Por que Mentias? escrita por Boneca


Capítulo 1
Leviana e Bela - Único




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O rapaz virou-se naquela cama vazia, exceto por ele mesmo. O lençol branco que lhe cobria o corpo ardente. As gotas de suor que escorriam por sua face a cada arfada. O ambiente vazio, exceto pelos móveis gastos, o pequeno armário de roupas e a cômoda ao lado da cama, ostentando o abajour com a luz baixa, quase mínima. Sem o luar para banhar o corpo pálido, tudo o que havia era a luz fraca e a janela aberta. O vento cortante no corpo frágil e febril era tudo o que havia.

Por que mentias leviana e bela?

Se minha face pálida sentias

Queimada pela febre, e se minha vida

Tu vias desmaiar, por que mentias?

Em todas as paredes a mesma coisa escrita. Todas as treze letras, as três palavras, a única oração, o único período. Letras rebuscadas, delicadas, garranchadas, gritadas, choradas, letras de um coração tão sofrido quanto o meu próprio. Letras sofridas, tentando explicar cada sentimento que aquele corpo sentia a cada instante. Tentando explicar o amor, o ódio, a tristeza, a felicidade, a maldita indignação.

Acordei da ilusão, a sós morrendo

Sinto na mocidade as agonias

Por tua causa desespero e morro...

Leviana sem dó, por que mentiras?

Havia um retrato, um retrato tão belo quanto o deitado em ilusões febris. Um rosto delicado, com olhos serenos, de cores escuras e os longos cabelos tão escuros quanto o céu em setembro. A face era rosada, com o toque indiano brasileiro, os olhos escuros que eram levemente puxados para o lado, e aquele cabelo escorrido pelos ombros vestidos de branco. Mas eram detalhes que uma foto em preto e branco não deixa aparecer.

Sabe Deus se te amei! Sabem as noites

Essa dor que alentei, que tu nutrias!

Sabe esse pobre coração que treme

Que a esperança perdeu por que mentias!

Leviana e bela.

Há tanto tempo sofrendo como se estivesse morrendo a cada gota de suor que escorria por seu belo rosto, jogado naquela cama, cobrindo o corpo nu apenas com o lençol branco. Uma pele branca pelo lençol, escondida por ele. E aquelas nuvens que lhe davam o toque mórbido.

Vê minha palidez - a febre lenta

Esse foto das pálpebras sombrias...

Pousa a mão no meu peito! Eu morro! Eu morro

Leviana sem dó, por que mentias?

Por tanto tempo em que passou frio, por tanto tempo que permaneceu doente naquela cama vazia exceto por ele mesmo. Por tanto tempo em que seus olhos encontravam as mesmas palavras nas paredes. As mesmas perguntas. Por tanto tempo em que o músculo cardíaco parou.

Por tanto tempo, que o olhar buscou a saída, e só encontrou a oração: Por que mentias?


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