Lives escrita por Rella


Capítulo 11
Capítulo 10




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Capítulo 10

- Moça! Moça!

Cutucaram-lhe o ombro. Sarah abriu os olhos com dificuldade; a cara estava amassada. Levantou os olhos para ver quem lhe perturbava o sono. Não conhecia, era uma idosa com um belo azul nos olhos.

- Já estamos no terminal, querida. Veja!

O motorista tinha as pernas cruzadas apoiadas no volante. Fumava, e apontava para Peterson um sorriso malandro. Talvez se a senhora não estivesse ali, ele jogaria fora o cigarro pra dar outra utilidade a sua boca. Velho tarado.

Ela olhou para fora. Estavam mesmo no terminal. Agradeceu à idosa, pegou suas malas e olhou para o relógio de pulso. Eram quase sete da noite, e chegaria na casa da Sr. Shelton em meia hora se desse sorte. Mas sorte não era um conhecido seu.

Dormira todo o trajeto, mas sabia que a chuva havia caído. Meteu o pé inteiro na poça. Enrugou a cara e pensou horrores. Queria socar alguém para aliviar a raiva. Mas o que adiantaria? A umidez entre seus dedos continuaria ali.

Andava e o som de tênis encharcado era estressante.
Acenou para o primeiro táxi, passou direto. Acenou para o segundo, o desgraçado correu sobre a poça e terminou de encharcá-la. O terceiro vinha e ela não viu, estava irada por causa das roupas. Mas ele parou, chamou-a e ela entrou.

Fazia tempo que não via aquela rua bem pavimentada com casarões e um parquinho do outro lado. Foi debaixo daquela árvore que teve o primeiro beijo. Não gostou, beijava muito mal.
A casa azul com cerca baixa era de frente a sua, e foi ali que se tornara mulher. Inesquecível.

Agora estava em frente à origem de seus problemas, a casa da Sra. Shelton, sua madrasta.
Por mais renomado que fosse o nome de sua família, Sra. Shelton não mais aceitava ser chamada por ele. Nunca me deixou chamá-la nem de mãe. Talvez tivesse vergonha por agora estarem falindo e o benfeitor estar morto. Mas quem o matou?

Tocou a campanhia, chamou, gritou. As luzes estavam apagadas. Não passou do portão. Não duvido que tenha feito isso para tirar sarro de mim. Sentou-se sobre a mala apoiando os cotovelos nos joelhos. Olhou para toda a rua. Vazia. Escutou seu nome, vinha da casa azul. Apesar da idade, a senhora tinha a beleza preservada. Aproximou-se. Os estalos da coluna de Peterson foi audível. Tinha como mãe a Sra. Burton.

Seu abraço era acolhedor e seu sorriso tranqüilizante. Adorava o seu cheirinho de mãe.

- Sarah, querida, quanto tempo! Que saudades!

Ela admirava Peterson por inteira. Não deu a mínima para suas roupas encharcadas.

- Continua com o rostinho de menina. Linda!

E abraçou-a mais uma vez.

- Matthew está em casa hoje. Lembrou dessa velha aqui. – Brincou. – Ele vai adorar vê-la!

Não teve tempo para decidir se ia. Burton a arrastou.

- Matthew, meu filho, venha ver quem está aqui! – Exclamou, exultante.

Minutos após ele desceu a escada, tomando a sala com cheiro de sabonete. Havia terminado o banho e seus cabelos estavam molhados.

Ele estava assim naquela noite quando tomamos consciência de nossos corpos e do prazer que ele podia nos dar. Ela tinha quatorze anos.

- Sarah, acho melhor ir pra casa.

Ela o fitou.


- Vamos nos casar, não vamos?


- É claro que vamos.


- Então não tem problema.

Se amaram.


Ele a beijou no rosto. Sarah sentiu borboletas e até algo a mais no estômago. Quando se afastou, lembrou-se que estava péssima com sua jeans desbotada, tênis velhos, cabelos desarrumados, mala nas mãos e pior, ainda estava molhada.
Sentiu-se como uma adolescente fugindo de casa.

- Já faz anos, Sarah. – Falou Matthew.

Sarah assentiu.

- Como vão as coisas?

- Bem... E Denise, não veio com você?

- Não, ela preferiu ficar em casa. Diz que está com dores nas costas pelo peso da barriga.


Ela engoliu seco.

- Grávida?

- De gêmeos! – Sorriu.

Deu um sorriso forçado.

- Parabéns!

Matthew sorriu.

Sra. Burton pediu a Sarah que subisse a seu quarto. Ela vinha com uma caixa branca de madeira.

- Ia lhe mostrar desde a última vez, mas a “senhora” foi embora apressada! – Brincou. – Veja.

Eram muitas fotos, mas apenas aquela lhe chamou a atenção.

- É linda essa sua foto com meu pai. Tenho tanta falta dele. Às vezes me sinto tão perdida, tão só sem ele. – Murmurou, amuada.

- Ele está sempre ao seu lado, minha querida.

As famílias Peterson e Burton eram muito unidas, mesmo após a chegada da Sra. Shelton para arruiná-la.





- Peter!

Correu e abraçou Sarah.

- Oh, irmã, que saudades! E como está na faculdade?

- Com a mensalidade atrasada...

- E o dinheiro que mandei?

- Sra. Shelton te dá a reposta?

Peterson suspirou.

- Tem notícias do tio Ben?

- Nada o que você não saiba. Ele não vai nos ajudar com o dinheiro. Disse que não vai mais sustentar uma “velha gastona”. Ele não está errado. Estamos tendo muitos gastos e não podemos mais sustentar essa casa. Sra. Shelton faz festas quase todo final de semana. Tio Ben até me chamou para morar com ele em Nova Iorque. Não aceitei. Estou na procura de um emprego.

- E onde ela está, Susie? Aliás, onde vocês foram?

- Sra. Shelton me obrigou a ajudá-la escolher um vestido para o evento de sábado. Quer estar bem apresentável.


- Sra. Shelton, abra essa porta!

Nada.

- Abra essa porta, Sra. Shelton!

- O que você quer garota estressante?

Peterson entrou no quarto e jogou a mala no chão. Sra. Shelton provava o novo vestido.

- O que você tem na cabeça?


Não obteve resposta.

- Não vê que logo não teremos dinheiro nem para nada? - Gritou. – Quer deixar sua filha arruinada, e morta de fome?! Não podemos mais gastar com superfluidades!


Sarah estava furiosa. Recuperou o fôlego e continuou:

- Você cada dia mais envergonha o nome de minha família, o nome que demorou gerações para chegar aonde chegou. Você envergonha a mim e a meu pai.


Ela hesitou, mas achou que era o certo a falar.

- Só não lhe expulsei antes dessa casa, dessa família, por causa de Susie, que a ama e que queria ao menos uma vez na vida chamá-la de mãe. Como pode dar a luz a um filho e não permitir que ele o chame assim?

Pegou a mala e foi até a porta.

- Mas agora... A senhora tem no exato uma semana para pegar suas bugigangas e sumir desta casa, se não quiser morar na rua.

- E vai expulsar Susie também? – Desdenhou. Voltou a se contemplar no espelho.

- Ela voltará comigo para Los Angeles. A casa será vendida.


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