancharam a camisola e o lençol branco, o líquido da mesma cor escorreu pelo braço da garota.

 - Eis o fim da princesa... - Ele se ajoelhou perante a garota e beijou sua mão, erguendo-a com cuidado para fora do quarto. Desceram as escadas, passaram pelos cadáveres de seus pais e seguiram para fora da casa, onde uma carruagem os esperava.


 


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