Eyes

Mais um dia normal na academia Cross. Uma academia respeitada e muito conhecida por todos.

Yuuki, monitora chefe, estava agora em mais um dia comum na sua vida nada comum.

— Por favor meninas, controlem-se. Atrás de mim, todas atrás de mim . - Com os braços abertos tentava conter as meninas enlouquecidas da Turma do Dia. Todas queriam, pelo menos por um momento, ver os lindos alunos da Turma do Noite.

A academia Cross possuía duas turmas principais: a Turma do Dia e a Turma da Noite, que não só estudavam, mas conviviam separadamente. E por uma boa razão, que os monitores tinham a obrigação de conhecer bem.

Os monitores eram Cross Yuuki e Kiryu Zero, filhos adotivos do Diretor da Academia, Cross Kaien. Zero também estava ali, controlando as meninas que se amontoavam na frente do portão por onde passariam os alunos da Turma da Noite , mas ele possuía mais controle sobre a situação.

— E-ele me da m-medo - dizia uma das meninas diante do olhar assassino de Zero que expressava claramente: "um passo e você morre!".

De uma certa distancia, Yuuki o vigiava secretamente. Nos últimos dias, este que ela sempre considerou como um irmão tinha lhe despertado certo interesse, o qual ela não conseguia entender, ou mesmo sequer explicar. Neste instante Zero pareceu perceber o olhar sobre si, e passou a fitá-la por um momento, ambos incapazes de desviar o olhar.

— "Zero .... " - seus pensamentos foram interrompidos pelo alvoroço que as meninas fizeram quando as grandes portas se abriram relevando os alunos noturnos.

De certa forma, todos os alunos da noite tinham um 'algo a mais'. Um ar natural de encantar a quem os visse. De uma beleza incomum, não era de se surpreender o porquê do alarde das meninas que se concentravam por ali.

— Aidou-senpai! Aidou-senpai!

— Estou aqui meninas, como estão todas vocês nessa manhã? - Dizia Aidou Hanabusa, um dos alunos da noite. Ele era alto, loiro dos olhos claros e com um belo sorriso nos lábios, fazendo muitas das meninas desmancharem de emoção.

— Não empurrem. Meninas, por favor, controlem-se. - Yuuki tentava desesperadamente conter a pequena multidão enquanto os alunos passavam. Zero, vendo a dificuldade da garota se aproxima.

— Não ouviram? Todas para trás, já! - Com a voz firme, todas as garotas deram um passo para traz e alinharam-se visivelmente tristes e amedrontadas.

— Obrigada, Zero-kun. - disse a Yuuki enquanto Zero se mantinha indiferente. Uma presença o incomodava.

— Muito serviço, Yuuki-san? - uma voz suave preencheu seus ouvidos, e ela reconheceu de imediato.

— Kaname-senpai. Está ... tudo bem. - sorria um tanto envergonhada de sua presença.

— Desculpe-nos por causar tanto transtorno a você. - dizia enquanto uma de suas mãos ia de encontro à face da garota, afastando algumas mechas de cabelo. Zero virou-se e passou a encarar algumas meninas, enquanto os alunos passavam. Não queria ver essa cena.

Yuuki percebeu seu desconforto e isso passou a incomoda-la.

Sempre gostou de Kaname. Sempre se achou apaixonada por ele, mas ultimamente, não era ele quem dominava seus pensamentos.

— Não, tudo bem. Eu gosto do meu serviço. - sorria gentil.

Logo Kaname voltou ao seu trajeto normal, passando por Zero que permanecia imóvel.

***

Era noite. Yuuki fazia sua ronda costumeira, andando pelos corredores da escola. Tinha que ter certeza de que todas as meninas da turma do dia estavam em seus dormitórios, enquanto a turma da noite tinha suas aulas.

Vez ou outra, Zero vinha a sua mente. Sempre se preocupou com ele. Sempre desejou penetrar seu coração, guia-lo, protegê-lo. Sempre quis colocar um sorriso em seus lábios frios. Colocar mais vida em seus olhos penetrantes.

Ah! Seus olhos. Yuuki fechou seus próprios ao relembrar dos olhos dele. Ela queria mais de Zero. Sempre mais. Lembrou-se da ultima vez em que sentiu as presas dele em sua pele.

Sim. Zero era um vampiro, assim como todos os alunos da Turma da noite. Mas isso nunca a assustou.

Não o Zero.

