- Será que o professor podia ficar pelo menos uma aula sem desenhar um anel benzeno no quadro? – Sam ironizou, enquanto se sentava ao lado de Alex. A ruiva chegara cinco minutos atrasada, e o quadro já estava repleto de desenhos e fórmulas. – Eu juro pra vocês que não venho à aula de química na semana que vem.

- Isso é o ruim dos nerds – Clover disse, ao passo que anotava o conceito de “cadeia aromática” – Quando estudam demais, chega um momento em que não querem nem chegar perto de um livro.

Sam lançou um olhar enviesado para a amiga, e falou com os dentes cerrados:

- Não, só não gosto dessa porcaria de hidrocarbonetos.

Ninguém comentou mais nada sobre o assunto durante a semana. Curiosamente, Sam estava demorando muito para aparecer – e, justamente, no dia que prometera matar aula.

- Não achei que ela estivesse falando sério – Alex confessou a Clover.

- Por via das dúvidas, vamos guardar o lugar para ela – a loira falou.

- E é só isso que a gente vai fazer?

- Como assim?

- Nossa amiga não veio pra aula, e a saída é simplesmente esquecer isso e continuar nossas vidinhas simplórias como se nada tivesse acontecido? – Alex bradou. A morena só se controlou quando o professor de química entrou de supetão na sala.

- Boas notícias, criançada – O senhor Richards brincou. – Hoje teremos uma avaliação-relâmpago!
Alex e Clover gelaram. A amiga não perderia só a aula, mas também a pontuação essencial para passar no bimestre naquela disciplina.

- Agora complicou, amiga – Clover disse, olhando triste para Alex – A Sam não iria gostar de nos ver perdendo uma prova.

- Agora pronto – Alex bufou, levantando-se da cadeira enquanto guardava tudo na bolsa. Clover, que se recusava a sair da mesa, foi “ajudada” pela amiga a arrumar suas coisas – Como se você algum dia já tivesse se importado com isso, não é?

- Vocês por acaso ouviram o que eu acabei de dizer? – O professor perguntou.

- Sim, professor. Mas é que agora eu tenho que levar a Clover para fazer uma biópsia. – Alex mentiu, de improviso. Os que estavam na sala não conseguiram definir se o rosto mais assustado fora o do senhor Richards ou de Clover.

- Você enlouqueceu, né? – Clover disse, quase sendo arrastada por Alex em direção ao portão de saída do colégio.

- Clover! – Alex bradou, inconformada com a atitude da amiga – É da Sam que nós estamos falando. Cadê a amizade que vocês tinham?

- Não é isso, Alex. É que, simplesmente, eu não vejo motivos para perdermos a prova.

- O motivo é esse – Alex dizia, apontando o dedo no rosto da loira – A Sam é nossa amiga, nós não sabemos onde ela está e, se ela vai ficar de recuperação, nós vamos também.

Foi o que elas fizeram. Chamaram um táxi para a Hillest Square e seguiram por mais três quadras até a casa de Sam.

- Olá, aqui é a Clover e a Alex, amigas da Sam – Clover falou pelo interfone, com a mãe de Sam do outro lado. Ela respondeu:

- Desculpem, garotas, mas a Sam está muito mal. Parece que ela pegou uma doença, algo assim, e está de cama por isso.

- Que coincidência... – Alex acabou pensando alto.

- O que você disse? – a mãe de Sam perguntou, meio confusa.

- Nada, tia, ela só disse que tá com pena da Sam, só isso! – Clover tentou emendar. Ela parou quando ouviu alguém gritando no interfone. Algo como “Quem é?”.

Elas puderam ouvir a mãe de Sam se afastando do interfone e sussurrando algo. Logo ela voltou, dizendo:

- Tudo bem. Podem subir.

Alex olhou vitoriosa para Clover. Elas estavam mais próximas de descobrir o que raios tinha acontecido com a amiga nerd que nunca matava uma aula.

Elas subiram as escadas, e, ao chegarem no quarto, viram uma Sam pálida, triste e suada, debaixo de vários cobertores.

- Tá tudo bem, Sam? – Alex perguntou, aproximando-se. Sam, que até agora estava com uma expressão sofrida, abriu os olhos rapidamente e fitou-as com raiva:

- O que vocês estão fazendo aqui? – ela perguntou, mais sussurrando do que brigando.

- A gente veio ver como você estava. A Alex... Nós ficamos preocupadas com o que poderia ter acontecido.

- Mas eu disse que mataria aula hoje. – A expressão de Sam mudara completamente, agora tranquila e alegre. – Parece que vocês ainda nem me conhecem...

Sam e Alex se olharam. Agora sim, tinham entendido tudo. Em vez de uma provável zanga, estavam sorridentes. Aquilo, acima de tudo era engraçado: ver a amiga fingindo uma doença mortal para não ir para a escola naquele dia. E logo a Sam. As três se abraçaram, enquanto Clover, divertindo-se, sussurrava no ouvido de Sam:

- É, é a famosa crise de nerd...