Lives escrita por Rella
Capítulo 23
Eu não posso! Vamos, Sarah, diga isso a ele!
Os lábios mornos lhe acariciando o pescoço, e as mãos lhe massageando os cabelos e cintura, mostrava um lado desconhecido de Jackson à Sarah.
Onde está aquela timidez?
Ela podia senti-lo crescer com a aproximação, o calor emergir de seu corpo e as sensações se tornarem quase irresistíveis.
- Michael! – Sarah clamou ainda com um pingo de sanidade, sendo beijada por ele contra a parede, louca de prazer.
Michael parou.
- E-eu não posso! – Respirou. Tentou olhá-lo nos olhos, mas sentia-se intimidada. Era horrível ver seu próprio reflexo neles. – Isso não está certo! – Conseguiu encará-lo e perceber a sua expressão de desapontamento por mais que tentasse disfarçar. – Desculpe.
Ele soltou-a e deu meia volta parando no centro do tapete felpudo, com uma das mãos sobre o nariz. Virou-se.
- Não tem do que se desculpar. Está certa. Agi como um idiota mais uma vez. – Foi à arara e recolheu o casaco. Vestiu-o. Andou até Sarah. – Entendo se não quiser continuar o tratamento comigo, em especial, frequentando minha casa. – Depositou um beijo suave na testa de Peterson. – Fique bem, e obrigado por ter me recebido. Boa noite.
Atravessou a porta e fechou-a. Sarah deixou o corpo escorregar até o chão. Trouxe os joelhos ao peito.
Eu quem sou idiota, mil vezes idiota!
Grávida! Era só o que me faltava mesmo!
Às 23:00m em ponto Ben Peterson bateu a porta de Sarah com o seu cachecol envolto do pescoço feito um tenebroso dia de inverno no Alasca. Peterson se arrastou para abri-la.
- Querida, você está bem? – Perguntou ele ao entrar e encostar a porta. Sarah tinha uma cara péssima.
- Hã?! Acho que sim.
- A polícia já está a caminho do local.
O local era num simples bairro de casas geminadas de tijolinhos vermelhos. Três viaturas policiais em completo silêncio cercavam a entrada de um antigo hotel que mais parecia um cortiço.
Sarah saltou de seu automóvel junto a seu tio e rumou ao prédio de paredes pinchadas.
Dentro, havia um barzinho sujo de cheiro pútrido e homens mal encarados e tatuados. Ben se achegou ao balcão para não levantar suspeitas e pediu uma bebida qualquer. Os olhos pervertidos voltaram ao corpo feminino de Sarah que seguia para uma mesinha ao fundo na penumbra. Dois policias disfarçados sentaram-se alguns metros afastados bisbilhotando o rebolar sensual das garotas que se exibiam num palco de madeira velha.
Hotel? Casa de prostituição, pensou Sarah enjoada com o cheiro febril e alcoolizado do lugar.
Garotas saiam do palco e se dirigiam a uma porta traseira onde sumiam e surgiam outras.
Susie só pode estar ali!
Ben Peterson sentou-se ao seu lado com dois copos de algo misturado a água, aquilo lhe causou náuseas.
- Tem certeza que é aqui, Sarah?
- Sim. Susie me deu esse endereço. Sra. Shelton deve estar ali. – Apontou para a porta de onde surgiam diversas garotas.
Os policias seguiram ao balcão e Sarah caminhou para trás do palco. Aquela voz era reconhecível a quilômetros de distância.
- Shelton!
A velha se virou num susto. O sangue esvaiu da cara.
- Sarah?
Sarah lhe agarrou os pulsos intimidando-a.
- Susie... Vamos, me diga onde ela está!
- Do que está falando, garota estúpida?
Ben surgiu de repente:
- A polícia está aqui.
Shelton engoliu em seco. Recolheu seus pertences o quanto pôde e tentou correr. Ben a segurou.
- Onde está Susie?
- Me largue!
- Não sairá daqui sem algemas... pode acreditar! O prédio está cercado!
Maldita garota!, pensou Shelton de Susie.
- Não! Não, eu não quero! Me solte!
Os gritos vinham do segundo andar. Sarah correu nos degraus e agarrou a maçaneta do possível quarto de Susie. Chutava inutilmente. Atrás surgiu um dos policias que escancaram a porta de madeira.
O brutamontes arriava a calça enquanto a garota se encolhia do lado da cama, chorando, seminua.