Não os olhos do Zero, mesmo quando mudavam de um lilás misterioso para um carmim intenso. Mesmo estando tão próximos, enquanto seu sangue era sugado de modo delicioso.

Assustou-se com esse pensamento e abriu os olhos. 'O que deu em mim?'— passou a caminhar mais rápido. Arfou confusa com as próprias lembranças, com os próprios sentimentos. Ela parecia querer tanto quanto ele. Não, ela necessitava, tanto quanto ele.

Estava tão perdida em si mesma que nem percebeu que corria, em vez de andar. Talvez quisesse fugir de si mesma. Parou diante de uma fonte, instalada no meio do enorme pátio, olhando suas águas sem interesse. Estava tão distraída que não percebeu que Zero aproximara-se e a observava.

— Preocupada? - disse seco.

Yuuki tremeu ao ouvir sua voz, virando-se para ele.

— Você me assustou.

— Não é surpresa, já que estava tão distraída.

— Eu só estava pensando. - corou levemente por saber que ele era o motivo de sua distração.

— No Kuran. - afirmou áspero.

— Porque você acha que eu penso 24h no Kaname-senpai? - disse irritada.

— E não?

— Não! - quase gritou - 'É em você que eu penso Zero, você!'— surpreendeu-se com pequena explosão interna. Zero mantinha seus olhos fixos nos dela e isso fez seu coração disparar. Yuuki não pode sustentar por mais tempo, desviando o olhar para o lado. Zero percebeu uma leve mudança na jovem a sua frente, mas não sabia se era isso mesmo, ou se apenas seus sentimentos estavam o iludindo.

— Olhe pra mim Yuuki - Zero disse suave, dando mais um passo em direção a pequena que voltou a fita-lo. – O que eu sou pra você? - disse aguardando uma resposta.

Yuuki apenas o fitou sem reação. 'Zero... O que você é pra mim?'. Logo pareceu entender o que Zero significava pra ela. Seu coração bateu ainda mais rápido.

'Será que ... '— pensou, sem ser capaz de responder.

Zero apenas fechou os olhos e suspirou. Virou-se e passou a caminhar, se afastando a cada passo.

'Será que... eu.. me apaixonei' - pensou vendo a imagem perfeita de Zero sumir por entre as arvores. Yuuki, parecia transtornada. A descoberta a deixara alarmada, confusa.

— Não. Não é possível. – disse baixo, virando-se e retomando sua rotina de vasculhar os corredores vazios daquela escola.

***

— Ai, droga. – Esbravejou Yuuki, após deixar um prato escorregar de suas mãos e se espatifar no chão.

— Desastrada. – disse Zero, fitando-a por cima dos ombros. Estavam lavando a louça do jantar para enfim poderem descansar.

— Não enche. – Yuuki abaixou-se para pegar os cacos espalhados pelo piso.

— Deixa isso ai, vai acabar ... – foi interrompido por um grunhido proveniente dos lábios da pequena Yuuki. Zero apenas se deu o trabalho de suspirar. Teria zombado das habilidades desastrosas da companheira, mas não conseguiu se concentrar em mais nada ao sentir o cheiro suave de sangue .... Sangue da sua amada.

Sim, o mais torturante para um vampiro, além do cheiro suave de sangue humano, é o cheiro do sangue de alguém que se ama.

A respiração de Zero se alterou, mas ele buscou não demonstrar. Apenas permaneceu imóvel, calado.

Yuuki observou filete vermelho escorre pelo dedo e imediatamente o fitou. Os olhos de Zero possuíam um vermelho intenso, maravilhoso.

Hipnotizante.

Qual foi a ultima vez em que ele se alimentou dela? Ponderou por um momento e levantou-se.

— Lambe - Disse uma Yuuki, cheia de determinação, fitando um Zero confuso a sua frente.

— Pára com isso Yuuki. – disse sério – Não brinca ...

— Lambe – Disse mais uma vez, interrompendo-o.

Zero não pode conter a surpresa. Uma de suas mãos subiu ate o pescoço, pressionando a tatuagem de contenção, como se aquele pequeno gesto fosse ajudá-lo a não se render.

Yuuki tentava enganar a si mesma dizendo que queria ajuda-lo apenas, mas em seu intimo já sabia a verdade. Precisava sentir as presas de Zero em sua pele, mais uma vez. Como se sua vida dependesse disso, tanto quanto ele necessitava do mesmo.

‘Porque ela esta fazendo isso?'— Pensou Zero, tentando entender as investidas da Yuuki. Ele fechou os olhos tentando resistir a sede. Não queria machucá-la mais. Não queria atormentá-la com seu vicio, com sua maldição.

Percebendo a resistência de Zero, Yuuki não se permite recuar, indo de encontro a ele.

— Zero não resista. Eu quero te ajudar...

— Pare Yuuki. - Fita os olhos da garota determinado, tentando reunir todas as suas forças.

— Por favor. - Yuuki aproxima-se de mais, quase findando o espaço entre eles - eu quero...

Ter a silhueta delicada dela tão perto de si o atormentava. Não entendia porque ela agia daquela maneira, mas não importava agora. Ele não se limitava para ela. Não existia resistência ou barreiras para ela. Não podia e nem queria mais resistir a ela.

Pegou a pequena mão que lhe fora oferecida e aproximou dos próprios lábios, sentindo o doce aroma que invadia suas narinas, e sem desviar seus olhos dos dela, delicadamente, colocou o dedo da moça na boca, sugando-o com uma leve pressão. O suficiente para fazer a jovem garota estremecer. Já não era capaz de reconhecer seus próprios pensamentos, suas reações.

Zero fitava os olhos da amada sem se desviar nem por um instante. Amava aqueles olhos.

Sugava o pouco sangue que saia do pequeno corte, instigando ainda mais seus sentidos. Queria mais, precisa de mais!

Logo, puxou um pouco mais sua mão, afastando cuidadosamente a manga de sua blusa. Deslizou a língua pela pele suave da jovem para em seguida cravar suas presas em seu pulso. Yuuki fecha um dos olhos ao sentir uma dor fina e incomoda que as presas de Zero causaram. Porem não se importava. As presas de Zero quase faziam parte dela. Sentia seu sangue esvair ate a boca do jovem Kiryuu e a sensação era indescritivelmente boa.

Yuuki não era se quer capaz de desviar os olhos dos de Zero, enquanto ele sugava sua essência, pouco a pouco, a cada dia. Mais e mais ele a consumia e isso não a assustava.

Permaneceram assim por pouco tempo, até que Zero colocou fim aquele ato sangrento e fechou os olhos, cortando o contato visual. Seus lábios afastam-se da pele dela alva dela. O sangue dela estava com um gosto diferente ...

— O que foi?

— Yuuki, já chega. - dizia estancando o sangramento do pulso da garota.

— Zero não... - dizia colocando a mão sobre a dele - Eu quero ajudar você, não foi suficiente...

— Pára Yuuki, o que esta fazendo?

— Ajudando você, eu preciso ajudar você. Não quero que vire um nível 'E' Zero, eu não quero que se afaste de mim, eu não quero te perder, eu não posso ... - Yuuki o abraça, inconscientemente.

Zero retribui o abraço, tentando entender o que estava acontecendo com ela. Sempre que provava do sangue dela era como se provasse o céu e o inferno. Era doce e maravilhoso, mas cheio de sentimentos por Kaname.

Era possível ter essas sensações sempre que se provava do sangue de alguém, como se através desse contato memoria ou sentimentos viessem juntos. E o sangue de Yuuki sempre tinha um gosto doce e amargo.

Mas, não hoje... Hoje não tinha Kaname.

— Zero - A voz de Yuuki soa fraca. Apertava-o mais em seus braços, recostando a cabeça em seu peito.

Sentia o calor do corpo de Zero, sentia a proximidade, sua presença que estava se tornando cada vez mais difícil de encarar.

— Yuuki eu não quero te machucar mais, não quero te ferir...

— Você seria incapaz de me ferir. - disse suavemente.

— Te machuco cada vez que eu...

— Você não me machuca. - Yuuki o interrompe, se afastando o suficiente apenas para olhá-lo. Fitando-o, percebe que seus olhos voltaram ao tom normal. Lilases maravilhosos, misteriosos, penetrantes.

Ficaram assim, apenas se olhando por um tempo, enquanto Yuuki era invadida por um novo mundo. Um mundo misterioso, instigante e que existia por de traz do olhar frio e firme que ele tentava sustentar. Ela soube naquele exato momento que poderia se perder naquele olhar. Que queria se perder naquele olhar.

Não importava, desde que fosse ele.

Desde que fosse o Zero.

Ela não soube quando o beijo começou, mas soube com certeza, no momento em que os lábios se tocaram, o que Zero significava pra ela. 

Ele sempre foi dela.

E ela sempre seria dele.