Os olhos brilharam e um alívio dominou-lhe. Correu para os braços de Peterson que encara o homem com raiva.
- Você está bem querida? Está?
- Santo Deus, Peter, pensei que não chegaria a tempo!
Ela se encolheu nos braços da irmã sentindo o carinho das mãos finas de Sarah.
Ben levou a boca mais uma xícara de café antes de continuar:
- Shelton trabalhava com isso há anos! Nem acreditei!
- Mas como ela veio para Los Angeles?
- A polícia disse que ela já tinha um negócio por aqui... foi fácil.
- Maldita! Como ela pôde fazer isso com a própria filha? – Sarah deixou-se afundar no sofá de sua casa.
Ben se levantou.
- Agora está tudo resolvido. Shelton será transferida para uma prisão em San Francisco amanhã mesmo. E o “hotel” enfim foi interditado.
- Um alívio. Aquele tanto de garotas, todas jovens... Meu Deus...
- Querida, agora vá dormir um pouco... - Aconselhou Ben. - Peça a Susie que prepare as malas e documentos. Amanhã mesmo retornarei a Nova Iorque. Ela virá comigo.
Sarah se ergueu.
- Não! – Levou uma mão a testa. – Acho que não precisará mais dessa mudança. Shelton já está longe. Susie ficará bem.
- Pedi a guarda dela.
- Por favor.
- Sarah...
- Tio...
- Sem acordos. Está decidido, ela virá comigo. Prometo que a trago nas férias. Pense, ela terá mais segurança...
- Cuidarei dela...
- Você nem para em casa! Cuida mais de seus pacientes do que de si própria, como poderá cuidar de Susie?
Era verdade. Ela sentiu a ferroada.
- Ok. Direi a ela que prepare as malas.
- Espero que entenda, querida. – Ben Peterson a acariciou o rosto.
- Sempre quis o melhor para Susie, e se o melhor ainda não sou eu, então eu entendo.
- Sabe que estarei de braços abertos caso mude de idéia e resolva ir para Nova Iorque.
- Obrigada.
E abraçou-o.
- Sr. Jackson está em seu quarto?
- Sim. – Respondeu Dowall. – Nem se atreva a perturbá-lo, pois essa é a hora cruel para ele. Dormir. Ele precisava estar muito bem descansado para a viagem dessa semana.
- Só queria trocar os lençóis. – Comentou a nova criada de fios escuros, pele de leite, lábios de pêssego.
Dowall olhou para o relógio da cozinha enquanto enxugava as mãos com o pano de prato.
- Mas está muito cedo! São 8:00m!
Morgan se sentou na cadeira permitindo-se apoiar na copa de mármore, torcendo a boca.
- Venha, me ajude a preparar o café das crianças! – Pediu Dowall, gentilmente.
- Ok, ok...
Michael estalou os dedos e alongou os braços ao pular da cama com um sorriso de bela noite.
Abriu a cortina deixando brecha para o dia azul. Foi ao banho.
- 9:00m. – Falou Morgan. – Vou organizar os dormitórios.
- Não sei pra que tanta pressa! – Exclamou Dowall. – Antes vá ao quarto das crianças e acorde-as, diga para que venham comer, pois logo terão aulas.
Ele os guarda na mesinha de cabeceira, segunda gaveta. Abra-a e troque-os, repassava mais uma vez a lição de casa. Tirou do bolso do avental impecavelmente branco um vidro com pequenos comprimidos.
Troque-os.
Entrou, o quarto cheirava a xampu e sabonete. Ele está no banho.
Olhou, abriu a gaveta e ali estava.
Bem que disseram que Michael nunca se livraria de todos! Aquele viciado!
Rodou a tampa do frasco e trocou os comprimidos. Nenhum ruído, assim caminhou até a porta.
- Morgan?
Ferrou!
- Senhor, bom dia.
Jackson deu um meio sorriso. Não estava nada apresentável com aquele simples roupão envolto do corpo.
- Vim trocar os lençóis! – Se prontificou Morgan a agarrá-los da cama.
- Oh, sim... Tudo bem.
- O café está servido.
- Obrigado.
Nada mal para um cinquentão.
Morgan já rumava para fora com os tecidos embolados em seus braços.
- Morgan! – Chamou Michael.
Ela se virou.
- Sim?
- Bata antes de entrar.
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